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Por políticas públicas dignas pela saúde mental por Mel Inquieta

Hoje, 6 de julho de 2024, pela manhã, recebo um pedido desesperado de ajuda. Uma jovem pede pelos tios. O homem apresentava um quadro de surto, tornando-se um perigo, ameaçando matar a esposa, sua tia.

Ainda ontem achavam ser possível controlar a situação, mas a paranóia só aumentava. Então, pela manhã, tiveram que chamar a polícia. Como ela é da área da saúde, entendeu o quadro e chamou o SAMU. Conseguiram ir com ele até um Pronto Atendimento, sendo que nesse local não havia um psiquiatra para atender e dar medicamento. Ela conseguiu recorrer a um médico de outra especialidade,  quel a orientou a encaminhar o paciente ao pronto atendimento em um Hospital. Uma opção seria fazer uma internação compulsória, mas parece que não tem psiquiatra que atenda  nos finais de semana na rede pública e privada de Santa Maria. Um absurdo!

O quadro de surto segue e para quem está em volta, é muito exaustivo, principalmente, por não compreender a doença. Informaram que só na segunda-feira seria possível fazer uma transferência para um hospital com atendimento especialzado.

Em uma pequena cidade do interior, há poucos meses, em um quadro de euforia da doença de bipolaridade, uma mulher passou uma noite amarrada sem medicação, porque não havia um psiquiatra plantonista. Outra, em Santa Maria, também não conseguia atendimento no final de semana.

Alguém tem noção do que é conviver um dia com uma pessoa no quadro de surto?

Para quem não conhece, o bipolar tipo 1 quando chega no pico de euforia, torna-se uma pessoa extremamente violenta.

Seja em Santa Maria, seja no Brasil, a saúde metal precisa de atendimento público digno. É preciso que existam políticas públicas para ampliar e melhorar estes atendimentos na rede pública, assim como é necessário um amplo debate a fim de gerar mais conhecimento sobre as doenças mentais.

Se a violência doméstica fosse um caso de saúde pública levado a sério, muitos feminicídios não estariam sendo evitados?Uma juíza que entrevistei quando morava no Rio de Janeiro, disse que implantaram um atendimento terapêutico obrigatório aos homens acusados de violência doméstica. Ou eles faziam o atendimento, ou iam presos. Ela disse que evidentemente eles preferiam o atendimento e os índices de reincidência caíram bastante após a implementação do programa.

É preciso um olhar atento e profundo sobre a saúde mental do povo brasileiro. Certas violências e suicídios podem ser evitados futuramente com um trabalho focado. Segundo dados de 2019 da Organização Mundial da Saúde (OMS), a bipolaridade afeta cerca de 140 milhões de pessoas no mundo todo e em torno de 2,5% da população brasileira. No Brasil, a Associação Brasileira de Transtorno Bipolar (ABTB) estima a existência de aproximadamente 8 milhões de pessoas com a doença no país.

Assim, aproveito o momento de novas disputas eleitorais e peço aos políticos e candidatos para que, além das suas campanhas, olhem para a saúde mental e pensem como políticos que são ou que pretendem ser, como podem auxiliar na saúde destas famílias e pais.

Muito provavelmente mais um paciente passou amarrado sem medicação necessária por falta de atendimento especializado. Por sorte, em um hospital, pela família ter conhecimento e conseguir acesso. Entretanto, poderia ser mais um número de violência que ninguém gostaria de ver.

A segunda-feira chegou, o paciente foi transferido e finalmente encaminhado para o atendimento adequado. Sob medicação, volta estável para casa, com nova consulta agendada.  Mas quantas famílias já perderam os seus por falta de conhecimento e atendimento adequado?

É preciso estar ciente de que a violência também é um caso de saúde pública.

 

Melina Guterres (Mel inquieta)

Fundadora da Rede Sina e coletivo “Mulheres que dizem Não”

Mais sobre em www.redesina.com.br/melinaguterres

 

 

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comentários

3 comments

  1. MARCIA LEONIDIA WIENANDTS

    A saúde mental do município é uma piada. Descentralizaram a saúde mental que era muito boa, os caps( só o Prado Veppo trabalha mais ou menos). O caps do crack que foi um avanço quando veio hoje atende todas as drogas: ou seja não atende ninguém. Uma demanda muito grande para poucos espaços e profissionais.
    A Paulo Guedes só atende psicóticos. Na UPA fiquei quase 3 dias com meu filho que tem esquizofrenia sem atendimento. Estamos descobertos.

  2. A inexistência de plantão psiquiátrico no SUS e em hospitais que atendem convênios em Santa Maria é uma realidade absurda e grave. A função dos CAPS não é atendimento de emergência. Plantões na UPA ou no PA são urgentes para a demanda de saúde mental do município e da região.

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