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Pamplona: Tradição e Fascínio por ALDEMA MENINI

Meu filho – Paulo de Tarso – escreveu  ( http://correndomundo.blogspot.com.es/search/label/Cuba )
que nossos olhares sobre as cidades eram bem diferentes: eu via magia no mundo; ele  via “trânsito, pressa, gente tentando fazer o que pode para pagar as contas, criar os filhos, não morrer de câncer;  gente esperando  chegar a hora de ir para casa …”

Lembrei-me da afirmação dele ao conviver com a cidade de Pamplona. Acredito que os muitos séculos  de encontro com peregrinos que fazem o Caminho de Santiago de Compostela, passando pelo meio da cidade, tenham influído sobre a cultura local, tornando as pessoas receptivas, gentis e agradáveis, ao menos com os estrangeiros.

Não somos tratados unicamente como turistas – alguém que deixa dinheiro na cidade e incentiva outros a conhecê-la – mas como Peregrinos do Caminho, que ” buscam ser gente melhor, para si mesma e para o mundo” , como me falou a senhora de uma cafeteria. Um amigo de Madrid também me havia informado de que a gente de Navarra era maravilhosamente gentil. Confirmo!

Peregrinos de todas as idades.
Centro histórico de Pamplona
Plaza del Castillo

Centro Histórico

tracei partes do Caminho de Santiago em ônibus, carro e trem. Ontem realizei meu sonho: traçá-lo caminhando ……ainda que tenha feito 1,5 km.- sim! um km e meio.   De Sant Jean Pied de Port a Santiago de Compostela – o caminho mais percorrido pelos peregrinos – a distância é em torno de 800 km….mas eu iniciei…
Não se diz, em alguns discursos no lançamento de projetos ou de pedras fundamentais, que“toda jornada se inicia com o primeiro passo ” ? Escutei isso algumas vezes – com um sorriso nos lábios para combinar com a assertiva – sempre me perguntando: Como iniciar com outro passo? Como pular diretamente para o segundo passo?

Pois fiz o primeiro passo e mais um mil e tantos passos….embora continue lamentando jamais ter encarado ao menos os 180 km finais do Caminho. Resta-me esperança de ter vida e tempo ainda para fazê-lo – esperança renascida depois de ver , em Burgos, León, Oviedo e Pamplona, dezenas de velhinhas e velhinhos caminhando… Alguém se dispõe a ir comigo?

Hemingway , em frente à Plaza de Toros…

Parece mesmo ter sido Ernest Hemingway que, ao publicar o livro O sol nasce sempre, em 1926, tornou Pamplona e sua Fiesta de San Fermin mundialmente conhecida. As homenagens, Hemingway  as recebe até hoje ; a Fiesta – Los Sanfermines – segue acontecendo durante oito dias, sempre de 6 a 14  de julho, para comemorar o aniversário do Santo. Não há touradas atualmente, mas acontece o encierro – a corrida de touros.

 

O encierro – tema de grandioso monumento do escultor bilbaíno Rafael Huerta, inaugurado em 2007 –  é nuclear na Fiesta de San Fermin. Todos os dias, às  23  horas  da  noite, 6 touros são soltos para correr 440 metros pela cidade, no silêncio e quase às escuras, a caminho da Plaza de Toros, onde antes aconteciam as touradas. Muitos homens correm à frente dos touros. Contaram-me que o magnetismo do ato é inesquecível para quem participa ou para quem comtempla.

Na Festa de San Fermin, portanto, muitos homens correm com esses touros…ou fogem deles, arriscando a vida. E chamam isso de divertimento – ou de grande emoção. Além doencierro, há fogos de artifício, rituais, desfiles, festas, músicas e danças. Esperei que a festa terminasse para ir a Pamplona – há muito turista e … emoção demais para minha idade…nos dias de Los Sanfermines…

Detalhe da Plaza de Toros

Pamplona, cidade do norte da Espanha, capital de Navarra desde o século IX, tem, no entanto, bem mais a oferecer aos visitantes, além de ser parte do Caminho e de ter a tradicional corridas de touros. Encantei-me com o traçado da ciudadela no formato de uma estrela; encantei-me com suas muralhas,  parques, praças e passeios; suas muitas – mas muitas mesmo – igrejas e conventos; seus palácios, museus e universidades. E tem, ainda, o rio Arga, suas pontes e seu belíssimo verde ao redor.

Rio Arga

Nas muralhas, construídas por Felipe II com o objetivo de defender a cidade das invasões francesas, estive um tempo olhando o rio Arga, com suas pontes e suas margens belamente ajardinadas e bem cuidadas. Após, fui caminhar no Parque de la Taconera, o mais antigo e bonito de Pamplona, onde se podem ver cervos, gansos e pavões reais quemoram nos fossos das muralhas. Há também o Parque de la Media Luna, situado num dos extremos das muralhas , com miradores para o rio Arga.

Plaza del Castillo
A Praça do Castelo é o coração da cidade – lugar de encontro de pamploneses e visitantes. Neste espaço grande, com 14 mil metros quadrados, muitos eventos já se realizaram: mercados, torneios, concentrações políticas, desfiles militares e corridas de touros até 1844, ano da construção de uma praça de touros permanente. Muito bonita a Praça do Castelo … porém  sem nada de castelo por perto. O nome provém de um castelo erguido pelo rei Luis El Hutin, no século XIV, e desaparecido no século XVI.

Detalhe da Catedral de Santa Maria la Real

A Catedral de Santa Maria foi construída, nos séculos XIV e XV, onde antes havia um templo românico, destruído em 1276. Mostra fachada neoclássica e interior gótico, cuja nave central mede cerca de 27 metros de altura. É uma construção muito sóbria e austera. Dentro dela, na nave central, está o túmulo do rei Carlos III e de sua esposa Leonor. Diz-se que tanto a Catedral quanto esses túmulos,  constituem-se em joias arquitetônicas de Pamplona.

Fachada da Prefeitura

A Prefeitura  está construída no lugar da junção dos três burgos – Navarreria, San Saturnino e San Nicolás – que foram unificados por Carlos III o Nobre, com a promulgação , em 1423, do Privilégio da União, que visava a acabar com as tensões existentes entre os burgos. A fachada deste Ayuntamento é do século XVIII, nela estão as esculturas da justiça, da prudência, da força e da fama. À noite, fui tomar um café nesse lugar – muita gente e muita festa. Depois do café, tracei toda a Calle Mayor, principal via de passagem de peregrinos. Belo passeio!
 

Todas as indicações estão em Espanhol e em Euskara, idioma basco.
Ao redor do ano 70 a.C. o general romano Pompeo estabeleceu um acampamento militar estratégico, num povoado basco, chamado Uruna – foi o início da cidade que teria o nome de Pamplona. A partir daí, a pequena cidade romana seguiu a mesma sorte dos impérios, com alto e baixos, dores e alegrias.

Foi conquistada pelos godos, invadida pelos árabes, teve suas muralhas destruídas por Carlos Magno, tornou-se protegida de Sancho III o Maior, conhecido, nas crônicas árabes como O Senhor dos Bascos. vieram  franceses e, depois deles outros estrangeiros, surgiram novos burgos, os burgos foram unificados, foi governada por Foros, sofreu invasão das tropas de Napoleão, precisou destruir um pedaço das muralhas ao sul, para que a cidade crescesse e incluísse os que viviam do lado de fora delas. Tem hoje mais de 200 mil habitantes, uma Universidade Pública, um Centro de Pesquisas Médicas Aplicadas e…é uma cidade bonita, tranquila, com alto padrão de vida e muito bem organizada.

Se você pensa visitar Pamplona – o que aconselho vivamente – reserve um tempo para ir com calma e caminhar muito, olhando para todos os lados, o tempo todo, surpreendendo-se certamente com que vê. Estude-a bem antes de ir, assim terá mais condições de apreciá-la. Procure hospedar-se dentro das muralhas, mas passeie também fora delas. Desfrute do convívio com as gentes de Navarra. De Madrid a Pamplona, vai-se, num trem Alvia,  em 3h10 min – procure viajar em poltrona de janela, assim terá o bônus de ver o Aqueduto de Olite e alguns castelos espalhados pelo percurso.

” O meu olhar azul como o céu
É calmo como a água ao sol.
É assim, azul e calmo,
Porque não interroga nem se espanta…

Se eu interrogasse e me espantasse
Não nasciam flores novas nos prados
Nem mudaria qualquer coisa no sol de modo a ele ficar mais belo…”

Fernando Pessoa

Campos de Navarra, perto de Pamplona.

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