Seremos, tu e eu, a geração
que não sabe a que veio,
que esqueceu de seu uso,
que aposentará os sonhos distantes.
Somos os homens que não batem à máquina.
Assassinamos a punho Qwerty.
Tornamos natimortos os filhos de Remington;
fechamos pela força suja da obsolescência
a última fábrica datilográfica em Bombaim.
Somos os homens que não batem à máquina.
Lemos as capas dos jornais
e já temos nosso doutoramento cotidiano,
pois não cabe o tempo em um único dia.
Somos os homens que não batem à máquina,
e por isso mesmo temos pressa. A vida
pesa muito mais em nossas costas, pois,
contrários a Anchieta, já não temos
a delicadeza de escrevermos nossos versos na areia.
Somos os homens que não batem à máquina.
Em nós as mãos decantaram
com o chumbo sujo do garimpo
das circunstâncias. Da hora comprada
pela próxima tecnologia.
Em nossas mãos a dor é mais sentida.
Odemir Tex Jr., parturido nos frios junhos do estado do Rio Grande do Sul – sob a égide de gêmeos – nos estertores dos anos 70, do séc. XX. Reside em Santa Maria/RS. Estudou Geografia e Letras. Poeta e escritor com mais de uma vintena de prêmios literários em prosa e verso, em vários estados do Brasil. É coautor dos livros Santa Invasão Poética (poesia/2003), O Maquinista Daltônico (poesia/2007) e O Gol Iluminado (crônica/2008); autor de Esta Insólita Província, (poesia/ a publicar) e Para Uma Nova Didática do Olhar (Estrela Cartonera, poesia, 2013). Aprendeu a andar de bicicleta quando todos de sua idade já sabiam. Escreve para não cair.