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MÚSICA DO DIA: Geni e o Zepelim com Letícia Sabatella

Quem ainda não viu, tem que ver e quem já viu, vale rever!

Letícia Sabatella interpreta “Geni e o Zepelim”de Chico Buarque no espetáculo Alma Boa De Lugar Nenhum de Carlos Careqa em Porto Alegre (2011).

                                                                     

Geni e o Zepelim foi composta durante a ditadura, em 1978, fazendo parte do espetáculo “Ópera do malandro” também de Chico. A personagem Geni na peça é de uma travesti, hostilizada em sua cidade que começa a tratar melhor quando ameaçada por um homem que deseja Geni. A canção, uma crítica social, originou  diversas análises e interpretações sobre a canção. Buscamos algumas no Sr. Google e encontramos alguns artigos interessantes como “GENI, A MARIA MADALENA DE CHICO BUARQUE: ACLAMAÇÕES E APEDREJAMENTOS NA CANÇÃO E NO MUNDO, ONTEM E HOJE” de Luciene de paula e Marina Figueiredo.  Para elas “a crítica ao poder militar fálico passa completamente despercebida no momento em que a canção é composta (1977/1978), pois o poder do comandante encontra-se ironicamente atrelado a seus elementos fálicos: “Um enorme zepelim” (zepelim que, todos sabemos, refere-se a um balão, mas, aqui na canção faz alusão clara ao órgão sexlet1ual masculino do comandante que é maior que ele – seu desejo é maior que seu poder e o escraviza, no caso, a Geni. Também é sua volúpia o que conta. O abuso de seu poder atrelado às suas vontades pessoais), “Abriu dois mil orifícios / Com dois mil canhões assim”, “zepelim gigante”, “zepelim prateado”. A ironia ocorre pela caracterização do sujeitos narrados.” 

Já Lorena Zarattini, reflete sobre o respeito do autor a travesti.  “A opção do gênero da heroína na canção a coloca com respeito, pois independente do sexo, é tratada com apreço à sua escolha de ser uma mulher, como outras, ainda que “diferente””, segundo ela.

Vânia Coelho em sua resenha, lembra que “Há, ainda, outra metáfora que traz à tona a história de Sodoma e Gomorra, cidade destruída por tanta iniquidade, hipocrisia, horror e falsidade. A figura se apresenta com a chegada do Zepelim, que vem do alto, ou seja, das nuvens, do céu para destruir a cidade cheia de falso moralismo, é exatamente nesse momento que Geni, de prostituta e travesti excluído, vira a formosa dama, deixando a cidade, cuja população está apavorada, paralisada de tanto medo das ameaças do comandante do Zepelim,1surpresa com as palavras dele: “let3quando vi nesta cidade, tanto horror e iniquidade, resolvi tudo explodir, mas posso evitar o drama, se aquela formosa dama, esta noite me servir”.”

Enfim, a canção segue gerando várias interpretações e discussões.

E você como interpreta Geni e o Zepelim?

 

Geni e o Zepelim

De tudo que é nego torto
Do mangue e do cais do porto
Ela já foi namorada.
O seu corpo é dos errantes,
Dos cegos, dos retirantes;
É de quem não tem mais nada.
Dá-se assim desde menina
Na garagem, na cantina,
Atrás do tanque, no mato.
É a rainha dos detentos,
Das loucas, dos lazarentos,
Dos moleques do internato.
E também vai amiúde
Co’os os velhinhos sem saúde
E as viúvas sem porvir.
Ela é um poço de bondade
E é por isso que a cidade
Vive sempre a repetir:

“Joga pedra na Geni!
Joga pedra na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!”

Um dia surgiu, brilhante
Entre as nuvens, flutuante,
Um enorme zepelim.
Pairou sobre os edifícios,
Abriu dois mil orifícios
Com dois mil canhões assim.
A cidade apavorada
Se quedou paralisada
Pronta pra virar geleia,
Mas do zepelim gigante
Desceu o seu comandante
Dizendo: “Mudei de ideia!
Quando vi nesta cidade
Tanto horror e iniquidade,
Resolvi tudo explodir,
Mas posso evitar o drama
Se aquela formosa dama
Esta noite me servir”.

Essa dama era Geni!
Mas não pode ser Geni!
Ela é feita pra apanhar;
Ela é boa de cuspir;
Ela dá pra qualquer um;
Maldita Geni!

Mas de fato, logo ela,
Tão coitada e tão singela
Cativara o forasteiro.
O guerreiro tão vistoso,
Tão temido e poderoso
Era dela, prisioneiro.
Acontece que a donzela
(E isso era segredo dela),
Também tinha seus caprichos
E ao deitar com homem tão nobre,
Tão cheirando a brilho e a cobre,
Preferia amar com os bichos.
Ao ouvir tal heresia
A cidade em romaria
Foi beijar a sua mão:
O prefeito de joelhos,
O bispo de olhos vermelhos
E o banqueiro com um milhão.

Vai com ele, vai Geni!
Vai com ele, vai Geni!
Você pode nos salvar!
Você vai nos redimir!
Você dá pra qualquer um!
Bendita Geni!

Foram tantos os pedidos,
Tão sinceros, tão sentidos,
Que ela dominou seu asco.
Nessa noite lancinante
Entregou-se a tal amante
Como quem dá-se ao carrasco.
Ele fez tanta sujeira,
Lambuzou-se a noite inteira
Até ficar saciado
E nem bem amanhecia
Partiu numa nuvem fria
Com seu zepelim prateado.
Num suspiro aliviado
Ela se virou de lado
E tentou até sorrir,
Mas logo raiou o dia
E a cidade em cantoria
Não deixou ela dormir:

“Joga pedra na Geni!
Joga bosta na Geni!
Ela é feita pra apanhar!
Ela é boa de cuspir!
Ela dá pra qualquer um!
Maldita Geni!

Segundo o Wikipédia:

“Geni e o Zepelim” é uma canção brasileira, composta e cantada por Chico Buarque Esta canção fez parte do musical Ópera do Malandro, do mesmo autor, lançado em 1978, do álbum, de 1979, e do filme, de 1986, todos com o mesmo nome.

A letra descreve, em versos heptassílabos metrificados e rimados, a longa história que define o episódio ocorrido com Geni, uma travesti (segundo representado na “Ópera do Malandro”), que era hostilizada na cidade. Diante de uma ameaça de ataque de um Zepelim, o comandante se encanta com os dotes de Geni, que acaba sendo provisoriamente tratada de um modo diferenciado pelos seus detratores. Passada a ameaça, ela retorna ao seu dia-a-dia normal, no qual as pessoas a ofendiam e excluíam, revelando o caráter pseudo-moralista e hipócrita da sociedade.

A canção teve tal relevância que o refrão Joga pedra na Geni se transformou numa espécie de bordão, indicando como Geni pessoas ou até mesmo conceitos que, em determinadas circunstâncias políticas, se tornam alvo de execração pública, ainda que de forma transitória ou volátil.

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