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Lou Andreas-Salomé por TALINE SCHNEIDER

Uma assexual poliamorista nascida há mais de 150 anos

O que dizer dessa moça que eu acabo de conhecer e já considero pacas? O que eu sabia sobre Lou Andreas-Salomé até assistir ao filme mais recente sobre sua história? Confesso, apenas tinha conhecimento de que ela havia sido uma filósofa e uma das primeiras psicanalistas, a qual “enlouqueceu” e inspirou as obras dos filósofos Friedrich Niestzsche e Paul Rée, com quem formou uma tríade fraternal de discussões filosóficas, baseada única e exclusivamente no que que ela chamava de “camaradagem”.
E o que sei agora? Não muito mais, mas quero me aprofundar na biografia e obra dessa mulher independente e autônoma, muito a frente do seu tempo, que no final do século 19, negou o casamento e a constituição de uma família tradicional, marcada pelo machismo e patriarcado. E que, em um único filme (de certa forma bastante romantizado), me passou uma sensação fortíssima de ser eu sua reencarnação na terra, pois nunca me senti tão bem representada por alguém. Mesmo sem ter tido conhecimento de sua obra antes, o que é lamentável, não consigo entender como eu posso ter os mesmos pensamentos e sentimentos em relação a praticamente tudo.
Eu que estudo e lido na prática, diariamente, as questões da sexualidade e gênero (além de transtornos de personalidade e comportamento humano), percebo nitidamente os traços marcantes de #assexualidade em Lou. E sua incrível capacidade de amar fraternalmente, inclusive a mais de uma pessoa #poliamor #nãoMonogamia.
Lou, que formou uma “trindade” (nome dado a essa relação por ela mesma) com os filósofos Nietszche e Rée, casou-se aos 26 anos, por aparências, com Carl Andreas e teve sua primeira relação sexual (e também romântica), depois de 10 anos de casada, com seu primeiro amor, o poeta Rainer Maria Rilke, por quem sem interessou justamente pelo seu lado feminino mais aflorado, sendo ele um homem mais sensível do que aqueles que normalmente a cercavam.
Confesso, mais uma vez, que o filme me pegou desprevenida, pois imaginava uma história muito mais focada em sua obra filosófica e psicanalítica, não em sua intimidade com grandes filósofos, poetas, escritores e pensadores.
Mas qual não foi a minha feliz surpresa ao perceber que toda sua obra e filosofia, são baseadas em sua inconformidade com o mundo, além de seus sentimentos e relacionamentos com os outros seres humanos? É justamente nisso que precisamos aprender a nos aprofundar, nos conhecer e entender melhor.

E parece que damos tão pouco valor a nossa intimidade e individualidade, sempre desrespeitando nossa essência em função de regras pré-estabelecidas por uma sociedade e cultura extremamente conservadora, machista e patriarcal. Normalmente não fazemos o que queremos e o que temos vontade, mas o que esperam que façamos. Naturalizamos o fato de sempre termos de agir para agradar aos outros, nunca a nós mesmos.
Lou é muito clara quando diz a sua mãe: “Não sou o que você gostaria que eu fosse”. E ela sim, foi o que queria ser!

E, por fim, orientou. “Se você quer uma vida, aprenda… a roubá-la”. Ou seja, corra atrás da sua felicidade, sem se importar com o que os outros vão pensar. A tragédia da vida não é a morte, mas sim, deixar de viver antes da chegada da única certeza absoluta dessa vida.
Lou é sim um marco da resistência feminina e pode (por quê, não?) também ser considerada hoje um símbolo da luta pela visibilidade poliafetiva e assexual, por relações mais fraternais e respeitosas, menos abusivas e violentas.

 

 

Taline Schneider é jornalista, feminista, ativista de Direitos Humanos, especialista em Marketing, especializanda em Direito Homoafetivo; empreendedora social, idealizadora da Coparentalidade Responsável e Planejada no Brasil, diretora executiva de Pais Amigos

 

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