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HISTÓRIA DA MÚSICA: O CANTO DAS TRÊS RAÇAS

“Acontecem coisas estranhas comigo desde quando comecei a compor, ainda menino. Vejo pessoas, vultos, sombras. Escuto passos, palavras cantos. (…) Minha poesia é cantada e citada como reza, filosofia, provérbio, em inúmeras religiões, seitas e rituais Brasil afora. E eu vou seguindo, hoje, mentalmente, mais serenizado.”

Essas palavras são do poeta, compositor e produtor Paulo César Pinheiro em seu livro História das Minhas Canções. Ele e Mauro Duarte são os autores da música o Canto das Três Raças que ficou popularmente conhecida na voz de Clara Nunes, com o quem Paulo foi casado.

A música levou o nome do disco de Clara e foi lançado em 1976 fazendo grande sucesso no país. Confira o texto de Paulo publicado na contra-capa do disco.

Em 5 de março de 1983, Clara Nunes se submeteu a uma aparentemente simples cirurgia de varizes, mas acabou tendo uma reação alérgica a um componente do anestésico. Clara sofreu uma parada cardíaca e faleceu.

Foto do casamento de Clara Nunes e Paulo Cesar Pinheiro que juntos criaram o disco o Canto das Três Raças. Foto: Reprodução.

“Quando o Brasil ainda era um país desconhecido do resto do mundo, a nossa música era apenas sons dispersos na boca do índio habitante. Porque fazer som e ritmo é próprio do instinto humano. Mas nada havia de definido em termos musicais. Até que aqui chegou o português colonizador e a história da MPB começa. A Terra foi tomada em nome do rei. E o índio guerreiro foi vencido e escravizado ao trabalho da lavoura, em favor da civilização. E, do cativeiro, ecoaram os primeiros cantos tristes que começaram a definir o nosso canto brasileiro. Dado ao gigantismo da nova nação descoberta, precisavam os conquistadores de muitos e muitos braços para o trabalho, que se prenunciava tão grande quanto o próprio território. E importaram de suas colônias africanas a raça nascida escrava: a raça negra. E o canto do índio cativo juntou-se ao lamento do preto sofrido das senzalas e dos quilombos. E a música passou a tomar novas formas, proporções e grandeza às quais o mundo inteiro ainda viria se curvar. Para a nova Terra partia toda espécie de gente: desde os homens de confiança da coroa portuguesa até aventureiros buscando riquezas. E aqui, saudosos de seus lugares de origem passaram também a criar seus cantos.A colônia crescia e os próprios brancos já sentiam a necessidade da quebro das correntes que uniam Brasil e Portugal. Até que se deu a Independência. E o expressão “música popular brasileira”, desde aí, passou a ter a sua definitiva validade.Esta é a sua história. A história da música de um país feita pela união das três raças que o construíram. E, tendo sido feita pelo povo, só o próprio povo tem o direito de julgar e consagrar a música popular, porque somente ele sabe os que melhor interpretam seus sentimentos. Os grandes mestres saíram sempre do povo. O bom intérprete sente um e um estranho afeto pela composição que interpreta. E, nesse instante, letra e melodia são suas. O autor é ele. Por isso Clara Nunes tem o quilate de uma grande intérprete. Porque, quando canta, se une ao povo num sentimento comum. E o povo sente e gosta e canta com ela, Porque também do povo é o compositor que ainda está por surgir, o mestre que ainda não apareceu.O povo é simples nas suas origens. E entende melhor as coisas simples. Por isso Clara, porque também veio do povo e tem a mesma simplicidade, porque traz dentro de si a força do talento, porque dedicou-se completamente á música de sua Terra e ao canto de seu povo que ela tanto ama, pode ser chamada por nós de Cantora das Três Raças. A brasileira Clara Nunes. Mineira carinhosamente. Ou somente CLARA”

(fonte: Samba de Raiz)

O CANTO DAS TRÊS RAÇAS

Ninguém ouviu
Um soluçar de dor
No canto do Brasil

Um lamento triste
Sempre ecoou
Desde que o índio guerreiro
Foi pro cativeiro
E de lá cantou

Negro entoou
Um canto de revolta pelos ares
No Quilombo dos Palmares
Onde se refugiou
Fora a luta dos Inconfidentes
Pela quebra das correntes
Nada adiantou

E de guerra em paz
De paz em guerra
Todo o povo dessa terra
Quando pode cantar
Canta de dor

E ecoa noite e dia
É ensurdecedor
Ai, mas que agonia
O canto do trabalhador
Esse canto que devia
Ser um canto de alegria
Soa apenas
Como um soluçar de dor

 

O DISCO:

7. “BASTA UM DIA”

Foto do casamento de Clara Nunes e Paulo Cesar Pinheiro que juntos criaram o disco o Canto das Três Raças. Foto: Acervo O Globo
3:01

SAIBA MAIS SOBRE CLARA NUNES

SAIBA MAIS SOBRE PAULO CESAR PINHEIRO

 

Fan page do compositor: https://www.facebook.com/paulocesarpinheiro/

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