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José Renato. Foto: divulgação

História & Relações Internacionais: uma chave para compreensão das transformações de poder | por JOSÉ RENATO DA SILVEIRA

“Churchill e Trotsky eram capazes de ler o mapa mundi”.

Oliveiros S. Ferreira.

 

Na Universidade eu ensino História das Relações Internacionais no período moderno e contemporâneo. Tratamos acerca da ascensão do Ocidente, a Guerra dos 30 anos, o Absolutismo na Europa, as Revoluções Liberais (inglesa e francesa), Guerras Napoleônicas, Congresso de Viena, Guerra da Crimeia, Guerra Civil Norte-Americana, Guerras de Unificação alemã, Imperialismo europeu na África, Primeira Guerra Mundial. Wilson e o Tratado de Versalhes, Revolução Russa, Nazismo, Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria.

Destaco que a História das Relações Internacionais é permeada por cinco elementos:

  1. É a luta pela ordem e pelo poder;
  2. O ciclo de ascensão e queda das grandes potências;
  3. Os impérios perecerão;
  4. Todo vácuo de poder será preenchido por uma potência em ascensão;
  5. Movimento pendular entre a Hegemonia e o equilíbrio de poder.

O bom analista de Relações Internacionais deve captar o que escapa aos olhos da maioria de seus contemporâneos. Ou seja, perceber, assim, muito cedo, a emergência ou a confirmação de uma potência global, capaz de projetar o poder efetivamente muito além dos confins do hemisfério.

Vale recordar que o Barão do Rio Branco soube inserir o Brasil no tipo de globalização que se processava naquele momento. Como afirma Rubens Ricupero: “Rio Branco estava consciente de que, já em 1904, pouco após o início de sua gestão, os Estados Unidos absorviam cerca de 50% das exportações brasileiras e eram os primeiros importadores dos três principais produtos que exportávamos (café, borracha e cacau)”.

À luz dessas perspectivas, Rio Branco criou o primeiro paradigma e modelo abrangente para articular e dar sentido à política externa do país. Tratava-se de construir com os Estados Unidos uma espécie de opção preferencial.

Após o Brasil resolver os problemas de fronteiras com os vizinhos latino-americanos, o projeto posterior era mais ambicioso. O Brasil se sentia atraído pelo “círculo maior das grandes amizades internacionais” a que tinha direito.

É por essa razão que notamos a crescente participação brasileira na vida internacional (a tomar parte nas duas guerras mundiais) e expressar a natureza global de nossos interesses apesar da limitação de nossos meios. O conteúdo da diplomacia de Rio Branco, portanto, era político-estratégico.

Rio Branco – sabiamente – soube ler a transição do poder de Londres para Washington.

E hoje? Na última década, a participação chinesa na exportação brasileira cresceu 56% passando de 17,2% em 2012 para 26,8% em 2022.

Outro dado relevante, das 27 unidades da Federação, 14 tiveram a China como principal destino de suas exportações em 2022.

Sem dúvida, a China é o principal destino das exportações do agronegócio brasileiro respondendo por uma fatia de 31,9%.

Soja, carne bovina, frango, celulose e cana de açúcar são os produtos mais negociados. Não foi à toa, que a viagem de Lula para a China levou mais de 100 empresários do setor do agronegócio.

Brasil e China celebraram acordos bilionários no setor de agricultura, mídia, ciência e tecnologia. O governo Lula reconhece que o Estado brasileiro (sozinho) não tem a potência necessária para garantir a retomada da economia. E captar investimentos relevantes internacionais é uma necessidade. Com outras economias em recessão no mundo, o Brasil depende da China para aumentar suas exportações de um modo geral. Lula usou a viagem à China com o objetivo de abrir o mercado do gigante asiático para mais produtos brasileiros e ampliar os investimentos chineses no Brasil.

Caro leitor, estamos diante de uma transição de poder? O que acham?

 

OBS: Dedico a turma 2023 de Relações Internacionais-UFSM

 

Prof. Dr. José  Renato Ferraz da Silveirajosé

Professor Associado III do Departamento de Economia e Relações Internacionais (DERI) da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) . Líder do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP). Editor-chefe da Revista Interação (ISSN 2357-7975). Articulista do Diário de Santa Maria . Colaborador do Blog Obvious
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