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HISTÓRIA DA TV OVO

A Oficina de Vídeo – TV OVO há 23 anos é um espaço comunitário de movimento cultural e comunicacional vivo e pulsante, em que, desde o dia 12 de maio de 1996, cultivam-se as mesmas marcas de trabalho: organização, protagonismo cidadão, formação, valorização cultural e audiovisual.

Tudo começou com um grupo de jovens na Vila Caramelo guiados por Paulo Tavares, na época diretor cultural da Associação Comunitária da vila e dirigente do Sindicato dos Bancários. Juntos, o grupo experimentou a prática de contar histórias em formato de vídeo, assim, desde esse momento, a TV OVO cresce, sonha com projetos e realiza-os interligado a comunicação comunitária, a cultura, a memória, o audiovisual e a educação.

A organização conquistou seu espaço em Santa Maria e tem forte protagonismo atuando na formação audiovisual de jovens e adultos, sendo produtora independente de documentários, curta-metragens de ficção, vídeos experimentais e coberturas jornalísticas de eventos, como a Feira Internacional do Cooperativismo (Feicoop) e a Feira do Livro de Santa Maria. Ela registra a memória da cidade, das ruas, das pessoas, defendendo as causas políticas e sociais que acreditam. Utilizando do trabalho que flui entre as paredes do Sobrado da TV OVO, como ferramenta de protesto, como movimento, sendo vozes – as vozes de um coletivo unido que luta pelas pequenas e grandes causas.

Falar dos 23 anos da TV OVO, é falar de um longa trajetória na formação técnica, social e cultural a partir das oficinas para jovens e adolescentes de Santa Maria. A associação nasceu de oficina realizada na Vila Caramelo e mantém as atividades de formação até hoje. Para os integrantes da TV OVO, mesmo que os jovens não sigam em alguma especialidade da produção audiovisual, os participantes dos momentos de formação experimentam um conceito fundamental, que é o trabalho coletivo. Uma produção audiovisual só se realiza com a colaboração de muitas pessoas e é esse aprendizado que os jovens levam para toda a vida.

As oficinas ministradas pela TV OVO também revelam grandes profissionais e possibilitam aos jovens a escolha uma carreira no mercado de trabalho. Aqui na Tv Câmara temos dois exemplos. O Marcos foi aluno da TV OVO em 1996, na primeira turma. Ele é editor concursado da câmara desde 2003. Já o Robson participou das oficinas da TV OVO em 1998, com apenas 13 anos. Depois de ficar por muitos anos na equipe da TV OVO, ele trabalhou na TV Campus, da UFSM, na UNF TV da universidade franciscana e passou no concurso aqui da câmara como cinegrafista. Desde 2016 é um dos cinegrafistas que captam as imagens da Tv Câmara. Além deles, existem muitos outros casos de jovens que iniciaram seu o caminho profissional nas oficinas da TV OVO, como o Alex, que está na UFN TV, o André, que trabalha em Porto Alegre em grandes produções de longas-metragens, o Evandro e o Rafael que fazem parte da finish produtora, o Maurício que está na Unipampa e tantos outros. No meio do audiovisual santa-mariense, a TV OVO é a principal escola de produção e ela continua até hoje mantendo esse trabalho, que nos últimos anos é desenvolvido no projeto “Olhares da Comunidade”. O “olhares” vai até as escolas públicas municipais para trocar experiências sobre audiovisual. Neste ano o projeto já passou pela  escola Reverendo Alfredo Winderlich, no bairro Urlândia, e as próximas paradas são as escolas José Paim de Oliveira, no distrito de São Valentim e Sérgio Lopes, localizada no bairro Renascença.

Uma das recentes lutas é a transformação do Sobrado da TV OVO em um espaço cultural estruturado, o espaço fica na Rua Floriano Peixoto com a Ernesto Becker, no bairro Nossa Senhora do Rosário, Sonha-se com o Sobrado Centro Cultural há um bom tempo. Parte do sonho já foi realizado, o Sobrado é patrimônio  histórico cultural de Santa Maria tombado por decreto executivo desde o dia 30 de agosto de 2018. O tombamento valida e reconhece a importância do Casarão que data  de 1916, cuja volumetria, fachadas norte, leste e sul devem ser preservadas, que representam o estilo arquitetônico eclético, bem como adornos e recuperação de aberturas,  e a fachada do galpão anexo, de 1940, em estilo art déco, conforme recomendações do  Conselho Municipal de Patrimônio Histórico e Cultural de Santa Maria Comphic/SM. Com essas e outras ações o coletivo busca e articula recursos para a restauração da fachada da casa e para a construção de um espaço em anexo.

A sede da TV OVO, carinhosamente chamada de Casarão, foi doada ao grupo em maio de 2016 pelo jornalista Marcelo Canellas. A organização já teve seu ponto de encontro em diversos espaços pela cidade de Santa Maria, como por exemplo, em casas de associados, em locais alugados, na Casa de Cultura de Santa Maria, e hoje finalmente tem seu espaço fixo de trabalho – O Sobrado da TV OVO. Para os olhos de quem faz a TV OVO, o  Casarão que é símbolo histórico para a cidade de Santa Maria, logo será ponto de encontro e de memória, de trocas, de vida, de experiências e de referência em produção e formação audiovisual comunitária. Uma casa de cultura e de arte, com estrutura, tecnologia, conforto,  e segurança.

E por trás de todo sonho há uma trajetória a percorrer, é preciso das bases sólidas para construirmos o presente e o futuro. Dentre os projetos mais antigos tem-se a criação do Cineclube Porão e o Espaço Cultural TV OVO, aqui não apenas sessões cineclubistas geraram movimento, havia intervenções artísticas de teatro, música, exposições e poesia. Era um momento de grande movimentação do coletivo, muita gente ouvia falar da TV e aproximou-se de suas práticas. Mas, logo mais desafios surgiram e a permanência do grupo no local não foi mais permitida, devido às altas taxas do aluguel.

Mesmo sem um ponto residencial fixo a TV passou a dar conta de seus projetos, ideias e desafios. Assim, fazem parte da história da TV OVO a realização de oficinas em comunidades periféricas e escolas públicas – oficinas de formação audiovisual, incentivo a núcleos de cineclubes, exibições fílmicas e produção de vídeos comunitários, como nos projetos Ponto de Cultura Espelho da Comunidade e Olhares da Comunidade, ambos realizados em Santa Maria, já o Pontão de Cultura FOCU realizou-se em pontos de cultura do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná.

Ainda sobre formação educacional tem-se o Narrativas em Movimento, que iniciou no ano de 2016 e até hoje desenvolve-se na cidade, o projeto consiste na realização de  Colóquios e Workshops abertos ao público no geral, porém é um projeto que atinge em maior proporção o âmbito acadêmico, gerando reflexões, debates, inspiração e trocas de conhecimento. Tratam de temáticas como Novas plataformas, debate público e agendamento na era da internet, Documentário e Direitos Humanos, produção de séries audiovisuais, direção de arte para o audiovisual, fotografia, roteiro, e produção de vídeos com o celular.

No âmbito da prática audiovisual, em 2013 o projeto de documentário A Semi-lua e a Estrela ganhou vida em Caçapava do Sul, financiado pelo edital Documenta Rio Grande, do Fundo de Apoio à Cultura (FAC-Audiovisual), da Secretaria Estadual de Cultura (Sedac-RS). Em 2014, realizamos, em parceria com o Canal Futura, formação audiovisual nas cidades de Santana do Livramento e Uruguaiana, para 170 jovens brasileiros, uruguaios e argentinos no projeto Diz Aí Fronteiras. Em 2015, produziu-se o curta-metragem de ficção Poeira dirigido por Paulo Tavares, o filme conta a história de Ernesto (Joel Cambraia), o último artesão de lápides da região que dedicou-se anos ao seu ofício solitário, até sentir a esperança de transmitir seus conhecimentos de trabalho a um ajudante mais novo, o aprendiz José (Victor Dutra Barbosa).

2015 também foi ano de documentário, com o Frequências do Interior dirigido por Neli Mombelli, o audiovisual é embalado pelas ondas de rádio e resume-se em palavras como: informação, música, companhia e também a esperança de encontrar o amor romântico, registrando assim, histórias nas cidades de interior: Carazinho, Sarandi e Almirante Tamandaré do Sul. O filme apresenta a ideia de que mesmo na era da internet, o rádio tem seu lugar cativo. Ambos os filmes foram aprovados em edital do governo do Estado.

Em paralelo a alguns projetos já citados tem-se o Por Onde Passa a Memória da Cidade, que desde 2008, registra a história de pessoas, ruas, bairros e distritos de Santa Maria, também promove exibições e debates no espaço urbano e rural da região. Os conteúdos exibidos são, em sua maioria, vídeos que retratam o patrimônio cultural da cidade e a memória das pessoas que moram ou passam por Santa Maria. Recentemente contou-se a história dos 9 distritos que compõem a cidade, a partir das vivências, recordações e apelos de quem mora ou fez parte do local, ou ainda de quem relaciona-se afetivamente com o espaço.

Na TV OVO há espaço para diversos tipos de audiovisuais, desde modelos mais jornalísticos até o cinema de ficção, um exemplo disso é o programa Cena Cultural, este trata sobre os segmentos artísticos de Santa Maria, como: teatro e circo, dança, música, tradição e folclore, culturas populares, livro e literatura, cinema e artes visuais. O programa organizou-se em 10 episódios e foi ao ar na TV Camara. Já o Rock do K7, dirigido e roteirizado por Marcos Borba, é uma das produções da TV que apresenta elementos da ficção em sua estrutura, a proposta é a realização de uma série ficcional e documental que aborde a cena musical do rock da década de 1980 e início dos anos 90 no contexto musical de Santa Maria – apelidada na época de a Seatlle do Sul. O episódio piloto da série já foi gravado, estruturam-se os próximos.

No núcleo de produção de documentários tem-se, dentre outros, o documentário Depois Daquele dia, filme que apresenta uma investigação em primeira pessoa sobre os impactos e aprendizados deixados pela tragédia da boate Kiss em Santa Maria, as cicatrizes que marcaram a comunidade e as relações que criaram-se entre as vítimas, os familiares e a própria cidade. Tem-se também o Cultura de Afetos, um documentário sobre a luta dos pequenos. O filme produção da TV OVO tem realização de D. Copetti Produções e foi gravado na Feicoop, no ano de 2017. Imersos durante três dias intensos na feira a equipe registrou a movimentação e gravou 19 entrevistas, além de idas até a casa de produtores rurais e urbanos para traduzir em imagens o cotidiano que ajuda a construir a feira.

E não são só projetos audiovisuais que fazem sucesso por lá, uma das recentes marcas da TV OVO são as publicações literárias: Cronicaria e Lelé João-de-Barro: Arquiteto de Histórias. O grupo caminha aos pequenos passos no universo da literatura e mesmo assim já tem bons frutos. Hoje já se tem essas duas publicações impressas com o Selo Sobrado Centro Cultural e Selo TV OVO. Ambos os livros valorizam Santa Maria e suas memórias.

O Cronicaria organizado por Neli Mombelli compõem-se de crônicas sobre e de Santa Maria a partir do olhar de Marcelo Canellas e Manuela Fantinel. É o olhar santa-mariense sobre o mundo para além dos morros que nos cercam. O livro também traz “fotocrônicas”, de Renan Mattos e sensíveis ilustrações de Elias Ramires Monteiro. A obra é carregada de lirismo, reflexão, cotidiano e narrativas cheias de humanidade. O segundo livro: Lelé João- de-Barro: Arquiteto de Histórias, é um livro infantil que busca despertar o interesse das crianças pelos patrimônios históricos e culturais de nossa cidade, produzir sentidos de identidade e pertencimento com as ruas, casas e espaços públicos, promover memórias de afeto relacionadas a cidade. O personagem que conduz a história é o Lelé, um pássaro arquiteto que mora no Sobrado da TV OVO, numa casinha de João-de-Barro. No livro há jogos, desenhos para colorir, origami, peças para recortar, assim ensina-se o reconhecimento do patrimônio da cidade e também apresenta-se  o universo da arquitetura – alguns de seus elementos e estilos.

Muita história já foi construída, contada e vivida, mas muito trabalho ainda está porvir. Neste ano de 2019 dois audiovisuais estão previstos, um documentário focado na história de origem da formação do povo de Santa Maria, intercalando a versão histórica e a lendária, com ênfase na presença indígena (minuanos e tapes). Questionarão, por exemplo, onde está esse povo Minuano? e como a cultura indígena se manifesta e nos influencia?.

O segundo projeto é chamado Cartas à Vila Belga, estrutura-se em três episódios e tem como objetivo aproximar os santa-marienses com a Vila Belga – patrimônio histórico municipal, suas histórias e simbolismos. A proposta é criar o audiovisual a partir de cartas escritas por pessoas da cidade que se relacionam com o espaço ou que possuem memórias do local. Em cada episódio, uma pessoa convidada escreverá sobre qualquer assunto ou tema relacionado à Vila Belga para um destinatário imaginário. A partir da carta, a equipe de gravação irá captar imagens e sons poéticos e reflexivos para construir os pequenos filmes.

A organização tem reconhecimento nacional através dos prêmios Escola Viva (2007), Selo Cultura Viva (2007), Ponto Mídia Livre (2010), Selo e Prêmio Cultura Viva (2011) e Ponto de Memória (2013). Também produziu vídeos para o programa Ponto Brasil (TV Brasil), Laboratório Cultura Viva (Escola de Comunicação – UFRJ), Canal Futura, e co-produziu o programa Povo Gaúcho da TVE-RS. Além das inúmeras produções audiovisuais já citadas, que em sua maioria, podem ser encontradas no canal do Youtube ou no Vimeo da TV OVO, pois a ideia é a democratização do conteúdo, ou seja, além de registrar e produzir audiovisuais também fazer-los circular, serem vistos e ouvidos e debatidos, levar o conhecimento e cultura à sociedade.

PROJETO DE RESTAURAÇÃO

O projeto que prevê a primeira fase de restauração da casa onde está a sede da TV OVO foi aprovado, na última terça-feira, 04, pela Lei de Incentivo à Cultura do estado do Rio Grande do Sul. Cadastrado no sistema em 16 de janeiro deste ano, o projeto intitulado Sobrado Centro Cultural – Fase 1 foi analisado pelo Conselho Estadual de Cultura (CEC) no dia 30/05 e considerado prioritário.
O projeto prevê a recuperação do casarão eclético datado de 1916, situado em Santa Maria, que será transformado em um centro cultural com ênfase para o audiovisual e projetos sociais ligados à área da cultura, comunicação e memória. Nesta primeira fase, o foco é a recuperação do imóvel histórico que se encontra atualmente em avançada degradação e sem cobertura. Para isso, prevê a estrutura necessária que deverá abrigar, no primeiro andar, uma biblioteca audiovisual, sala de leitura, museu da imagem e som e um café, e, no segundo andar, uma sala multiuso em que funcionará cineclube entre outras atividades culturais como exposições, encontros e oficinas. Após esta etapa, a casa abrigará a sede da TV OVO provisoriamente para que seja possível dar seguimento às próximas duas fases, que contemplarão a construção de um prédio anexo de 4 andares, onde será instalada a sede definitiva, com reabilitação da fachada art déco de 1940 do galpão, e a restauração das fachadas leste, sul e norte do casarão.
Conforme o documento publicado no Diário Oficial do estado, o valor aprovado para captação via Sistema Pró-Cultura RS  é de R$ 896.105,77 . Pela Lei, para que o projeto possa iniciar a execução, a equipe tem 6 meses para captar 20% do valor total, entendido como sinal de potencial para tirar a ideia do papel. Empresas que pagam ICMS (imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços) no estado, desde que não tenham aderido ao Simples Nacional e estejam em situação de regularidade, podem destinar percentual do seu imposto para o projeto. A contrapartida, no caso do Sobrado Centro Cultural, é de apenas 5%, em função de ser bem tombado. Esse valor é destinado ao Fundo de Apoio à cultura (FAC/RS) e a empresa terá sua marca divulgada como patrocinadora do projeto.
Porém, a partir do novo convênio realizado pelo estado do Rio Grande do Sul com o CONFAZ (Conselho Nacional de Política Fazendária do governo federal), os incentivos fiscais foram prorrogados até 30 de setembro deste ano. Para garantir a obra, é necessário conseguir os patrocínios com urgência. A relevância da proposta engloba ampla dimensão cultural, seja pelo ato de tombamento municipal, pelas atividades que a TV OVO desenvolve, seja pelo legado arquitetônico, histórico, social e cultural que carrega. O casarão foi construído por Evandro Ribeiro (1882 – 1960), engenheiro civil formado pela Escola de Engenharia de Porto Alegre. Nascido em Caçapava do Sul, ele veio para Santa Maria com o desejo de viver como poeta, integrando a Academia Literária Sul-rio-grandense e a Academia de Letras do Rio Grande do Sul, motivo pelo qual a casa foi espaço de saraus literários e intensa movimentação cultural. Depois de ter sido residência da família Danesi, de 1940 a 1980, o imóvel foi adquirido por Marcelo Canellas em 2010, e fez a doação para a TV OVO em 2016, quando a associação completou 20 anos.

“Esta história faz parte da essência que se articula com as forças vivas da cultura do município de Santa Maria, constituindo um projeto voltado para a cidade e suas demandas, e potencializando as ações de cunho artístico e social já desenvolvidas pela TV OVO no setor audiovisual”, salienta o parecer do conselheiro relator no CEC, Jorge Luís Stocker Júnior, entendendo o projeto como “importante iniciativa de resgate do patrimônio cultural arquitetônico e paisagístico”.

O projeto que começa a sair do papel é gestado de forma coletiva desde 2012. Um chamada público de Marcelo para arquitetos da cidade, em 2012, deu início às discussões. A equipe da proposta  aprovada é formada pelos arquitetos Tita Pereira, Daniel Pereyron e Anelis Flôres; os engenheiros Lucas Jost e Guilherme Angonese; e os produtores culturais Neli Mombelli, Denise Copetti e Marcos Borba.

 

INFORMAÇÕES VIA TV OVO

https://tvovo.org/

 

 

 

 

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