O final de semana promete com o espetáculo “Feminino abjeto” que integra a pesquisa proposta pela atriz e diretora Janaina Leite dentro dos Núcleos de pesquisa do Grupo XIX de Teatro e também como parte de sua pesquisa de doutorado na Escola de Comunicação e Artes da USP.
O núcleo se apoiou sobre a obra da artista espanhola Angélica Liddell e sobre o conceito de “abjeção” proposto por Julia Kristeva para investigar algumas representações do feminino hoje. Para essa abertura de processo, trabalham sobre quatro disparadores tomados de obras de Liddell: Minha relação com a comida, Fuck You Mother, Eu não sou bonita e O que farei com essa espada?
A tensão dentro/fora, ou melhor, a dimensão fronteiriça presente na ideia de abjeção somado à provocativa dialética misógina que marca a obra de Angélica Liddell foram os principais nortes para a pesquisa que se desenrolou entre fevereiro e agosto de 2017.
Por não se pretender a um discurso único, o espaço preserva a autoralidade dos trabalhos surgidos ao longo do processo, além de ser um registro expandido dessas explorações.
Confira a programação no Centro da Terra (Rua Piracuama, 19)
Ingressos: R$30,00 (inteira) / R$ 15,00 (meia)
Sexta dia 25/08
21h Sol Faganello, Tatiana Caltabiano (e performers), Emilene Gutierrez e Lúcia Kakasu, Márcia Barbieri (bate papo)
Sábado dia 26
16h Performance de Florido
20h Feminino abjeto
Domingo dia 27
19h Feminino Abjeto
Sexta dia 01/09
21h Atos Abjetos
Ramilla Souza, Bruna Betito e Débora Rebecchi, Letícia Bassit, Ana Laís Azanha, Juliana Piesco, Maíra Maciel
Sábado dia 02/09
19h performance de Olívia Lagua
20h Feminino Abjeto
Domingo dia 03/09- 19h Feminino Abjeto
“Fronteira sem dúvida, a abjeção é sobretudo ambiguidade. Porque, ao demarcar, ela não separa radicalmente o sujeito daquilo que o ameaça – pelo contrário, ela o reconhece em perigo perpétuo.” (KRISTEVA, 1980, p.17)
“O narcisismo, então, aparece como uma regressão em retirada do outro, um retorno a um refúgio autocontemplativo, conservador, autossuficiente. De fato, tal narcisismo não é jamais a imagem sem ruga do deus grego numa fonte plácida. Os conflitos das pulsões atoladas no fundo perturbam sua água e trazem tudo aquilo que, para um dado sistema de signos, ao não se integrar, é da abjeção. A abjeção é, pois, uma espécie de crise narcisística.” (KRISTEVA, 1980, p.21)
“O abjeto é a violência do luto por um “objeto” para sempre já perdido. O abjeto derruba o muro da repressão e de seus julgamentos. Ele reconduz o eu [moi] à fonte dos limites abomináveis dos quais, para ser, este se separou – ele o reconduz ao não-eu, à pulsão, à morte. A abjeção é uma ressurreição que passa pela morte (do eu [moi]). É uma alquimia que transforma a pulsão de morte em despertar de vida, de nova significância.” (KRISTEVA, 1980, p.22)
“No quiero ser como todas esas lloronas que se inflan a pastillas para dormir.
No quiero ser una de esas señoras con esperanzas,
que sueñan,
que aun oliendo a meados conservan las esperanzas,
que frotan su vagina con cualquier polla pero en el
fondo conservan otras esperanzas.
Segundas ooportunidades y toda esa basura.
No quiero ser una de esas mujeres que son
sólo setimientos,
que necesitan sentimientos a todas horas, que no tienen más argumentos que los putos
sentimientos,
que necesitan limpiar hasta una letrina por amor,
y no simplesmente porque dében limpiar la letrina,
y limpiarla bien, y ya está.
Limpiar una letrina no es amar.
No quiero ser como todas esas mujeres
que le echan la culpa a
todos los hombres de su desgracia,
de su soledad,
que le echan la cupla a todo el mundo,
antes de reconocer que son viejas, y feas, y estúpidas.
Y están agotadas,
y cargadas de hijos, que las hácen todavía, más viejas,
más feas y más estúpidas,
y ni el suplemento de dignidad las salva,
ni ser madres las salvas.”
p.168-169, Angélica Liddell “Todo el cielo sobre la tierra” in El centro del mundo, Editiones La Uña