Quando reviramos o baú de nossas histórias, guardadas em nossas mentes, lembramos das inúmeras histórias de contos de fadas que sempre começavam com: “Era uma vez…” e no decorrer deste “Era uma vez” a princesa passava por inúmeras dificuldades, perseguições, maus tratos, risco de morte, etc. até que encontrava o seu príncipe e o “Era uma vez” terminava em “viveram felizes para sempre”.
Portanto, tomo como ponto de partida os antigos contos de fadas…Era uma vez… um final do mês de abril, outono de 2024, um mês que, nos últimos tempos vinha mudando a sua personalidade, e ,neste dois mil e vinte quatro, ele estava com a personalidade mais instável, quase bipolar.
A humanidade, a princesa da história, esperava ansiosa e esperançosa o mês de maio, mês marcado por minhas festividades, mês da alegria, pois é o mês dedicado à Maria, às mães, ao trabalhador, mês das noivas, etc.
Tudo parecia normal, mas o mês de abril, com sua bipolaridade começou a revoltar-se, nos últimos momentos, já que a chuva começou a princípio fraca, entretanto, nos últimos dias, abril provocou a ira do mês de maio.
Maio, por sua vez, adentrou trazendo toda a provocação feita por abril, e aquele que era para ser um mês manso, de calmaria, se rebelou e se mostrou a bruxa má, querendo acabar com a vida da princesa – a humanidade.
Mas peraí. Agora este autor se confundiu, foi o mês de maio que se revoltou? Foi a natureza que se tornou a bruxa má e a humanidade continuou sendo a princesa boazinha lutando pelo final feliz?
O mês de maio veio como sempre vem, indicando que o tempo está passando, no entanto, a natureza, não a bruxa má, mas a mãe que agoniza nas dores causadas pela humanidade deu seu grito de desespero e de dor. E com toda sua fúria mudou o curso de nossas vidas.
Diante da força da água, criatura divina, o ser humano, a “princesa” criada e amada por Deus, se viu impotente; ela que há muito tempo perdeu a humildade e passou a se julgar dona da história, na cabeça da humanidade estava tudo planejado de acordo com seus interesses pessoais, seu individualismo, sua autossuficiência, se achando dono de tudo e muitas vezes melhor que os outros, de repente, não mais que de repente, ela se viu impotente, acuada e indefesa, dependendo uns dos outros para salvar a vida. E esperamos que água tenho mudado o curso de nossas vidas.
A força da água não escolheu raça, cor, credo ou classe social; na sociedade atual de melhores e superiores, a natureza com a força da água mostrou que todos são iguais e que todos dependem de todos para sobreviver.
Voltando aos contos de fadas, e o “viveram felizes para sempre”? Diante de tanta destruição, de tantas vidas perdidas, sonhos, trabalhos e histórias arrastados pelas águas, ele ainda é possível? Com certeza é possível; basta olharmos para os tantos gestos concretos de heroísmo em defesa da vida, homens e mulheres que bem perto de nós colocaram sua vida em risco para ajudar o próximo. As doações e ajuda humanitária de longe e de perto que continuam chegando para salvar vidas, isto mostra ao ser humano que uma nova sociedade é possível, que podemos reconstruir um mundo melhor, mais fraterno e solidário. É hora de reconstruir a luz da fé, fé de homens e de mulheres de boa vontade, de coração manso e humilde.
E para que esta reconstrução seja possível, é necessário que a princesa – humanidade- desça do seu salto de cristal e calce a sandália da humildade. Mas será que todos estão dispostos a isto? Será que aprendemos a lição? Sairemos desta catástrofe mais humildes e melhores, ou vamos continuar agindo como se o centro do mundo é o individualismo de cada um? Pensemos nisso…
Pe. Roni de Almeida Mayer é graduado em Filosofia e Teologia , é especialista em Mariologia. Pároco da paróquia São Pedro Apóstolo, de Arroio Grande (Santa Maria/RS).