Se tudo mais que resta silencia
Tua sombra é um véu e açoite
Noite perdida na hora morta
Do não vir, trabalho é condição
Seguida do vazio perpétuo e
Sonâmbulo, homem, pobre homem
Trilha no deserto o passo de dança
Disritmia obriga o pó fazer tijolo
Coitadinhos desses sóis de agosto
no sigilo nosso contrato selado
fez-se página de livro em branco
sem dedicatória, dedico as palavras
essas em desuso gramatical esquecidas
incompletas, solteiras, menos livres
na umidade que embaça as vidraças
cravou as letras do nome sonoro
as notas daquela canção lá menor
me fazem dó, calaram outra vez
mais outra, quantos gritos e grilos
e grifos tortos, todos sem som
mais ou menos na hora do começo
perde-se o equilíbrio e as rédeas
o barulho não é voz, nem humano
é só mais um trem, um trem qualquer
qualquer um que parte da estação
Karina Maia
Saiu de Uruguaiana aos 20 anos lá em 2004 e vem carregando a fronteira por onde passa.
Poeta da intuição e do desejo, tece palavras sem regras. Movimenta o encontro poético literário Sarau dxs Atrevidxs desde 2014. Produtora cultural no Laboratório K, atriz por vocação e encenadora por deformação acadêmica.
Mãe da Nina Aurora, a garota que aprendeu a andar e ensina a viver.