Encantamento
As nereidas
carregam no corpo
o murmúrio
do mar,
carregam na alma
a imensidão
da água.
Vestidas de ondas,
as nereidas plantam
um sonho de
mar-amor
na boca
da mulher.
Palavreei cantatas
pelo vento.
Perto
desconfigurou o sonho
do rumo.
Mar
Gruda no mar
a febre,
a pétala,
a sombra.
Cáustica navegadura.
Margens
A pele do navio
desprevenido
e sagaz
estacionou dentro da onda,
perdido o bailado.
Deserto
Paguei
o preço,
atravessei
o deserto.
Não só esmaguei
a barata.
Comi-a.
Horizontal
A simbiose
do homem se faz
no lodo da terra,
dobrado
Consolo
Poesia
A véspera
já contém a
última vez.
Devoradora de imagens,
a águia vomita
a sombra.
O gelo esconde
a cratera.
Negócios
Poesia
Comprei a ilusão
de uma cigana.
Ela vendeu a prazo.
E eu
paguei o preço.
Tempo de velas
A chuva molha a falta de você.
Dormidos, os olhos colhem adeuses
Na noite perdida, sou sentimento
Perdido já.
Samambaia sem açoite
Transida de janelas
A felicidade jogada na areia
Parda
Tarda
As falas mudas
Torturam o dia aborrecido.
O gosto perdido
Tarde demais
Para as mãos.
– Jaz o amor.
urgências
mais forte
até que a fome,
a urgência da escrita
não espera
o café da manhã
Contidos
Os traços da escrita
Não reverberam
I – Renúncia
A pele ao lado respira, não há amor, um breve cruzar de aromas povoa a cama. Alada e nua põe-se a descoberto. Agrada o frio pelas ventas do corpo, pelas portas da casa. Teria sido amante houvesse amor, dentro do conluio há apenas um enredo opaco que ela tenta enganar. Parece que o homem dorme. Por que será que dormem os homens? Tão dormentes, enquanto a mulher se pergunta de tanta coisa por sobre o lençol. É triste a crueldade da entrega, intervalando outra partição. “Partem tristes os tristes”. O homem não entende. A possuição é parva. Inquieta os olhos do tempo. Faz a roda da dança rodar em frenesi. Por que será que o tempo da primavera não chega. Eu quisera nadar na flor amor. Compraria deste sonho a realidade. O homem respira. Por que é tão simples a vida dos homens? Nada os amola. Nada os atordoa. Possuem clima frio. Estão invernados, talvez hibernados num si mesmo impensante. São retilíneos os homens.
Eu renuncio a curva da noite. Quero quietude. Abandonar-me ao banco da praça. Quero ser flecha. Chega de caminhos curvos.
Depois de mortos
I –Transeuntes
Os seres caminham afugentando os ritmos. Caminham calmos na manhã parada. Percebem o grande no pequeno. E sabem o giro do sol. Gritam o tempo das maçãs maduras. Mas já não podem colher. Carregam a sépia carimbando o corpo. Submissos e entregues. O peso não os assusta. Um barco os espera. Mas ainda estão longes as águas. Este instante rola.
EDINARA LEÃO: nasceu em 30 de outubro de 1968, em São Luiz Gonzaga. Reside em Santa Maria. Graduada em Letras pela Universidade Regional Integrada (URI) (1993). Graduada em Artes visuais pelo Claretiano Centro Universitário (2020). Especialista em Literatura pela FACIPAL (2002). Extensão Universitária em Língua Espanhola (1992). Especialista em Gestão Escolar pela UNIASSELVI (2018). Especialista em Docência Superior pela UNIASSELVI (2019). Arteterapeuta pela CENSUPEG. Mestra em Estudos Literários pela UPF. Doutora em Estudos Literários pela UFSM. Professora há 38 anos. Aposentada regime de 20h pelo Estado RS. Em atividade regime de 40h pelo Município de Santa Maria-RS. Escreve desde os 12 anos, participa de mais de duzentas coletâneas literárias. Possui dezoito troféus literários.
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