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Foto: arquivo pessoal da autora

Dez poemas de Edinara Leão

Encantamento

As nereidas

carregam no corpo

o murmúrio

do mar,

carregam na alma

a imensidão

da água.

Vestidas de ondas,

as nereidas plantam

um sonho de

mar-amor

na boca

da mulher.

Palavreei cantatas

pelo vento.

Perto

desconfigurou o sonho

do rumo.

 

Mar

Gruda no mar

a febre,

a pétala,

a sombra.

Cáustica navegadura.

 

Margens

A pele do navio

desprevenido

e sagaz

estacionou dentro da onda,

perdido o bailado.

 

Deserto

Paguei

o preço,

atravessei

o deserto.

Não só esmaguei

a barata.

Comi-a.

 

Horizontal

A simbiose

do homem se faz

no lodo da terra,

dobrado

 

Consolo

Poesia

A véspera

já contém a

última vez.

 

Devoradora de imagens,

a águia vomita

a sombra.

 

O gelo esconde

a cratera.

 

Negócios

Poesia

Comprei a ilusão

de uma cigana.

Ela vendeu a prazo.

E eu

paguei o preço.

 

Tempo de velas

A chuva molha a falta de você.

Dormidos, os olhos colhem adeuses

Na noite perdida, sou sentimento

Perdido já.

Samambaia sem açoite

Transida de janelas

A felicidade jogada na areia

Parda

Tarda

As falas mudas

Torturam o dia aborrecido.

O gosto perdido

Tarde demais

Para as mãos.

– Jaz o amor.

 

urgências

mais forte

até que a fome,

a urgência da escrita

não espera

o café da manhã

 

Contidos

Os traços da escrita

Não reverberam

 

I – Renúncia

A pele ao lado respira, não há amor, um breve cruzar de aromas povoa a cama. Alada e nua põe-se a descoberto. Agrada o frio pelas ventas do corpo, pelas portas da casa. Teria sido amante houvesse amor, dentro do conluio há apenas um enredo opaco que ela tenta enganar. Parece que o homem dorme. Por que será que dormem os homens? Tão dormentes, enquanto a mulher se pergunta de tanta coisa por sobre o lençol. É triste a crueldade da entrega, intervalando outra partição. “Partem tristes os tristes”. O homem não entende. A possuição é parva. Inquieta os olhos do tempo. Faz a roda da dança rodar em frenesi. Por que será que o tempo da primavera não chega. Eu quisera nadar na flor amor. Compraria deste sonho a realidade. O homem respira. Por que é tão simples a vida dos homens? Nada os amola. Nada os atordoa. Possuem clima frio. Estão invernados, talvez hibernados num si mesmo impensante. São retilíneos os homens.

Eu renuncio a curva da noite. Quero quietude. Abandonar-me ao banco da praça. Quero ser flecha. Chega de caminhos curvos.

 

Depois de mortos

I –Transeuntes

Os seres caminham afugentando os ritmos. Caminham calmos na manhã parada. Percebem o grande no pequeno. E sabem o giro do sol. Gritam o tempo das maçãs maduras. Mas já não podem colher. Carregam a sépia carimbando o corpo. Submissos e entregues. O peso não os assusta. Um barco os espera. Mas ainda estão longes as águas. Este instante rola.

 

 

EDINARA LEÃO: nasceu em 30 de outubro de 1968, em São Luiz Gonzaga. Reside em Santa Maria. Graduada em Letras pela Universidade Regional Integrada (URI) (1993). Graduada em Artes visuais pelo Claretiano Centro Universitário (2020). Especialista em Literatura pela FACIPAL (2002). Extensão Universitária em Língua Espanhola (1992). Especialista em Gestão Escolar pela UNIASSELVI (2018). Especialista em Docência Superior pela UNIASSELVI (2019).  Arteterapeuta pela CENSUPEG. Mestra em Estudos Literários pela UPF. Doutora em Estudos Literários pela UFSM. Professora há 38 anos. Aposentada regime de 20h pelo Estado RS. Em atividade regime de 40h pelo Município de Santa Maria-RS. Escreve desde os 12 anos, participa de mais de duzentas coletâneas literárias. Possui dezoito troféus literários.

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