O cinema nacional teve recorde de lançamentos no ano passado mas viu a receita com bilheteria despencar. Um desalento esperado para um país em crise econômica, mas uma contradição que mostra a força da indústria de entretenimento nacional. Com um Produto Interno Bruto (PIB) que supera a Indústria Farmacêutica, deveria ser motivo de força e orgulho mas em tempos de eleições há uma enorme preocupação com o setor. E seu nome é Jair Messias Bolsonaro, candidato a presidência.
Com a liderança na disputa e uma estratégia forte em mídias digitais, Bolsonaro já se notabilizou por mentir e pedir a censura de livros então não é nada de outro mundo se preocupar com a sua visão ao cinema nacional. Seu plano de governo cita “cultura”. O termo só surge em diplomacia e de forma vaga: “Países, que buscaram se aproximar mas foram preteridos por razões ideológicas, têm muito a oferecer ao Brasil, em termos de comércio, ciência, tecnologia, inovação, educação e CULTURA.” Não se vê um parágrafo sobre as produções de séries e TVs nacionais que têm levado a cultura nacional ao exterior, de Central do Brasil, que completa vinte anos de seu lançamento, até 3%, aclamada série brasileira em sua segunda temporada no Netflix.
A indústria de entretenimento nacional não precisa de caridade. Cada centavo da Lei Rouanet retorna ao País em forma de empregos, impostos, compra de serviços e crescimento de economias municipais, que recebem produções. Não ter visão a respeito de algo que afeta o emprego de tantos brasileiros e transmite a vigorosa cultura do maior país sul-americano não é apenas miopia intelectual. É um erro estratégico de economia.
É tarefa inglória defender o Partido dos Trabalhadores no dia de hoje. Mas o PT soube manter a Retomada e ampliar suas conquistas. Tudo o que não precisamos é voltar ao início da década de 90 quando a produção nacional parou e perdemos a chance de formar um público para as nossas próprias histórias e mitologias.
Tiago Cordeiro
é jornalista e roteirista. Escreve regularmente por aí no tcordeiro.com.
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