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Cerimônia de premiação do Festival do Rio em 2023 — Foto: Festival do Rio/Christian Rodrigues

COMEÇOU O 26° FESTIVAL DO RIO, por Dario Pontes

É isso aí pessoal. Começou.
Entra ano, sai ano, e ele resiste, por 26 edições.

A comunidade cinéfila carioca já está toda ouriçada com o início ontem do maior evento cinematográfico do planeta: o Festival do Rio. Posso ser suspeito pra falar, e sou sim um exagerado assumido, mas digo isso porque já viajei os cinco continentes atrás de festivais de cinema, e nunca vi nada que chegue aos pés do nosso.

É um acontecimento tão gigantesco que buga a cabeça de qualquer pessoa que tente percorrer seus caminhos. O máximo de eventos que alguém consegue acompanhar nos onze dias dessa maratona, não chega a 3% da programação oferecida por este Festival. É bizarro. Numa contabilidade por alto, calcula-se uma média de 800 sessões de cinema, mais de 300 filmes exibidos, fora os debates, palestras, seminários, workshops, coquetéis, jantares, shows, festas etc etc etc ..

Mas o que de fato impressiona é o quanto a cidade inteira se mobiliza pra fazer esse evento acontecer. Nenhuma equipe de produção daria conta de pôr esse bloco na rua se não acreditasse em milagres. Aqui, acontece o “milagre da multiplicação”. A população do Rio compra a ideia e se realiza o impensável. Não à-toa o Festival é atualmente um “Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado do Rio de Janeiro”.

A Abertura Oficial aconteceu ontem no Cine Odeon em cerimônia seguida de uma sessão de cinema conhecida como Gala de Abertura. O ator Aílton Graça foi o apresentador. E as diretoras Ilda Santiago e Walkiria Barbosa como sempre fizeram as honras da casa. Também subiram ao palco a Ministra da Cultura, Margareth Menezes, o Secretário Municipal de Cultura, e o representante da Shell, que pelo terceiro ano consecutivo é a patrocinadora master do certame.

A programação do Festival é composta por filmes nacionais e internacionais de produção recente, em sua grande maioria inéditos no Brasil, ou que se apresentaram com destaque em outros festivais ao redor do mundo, em especial os de Cannes, Berlim e Veneza.

As várias mostras temáticas que compõem a programação dão uma ideia da magnitude desse Festival. São elas:

1. PREMIÈRE BRASIL – o melhor da produção audiovisual nacional.
2. PANORAMA MUNDIAL- destaques da produção internacional contemporânea.
3. EXPECTATIVA – o que há de mais novo no cinema mundial.
4. PREMIÈRE LATINA – filmes latino-americanos em destaque.
5. MIDNIGHT MOVIES – com obras consideradas cult, B ou de contracultura.
6. ITINERÁRIOS ÚNICOS – documentários dedicados a trajetórias artística de personalidades singulares e inovadoras.
7. CLÁSSICOS & CULTS

A PREMIÈRE BRASIL por sua vez se subdivide em diversas sub-mostras: a) Competição de Longas de Ficção e Documentários, b) Competição de Curtas, c) Competição Novos Rumos – Curtas e Longas – que apresenta novos realizadores ou novas linguagens, d) Mostra Geração, e) Hors-Concours – Longas, f) Clássicos Restaurados, g) O Estado das Coisas – dedicada ao cinema documental, h) Exibição Especial de Curtas, i) Mostra Retratos – Curtas e Longas, j) Panorama Carioca de Curtas. A lista cresce a cada ano e parece não ter fim.

O já tradicional Prêmio Felix é uma seleção que celebra os filmes cuja temática é a diversidade sexual e de gênero. Nesta edição ele completa 10 anos. Desde 2014 dando destaque a narrativas de amor e luta pelos direitos da comunidade LGBTQIAPN+. O nome Felix vem do latim, significa FELIZ, e é sobre ser como você quiser.

Mais de 50 títulos concorrem este ano ao cobiçado Troféu Redentor. A diversidade e a qualidade dos filmes é absoluta. Ilda Santiago dirige o FestRio priorizando o que de mais importante um festival precisa ter: uma equipe de curadoria competente. Deve ser um trabalho hercúleo, mas eles conseguem. Fiz uma vez uma experiência aleatória. Arrisquei num filme qualquer, por estar numa sala perto de casa: era um filme ótimo. Não tem erro. Tá no Festival, tem tudo pra ser bom.

Aqui não vai dar pra falar dos filmes desta edição. Vou então me limitar a falar do Festival em si, e farei uma matéria separada só pra comentar sobre os filmes. Vivemos um momento efervescente da produção cinematográfica no Brasil e no mundo. A excelência da seleção dos filmes este ano é um reflexo dessa história.

A compra antecipada de ingressos acontece mais uma vez através da plataforma Ingresso.com. É possível comprar um dos famosos Passaportes. Há o de 8 ingressos por 96 reais. E o de 4 ingressos por 52 reais. No entanto, 10% dos ingressos de cada sessão são vendidos apenas nas bilheterias dos cinemas.

Ao todo 12 cinemas fazem parte do circuito, totalizando 22 salas e 3000 lugares. São eles: o Odeon, no Centro (o mais tradicional dos cinemas cariocas); o Estação NET Gávea; o Estação NET Botafogo; o Estação NET Rio; o Kinoplex São Luiz, no Catete; o Cine Santa, em Santa Teresa; o Reserva Cultural, em Niterói; o Cinesystem, na Praia de Botafogo; o Ponto Cine, em Guadalupe; o Cine Carioca Penha e o Cine Carioca Nova Brasília; além do CCJF, no Centro.

Os filmes da Première Brasil que participam da competição oficial sempre estreiam com noite de gala no Estação NET Gávea, e são reprisados no dia seguinte no Odeon, seguidos de debate, a preços populares, e com uma cota de 150 ingressos gratuitos por sessão.

Os filmes nacionais da Mostra Novos Rumos e da Mostra O Estado das Coisas também estreiam no Estação NET Gávea mas são reprisados no Estação NET Rio, também seguidos por um debate.

O Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF) na Cinelândia, exibe uma programação totalmente gratuita composta pelas seguintes mostras especiais: Clássicos Restaurados, Cine Memória LUPA, Cinema Circulação e Cinema Capacete: Filmes de Artistas.

Nos cinemas do circuito Cine Carioca da Penha e de Nova Brasília são exibidos os títulos da Mostra Première Brasil Geração, além de filmes nacionais que foram lançados recentemente mas já saíram de cartaz. Sessões especiais abertas ao público também acontecem no Parque Susana Naspolini, em Realengo, com objetivo de disseminar os filmes nacionais e contribuir para a formação de novos cinéfilos pelos bairros da cidade.

A sede do Festival este ano volta a ser no Armazém da Utopia, no Cais do Porto. É lá que rolam os seminários, masterclasses, workshops e rodadas de negócios do RioMarket, o maior encontro do mercado audiovisual latino-americano. É um mega-evento internacional que reúne empresas, executivos e realizadores para discutir as políticas e os rumos da indústria fílmica, além de outros temas relevantes do setor. Avanços tecnológicos, saídas criativas e políticas de incentivo estão sempre em pauta no RioMarket. A programação é diversificada e gratuita. Vale a pena conferir.

E por fim, não poderia deixar de falar das famigeradas FESTAS que acontecem ao longo do certame. Algumas são produzidas pelo próprio Festival para seus convidados e amigos. Porém as mais badaladas são as realizadas pelas Produtoras dos filmes estreantes. Geralmente ao final das sessões as diretoras de produção passam no hall das salas distribuindo as pulseirinhas coloridas que dão acesso a essas festas, sempre concorridas e animadas. Um copo cheio para os baladeiros de plantão ..

O Festival do Rio é o momento do ano em que um cara como eu, imigrante nordestino que sou, sinto-me o mais carioca dos citadinos locais. Há 26 anos venho acompanhando este Festival, me considero parte de sua história, assim como ele representa um papel fundamental na minha formação, não apenas como crítico de cinema, mas como cidadão do mundo.
Obrigado Festival do Rio!!

 

 

 

DARIO PONTES: Crítico. Especialista em Cinema pela Fundação Getúlio Vargas. Médico psiquiatra e psicanalista no Rio de Janeiro. Paraibano de Campina Grande radicado há 36 anos no Rio. Crítico da Rede Sina no 26° Festival de Cinema do Rio.

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