Após a Câmara de Vereadores de Santa Maria -RS aprovar o novo Plano Diretor que suprime a proteção ao que resta do patrimônio arquitetônico local, um decreto do executivo tomba, provisoriamente, 135 prédios do centro histórico da cidade. Entre eles, o restante do maior conjunto contínuo em art déco da América Latina, e que ocupa toda a extensão da avenida Rio Branco. Tal conjunto corresponde à introdução da modernidade no meio urbano, e marca as mudanças profundas do início do século XX fomentadas pela industrialização e pela produção em larga escala de materiais de construção. Revitalizados, tais conjuntos estão sendo preservados em diferentes cidades do Brasil e do mundo, sinalizando um potencial turístico a ser fomentado.
Manifesto em defesa de um tesouro arquitetônico ameaçado
Uma cidade não se desenvolve apenas pela expansão em termos econômicos, pela abertura de novas ruas, implantação de novos empreendimentos, construção de novos prédios. Também vai-se tornando grande e promissora, pelo permanente progresso cultural de sua gente. Se os índices materiais dão a feição da cidade, a cultura é a sua alma. Não é eliminando os vestígios do passado que vamos dar uma cara nova a Santa Maria, simplesmente estaremos eliminando de sua essência o que a torna viva: a memória da construção de sua identidade.
Para que se possa ter efetividade na condução de políticas públicas, é preciso estimular nos santa-marienses a sua autoestima cidadã. Para cuidar da cidade, ajudar a manter sua beleza e fazê-la crescer, é preciso fomentar a ideia de pertencimento, de amor por este lugar de convívio. Amar implica conhecer: as pessoas não esquecem o que amam, e só amam de verdade o que conhecem.
Embora o efeito deletério das mudanças do Plano Diretor sobre o patrimônio arquitetônico do Centro Histórico de nossa cidade tenha sido amenizado pelo decreto do Prefeito Municipal, não há segurança de sua efetiva proteção. Diante da real possibilidade de que sejam postos abaixo não apenas o maior acervo arquitetônico em Art Déco, em via contínua, na América Latina, mas também inúmeros outros monumentos da história desta cidade, erguemos nossa voz, impregnada do afeto que temos por Santa Maria. Para tornar efetiva e consequente esta luta que começa aqui, hoje, propomos como eixos de
1) Todo apoio ao Comphic.
2) Pela defesa da lista provisória dos 135 imóveis tombados.
3) Por um inventário técnico sobre o valor histórico-arquitetônico dos imóveis antigos da cidade com a possibilidade de ampliação da lista.
4) Pela imediata discussão ampla e democrática de uma nova lei municipal de proteção ao patrimônio histórico, arquitetônico e cultural
5) pela criação de mecanismos de venda de potencial construtivo para que os proprietários sejam amparados pela prefeitura e tenham recursos para restaurar seus imóveis.
Apelamos para a consciência das autoridades para que não se deixem levar pelas urgências do presente. Convidamos a todos os santa-marienses para que se juntem a nós nessa luta em favor da nossa memória e a garantia de nossa identidade no futuro. Hoje construímos história, e a história que construímos coletivamente deve ter solidez, para não ser posta abaixo amanhã pela insensatez ou pela ganância de interesses particulares. Somos todos Santa Maria, hoje e sempre.
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