Ao longo da nossa História, o Brasil sempre foi o país da conciliação. Nós nos orgulhamos de termos feito a Independência, a Abolição, a República, com o mínimo de violência.
Em lugar de batalhas cruéis e sangrentas, nossas “revoluções” se caracterizam por “pouca violência”, muitas negociações, diversas manobras, inúmeras intrigas e urdiduras palacianas em que os grupos avaliam as forças e aderem ao lado mais forte.
Como diz Rubens Ricupero: “não há nada errado, é claro, em economizar violência. Acontece que essa economia mascara a violência crônica da “desordem estabelecida”, estado permanente de opressão e negação de direitos”.
De fato, a Independência nada mudou da estrutura social e econômica da Colônia. Nossa abolição foi lenta e gradual. Quando se fez finalmente, os ex-escravos não receberam compensação alguma por uma vida sofrida.
Muitas vezes, o compromisso por não alterar o status quo brasileiro se fez a partir da conciliação dos interesses das elites político-econômicas.
Não há dúvida de que escravidão e latifúndio são as duas forças geradoras da desigualdade brasileira. E não há outra explicação de estarmos no século XXI com uma das piores distribuições de riqueza e renda do planeta.
O que fazer? Como resolver? Qual ou quais compromissos os governos devem assumir para solucionar ou mitigar tais questões sociais?
O que observamos na realidade política brasileira é que muitos governos são todos como o coronel mineiro evocado por Antônio Cândido, para o qual em política só há um crime: perder as eleições. Para que esse crime não aconteça, estão prontos a perpetrar todos os outros. Vimos isso na história recente brasileira.
Infelizmente, muitos fatos comprovam que o Brasil é um país de “coronéis” e de “jagunços”. São quatro séculos sim de invasões. Porém, dos latifundiários em terras dos índios e do governo. Sempre os fortes e prepotentes tomaram a iniciativa de usar a violência contra índios, negros, caboclos, pobres, nordestinos, nortistas e meninos de rua.
Não é necessário sustentar que “a violência é parteira da História” e, nesse sentido, o conflito é com frequência condição da mudança social. E não é preciso ser vidente que “logo teremos um encontro decisivo entre o andar de cima e o de baixo no Brasil”.
Prof. Dr. José Renato Ferraz da Silveira