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Autocuidado e Civilidade – Helaysa Pires

Há mais de quatro anos, soube por um colega antropólogo que desde a década de 1980 a categoria “espiritualidade” tem se apresentado em artigo de estudos biomédicos. Gostaríamos de dizer que já está morta, mas, só podemos dizer que está na menopausa, a visão dicotomica de que o material é profano, sujo, fedorento, podre e coisa do demônio enquanto o espiritual é limpo, claro, cheirosinho, verdinho, iluminado e coisa de Deus. Quanto mais avançamos em direção a autorresponsabilidade, mais distantes vamos ficando da hipocrisia de seres divinos que podem vir a colocar a culpa no seu oposto. 

E, por ironia, vamos avançando em direção a um maior cuidado de coisas que estariam mais próximas do diabo, do baixo, do denso e material. Além disso, os erros, as culpas, as sujeiras, os desejos ocultos começam a nos lembrar da “caixa de pandora”. Uma outra mitologia, devolta ao panteísmo, encontramos os males do mundo na pandemia e, talvez, também de baixo do tapete.

Parece que, de fato, chegou o apocalipse, o fim dos tempos de felicidade vendida num passe de mágica. A fé nunca esteve tão relacionada a ações concretas, como doar alimentos, usar máscara, ou ainda, parar tudo e reunir os diabinhos pessoais.

As pessoas olhando para suas próprias histórias materializadas nos porta retratos, nas pessoas, nas gavetas, na preguiça, na necessidade de expor a opinião, etc. A ansiedade diante de um futuro incerto pode ser um convite (ou uma intimação) para reavaliar o que temos chamado de história de vida. Ela pode não fazer mais sentido, ou pode ter adquirido um sentido ainda mais especial. Um tom, um brilho, um gosto, o que você estiver percebendo. De qualquer forma, será aquela reunião de diabinhos que iluminará os “pontos cegos”, ou esquecidos. 

Poderíamos chamar de “O clímax do Individualismo”, com “I” maiúsculo, o momento em que um microscópico vírus coloca os seres mais inteligentes e evoluídos do planeta em isolamento social. Civilizada e amorosamente vamos dizer “Quer ajudar? Não atrapalha.” #Fique em casa. Antes que tudo isso começasse, indivíduos isolados perceberam a gravidade daquele serzinho pequenino. Mas na selva em que o “o maior come o menor” o silêncio fez império. E agora? O menor ficou perigoso. 

E os indivíduos isolados do social, como Freud queria. De repente, Marx começa a explicar também. O capital entra em crise e o manifesto comunista leva a culpa, claro! Nem a pós-modernidade conseguiu ser suficientemente líquida e nos preparar para este momento. Com todos esses debates encarcerados em muros de Berlim da importação de intelectual, o Brasil vive uma pandemia onde saúde, política e religião ferve a família tradicional brasileira. 

E, agora, quem poderá nos salvar? Não, não será o Chapolin Colorado. Serão as mais variadas demonstrações de amor a si mesmo transmitida aos outros. Um amor que as mães conhecem bem e os pais não deveriam falar muito. É como se todo o planeta, ou grande parte dele, estivesse num avião em queda precisando botar a sua própria máscara e depois ajudar o outro. Estar no mesmo barco pode ter um conceito teórico, como o sentido de “communitas” do antropólogo Victor Turner, explicando o que impacta o indivíduo e reconstrói o social em tempos de crise. 

Um reforço brutal da relação entre indivíduos e os coletivos feita pelas mais variadas plataformas, traz o show (e o colapso?) das redes sociais. Teias de interpretações a vapor recriam a Torre de Babel no formato de um foguete prestes a dar partida. 5… 4… 3… 2… 1… Cada um conta? E de grão em grão a galinha enche o papo!

Vendo dessa forma, podemos dizer que temos um convite para trazer à consciência o que pode ser chamado de “processo de individuação”. Isto é, quando cada história de vida em sua singularidade se apropria e atua no social que a envolve. Neste momento, o autocuidado e o autoconhecimento tornam-se uma condição básica para a cvilidade e a manutenção das relações mais próximas.

 

Helaysa Pires

Mestre em Ciências Sociais com enfoque em Antropologia pela UFSM. Terapeuta Holística Reikiana, Facilitadora de Círculos, Empreendedora e fundadora da Joana D’Arc Consultoria. 

 

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