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ARTEVIVA 05 | A ARTE DA CENSURA

A censura na arte é um jogo de poder. Para quê? Para limitar a liberdade de criação. Desta forma as ideias contrárias ao status quo não transitam com tanta facilidade entre os cidadãos.

Em alguns períodos da história brasileira a censura surge de maneira aberta, escrachada, como nas ditaduras. Em outros, começa velada mas como é algo de extrema violência, não fica por muito tempo camuflada.

A opressão privilegia segmentos da sociedade cuja vocação é dominar ao máximo as classes desfavorecidas para conquistar absoluto sucesso com seus planos de expansão.

AS INTERROGAÇÕES DO MUNDO | autoria: LIANA TIMM | serigrafia | 30x30cm | 1984

O BRASIL DA CENSURA

Num país colonizado como o nosso, cuja história soma dominação dos povos originários, escravidão de africanos, catequese religiosa para a pregação da fé à serviço dos mandantes, não é surpresa ainda estarmos impregnados desta estrutura histórica.

As injustiças e a opressão são as nossas heranças, sedimentadas pelas regras impostas em cada época de nossa história. No Brasil, mais vemos o Estado regrando a vida e as ações humanas do que trabalhando na abertura de espaço para a diversidade cultural, ideológica e religiosa.

E o conflito, que de hora em hora vivemos, é resultado da extrapolação do poder das instituições que não se contentam em ficar nos seus limites e invade autoritariamente o espaço particular que não lhe pertence, para subjugar os indivíduos, através de ideias e pseudo verdades por repetição hipnótica.

Afinal, o que é ética? Tudo é válido quando o propósito é cada vez mais privilegiar a ignorância para facilitar a condução de comportamentos homogêneos e subservientes.

Na visão de alguns, opor-se a qualquer proposta ou planejamento do Estado é crime e deve ser eliminada.

Essa história inicia na época da colonização quando a cultura autóctone foi dizimada e substituída pela do colonizador.

FERIDA COLONIAL | autoria: LIANA TIMM | desenho a nanquim e lápis de cor | 60x160cm | 2021

Ora, essas ações são exemplos da busca de poder e dominação de um grupo sobre outro.

A arte, tratando de questões simbólicas, reflete sobre a condição humana. O moralismo, que estreita as perspectivas de alteridade, cultiva o ódio e o preconceito ao diferente pelo receio de perder seu espaço na sociedade.

Quando a capacidade crítica coloca luz sobre situações insuportáveis, como as injustiças sociais, o preconceito, a homofobia, a misoginia, o racismo, estas questões adquirem uma força transformadora, fragilizando o poder de quem defende valores contrários à humanidade como um todo.

O negacionismo de fatos incontestes dá ao repressor ferramentas para a manipulação das massas, criando argumentos arquitetados de maneira a dar veracidade ao que não se sustenta no raciocínio lógico e bem informado.

A liberdade de expressão artística e cultural está prevista na Constituição Brasileira em seus artigos 5º e 220. Afirma que é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença, e que é vedada toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.

Qualquer ação organizada para interromper informações protegidas pelo direito à liberdade de expressão é censura. Mas o que menos vivenciamos é a aplicação da constituição tanto pelo Estado quanto pela iniciativa privada. Na ditadura de Getúlio Vargas tivemos um momento tenso na vida brasileira onde as liberdades foram restringidas, mas nada igualável ao regime militar de 64.

Em nome da moral e dos bons costumes os regimes autoritários censuram. E em nossa frágil democracia essa prática já foi muito usada para calar pensamentos e ações divergentes.

A CENSURA NÃO É DE HOJE

Mas não só no Brasil isso acontece e aconteceu. Revendo a História da Arte encontramos uma coleção de exemplos de censura. É que a arte, desde que a conhecemos, suscita paradoxais sentimentos. Ou é considerada maldita ou maravilhosa.

Exemplos temos aos montes.

Há histórias com o renascentista Michelangelo que viu censurado o seu O Dia do Juízo Final, afresco pintado na parede do altar da Capela Sistina. Foram 25 anos trabalhando na obra para que a mesma fosse reprovada pela Igreja Católica. Representar Jesus sem barba, era indicativo de paganismo como também inadmissível pintar 300 indivíduos nus. A genitália das figuras foram recobertas por pinceladas só removidas no séc. XX, durante trabalhos de recuperação da obra.

A Origem do Mundo  de Gustave Courbet, (1866), sofreu censura por acharem que ela violava a moral da comunidade. Também um romance que usou na capa a reprodução da pintura realista, foi tirado de circulação.

Les Demoiselle d’Avignon de Picasso (1907), representando cinco prostitutas e tendo no título o nome de uma rua em Barcelona conhecida pela prostituição, foi mal recebido na época, pelo público e também pelos colegas.

Fountain (1917) de Marcel Duchamp, urinol de porcelana que o artista inscreveu com pseudônimo na Society of Independent Artists, foi aceito somente porque a participação era paga, entretanto nunca foi exposta. Essa obra causou um impacto surpreendente na história da arte universal.

Merda d’Artista (1961) do italiano Piero Manzoni, composta por 90 latas de metal com suas fezes, como forma de resposta (diz-se) a um comentário depreciativo do seu pai, dono de uma fábrica de enlatados, sobre seu trabalho.

Chegando nos tempos atuais, cabe aqui lembrar o cancelamento da exposição Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira, em 2017, no Santander Cultural, em Porto Alegre.  Ela durou somente um mês em cartaz.

Com foco temático na diversidade sexual, a mostra reunia 270 trabalhos de 85 artistas.  Foi suspensa após protestos nas redes sociais liderados pelo Movimento Brasil Livre (MBL). O movimento dizia que as obras faziam apologia à pedofilia e à zoofilia. Nem os nomes consagrados da arte brasileira conseguiram barrar essa posição reacionária. Adriana Varejão, Cândido Portinari e Lygia Clark, junto com os outros artistas foram censurados. Pode-se dizer que esse episódio inaugurou neste nosso Brasil contemporâneo o grande retrocesso a que nosso país se submeteu.

A liberdade de expressão recomeçou a ser vigiada, durante este governo que finda, de forma diferente da ditadura militar de 64 pois em plena “democracia”.

Grupos ideológicos de extrema direita tentam impor modelos, padrões comportamentais para a cultura brasileira. Sem política governamental, assuntos como arte e gênero, arte e povos originários, arte e negritude, foram abafados ou atacados à semelhança do que sofreu a arte moderna no regime nazista. O tradicional e o conservadorismo começam a ocupar espaço na vida nacional através de ações manipulatórias e conflitos desagregadores e desestruturantes.

O uso das expressões artísticas para estabelecer um padrão de cultura, de moral e de ordem política, objetiva a intenção de cercear os espaços de liberdade criativa dos agentes cultuais brasileiros.

Fechar instituições culturais, enfraquecer a memória, o patrimônio, e impedir novas produções, tem registro no caminho da humanidade com Hitler em 1933, que confiscou mais de 20 mil obras de museus e coleções e as apresentou, em1937, em Munique, numa exposição com 740 obras intitulada Arte degenerada. O objetivo da iniciativa era mostrar a inferioridade genética e o declínio moral dos judeus, homossexuais e imigrantes. Na lista dos degenerados estavam nada que mais nada menos; Picasso, Matisse, Cézanne, Kandinsky, Klee, Lasar Segall e Otto Dix. As obras expostas foram destruídas, ou vendidas no exterior e o dinheiro empregado para o financiamento do Estado.

NOSSAS HISTÓRIAS TRISTES

AS INTERROGAÇÕES DO MUNDO II | autoria: LIANA TIMM | serigrafia | 60x90cm | 1984

E nós? Quantas histórias tristes podemos contar?

  • de 1965 a 1985 | a censura política e moral, a perseguição de artistas, as torturas, nos assustaram de tal maneira que qualquer semelhança nos coloca em polvorosa. Torturas e morte de brasileiros fizeram com que muitos saíssem do país.
  • abril de 1970 | o XIX Salão Nacional de Arte Moderna, realizado no MAM do Rio de Janeiro, foi fechado, após o artista Antônio Manuel se apresentar nu na abertura do evento, na performance O corpo é a obra.
  • também fechada a II Bienal Nacional da Bahia por conter obras de cunho “erótico” e político. Trabalhos foram confiscados, alguns destruídos e os organizadores da mostra, presos.
  • dezembro de 1968 | fechados, o III Salão de Ouro Preto e o I Salão de Arte de Belo Horizonte.
  • 1969 | a exposição da delegação que representaria o Brasil na Pré-Bienal de Paris, foi impedida de viajar para a França.
  • o boicote às Bienais de São Paulo aconteceu até 1979, quando o processo de abertura foi iniciado.
  • canções censuradas na ditadura militar: Apesar de você- Chico Buarque | Que as crianças cantem livres- Taiguara | Pra não dizer que não falei de flore – Geraldo Vandré | Tiro no Alvo – Adoniran Barbosa | Meu novo sapato – Paulinho da Viola | Cálice – Chico Buarque e Milton Nascimento | O bêbado e a equilibrista – João Bosco |É proibido proibir – Caetan
  • alguns livros livros censurados durante a ditadura: Eu sou lésbica – Cassandra Rios | Laranja Mecânica- Anthony Burgess | Roque Santeiro – Dias Gomes | O casamento- Nelson Rodrigues | Feliz ano novo – José Rubem Fonseca.

A partir de janeiro o Brasil está vivendo uma nova era. Esperemos que o slogan repetido infinitas vezes por nós, artistas,  fique guardado na história desse país nessa gaveta que muitas vezes fechamos  mas que teimam em reabrir, nos obrigando a dizer de novo e de novo: DITADURA NUNCA MAIS!

foto: Luis Ventura
LIANA TIMM | Artista multimídia, arquiteta, poeta e designer. Vive em Porto Alegre com atelier em permanente ebulição. Sua produção mescla manualidade e tecnologia, conceito e materialidade, história e contemporaneidade. Transita pelas artes visuais, pela literatura, pelas artes cênicas e pela música. Professora da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1976/96). Especialista em Arquitetura habitacional e Mestre em Educação pela UFRGS. Realizou 76 exposições individuais, sendo as mais importantes: Pinacoteca do Estado de São Paulo/SP/Brasil, Memorial da América Latina /SP/SP/Brasil, Centro Cultural Correios e Telégrafos/Rio de Janeiro/RJ/ Brasil, Museu Brasileiro da Escultura/São Paulo/SP/Brasil, Fundação Cultural do Distrito Federal/Brasília/DF, Museu da Gravura cidade de Curitiba/PR/Brasil, Museu de Arte do Rio Grande do Sul/Porto Alegre/RS/Brasil. 35 shows musicais na cidade de Porto Alegre e interior do Rio Grande do Sul/Brasil, em Montevideo/Uruguai, em Miami/EUA e em Toulx Sainte Croix/França. Publicou 64 livros, destes 18 são individuais de poesia sendo que o último reúne sua produção poética de 35 anos. Recebeu 17 prêmios nas diversas áreas de atuação. Desenvolve suas produções culturais e projetos editorias através da TERRITÓRIO DAS ARTES.
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