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Marina Abramovic em 7 Deaths of Maria Callas | Folha

ARTEviva 03 | Liana Timm

Prezados leitores!

Essa é a nossa terceira coluna sobre artes visuais para a REDEsina. Andamos por muitos lugares dedicados à arte nestes dias e quero contar a vocês aqui, na ARTEviva, sobre eles. Assim vocês poderão se programar para usufruir destas informações de diferentes maneiras: ou indo ao encontro das exposições in locu, ou buscando mais informações  pela internet. É claro que a relação da arte no presencial é muito mais vigorosa e nos satisfaz com plenitude, entretanto melhor se relacionar com ela por outros meio do que se ausentar completamente.

Então, vamos iniciar a nossa conversa com o que selecionei para esta coluna de agora. Espero que gostem e se tiverem algum assunto ao qual queiram que a coluna comente é só escrever para liana.timm@gmail.com

ARTEviva indica livro:

MÁRIO PEDROSA: O GRANDE PENSADOR DA ARTE CONTEMPORÂNEA BRASILEIRA.

Mario Pedrosa | Folha/Reprodução

Afinal, ficamos pensando: o que é ser um crítico de arte?

Ferreira Gullar afirmou que Mário Pedrosa foi o grande pensador da arte contemporânea no Brasil. E mais que isso, foi o fundador da crítica de arte brasileira moderna. Aliava conhecimento sobre arte, estética e história da arte, com uma intuição e uma sensibilidade de poeta.

 Mário Pedrosa (1900 Pernambuco-1981 Rio de Janeiro) foi advogado, escritor, jornalista e um dos mais importantes ativistas e pensadores político brasileiro, alcançando projeção internacional. Iniciou como crítico de arte na década de 40. Foi membro das comissões organizadoras das Bienais Internacionais de São Paulo de 1953 e 1955, e diretor-geral da Bienal de 1961.De 1961 a 1963  dirigiu o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP) e foi secretário do Conselho Federal de Cultura, criado pelo governo Jânio Quadros.

A grande Lygia Clark dizia que seus ouvidos haviam sido fecundados por dois seres extraordinários, Mário Schenberg e Mário Pedrosa.  Nos livros de Pedrosa, encontramos, além da arte, os acontecimentos de época dessa nossa tão desigual sociedade brasileira

Sem neutralidade Mário Pedrosa escrevia sobre questões sociais importantes, sendo por isso preso e exilado durante o governo de Getúlio Vargas.

 Para Mário Pedrosa, a arte nunca esteve separada da sociedade, da política e da atualidade. Criava assim textos profundos em que recuperava contextos históricos e sua estética, inaugurando uma nova maneira de escrever sobre arte. Estudou em Berlim e muito viajou pela Europa. Sua preferência ao marxismo construiu uma visão política do mundo muito particular.

Inconformado com a influência que os Estados Unidos exercia na arte brasileira, desprezava a arte pop e a considerava conformista e um subproduto cultural tipicamente americano, pois comercial e de massa.

 Nada conservador, esteve perto de Nise da Silveira, no Centro Psiquiátrico Dom Pedro II, quando ela organizou o Museu de Imagens do Inconsciente.

“Que é a arte, afinal, do ponto de vista emotivo, senão a linguagem das forças inconscientes que atuam dentro de nós?”

Entendia que os povos indígenas nômades brasileiros, sem tradição de construção, nos oportunizaram começar do zero o que redundou numa arquitetura moderna absolutamente brasileira. Ao contrário do México, que havia sofrido a demolição de seus prédios pré-hispânicos e tinha uma tradição a preservar.

 Para ele a arquitetura era o nosso verdadeiro e autêntico Modernismo pois os músicos, escritores e artistas plásticos, tinham como inspiração uma tradição mais sólida, retardando assim as grandes conquistas das vanguardas.

Cosac Naify, a editora que não resistiu às dificuldades criadas em torno do livro em nosso país, reeditou dois do grande crítico: Mário Pedrosa: Arte, Ensaios, organizada por Lorenzo Mammi, e Mário Pedrosa: Arquitetura, Ensaios Críticos, organizada por Guilherme Wisnik.

Mário Pedrosa:Arte, Ensaios | Cosac Naify

 

O Mário Pedrosa: Arte, Ensaios, reúne 31 artigos sobre artes visuais escritos entre 1933 e 1978. Os fundamentos de sua postura crítica estão ali.  Seu lado escritor, o crítico de arte, o marxista, o pesquisador da Gestalt, o apoiador do construtivismo e o apreciador da arte dos alienados e das crianças, se misturam neste livro que mostra o grande pensador brasileiro em sua essência.

Vale a pena ter e ler o grande Mário Pedrosa.

 

“COISA” DE ARTISTA do livro de mesmo nome | Liana Timm | TDA | 2010

Pois então!

Do meu livro “COISA”DE ARTiSTA destaco hoje curiosidades sobre Salvador Dali.

da série OUTRO(S) DE MIM inciada em 2009 e sempre in progress | Salvador Dal

Li não sei onde que Dalí

  • pedia ao pessoal do hotel Le Meurice, Paris, onde ficava regularmente, que levassem para o quarto um cavalo e abelhas dos jardins das Tulherias.
  • Em 1936, na abertura de uma exposição em Londres, apareceu em trajes de mergulho.
  • em uma conferência, entrou com um pedaço de pão na cabeça.
  • Quando na Academia em Madrid, ao ser proposta como modelo, na aula de pintura, uma estatueta da Virgem Maria, Dali pintou uma balança.
  • Escreveu a Vida Secreta de Salvador dali, aos 37 anos e disse: Normalmente os escritores escrevem suas memórias depois de viverem sua vida: mas, com meu cício de fazer tudo diferente, achei de começar escrevendo minha memórias e vive-las depois.
  • Tinha uma técnica acadêmica impecável e sua precisão fotográfica, coisa que a maioria dos artistas de vanguarda consideram fora de moda.

 SALVADOR DALI, o surrealista – 1904 Figueres/ Espanha – 1989 Figueres | se dizia descendente de mouros atribuindo a isso sua paixão pelo dourado, luxo e gosto oriental. Extravagante a ponto de eclipsar a própria arte.A obra tem atmosfera de sonho, e é um dos símbolo do surrealismo. A Persistência da Memória foi pintada em 1931, no auge do Surrealista. Diz ele: “O surrealismo é destrutivo, mas destrói apenas o que considera ser algemas que limitam nossa visão.” Desde 1934 está no MOMA de NY

 

NÃO É MUSEU DE ARTE MAS ESBANJA ARTE: MUSEU  DA LÍNGUA PORTUGUESA | São Paulo

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA | Wikipédia

Não é um Museu de arte, mas um lugar fundamental para a nossa cultura e por isso trago aqui o relato de minha visita a ele, mês passado.

Depois do incêndio acontecido em 2015, ainda não havia voltado ao Museu da Língua Portuguesa, instituição fundamental para quem fala português. Ele renasceu em 2021, depois de ter sido aberto em 2006. Está localizado no histórico edifício da Estação da Luz de 1901, em São Paulo, sítio com maior número de falantes da língua portuguesa do mundo.

Além da nova cobertura – construída com 90 toneladas de madeira certificada da Amazônia –  foram restauradas as fachadas, as esquadrias e o interior do edifício.

O museu proporciona uma visita emocionante. Usa a tecnologia e suportes interativos para criar uma experiência sensorial e subjetiva da nossa língua. Vários profissionais compõem a equipe de trabalho: sociólogos, museólogos, especialistas em língua portuguesa e artistas.

São 260 milhões de pessoas no mundo falando português. Por essa razão, justifica a magnifica exposição à disposição do público sobre essa identidade cultural de vários povos.

O conteúdo da mostra, nesta nova fase, passou também a refletir criticamente sobre a sociedade, seus conflitos e as novas perspectivas. São instalações interativas e lúdicas que agradam ao visitante por seu conteúdo e tecnologia.

Museu da Língua Portuguesa. Visita feita em abril.

A mostra apresenta a sonoridade de 23 línguas que guardam ligações com o Brasil. Os laços de antepassados indo-europeus estão ali expostos para nosso conhecimento.

Uma tela de 106 metros de comprimento apresenta palavras e a nossa poesia visual e sonora. Há também, em outra tela uma brincadeira que junta sílabas e forma palavras aleatórias e nossas origens são apresentadas através de 8 totens interativos com as palavras estrangeiras que modificamos e usamos no nosso cotidiano.

A Fala dos Brasileiros | Conceição Evaristo

Essa língua, que conforma nossa cultura e vice-versa, se apresenta na sua diversidade em todas as regiões do Brasil. Figuras representativas estão na mostra falando sobre as suas realidades, mostrando a riqueza de sotaques e o que herdamos, modificamos e recriamos.

São 5 continentes falando o português, vivendo cada um a sua realidade, ligados a nós pela língua, esse lastro que no Museu enfatiza através de Portugal, Angola, Moçambique e Cabo Verde.

Além da exposição principal o Museu realizou inúmeras outras. Entre elas as dos escritores como Clarice Lispector, Machado de Assis, Cora Coralina, Fernando Pessoa, Oswald de Andrade, Jorge Amado, Rubem Braga, Guimarães Rosa, Agustina Bessa-Luís e Gilberto Freyre, além do cantor e compositor Cazuza.

E a história brasileira contada através de uma instalação que nos coloca no centro dos acontecimentos desde os tempos coloniais.

Uma mostra que deve ser visitada por todo brasileiro não só uma vez. Na minha próxima ida a São Paulo voltarei ao Museu da Língua Portuguesa. Um importante ritual d reconhecimento do valor de nossa cultural.

 

INTERNACIONAL: 59ª BIENAL INTERNACIONAL DE VENEZA

Até 27 de novembro quem puder ir à Veneza poderá visitar a 59ª edição da Bienal Internacional de Arte de Veneza.

“Il latte dei sogni” ou O leite dos sonho, traduzido para o português, é o tema deste ano. Baseado no livro da artista surrealista Leonara Carrington, que fala sobre a vida constantemente reinventada pela imaginação, a curadora Cecilia Alemani reuniu 1.433 obras de 213 artistas de 58 países diferentes para refletir sobre os corpos e suas metamorfoses, as relações do humano com a tecnologia e as conexões entre os corpos e a terra.

O artista alagoano Jonathas de Andrade, representando o Brasil, traz a instalação intitulada “Com o coração saindo pela boca“. Andrade trabalha com a cultura popular tomando o corpo como eixo principal na mostra misturando fotografia, escultura e vídeo. Mais 5 brasileiros foram selecionados para a Bienal: Jaider Esbell, morto em 2021, Lenora de Barros, Luiz Roque, Rosana Paulino e Solange Pessoa.

Mulheres e artistas não binários estão representados no evento fazendo emergir as questões das relações humanas, a tecnologia e as diferentes formas de vida na terra.

59ª Bienal de Veneza 2022
imagem: Venezia Today

 

MARINA ABRAMOVIC e CALLAS

7 Deaths of Maria Callas | Marina Abramovic | Folha

Gosto de Marina Abramovic. Grandes e significativas performances já foram realizadas por esta artista e na pandemia, ela, que se alimenta de intensidades, criou a ópera 7 Deaths of Maria Callas, a colocando à disposição do público em setembro de 2020. O local poderia receber 2.300 pessoas mas foi reduzido para 500 por causa do coronavírus.

Identificada com a voz e o temperamento de Maria Callas desde a adolescência, Abramovic se alimenta da complexa vida amorosa da cantora, principalmente diante de sua relação com o grego Aristóteles Onassis.

Vivendo várias situações dramáticas em sua relações amorosas, sendo a maior com o também artista Ulay, viu em Callas numa boa parceira de infortúnios. Ao término da relação dos dois, em 1984, cada um por si, realizaram uma performance, que durou 3 meses, andando pela muralha da China. No final se despediram com um abraço e a revelação de que Ulay se tornaria pai arrasou Manina completamente. Só se viram, depois de muito tempo, na famosa performance The artist is presente.

Com esse relacionamento  Marina queria provar que poderiam fazer arte juntos sem os famosos individualismo narcisista. Mas como ela mesmo disse, não funcionou.

Esta decepção a acompanha na vida, semelhante à acontecida com Callas em relação à Onassis. Callas morreu mas Abramovic foi salva por sua arte.

Composta por sete óperas que Maria Callas cantava, a performance discorre sobre vários tipos de morte. Em La Traviata, a morte causada pela tuberculose;  em Othello, por estrangulada; em Tosca, por uma queda das alturas; em Carmen, por esfaqueada; em Norma, por queimadura; em Lucia di Lammermoor, por loucura e assim vai. Toda a encenação é acompanhada por um curta-metragem projetado no palco.

A ópera culmina com a morte real de Callas, em 1977, de ataque cardíaco em Paris.

O espetáculo foi transmitido pela internet, no dia 5 de setembro de 2020 pela Bavarian State Opera House em Munique, Alemanha.

Marina Abramović confessa que é difícil morrer com o coração partido como Callas aos 53 anos, e também ser morta pela pessoa amada em vida.

A fragilidade de Callas e a intensidade de sentimentos foram inspiração para demonstrar a força e a perseverança de uma mulher para transformar as desilusões amorosas em esperança.

Sugiro ir ao Youtube e procurar por Marian Abramovic. Será um passeio intrigante pela arte dessa grande artista.

Marina Abramovic em 7 Deaths of Maria Callas | Folha

UM PENSAMENTO DE GILLE DELEUZE

Para última reflexão!

“A arte quer criar um finito que restitua o infinito: traça um plano de composição que carrega por sua vez monumentos ou sensações compostas, sob a ação de figuras estéticas”

Da série OUTRO(S) DE MIM | Gille Deleuze | Liana Timm |30x30cm | arte digital | 2015
foto: Luis Ventura
LIANA TIMM | Artista multimídia, arquiteta, poeta e designer. Vive em Porto Alegre com atelier em permanente ebulição. Sua produção mescla manualidade e tecnologia, conceito e materialidade, história e contemporaneidade. Transita pelas artes visuais, pela literatura, pelas artes cênicas e pela música. Professora da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1976/96). Especialista em Arquitetura habitacional e Mestre em Educação pela UFRGS. Realizou 76 exposições individuais, sendo as mais importantes: Pinacoteca do Estado de São Paulo/SP/Brasil, Memorial da América Latina /SP/SP/Brasil, Centro Cultural Correios e Telégrafos/Rio de Janeiro/RJ/ Brasil, Museu Brasileiro da Escultura/São Paulo/SP/Brasil, Fundação Cultural do Distrito Federal/Brasília/DF, Museu da Gravura cidade de Curitiba/PR/Brasil, Museu de Arte do Rio Grande do Sul/Porto Alegre/RS/Brasil. 35 shows musicais na cidade de Porto Alegre e interior do Rio Grande do Sul/Brasil, em Montevideo/Uruguai, em Miami/EUA e em Toulx Sainte Croix/França. Publicou 64 livros, destes 18 são individuais de poesia sendo que o último reúne sua produção poética de 35 anos. Recebeu 17 prêmios nas diversas áreas de atuação. Desenvolve suas produções culturais e projetos editorias através da TERRITÓRIO DAS ARTES.

 

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