Deitado na cama chegam os pensamentos. Podem ser preocupações, saudades e demais formas imaginadas. Sentimentos e afetos são recuperados e mesmo um estranho arrepio fora de hora somos capazes de sentir.
Não apenas em um dizer, essa formulação que conjuga em uma frase nossa descrição, mas o dito que escapa à regra pela abstração: podemos falar com quatro letras ‘casa’ ou imaginar propriamente uma casa. E ainda assim nos sentirmos recolhidos em um lar. E ainda assim imaginar um afeto, pela lembrança ou não.
Mas de repente, um choro. Choro forte, noturno, infantil. Uma criança que chora só o faz por um motivo muito importante e muitas das vezes ignorados pelos adultos, valor desaprendido ao alcançar-se esta outra fase da vida: a falta/carência e o valor atribuído a ela, espécie de grau de intensidade. Até uma surra não dói tanto quanto a importância dada a ausência de amor neste ato. Daí é possível concluir que essa transição, da infância para a fase adulta, é o aprendizado de valorar o choro.
Parece ingênuo? Talvez seja. Mas só é possível dizer isso por ter-se em mente que somos animais simbólicos, regidos pelo campo dos afetos e sentimentos. Somos todos poesia antes de sermos história; fazemos parte, antes, do como poderíamos ser ao invés do como é/está sendo. Metáforas pessoais, cada um de nós caminha por estradas em permanente inconclusão, em que algumas vezes incidem em outras, proporcionando o Encontro.
Palavra. Com ela e por ela conseguimos. Sim. É o grande mistério. Por que falamos o que falamos? Do lado de cá, talvez a resposta seja algum tipo princípio erótico: porque dá prazer. Letras são unidas em um sentido de frase que descreve constantemente o momento, essa tentativa de enlace com o outro ou algum objeto. Mesmo um seco bom dia dado a alguém que se detesta, oculta em germe o desejo de seu inverso. Um ditado que antevê um pouco isso é ‘quem desdenha, quer comprar’.
Mas vamos direto ao ponto: regula-se o Amor! Todas as regras e convenções sociais são acordos ilícitos que dizem como, onde, quando, quanto etc AMAR. Sem rodeios ou floreios. A palavra é para expressar. Jogo de mostrar, escondendo. No constante vai e vem onde culminam as certezas, no instante em que, absolutamente todas elas podem ser resumidas em uma interjeição:
– Ahhhh…
HÉRCULES XAVIER
Seguindo o ideal suassuniano de cultura (missão, vocação e festa) desde 2007, sou um entusiasta sobre o tema. Organizo e mantenho o blog poemia.wordpress.com onde faço ‘colagens’ com tudo que gosto. Como vocação inata, o gosto por dar aula, tendo me formado em licenciatura em filosofia pela UniRio. Avancei para o mestrado em patrimônio cultural (IPHAN) e também uma pós em produção cultural, naquela paixão motivadora, onde dedico-me com total afinco. Às vezes arrisco e componho um poema ou dois, como quem ouve e fala pela necessidade do divino.