A gente tem de vez em quando de apagar todas as certezas e questionar de novo. Nenhuma resposta é definitiva. Quer dizer, pode existir algumas que serão, mas nenhuma certeza, em verdade, resiste à marcha da História. Daí a falência das ideologias.
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Na verdade, não falamos mais português, falamos o brasileiro, derivado do português. Onde dizemos pão, eles dizem carcaça, bife com pão é prego, camisa pra eles é camisola, nós dizemos mouse, eles dizem rato, baseado eles chamam de pica, seda eles chamam de mortalha, maconha eles chamam de boi, fumar eles chamam de chupar. Cada expressão que siga seu destino. O idioma é vivo, e como tudo que é vivo, se transforma. Vocês queriam que o italiano inda falasse latim? Na verdade, essa tal de reforma ortográfica é invenção de meia dúzia de filólogos esclerosados e pedantes, que descolaram uma verba dos governos para fazerem turismo, se reunir pra discutir abobrinhas e chover no molhado. Tudo pago pelos nossos lusófonos impostos.
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Na Biblioteca de Alexandria, achei a Pedra Filosofal, que os alquimistas procuram e nunca acharão. Com ela, desvendei o segredo da juventude eterna e a fonte da sabedoria. Testemunha viva da história da humanidade, de vez em quando mudo de personagem. Fui Marco Antonio, Shakespeare, Dante e Lima Barreto, por amar a literatura. Quando me cansa a vida eterna, me escondo, hiberno por séculos. Ou me transformo em àgua e fico fluindo. Já fui o Rio Nilo e o Amazonas. Hoje brinco de ser Mano Melo.
MANO MELO
Poeta e ator, roteirista para cinema e vídeo. Desde 1979, quando retornou ao Brasil após viajar por dez anos através do mundo (América Latina, Europa, Ásia e África), tem interpretado seus poemas em teatros, bares, centros culturais, universidades, escolas, eventos e congressos literários, até mesmo praças e praias, no Rio de Janeiro e muitas outras cidades.