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A VIOLÊNCIA É UMA SEMENTE. por ROGER BAIGORRA MACHADO

Durante mais de quatro anos, cultivou-se o discurso de que violência se combate com violência. Ser violento se tornou imprescindível,  esta foi a regra de muitas falas em nosso país. “As minorias devem se curvar às maiorias!”, dizia o ex-presidente, enquanto fuzilava opositores com o pedestal do microfone.

Em 21 anos, ocorreram 23 ataques violentos em escolas brasileiras. Sabe quantos ocorreram no último ano? Dez. Quase a metade.

Se olharmos para o perfil dos assassinos, são todos homens, jovens, são brancos e héteros, com acesso a armas e que gostam da violência como forma de expressão. São racistas, misóginos, homofóbicos e possuem uma masculinidade tóxica que rapidamente agrega outros iguais.

E eles se buscam e se encontram com facilidade em sites, perfis de redes sociais, grupos de telegram e whatsapp, fóruns de extremistas e em outras redes. É como um ímã que atrai pessoas que se sentem privilegiadas e ao mesmo tempo injustiçadas. Não são ricos, nem paupérrimos. São ressentidos.

E estão tomados por um ressentimento que independe de classe social. Trata-se de jovens que foram bombardeados nos últimos anos pelo discurso das armas, pela lógica da violência e do ódio. Eles não querem “vingança”, eles querem  admiradores. E a admiração será do tamanho do número de mortes que eles possam causar.

E se também observarmos o perfil dos políticos eleitos em muitas das cidades onde os ataques ocorreram, veremos que estes políticos e seus palanques andam de mãos dadas com os discursos da violência e de uso de armas. Não é possível analisarmos a violência e os assassinatos em nossas escolas sem que, para isso, lancemos o olhar também para o que se fez na mídia e nas redes sociais nos últimos quatro anos.

O discurso armamentista, do ódio e da violência que tomou conta da política, atravessou a parede das casas, irrompeu as famílias e quebrou as amizades, agora está tomando conta de nossas crianças e adolescentes.

O desafio é desfazer esta falsa ideia de que violência se resolve com violência, especialmente, numa geração que poderá crer apenas nas armas como a solução para todos os males, e pior, na violência como modus operandi de lidar com os Outros. É isso, tudo que se plantou nos últimos anos, infelizmente, está germinando em adolescentes armados e cheios de ódio.

Se você foi eleitor de políticos armamentistas e defensores da violência e agora está horrorizado com o que está acontecendo em nossas escolas, pois se horrorize mesmo. Antes da prática, a violência é um discurso, uma forma de apreensão do mundo, e se você usou das suas redes sociais e dos seus votos para trabalhar como caixa de ressonância destes discursos, você também é parte do problema. Não adianta fingir surpresa.

 

Roger Baigorra Machado é formado em História e com Mestrado em Integração Latino-Americana pela UFSM. Foi Coordenador Administrativo da Unipampa por dois mandatos, de 2010 a 2017. Atualmente trabalha com Ações Afirmativas e políticas de inclusão e acessibilidade no Campus da Unipampa em Uruguaiana. É membro do Conselho Municipal de Educação, Presidente do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB. É membro do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico do Município de Uruguaiana e é conselheiro da Fundação Maurício Grabois. Em 2020 passou a compor o Centro de Operação de Emergência em Saúde para a Educação, no âmbito do município de Uruguaiana/RS. No resto do tempo é pai do Gabo, da Alice e feliz ao lado de sua esposa Andreia
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comentários

One comment

  1. Sempre cirúrgico nos teus textos! Estamos colhendo o que foi plantado pelo ex presidente e seus aliados!

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