Durante mais de quatro anos, cultivou-se o discurso de que violência se combate com violência. Ser violento se tornou imprescindível, esta foi a regra de muitas falas em nosso país. “As minorias devem se curvar às maiorias!”, dizia o ex-presidente, enquanto fuzilava opositores com o pedestal do microfone.
Em 21 anos, ocorreram 23 ataques violentos em escolas brasileiras. Sabe quantos ocorreram no último ano? Dez. Quase a metade.
Se olharmos para o perfil dos assassinos, são todos homens, jovens, são brancos e héteros, com acesso a armas e que gostam da violência como forma de expressão. São racistas, misóginos, homofóbicos e possuem uma masculinidade tóxica que rapidamente agrega outros iguais.
E eles se buscam e se encontram com facilidade em sites, perfis de redes sociais, grupos de telegram e whatsapp, fóruns de extremistas e em outras redes. É como um ímã que atrai pessoas que se sentem privilegiadas e ao mesmo tempo injustiçadas. Não são ricos, nem paupérrimos. São ressentidos.
E estão tomados por um ressentimento que independe de classe social. Trata-se de jovens que foram bombardeados nos últimos anos pelo discurso das armas, pela lógica da violência e do ódio. Eles não querem “vingança”, eles querem admiradores. E a admiração será do tamanho do número de mortes que eles possam causar.
E se também observarmos o perfil dos políticos eleitos em muitas das cidades onde os ataques ocorreram, veremos que estes políticos e seus palanques andam de mãos dadas com os discursos da violência e de uso de armas. Não é possível analisarmos a violência e os assassinatos em nossas escolas sem que, para isso, lancemos o olhar também para o que se fez na mídia e nas redes sociais nos últimos quatro anos.
O discurso armamentista, do ódio e da violência que tomou conta da política, atravessou a parede das casas, irrompeu as famílias e quebrou as amizades, agora está tomando conta de nossas crianças e adolescentes.
O desafio é desfazer esta falsa ideia de que violência se resolve com violência, especialmente, numa geração que poderá crer apenas nas armas como a solução para todos os males, e pior, na violência como modus operandi de lidar com os Outros. É isso, tudo que se plantou nos últimos anos, infelizmente, está germinando em adolescentes armados e cheios de ódio.
Se você foi eleitor de políticos armamentistas e defensores da violência e agora está horrorizado com o que está acontecendo em nossas escolas, pois se horrorize mesmo. Antes da prática, a violência é um discurso, uma forma de apreensão do mundo, e se você usou das suas redes sociais e dos seus votos para trabalhar como caixa de ressonância destes discursos, você também é parte do problema. Não adianta fingir surpresa.
Sempre cirúrgico nos teus textos! Estamos colhendo o que foi plantado pelo ex presidente e seus aliados!