Pesquisa analisa postagens de apoio a parlamentares que tornaram públicas ameaças de morte e constata que apenas 14,86% dos perfis políticos demonstraram apoio a suas colegas.
Na bancada feminina na Câmara, os resultados de apoio são ainda menores que o geral. Dentre as 91 deputadas federais que estavam em exercício durante a onda de ataques, 11 parlamentares fizeram postagens com menção às ameaças, representando um total de 12,22%. Já entre os perfis do poder executivo federal analisados, presidente Lula e a primeira dama, Janja, não se manifestaram. Dos quatro ministros analisados, três citaram em alguma postagem do período analisado as ameaças sofridas pelas parlamentares (apenas o ministro de Direitos Humanos,Silvio Almeida, não se manifestou).
Conforme a presidente do Instituto E Se Fosse Você? Manuela d’Ávila, a importância das manifestações de apoio está diretamente ligada à pauta entrar ou não na agenda pública. “Se partimos do pressuposto que a agenda de temas considerados problemas públicos é central para a agenda da comunicação, podemos perceber que a violência política de gênero não é uma questão para deputados, deputadas e para o poder executivo. Isso impõe uma solução para as parlamentares vítimas e, além disso, é a autorização para que as ameaças sigam, como temos visto cotidianamente”, diz. Manuela acrescenta que o apoio público a essas questões não só traz luz ao problema vivenciado, mas denota força a uma reivindicação que legitima. “Não adianta acontecer a execução de uma parlamentar, como foi o caso da Marielle Franco, ou a algum de seus familiares e as autoridades aventarem só então a possibilidade de um crime político. Se pode ser atribuído à atuação parlamentar, por que não há o reconhecimento de que é um problema digno de atenção quando externamos ameaças”, questiona.
Principais resultados da pesquisa:
1) O resultado principal é de silenciamento ou omissão por parte dos políticos (as) analisados em relação às ameaças que as oito parlamentares sofreram e tornaram públicas no período em questão. A grande maioria não postou nenhuma publicação de apoio ou solidariedade às colegas. Dos 350 políticos analisados , somente 52 representantes políticos/as mencionaram publicamente o apoio para as parlamentares ameaçadas, através de publicação em alguma rede social, seja Instagram, X (ex-Twitter) ou Facebook. Ou seja: 14,86% do total dos representantes.
2) Quando o recorte de análise é direcionado às postagens da bancada de mulheres na Câmara Federal no período – tendo em vista que uma das parlamentares que tornou públicas as ameaças é a deputada federal Daiana Santos -o percentual de apoio é ainda menor que o geral: Dentre as 91 deputadas federais que estavam em exercício durante a onda de ataques, 11 fizeram postagens com menção às ameaças feitas e apoio às parlamentares que sofreram a violência, representando um total de 12,22%.
3) Dentre os perfis do poder executivo federal analisados, presidente Lula e a primeira dama, Janja, não se manifestaram. Dos quatro ministros analisados (selecionados pelos temas de suas pastas), três (sendo duas mulheres) citaram em alguma postagem do período analisado as ameaças sofridas pelas parlamentares.
4) Ameaças constituem-se como tema a ser considerado na agenda da comunicação pública? sim. Um exemplo contemporâneo ao período de publicização das ameaças sofridas pelas oito parlamentares: O ativista católico Júlio Lancelloti recebeu no dia 27 de agosto ameaça de morte e de violência física em função de seu trabalho pastoral de auxilio a pessoas em situação de rua em São Paulo. O presidente Lula fez uma postagem de solidariedade no Twitter. Já os ministros Flávio Dino e Silvio Almeida fizeram publicações de apoio ao Padre Júlio Lancellotti em todas as mídias sociais analisadas e em dois dias consecutivos. A solidariedade à Lancellotti também culminou na entrega da medalha de Ordem do Mérito do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
5) Enquanto as colegas eram atacadas e pouco se falava sobre isso nas redes sociais, os assuntos que predominaram nas redes analisadas foram pautas relacionadas à política exterior.
LEIA PESQUISA COMPLETA :Conheça o instituto E Se Fosse Você:
A primeira ONG brasileira criada para democratizar um conteúdo educacional sobre fake news e violência política de gênero.
Criado em 2018, logo após eleições marcadas pela desinformação, a presença massiva de notícias falsas e os conteúdos de ódio e intolerância, o Instituto E Se Fosse Você? trabalha para que a sociedade brasileira seja capaz de reconhecer e combater todos os tipos de fake news.
E faz isso sendo autofinanciado, a partir de sua Editora, que garante suporte a todas as ações e doações de colaboradores
—