Em viagem pelos himalayas, parei para descansar durante à noite, nalgum vilarejo entro Joshmath e Badrinath. Após encontrar uma pousada, saí para caminhar e tomar um chai. Parei numa pequena tenda que, na entrada, tinha também uma pequena fogueira para aquecer os clientes.
No minguado grupo de pessoas, estava um senhor que, aparentemente, compartilhava histórias com os outros. Em silêncio fiquei apreciando o bem-vindo calor da fogueira e o saboroso chá indiano. Depois dalgum tempo, o senhor perguntou-me de onde era, ao que respondi e, como consequência, ele centrou sua conversa comigo, pois o simples fato ser brasileiro, na maioria das vezes, é uma dádiva imensurável. Então, já de início, sem introduções, contou-me a história de um astrólogo que viveu no pueblito.
Relatava que o astrológo, ademais de seu grande conhecimento da ciência reveladora dos astros, também tinha poderes de premonições e vaticínios que, quase sempre, aconteciam e, para sua prória surpresa, certa manhã, teve um lúcido presságio de que o Deus da morte iria visitá-lo no final de semana.
Sôfrego, desolado e desesperado, compartilhou o pressentimento com sua esposa. Ela, com toda a serenidade e sensatez das mulheres, sugeriu que ele, temporariamente, fosse à outro lugar, pois assim à morte não o encontraria. Alegre, assim o fez e, no primeiro ônibus que passou, dirigiu-se à Badrinath que, para os hindús, é um lugar sagrado.
No seguinte sábado, quando à noite traz as primeiras camadas de ar gelado das montanhas, alguém bate à porta da casa do astrólogo. A esposa abriu e, para sua surpresa, com todo o seu esplendor, serenidade e doçura estava a morte no lado de fora. Ela, sem redemoinhos, perguntou pelo astrólogo.
Então, com a voz trêmula e forçosamente sincera, ela falou que o astrólogo estava na clínica do vilarejo, aos cuidados do médico de plantão, pois estava muito doente, padecendo de uma enfermidade rara que lhe dava espasmos de febre e desvarios frequentes.
Com um olhar surpreso, o Deus da morte observou a ingênia esposa, fitou-a profundamente nos olhos e falou que deveria haver algum engano naquele cenário, pois em duas horas, ele tinha um encontro marcado com o astrólogo numa pousada de Badrinath. (Tadany – 18 12 10)
PS: Para citar este texto:
Cargnin dos Santos, Tadany. Contaram-me 39. www.tadany.org®
–
TADANY CARGNIN DOS SANTOS
Tadany é um cidadão global formado em Administração de Empresas pela UFSM. Já trabalhou em muitos países ao redor do mundo e, atualmente, é Gerente de Globalização na IBM Índia. Ademais, por 3 anos, ele também estudou Advaita Vedanta num monastério nos Himalayas (Índia) com o Swamy Dayananda Sarasvati (www.dayananda.org). Tadany também é poeta, escritor, palestrante, orientador espiritual, praticante de yoga e uma alma repleta de alegria, inspiração, curiosidade, gratidão e amor.