“Omolu nos ensina sobre a importância de ouvir o que está debaixo de suas palhas” – especialmente em tempos em que todos só querem “ver” – ou são induzidos “a se mostrarem” para serem hipoteticamente validados por likes e popularidade virtual.
Cada sentido traz uma percepção mais propícia à condução para determinados centros gravitacionais – estes sim indutores de decisão; a escuta exige uma mediação de entendimento mais profundo do metabolismo nosso que co-cria a realidade: não há “saber” antes de se tentar compreender com reserva de amparo ao desconhecido – e apenas esse exercício já nos demanda um esforço mais prudente e humano – portanto mais seguro e exequível.
Sim, força e iniciativa pressupõem um grande respeito pela arte da prudência e uma familiaridade arrojada com a magnética do impulso – como em uma regência de forças dissonantes e invisíveis – mas que se conduzidas com pureza de propósito (“Mas só pode entrar na gongada/ Quem tem a cabeça feita/ Um espiritual pacificador/ E no coração/ Carinho e muito amor”) harmonizam frequências para a transposição de paredes e a transcendência de conflitos, especialmente na pragmática do interesse “nosso” natural e imprescindível.
Entender-se como transmutador da potência intrínseca e vibracional que contém sem que se possa conter – a palavra – é antes de tudo, um compromisso cósmico de responsabilidade. Ainda mais quando se está no âmbito de sala de aula – não à toa ensinar se assemelha a um sacerdócio – sem o advento dos argumentos sacros ou profanos, trata-se de propósito e disposição sobre-humanos.
Mas independente disso, ensinamos e aprendemos o tempo todo dentro das dinâmicas sociais – e perdemo-nos de nós de mesmos quando passamos a simplesmente imitar – e na maioria das vezes acabamos expostos – frágeis – pelas nossas dores convertidas em perversão.
É preciso entender que a força motriz do movimento não pode ser forjada – é etérea, impalpável, experenciada e intransferível – mesmo na era do vírus sem matéria – é elemento alquímico, como a energia que se cria a partir da água, e acende das máquinas, à força de propulsão dos rios.
Podera-se-a obter lucro, vantagem, riqueza, alívio temporário diante da negação do que de fato exige esforço para que se siga o próprio percurso evolutivo – mas nunca será AUTÊNTICO. A autenticidade bebe da inspiração, das referências, dos afetos, mas perpassa por mutação não intencional que verte em neogênese própria e sem pré-definição de intento, muito menos de vantagem.
Tudo o que é replicado e bradado ao mundo – ainda que com retorno de investimento monetário e financeiro, com atribuição de validade ou esforço para legitimar a autoria mas vazio da força molecular da experenciação – é prejuízo de tempo – perda do próprio, para si mesmo.
Nada que induza ao distanciamento dessa nossa instância mais primordial trará potencialidade de criação – esta jamais será meramente figurativa.
A vida é uma ventura sagrada, complexa e linda demais para nos permitirmos “gastar” tempo com o que não integra de modo genuíno nosso metabolismo e processos de vivência, que não lega caminhos de aprendizado, intransferíveis.
Podemos tentar enganar e até conseguir – a quem quer que seja – mas não há como simular o abraço do vento, nem o beijo do rio – mesmo que no aparente vazio do cosmos. Essa sintonia, esse encontro entre estados naturais inordenáveis – guarda em si uma territorialidade abstrata escondida no contra-fluxo que nada nem ninguém prevê ou propicia. Ela acontece e ao acontecer, se enuncia.