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Falando sobre Racismo e Antirracismo por Maria Rita Py Dutra

Para falar sobre o tema, parto do pressuposto que racismo é um problema do branco.

Quem criou o racismo foi o colonizador, que se definiu a ele e a seu grupo étnico como a norma – o normal. Pessoas que não se enquadravam na norma eram vistas como hierarquicamente inferiores, possuidoras de possíveis patologias sociais ou morais, facilmente descartáveis; seriam a exceção. Seriam os racializados. Ao perceber a sociedade desta maneira, o indivíduo é capaz de contabilizar a morte de jovens negros pela polícia nas comunidades, o encarceramento em massa de mulheres negras ou o número de óbitos pela Covid-19, nas regiões periféricas, sem se perguntar o porquê isto acontece.
Outro exemplo ilustrativo seria pensar no seu espaço de trabalho e observar quem são seus colegas. Quem senta à mesa ao lado da sua? É uma pessoa branca? Na sua empresa ou no lugar em que você trabalha, quantos funcionários têm? Quantos são brancos? Quantos são negros? Que funções desempenham os funcionários pretos ou pardos?
Provavelmente, você foi informado que 56,10% da população brasileira, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), se declara negra (preta ou parda), contudo você não encontra representação de negros no Supremo Tribunal Federal, no Congresso Nacional, entre CEO de grandes empresas ou entre professores universitários. A sociedade brasileira não denuncia, não reclama desta falta de representatividade negra. É uma ausência que não causa estranheza, porque ser branco por aqui, é regra. Isto é o racismo (estrutural)! Suponha que na empresa em que você trabalha abriu três vagas e seu chefe pediu-lhe que indicasse prováveis candidatos. Onde você buscará tais candidatos? Provavelmente entre pessoas de sua relação, favorecendo seus companheiros – este comportamento é o que chamamos de racismo cotidiano.
No trato de questões raciais, emprego o termo racismo e a expressão “discurso racista”, como sinônimos, uma vez que o racismo tem a conotação de comportamento, de atitude de ódio ou desprezo contra outro, em virtude de sua origem ou de suas características físicas.
Racismo refere-se também a uma ideologia, isto é, uma doutrina que acredita existir uma raça superior às demais – neste caso, emprego a expressão “discurso racista”. O discurso racista manifesta-se através de expressões da fala (“a coisa tá preta”); de gestos racistas (“imitar o gesto de um macaco coçando o corpo ou cabeça”) ou de sinais (como o sinal de dedos “OK”, apropriado por supremacistas brancos, nos EUA.
Para Adilson Moreira o racismo é “uma série de estratégias de dominação utilizadas pelos membros do grupo racial dominante para manter o status privilegiado dos membros desse grupo à oportunidades profissionais e educacionais, e para manter os grupos minoritários em situação subalterna”. O privilégio branco diz respeito às vantagens que pessoas brancas detêm pela cor de sua pele, que pode ser desde se reconhecer na história oficial reproduzida na escola, se identificar com imagens de livros didáticos ou de estátuas em praças públicas: sempre retratando gente branca. Andar tranquilamente por um supermercado, sem ser importunada por seguranças, ou à noite, caminhar pelas ruas sem passar por abordagem ostensiva da polícia militar, como suspeita de qualquer delito: são exemplos de privilégio branco.
Concordo com Angela Davis quando afirma que “numa sociedade racista, não basta não ser racista é preciso ser antirracista”. Entendo que o antirracismo passa por ações de superação da exclusão de negros e pelo enfrentamento do privilégio branco. Proponho algumas questões para pensarmos:
Na nossa cidade, quantos bancários há? Quantos bancários negros trabalham no banco, no qual você é gerente? Quantas comerciárias/os negras/os têm em nossa cidade? Quantas professoras/es negras/os atuam na rede de ensino que dirijo? Na sua empresa, quantas pessoas negras exercem cargo de chefia? Outra situação que convido a refletir, diz respeito à violação de direitos por parte da polícia, da fiscalização ou de qualquer outro agente público: ao presenciar uma situação de abuso de autoridade, de que forma reajo?
“Construir pontes que aproximem as realidades de brancos e negros no Brasil é um desafio monumental de engenharia social e econômica” (Cristina Charão). Uma tarefa para Todas e Todos nós.

Maria Rita Py Dutra  Escritora e poeta, por quinze anos foi membro da Casa do Poeta de Santa Maria, CAPOSM, onde participou com poesias e crônicas em todas as antologias da CAPOSM.  Integrou a Equipe Técnica do MTM, onde coordenou o Núcleo de Ação Cultural Educativa (NACE), desenvolvendo o Projeto “Construindo a Igualdade Racial através da Literatura”. Foi “Patrona da Feira do Livro Infantil” de Santa Maria, em 2005 e em 2006, foi  “Patrona da Feira do Livro Infantil” da cidade Agudo e da Feira do Livro da Escola Nossa Senhor das Graças, de Cacequi. Na Universidade Federal de Santa Maria está ligada aos grupos de pesquisa: Núcleo de Estudos Contemporâneos (Necon) e ao  Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Infância, juventude e Famílias (GEPIJUF). Juntamente com o colega de mestrado Cristiano Barrero, foi uma das idealizadoras do GT Negros/NECON/Povo de Clio, do qual é coordenadora.
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