21/04 – HILDA HILST FARIA 90 ANOS.
Recito um dos das série:
“Poemas aos Homens do Nosso tempo”
Enquanto faço o verso, tu decerto vives.
Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue.
Dirás que sangue é o não teres teu ouro
E o poeta te diz: compra o teu tempo.
Contempla o teu viver que corre, escuta
O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo.
Enquanto faço o verso, tu que não me lês
Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala.
O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas:
“Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”.
Irmão do meu momento: quando eu morrer
Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo:
MORRE O AMOR DE UM POETA.
E isso é tanto, que o teu ouro não compra,
E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto
Não cabe no meu canto.”
—
INQUIETAÇÕES ARTÍSTICAS
(madrugada de 20 para 21 de abril)
Uma madrugada inquieta e perturbadora. Leio um trecho do livro “Sobre os Ossos dos Mortos” da polonesa Olga Tokarczuk, uma das poucas mulheres vencedoras do Nobel de literatura (apenas 15 já levaram o prêmio dos 166 premiados). O livro foi lançado pela editora Todavia em novembro de 2019 e o trecho que li (em breve vou disponibilizar na Rede Sina) narra o momento em que os personagens descobrem que um vizinho faleceu e precisam decidir sobre o que fazer com corpo. A narrativa é extremamente envolvente. Em um momento, a personagem chega a questionar se o morto em questão teria sido tão bem tratado em vida quanto estava sendo em sua morte. Termino a leitura depois de acompanhar uma série de notícias sobre os dias de hoje. Lembro da rua movimentada, do comércio aberto, das pessoas já agendando reuniões presenciais, de lugares com hospitais sem leitos, de países que já não consegue enterrar seus mortos. Penso em fazer uma live e ser mais uma a dar as mesmas notícias. Desisto. Vou pra banho, cama, me reviro, nada do sono. Levanto, pego uma água, meio chocolate na geladeira, arrasto o sofá, direciono o projetor para parede verde, coloco uma música que há dois dias, quando ouvi pela primeira vez, não sai da cabeça. “Medo Bobo”, a versão que ouvi é o do Rubel, mas a original parece que é de uma dupla de mulheres sertanejas. Lembro dos processos de criação nas aulas de interpretação que fiz em São Paulo. Apago todas as luzes da sala, escolho para projetar diversas obras de Salvador Dali, danço a canção que me inquietava. Gravo as imagens, sempre gostei de projeções ao corpo. Eis que quando vou editar reparo na imagem da obra “A face da guerra” (concebida no período do pós-guerra espanhol, já durante a Segunda Guerra Mundial), justamente quando a canção diz “Só dá pra saber se acontecer” e justo quando a luz do projetor parecia me incomodar. Coloco a minha mão à frente.
A arte parece dizer: Pare!
Escuto barulhos de reforma no apartamento acima. O proprietário que não vive no prédio, desrespeita a vontade dos que vivem. Quem seria ele num livro de Olga Tokarczuk?
Dormirei com imagem da obra Dali que fixou tanto quanto a canção.
#fiqueemcasa
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POSTS NO FACE:
Esse rendeu comentários muitos divertidos:
E esse que foi longe nas indicações…
Perdeu? Reveja!
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https://redesina.com.br/corujao-da-poesia-toda-terca-23h/
E pra fechar com poesia, deixo essa que escrevi há poucos dias: