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BAÚ NO SÓTÃO | Uma vida no palco

por Menalton Braff

Seu nome já me era quase familiar lá pelos anos 2000/2002, se não estou acomodando datas à minha própria história. O fato é que lá por aqueles anos o nome de Susan Sontag aparecia com frequência em resenhas críticas e que tais. Ensaísta culta, ficcionista inteligente. E este barulho todo porque havia recebido o National Book Award, o que não é pouca coisa, em 2000.

Numa tarde de domingo, visitando certa livraria, dei de cara com o nome na lombada de um livro, o nome de Susan Sontag. Era a oportunidade e trouxe o livro, sem saber ainda ao certo se era ficção ou ensaio, as duas modalidades de texto com que se dizia que a autora lidava.

O livro foi parar na prateleira de literatura em língua inglesa e lá ficou com aquele nome na lombada como o havia visto na livraria. Difícil o dia em que meus olhos deixavam de ler aquele nome, cheios de dúvidas a ponto de me desencorajarem de levar o volume para minha cabeceira. Não que considere o ensaio pouco importante, mas não é bem minha área de interesse. Porque o título, Na América, não me entusiasmava. Só podia ser um livro de ensaios.

Mais de quinze anos durou o namoro com o livro, porque um livro de 482 páginas não é toda hora que se tira para dançar.

Faz duas semanas que respirei fundo e derrubei o livro para começar a ler, desse no que desse.

Primeira constatação: era um romance. Segunda constatação: escrito com rasgos de erudição sobre teatro. Técnicas de interpretação, movimentos no palco, questões de voz e tantas outros assuntos que dizem respeito a quem se entrega à arte de interpretar. Além disso, cultura teatral: quem interpretou, quando e onde, peças que vão dos clássicos aos modernos, de Racine a Shakespeare, para citar apenas dois.

A protagonista, Maryna, a rainha do teatro polonês, resolve abandonar seu país (à época retalhado por três nações) para tentar uma espécie de falanstério na América. A experiência falha e, depois de muita relutância volta à vida dos palcos, tornando-se verdadeira celebridade na América (que percorre de ponta a ponta em turnês de muito sucesso).

Fragmentos de realidade, como locais, pessoas (Sarah Bernardt, John Booth, o assassino de Lincoln – não casualmente num camarote de teatro, Edwin Booth, com quem Maryna chegou a contracenar).

A época da ação vai de 1850 a mais ou menos 1880, que tem como pano de boca a história dos EEUU.

Admirável a competência da autora na construção não só das personagens como também na estruturação da narrativa. A variação de narradores, com o último capítulo representado por um verdadeiro monólogo do ator Edwin Booth é exemplo disso.

Uma história de amores e desamores como fundo para as comparações entre público europeu e público americano, e apesar disso uma história comovente.

Título: Na América

Autora: Susan Sontag

Editora: Cia das Letras

Ano: 2001

Págs.: 482

 

COLUNA: BAÚ DO SÓTÃO

Menalton Braff nasceu em Taquara (RS) e radicou-se em São Paulo (Capital e interior) Formado em Letras, com pós lato sensu exerceu o magistério superior antes de mudar-se  para o interior onde se dedicou ao ensino médio. Tem 27 livros publicados, sendo nove infantojuvenis e catorze de literatura geral (contos e romances). Conquistou o Jabuti, livro do ano em 2000, com À sombra do cipreste, foi finalista da Jornada de Passo Fundo em 2003, finalista do Jabuti (contos) em 2007 e finalista do Jabuti e do Prêmio São Paulo de Literatura (romance) em 2008. Pela Editora Reformatório teve publicados Amor passageiro (coletânea de contos) e Além do rio dos Sinos (romance), livro com que conquistou o Prêmio Machado de Assis, da Biblioteca Nacional.  

 

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