Já era de se esperar que a coletiva de imprensa, que acabou de acontecer, nesta quarta-feira, do filme brasileiro “Aquarius”, de Kleber Mendonça Filho, que integra a competição oficial a Palma de Ouro do Festival de Cannes 2016, fosse politicamente correta e socialmente não polêmica. Contudo, jornalistas internacionais tentaram entender o protesto durante a Exibição Gala que aconteceu ontem, em que a equipe do longa-metragem pernambucano do diretor de “O Som ao redor”, e que ganhou as capas das principais mídias mundiais. Confira abaixo e na íntegra (em texto – até porque não se pode gravar em vídeo as coletivas).
KLEBER MENDONÇA FILHO (Diretor). “É um filme sobre resistência e sobrevivência, porque se gasta mais energia para defender você mesmo e ao mesmo tempo reagir”.
Sobre a produção. “Walter Salles no Rio de Janeiro me perguntou no Rio de Janeiro qual era meu próximo projeto e eu mostrei o roteiro, e Carlos Diegues também se tornou mais envolvido emocionalmente. Eu tive que tomar um ponto formal no filme. É só um edifício e não é problema porque é velho. Espaço é uma coisa interessante no cinema, porque está lá e não está lá. Coloquei informações demais neste lugar, que basicamente é desenhado para a filmagem. Um americano disse que este lugar conecta pessoas. O protesto aconteceu de diretores e produtores aqui em Cannes, e de forma alguma é inadequado, que é basicamente papéis com curtas frases. Eu fiquei muito tocado pela mídia internacional (e brasileira, especialmente “Folha de São Paulo”) colocarem na capa a matéria. São apenas pedaços de papel. Eu não pinto um mundo apocalíptico em que tudo é terrível, mas eu quero mostrar a beleza da normalidade. É uma grande cidade, mas está longe de ser perfeita.
SÔNIA BRAGA (atriz-protagonista). “O objetivo do filme é trazer consciência. Divertir e entreter também faz parte do processo. A televisão no Brasil é muito importante. Pessoas não tem muito tempo nem dinheiro para ir assistir aos filmes no cinema. Por isso eu adoro fazer televisão”
Sobre a pergunta dos papéis “fortes”. “Vida com comparação não funciona. Quando me mudei (voltei) para o Brasil, tudo era perigoso. Não há nada de errado com as pessoas pobres. Caetano Veloso fez uma música “Sampa” que dizia que tudo está se tornando feio porque está se tornando grande. Nós precisamos recomeçar todo o momento. Aqui, estou lutando pela mesma coisa, e a principal coisa é a democracia para todos. E aproveitamos o momento na subida das escadas para mostrar estes pedaços de papel com estas frases. Esta plataforma expôs o que está acontecendo no Brasil, porque o congresso choca com ideias fascistas. Isto é muito difícil à democracia. Nós somos orgânicos, quem disse que a sociedade fica aqui e sua sexualidade fica ali? Vou falar em Português para que se possa ouvir minha língua. Eu tenho razão. E entrei com um processo contra a Rede Globo, porque eles não pagam os direitos de imagens de novelas passadas. E as pessoas disseram: não faz, você vai perder. E perdi. Mas fiz o que era certo porque é um direito dos artistas brasileiros, e que os nossos direitos são protegidos por lei. Eu não estou dizendo que a Rede Globo não vai me chamar de novo, mas eu mesmo talvez tenha me distanciado. Talvez trabalhe em Portugal, mas lá também existe a Globo. Eu de verdade ando de tênis, pijama e de mochila nas costas. Em Nova York acham que sou um homem”, todos riem.
“Recife tem uma energia muito especial, que mostra essa energia da cidade e de Pernambucano”, disse um jornalista português sobre a língua portuguesa é a língua mais falada no mundo e não se sente muito satisfeito em falar inglês com “próximos”.
DANIELE HEYMAN (mediadora). “Eu adoro seu otimismo e entusiasmo de Sônia Braga”.
Rodrigo Fonseca grita “filme foda” durante a coletiva de imprensa, e deixa todos visivelmente constrangidos.
HUMBERTO CARRAO (ator vilão”bad guy”). “Vivo no Rio de Janeiro e por causa das Olimpíadas a cidade virou uma cidade galpão. Convivo com essas pessoas e foi fácil fazer este papel. Estudei em escola particular a vida toda. E a cena do filme que a Sonia diz que o processo de má educação vêm dos ricos é incrível”.
MAEVE JINKINGS (atriz “antagonista”). “Fiquei mais atraída pelo roteiro do que no personagem na verdade. O filme dá voz a questões que são minhas também (e eu fico representada). A protagonista é revolucionária. Uma mulher forte no cinema, em uma faixa etária que não se encontra no cinema e por sua potência erótica e na família Fico extremamente generosa por estar neste filme e por interpretar a filha de Sônia Braga. Meu papel é como uma antagonista naquele núcleo familiar”.
FABRICIO DUQUE, jornalista e crítico de cinema. Um dos autores e criadores do Vertentes do Cinema. Se define como “Um jornalista apaixonado por cinema que resolveu criar um espaço com o objetivo de mostrar subjetividades a quem também é louco por filmes. Aqui se encontra o passaporte, não pretensioso, nem arrogante, ao mundo da cinefilia. O leitor é respeitado e encontrará uma nova opinião sobre a sétima arte com muita informação, dicas, estreias, especiais, curiosidades, entrevistas, vídeos e a análise detalhada dos filmes propriamente ditos. É um meio para segmentar e trocar informações.”