Para ler cantando junto com “ando, meio desligado”
eu não queria ser
“o mar de altivo porte” da Florbela
eu queria ser
a sanga escondida nos taquarais
eu queria ser
o bezerro ungido pelo leite matinal-maternal
eu queria ser
o par de asas de uma borboleta
qualquer
eu queria ser como o meu pai
que sabe de cor o canto de quase todos os passarinhos.
Agosto
Cheiro as suas costas.
A costela faz-me homem.
Odor infantil.
Cravo, enxofre, fumaça.
A costela faz-me homem.
Pele adiposa,
Cana-de-açúcar?
Marmelada?
Pão-de-ló engordurado.
Mão exposta-segura.
Sua costela não me faz mais homem.
Sua costela me faz menino.
Uma anca que perfuma.
Transfere .
Gruda na alma um pequenino pedaço de gelo.
E essa lasca amortece-me.
E a costela dela.
Caramelo.
Leite.
Colo recaído sobre minha boca.
Sexta-feira
Mulheres nos varais,
Homens a capinar.
Um furto, aquele roubo.
Guris no campinho,
Três da tarde, hóstia e sininho.
Quero de volta o que me tiraram.
À força; afundado.
Na pia, água benta; batizado.
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FELIPE FREITAG é graduado em Letras Português e respectivas literaturas (licenciatura) pela UFSM e é mestre em Estudos Linguísticos pela mesma instituição. Professor a mais de dez anos, dedica-se, também, à escrita literária. Foi vencedor, recentemente, do I Prêmio Rede Sina de Poesia na categoria Júri popular/Poema declamado mais votado.
POLIN MOREIRA é artista plástico graduado em Artes Visuais, com licenciatura em Desenho e Plástica pela Universidade Federal de Santa Maria. Seu currículo conta com diversas oficinas de Grafite, exposições individuais e coletivas, além de obras em catálogos de importantes galerias do sul do país. Foi premiado no XIV Salão Latino-Americano com a obra “Funcionário do Mês”; no ano seguinte, teve Menção Honrosa, pelo trabalho “Copa Mundial dos Seres Humanos 2″. Tem como suas principais influências a rua e o cotidiano, vindo da vivência do skate.