SEDE DE MÃE
Sede intensa, incessante
Nem toda a água do mundo
É capaz de aplacar
É a sede de mãe
Embebeda-se de goles
De si mesma, da mãe que é
Para lembrar da mãe que se foi
Revisita lembranças
Cuida de si, pedaço da outra
Acessa parênteses mágicos
No túnel do tempo
Coração, saudade que pulsa
Coração à beira da alma
Sem pedir licença, deleita-se
Nos colos quentes de outras mães
A sede vai aplacando
Ela não é mais órfã
As mães nunca morrem
São eternizadas no coração do mundo
QUANDO AS MÃES PARTEM PARA O CÉU
Dor indescritível, chão partido
Pormenores do primeiro choro
Das alergias, das cólicas
Perdidos no tempo
História capenga, coração em luto
Mergulho no buraco fundo
Tempo de juntar os cacos
Seguir vivendo sem a primeira bússola
Tempo de tornar-se mãe
Uma mãe “suficientemente boa”
E no exercício da maternagem
Reinventar-se a cada dia
Mãe de nós, mãe de nossas filhas
Que também viverão sua dor
Quando tivermos partido.
A MULHER QUE NÃO QUER SER NARCISO
Minha imagem no espelho
Seduz-me sem obsessão
Desejo olhar-me
Sem deixar escapar detalhes
Apreciar-me em pormenores
Um rosto, uma essência, eu
Narciso é outrem
O amor próprio é curativo
Vasculho pedaços de mim
Meu alimento é extraído
Das fontes de minhas vivências
Não sou Narciso
Amando a si apenas
Na solidão de sua presença
Sou matilha, sou clã
A beber na taça, onde imagens humanas
Devolvem-me o doce hálito do amor
Não sou Narciso
Narciso é outrem
Meu amor pelo mundo é abundante
Magalhe Oliveira – escritorasgauchasindependentes – De Santana do Livramento, Mora em Porto Alegre – Integra a Academia de Letras do Brasil/ RS, Cadeira 95 , Associações e coletivos literários, dentre eles o Gente de Palavra e Poemas à Flor da Pele. .