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19 POEMAS POLÍTICOS DE TAU GOLIN

Tau Golin estreia na Rede Sina com uma série de poemas políticos que refletem também os últimos anos pandêmicos.

Para ele os poemas selecionados são “textos rebeldes cotidiano.  Marcam episódios. Compõem uma espécie de heterônimo rebelde, indignado. Preocupação com o que os bardos e poetas do “baixo clero” fizeram na revolução francesa”. Confira:

O PAÍS DAS COVAS

Teu nome João será apenas João.
Sem sobrenome ou mesmo profissão.
Teu nome José será somente José.
Demais Zés e Joãos, com outros virão;
E Marias, Leocádias, algumas Zayras.
Adultos com rosários de crianças,
Tantos velhos pais, avós, bisavós;
Tataravós nem tantos, brasileiros
Não são assim longevos, morrem
De fome, doenças, sem esperança
E tem mais as terríveis epidemias.

Fizeram do Brasil o país das covas
Rasas como a estupidez governante.
Sem lápides para preservar os nomes
Das vítimas da desgraceira genocida.

Fermenta o enxofre da terra mãe gentil.
No futuro, essa tragédia não terá cheiro,
As gerações se perderão de seus mortos.
A memória será fumaça sem desespero.

No Brasil das covas entulhadas
Do povo condenado à bestialidade,
Os anjos perderam-se dos devotos,
Os orixás embriagaram-se na dor
Das oferendas nulas de proteção;
Os espíritos vagam, almas penadas,
E baixam somente nos cemitérios.
A fé enterrou-se no país das covas.

O futuro depende do grito indignado!

TREZENTOS MIL

300 mil brasileiros mortos
Nem a arca de Noé consegue levar,
Não cabem nos camburões,
Entulham nossos mares.
Faltam covas e ermidas,
Sobram marés de lágrimas,
Na alma devastada da nação.

300 mil já rondam nossas consciências,
A terra mãe gentil virou cemitério,
O bafejo ceifador ronda seu espectro,
O gadanho liberou a sua lâmina:
Morte, morte, morte, aterrorizante
Palavra putrefata, revela nosso país.

Há um demente em apocalipse
Habitando a caixa de pandora,
Alimentando suas vinganças,
No cenário fúnebre nacional.
Existem tropas de prontidão,
Guardas nas esquinas e ruelas
Liberando o trânsito macabro.

300 mil enfezam a mente doentia.
Sua meta vai progredindo aos milhares.
Já não há mais espaço nos jazigos,
Covas rasas, covas abertas, covas,
O Brasil em pandemônio, na ira
Do celerado com poder nacional.

Há um cheiro fétido no seu bafo.
Peidos de morte, pântanos nos pés;
Tempestades no horizonte sem utopia;
Trovoadas nas sirenes das ambulâncias;
Cilindros vazios de oxigênio e esperança;
Intubados nas UTIS, como se os brasileiros
Estivessem empalados por um genocida.

Deslumbra-se a besta com a claque do ódio.
Terraplanistas somente chegam ao círculo
Em piruetas de júbilo ensandecido de dor
Alheia, do inimigo eleito, e odes ao torpor.

Morte! Morte! Morte!
300 mil brasileiros puxam o féretro
De outros milhares a serem abatidos.
Mortos de plumas, mortos sem direitos,
Mortos sem cidadania, mortos sem lápides,
Mortos sem memória, pela banalização da vida.

Mortos que não pesam na consciência da nação.

COMO NOVE BOMBAS ATÔMICAS

Nagasaki chora e se enluta pelo Brasil,
A bomba atômica lançada sobre a cidade,
Matou, meu povo, quarenta mil japoneses.
O coronavírus espalhado nos brasileiros
Equivalem a nove bombas nucleares,
Na segunda semana de abril de 2021,
E outras terríveis estão sendo preparadas.

353.000 mortes, e faltam mais atualizações,
Porque, no Brasil bolsonarista, a burocracia
É incompetente até para contar seus mortos.

Nossas detonações nucleares não são de urânio e plutônio.
A grande destruição do nosso intenso calor tropical,
Nosso deslocamento de ar e contágios virais de morte,
São espalhadas pela radioatividade do negacionismo.

O governo do Brasil, fenômeno muito nacional,
Mata dolorosamente mais que bombas atômicas,
Porque no lugar da ciência solidária para a vida,
Montou a engrenagem da engenharia da morte,
Epidemia da dor, sequelas de efeitos devastadores,
No cotidiano, no futuro, na fome da besta irracional.

Ouviram do nosso hino as margens de carcaças,
Não existem estadistas dando brados de liberdade,
Milhares de Carontes se multiplicam nas barcas
Para transportar, atravessar as águas sujas do poder
E desembarcar os mortos nas costas dos cemitérios.
As moedas nem sempre contam nessa tragédia,
Pois faltam timoneiros, muitos barcos afundaram,
E mesmo os ratos tentam se salvar nesta travessia.

353.000 brasileiros, continuamos diariamente a contar…
Já faltam águas, rios, para o barco de Caronte navegar.
O vento uiva desespero, as lágrimas córregos dos olhos,
Os caixões, barcos naufragados na terra e nela enterrados.

Trezentos e cinquenta e três mil mortos contabilizados,
Mas as cifras já estão carentes de realidade, de toda dor
Dos milhões de enlutados, do pavor dos contaminados
Para sobreviver até o minuto seguinte, não ser intubado,
Submergir no tempo da esperança, quem sabe retornar
Para alegria dos familiares como mais um ressuscitado.

Como nove bombas atômicas a pandemia já matou
De brasileiros, e outros milhares estão enfileirados
Para o abate, como gado; e não como povo varonil
Porque o poder da morte está no governo do Brasil.

PANDEMICÍDIO: 400 MIL CPFs CANCELADOS

400
Mil
Mortos.
E o pandemicida continua no poder.

Como se 10 bombas atômicas
Explodissem nos brasileiros…
E o monstro mostra CPFs
Sem titulares, escafedidos
No seu hálito fúnebre.
400 mil mortos.

“CPF cancelado”,
Acena o celerado a sua bandeira,
Com a grafia assassina de miliciano
E o riso esquizofrênico dos bandidos.

Os olhos já não suportam tantas lágrimas.
Familiares vagam nas lembranças dos parentes,
Perguntas não calam em busca dos culpados,
Mas o espectro da maldade continua seu féretro.

Brasil, Brasil, teu orgulho era o céu anil.
Foste terra adorada, entre outras mil.
Já não és mais pátria amada,
Dos teus filhos, mãe gentil.
Porque tu, nação desgraçada,
Por um governo de milicada,
Abates teu povo às gargalhadas
E, em abril, passas os 400 mil.

A MARCHA FÚNEBRE DO CAPITÃO

Mais de 500 mil mortos
Na marcha fúnebre do capitão.
Logo serão 600 mil vítimas
No morticínio bolsonaristas.
Silêncio indignado e profundo
O vírus rindo do negacionismo,
Famílias pagando o milicianismo!

A bomba atômica matou 40 mil,
A cada lançamento ianque.
Quinzenalmente, o genocídio
De um torpedo nuclear
Devasta vidas no Brasil.

Fogo “amigo”, no necrotério
Etiquetas de votos dos mortos
Atadas nos dedões das vítimas,
Do algoz, 17 macabro, cadáveres
Caídos das falanges neofascistas,
Embandeiradas de verde e amarelo,
Famílias destroçadas pela dor.
Vítimas úteis, vítimas inocentes,
Vítimas na baba da fala, vítimas
Que não cabem no cercadinho,
No brete miliciano do orador.

Brasil, país funeral.
Brasil, nação luto.
Brasil, desalmado.
Brasil, trágico.
Brasil, do samba sequestrado…
País das flautas e tacapes desterrados…
País do povo embuçalado como gado.

Vírus, contágio, velório e enterro
Vão na marcha de morte do capitão.
Sincopados de soluços, choros, gritos,
Gargantas convulsionadas, perdas,
Silêncio e transtornos nos cemitérios,
Na época do governo das covas,
Das florestas convertidas em caixões.

Dos mortos ouve-se uma marcha militar.
Não há cerimônia, despedida de Chopin,
Dignidade da música de Ernesto Nazareth.
Tudo é chulo como a morte sem sentido,
Vírus não atacado antes da multiplicação,
A vida vulgarizada, a violência propagada,
Na trilha da marcha fúnebre do capitão.

A PÁTRIA DILACERADA

600.000 mortes não fazem um bom presidente.
600.000 mortes revelam um governo genocida.
600.000 mortes custa a tropa de caça-fantasmas.
600.000 mortes são virulências de nossas feridas.

600.000 mortes reproduzem a fome na barriga.
600.000 mortes expurgam alunos das escolas.
600.000 mortes extirpam verbas da pesquisa.
600.000 mortes embalam a fome e a carestia.

600.000 mortes investidas dão aos brasileiros
A angústia vivida, o desespero do dia a dia.
600.000 mortes traz a epidemia da atrofia,
O vírus tira do povo o tempo para derrubar
O governo que tem na morte a sua serventia.

600.000 mortes alertam a nação em perigo;
Afogam-nos mais nas lágrimas dos perdidos;
Fazem da pátria uma caricatura militaresca;
Do ódio, o mestre-sala de todas as relações;
Da torpes insana, a indelicadeza burlesca
E a exibição da força nas paradas eunucas.

600.000 mortes ferem o futuro brasileiro,
Não existe destino comum na esperança.
Só persiste milícia reunida para o assalto,
Hidratada nas lágrimas vertidas pelo luto.

600.000 mortes devem alimentar revolta
Ainda estonteada nas dores provocadas.
Virá a hora que o povo não pode esperar.
Virá brado de futuro de tudo no seu lugar.
600.000 mortes pagas para o Brasil mudar
E acabar esse tempo da pátria dilacerada.

CORPUS CHRISTI BRASILEIRO

Corpus Christi,
Corpo de Cristo,
Corpo de Deus,
Corpus Domini,
Sangue de Cristo,
Corpo da nação,
Sangue do povo.
Cruzes nas almas,
No brejal da pátria,
Nas periferias cortiças,
Nas vergas das roças,
Nas montanhas ásperas,
Nas terras baixas, banhadal,
Nos vales dos minérios,
Na revolta dos impropérios,
Nas vilas, atrás das bodegas,
Nas margens dos rios.
Cruzes, cruzes, cruzes,
Senhoras e senhores,
Jovens e meninada,
Idosos da memória,
Crianças sem futuro,
Militantes da cidadania,
Militares fardas honradas
– Raros, raros, raros,
Gritam as araras;
Ave!, papagaios!
Milicianos tiroteiam
No seio esperançoso
Da nossa pátria amada.
Corpos de josés, antônios,
Anas, teresas e marias,
Brasileiros, brasileiras, eira,
Todos com a sua cruz,
Sem canto gregoriano,
Sem ritual de pajés, maracás,
Sem tambores de terreiros.
Féretros em sertanejo
Vulgar, dor de corno,
De cotovelo, traições,
Na dor da morte real,
Na dor humana da falta,
Na dor da ausência
Presente na saudade.
Corpos de nossos pedaços,
Medidos a cruzes e credos,
Enquanto os assassinos
Veneram seu ódio
Nos cadáveres
Sob as cicatrizes
Das cruzes, no silêncio
Absurdo das covas,
Onde não existe paz.
Corpos meus, corpos seus,
Corpos, corpos, corpos nossos.
O sepulcro dos cemitérios
Pede, em sinfonia, justiça!

SENHORA, BANDEIRA…

Manto verde-amarelo
Enrolado no corpo
Resoluta brasileira
De cabelos brancos
Protesta na avenida.
Cartaz, mão aguerrida
Expressa a indignação:
“Essa bandeira é nossa!
Fora miliciano!” Bolsonaro.

Senhora, alma da pátria,
O Brasil segue teu gesto!
Quanta maldade acenada
Nas cores dessa bandeira!

Um verme entrou, ignaro
No corpo utópico da pátria,
Infestou seu coração gentil,
Destruiu a sua alma cidadã,
Empestou os seus símbolos,
Fez de seu céu azul mortalha
Destilou corrosivo fel de ódio
No aceno das mãos de futuro.

Bandeira agora emporcalhada,
Nela chafurda o neofascismo.
Bandeira ignorada dos brasis,
A rebeldia das ruas te purifica
No corpo eterno da sabedoria
Da senhora e dos brasileiros,
No cartaz pelo nosso progresso,
No brado de “Fora Bolsonaro!”

BANDEIRA AGORA DESFRALDADA

Pense na bandeira desenhada
do partido Aliança para o Brasil,
formada pelo mosaico de projéteis.
Balas encartuchadas, balas desnudas,
balas miradas em ti e na pátria amada.

Pense na motivação ideológica,
Da bala acionada e da projetada
Pela ideologia da execução adversária.
Democracia requer palavras argumentadas.

Pense no arsenal de cada bala:
A bala do ódio, bala autoritária,
A bala que mata e também aleija,
A bala que bufa e igualmente cala,
A bala assassina e camuflada,
A bala autorizada da mortalha,
A bala covarde de toda madrugada,
A bala que amanhece ensanguentada.
A bala política, com slogan e marca.
A bala nas costas da menina negra,
Na mochila e nos cadernos da escola.

Pense na bala contra a tribuna,
O altar e a hóstia consagrada,
A mirada vesga e embandeirada,
A bala marchadeira e a mancada,
Do cérebro turvo de escarradeira
Que cospe no prato da esplanada.

Olhe a bandeira do partido da bala detonada,
Tema todo dia o arsenal da bala guardada,
Reservada para o operário, o professor,
O estudante, o cantor, a garotada,
O bailarino, o escritor, o agricultor,
O pobre da periferia e o pescador,
O negro, o nordestino e a indiada.

Pense na aliança do brasil macabro,
Da aguilhada, do relho, da soga atada,
Do trator que corta, do laço que enforca,
Do banqueiro da extorsão legalizada,
Do grileiro desmatador e da queimada,
Do empreiteiro poluidor do solo varonil,
Dos que emporcalham o pendão da esperança,
Das águas sem colosso; do céu de fuligem anil.

Pense na bala paisana e na bala fardada,
Na bala miliciana, assassina e oficializada.
Pense na bala aliancista para ser detonada,
Imagine o futuro do Brasil na bala disparada.

Pense na bandeira do Brasil agora desfraldada…

MARCHA CARNAVALESCA DA GUERRA DO MILICIANO E DO IANQUE

Essa guerra o povo quer ver.
Na briga miliciana com ianque
Muita gente vai se esconder
De vergonha e de vexame.
Primeiro vai ter lançamento de cuspe.
Mas quando faltar munição de saliva
O miliciano vai trocar de munição,
Pólvora molhada não dá tiro e aviva.
O ianque tem bazuca e porta-avião,
Drone teleguiado e ogiva atômica,
Rifle azeitado, pontaria de fuzileiro
E um bobalhão de alvo à disposição.

“Quando termina a saliva tem a pólvora!”
Garganteia o miliciano de boca seca.
O ianque mira de luneta, tapa orelha,
Sem ouvir a bravata e logo sapeca.

Miliciano nunca combateu na guerra,
Só bateu no trabalhador desesperado,
No estudante poético e sonhador
E no povo sofredor e desarmado.

Foi apenas um tiro de advertência.
Miliciano ficou ferido e todo cagado,
Ianque recarregou, ficou preparado,
Miliciano acenou, agora com o rabo.

Essa guerra não é para ter ganhador.
É pro miliciano ficar mais obediente
E dar o que ainda não tinha entregado,
O resto do petróleo e mais o mercado.

No planalto do miliciano viu-se o escarcéu,
General de banda sem saliva e pólvora,
De uniforme oliva e cheiro de naftalina,
Seguindo um celerado capitão da fanfarra.

Peidou-se o bloco de verde e amarelo,
Todos de boca seca, sem saliva gritante,
Já está morta a tropa e sacramentada
Se seguir nessa guerra tal comandante.
Seu arsenal são dois dedinhos em riste,
Miras de pantomina, guerrinha farsante.

UNIU-SE, A CANALHA

Vejo-te canalha deslumbrada,
Herdeira do colonizador.
Vejo-te com a sina etnocida
Do imigrante abusador.
Vejo-te canalha aduladora,
De mãos amealhadoras
No labirinto do poder.
Vejo a tua gosma adesista,
Sinto tuas garras usurpadoras,
Farejo o teu cheiro golpista,
A tua falsidade e o teu fedor.

Canalhas, uni-vos,
Este é o vosso lema.

Uniram-se na escravidão do indígena e do negro.
Uniram-se nas razias exterminadoras dos povos nativos.
Uniram-se para transformar o suor da labuta em vosso lucro;
Uniram-se para bebê-lo com a sede dos vampiros do povo.
Uniram-se no comércio das coisas vivas e mortas, supliciadas,
Do Pai, do Filho, e dos espíritos sem qualquer santidade.
Uniram-se no pastoreio das gentes como na dos gados.

Uniram-se para fermentar vossos ódios de terrores.
Escuto vossos berrantes mugindo homofobia e dor.
A baba de vossos clarins trazendo tempestades,
Os arados de vossos tratadores enterrando povos
Cuidadores da terra, respiradores das florestas,
Acalentadores de climas fraternos e harmoniosos.
Sinto o mercúrio de vosso asco contaminando rios,
O lodo de vossa moral misturado subtrai os minérios,
Mas em vos, ouro ou prata, pedras preciosas, nada reluz.

Tóxicos sois vós e vossos carros de luxo, bandalhos
Dos espaços que frequentas com vossas futilidades,
Punguistas da fraternidade, dos afetos, da sociabilidade,
Vírus amaldiçoadores da paz, pestilentos das muitas cepas
De interesses, com vossos apetites insaciáveis de monstros,
Nos berçários dos recém-nascidos que não vingam,
Nos corpos frágeis das crianças que não encorpam,
Subnutridas, subtraídas de seus futuros descentes.

De que matérias tão asquerosas vos fizeram, canalhas?
Quais bactérias alimentam vossos cérebros torpes,
Massas cinzentas, sem brilhos, opacas e negacionistas?
O que existe em vossos glóbulos que desejam os outros
Como propriedades de vossos usos até esfrangalhá-los
Na engrenagem da exploração e nas metas dos lucros?
Qual solado contaminou vossos pés que destrói tudo
O que é dignamente humano quando pisa, não resiste
Vosso peso amaldiçoado de usurpação sobre o alheio?
E ainda, como celerada demente, a canalha gargalha,
Fardada e paisana, na cara inerte da nação estupefata.
Vossos cães afiam as presas no canil do Estado policial.

Vejo-te, canalha,
Genocida de povos, de gentes, de sonhos e de esperança,
Em conluio, para fazer do país vossa imagem e semelhança!
 

A ESTÁTUA DE BOLSONARO

Passo Fundo foi escolhida a cloaca do ódio.
Pelo Brasil juntam os materiais apropriados,
O mutirão da vergonha reúne terras griladas,
Cinzas das florestas queimadas, ossadas várias,
Madeiras das matas usurpadas, lâminas de serras,
E bostas, às toneladas, dos gados para cimentá-la.
Ao monstrengo que vai se levantando, impávido
E sem colosso no Planalto Médio dos Kaingang.
A terra dos povos violados pelos bandeirantes,
Novamente maculada pelo etnocídio da paisagem.

Das minas vem o ferro e o suor dos mineiros
Explorados na cadeia internacional do lucro.
Com pazadas de morte juntam os sedimentos
de barro das barragens de contenção, rompidas
pelo desleixo, enterrando povoados e sonhos.

Armas e relhos se mobilizam nas mãos milicianas,
Festejos de motos, carrões e alguns calhambeques
Preparam-se para o féretro da cidadania violada.
Marcas de cascos de cavalos marcarão a vereda,
Evocando morte, adornada pela jumenta merda.

A bandeira nacional flamulada, de fato profanada,
Conduzirá toda a legislação do trabalho rasgada.
Junto ao recavem da asquerosa figura de borralho,
Reserva-se lugar destacado à carteira do trabalho.

A inauguração da estátua patrimonializa o asco,
Reverencia a desumanidade, recupera a pecha:
“Passo Fundo, a Chicago do Planalto Médio!”
Dístico duramente superado pela sabedoria
Daqueles que levantaram bandeiras culturais,
Fizeram currículos de saberes, educação da lei,
Dignificaram escolas e buscaram a civilização.

Atenção, atenção, atenção…

O monstrengo, terrorista e sabotador da cidade,
Manterá o seu sopro pestilento sobre os cidadãos.
Sua presença contaminará a atmosfera para a paz.
No lugar da constituição carrega manual de algoz,
Emblemas ao ódio, à intolerância, à homofobia,
Sua arenga de barbárie estará sempre entre nós.

As milongas perderão o encanto dos fogos de chão.
Os chamamés tropeçarão no próprio compasso.
Os atabaques silenciarão seus toques fraternos.
Somente um uivo de morte nos nossos passos,
Alimentados na estátua, fonte de ódio profundo.

O PRESIDENTE BUGREIRO

Nas bandas de Chapecó
Aldeia do cacique Kondá,
O presidente dos bugreiros,
Fez a carreata do genocídio.
O gado mugiu em seu delírio,
Mas o povo fez o vaticínio:

Fora Bolsonaro, genocida,
Assassino, vai tomá angu!

SOLILÓQUIO DA MALDIÇÃO I

Eis milhares de corpos brasileiros,
Mortos pelo teu negacionismo vil.
Eu venho em romaria para mostrar
Os bisavós, avós, pais, filhos e netos,
Levados desgraçadamente pela insanidade
De teu governo cruel, algoz, corrupto,
Portador de múltiplas perversidades.
Apresento-te teus mortos, raivoso
Entre as matilhas uivantes do ódio.
Se fosses um povo de cremação
Nossas florestas cairiam ainda mais,
Para celebrar nossos mortos, cão.
Lembro-te a viúva do um homem
gentil, como muitos de teu féretro,
Que tu mataste no teu abatedouro.
Digo a ti o solilóquio da maldição
Que dona Ana de Lancastre lançou
Sobre Ricardo III, o rei assassino,
Atulhador dos dignos em mortalhas,
Hoje, figuras rígidas e frias, funéreas.
Como prossegue a tua insanidade,
Seres apodrecidos, esqueletos descarnados
Que te alimentam, tu, o maior dos Vermes.

“Oh, maldita seja” a tua mão tosca
“Que causou estas feridas, maldito
o coração que teve força de o fazer,
perverso, o sangue que derramou este sangue.
Sobre o hediondo miserável que miseráveis
nos tornou com” nossos mortos; “mais horrores
se abatam do que aqueles que posso desejar
a serpentes, aranhas, sapos, a qualquer réptil
venenoso que vivente seja. Se ele alguma vez
tiver um filho, que seja aborto, temporão,
monstruoso, de aspecto tão horrendo e desigual
que temor terá, em o vendo, a esperançosa mãe,
e que seja o herdeiro da sua má fortuna.
Se ele algum dia tiver mulher, que ela
por sua morte se sinta mais mísera e mesquinha
do que eu me sinto agora pela do meu marido. Sois mortais,
e os olhos dos mortais não podem sofrer o maligno.
Vai-te de ante mim, temeroso ministro dos infernos!
Demônio imundo, vai-te por amor de Deus,
e não nos atormentes; que da terra feliz fizeste
o teu inferno, encheste-a com gritos de maldição
e com profundos clamores. Se te deleitas
em contemplar teus feitos odiosos, põe
os olhos neste exemplo de tua carnificina.
Oh, senhores! Olhai, olhai as feridas”; mortos,
“sem vida abrindo bocas congeladas e de novo sangrando.
Vergonha para ti, vergonha, ó tu, massa informe de sórdida deformidade,
pois que é tua presença que aqui faz verter o sangue das veias geladas e vazias
onde o sangue já não tem morada! O teu feito inumano e contrário
à natureza provoca este dilúvio contrário a toda a natureza.
Oh, Deus! Tu que criaste este sangue, vinga a sua morte.
Oh, terra! Tu que bebes este sangue, vinga a sua morte.
Ou que os relâmpagos dos céus se abatam sobre o assassino,
ou que a terra se abra e de súbito o devore, tal como tu,
ó terra, sorves todo o sangue deste bondoso” povo,
“que teu braço comandado pelo inferno tão cruelmente matou.
Pérfido, tu não conheces nem a lei de Deus nem a lei dos homens.
Não há besta alguma, por mais feroz, que não conheça a piedade.
Permite, ó varonil pestilenta infecção, que apenas me seja possível
destes males conhecidos acusar tua maldita pessoa passo a passo.
Ó mais torpe do que o coração consegue imaginar, não podes
Manifestar outra escusa a não ser o teu próprio enforcamento.
E por esse desespero serás tu escusado por, finalmente digno,
teres vingado em ti a carnificina indigna que cometeste noutros.”

Assim como Ricardo disse a Ana “Não matei o teu marido”
Afirmas não ter submetido o povo a imunização de rebanho.
“Maior mentira nunca o mundo ouviu.” Cientistas, jornalistas,
Viram “a tua lâmina assassina fumegante de sangue.”
Reclamas de injúrias, que lançaram culpas sobre teus ombros.
Mentes. “Foste provocado pelo teu espírito perverso
que nunca sonha com mais nada senão carnificinas.
Pois me conceda Deus também uma maldição sobre ti
por esse feito perverso”, por matares povo “amável.”
E se Céu ainda existir, nele “tu nunca entrarás.
O teu lugar não é senão o inferno.
Que se abata a inquietude sobre a alcova onde te deitas.”
Se perto de ti pudesse chegar, “digo-te, homicida,
estas unhas arrancariam a ‘formosura’ de teu rosto.
Que a noite negra escureça teu dia, e a morte tua vida.”
Reclamas que o povo te cospe, urina por onde tu passas.
“Oxalá, para teu bem, fosse veneno mortal. Sapo imundo”.

Lamentas pelos olhos de desprezo que te fulminam.
“Oxalá fossem basiliscos para te matarem.”
Te fazes de vítima. “Ergue-te, homem enganador.
Embora eu deseje a tua morte”, o povo será “teu carrasco.”
Que esteja contigo toda a tua laia, teus filhos e puxa-sacos,
Teus milicos, teus milicianos, teus sabotadores da ecologia,
Teus terroristas da democracia e dos direitos humanos.
Que tua vida seja o pesadelo que merecem os genocidas.
Que jamais durmas tranquilamente, que a paz lhe seja estranha.
Que viva com o medo de que possa acontecer aos teus o que fizeste aos outros.
Que recebas tudo em dobro. Mesmo que morras aos pouquinhos, jamais
Terás o tempo suficiente para lembrar todo o dano que fez aos brasileiros.

[“Entre aspas” = Falas de dona Ana, personagem da peça teatral Ricardo III, de William Shakespeare. 1592-1593.]

SOLILÓQUIO DA MALDIÇÃO II

(Por mais terrível que pareça uma maldição
Ainda é branda quando pregada ao nazistão.)

Fizestes incontáveis promessas, falsário.
Juraste amor à pátria e jamais cumpriste.
Prometeste honrar a bandeira, a transformaste
No enxergão dos bajuladores aos estrangeiros,
Desordeiro, sabotador do nosso progresso.
Desonraste a farda que um dia vestiu,
Conforme preceitos da Constituição.
Em vez de contribuir com a segurança,
Planejou ataques terroristas contra o povo.
Quis ser Brilhante, Mussolini, és um bufão.

Queres manipular as datas cívicas,
Bestializar o Dia da Independência,
Tingir de sangue as cores nacionais,
O vermelho que tanto temes, raivoso,
Não poupas dos brasileiros, verdugo,
Parido por forças medievais, macabras,
Como teus gestos de ameaça de morte,
Beligerantes, animadoras e perversas,
Inspiradas em inquisidores, carrascos,
Teus ídolos, Mussolinis, Francos, Hitleres,
Sanguinários de fardas e de continentes,
Jalecos da morte, camuflagens paisanas.

Ouve o solilóquio da maldição,
Jumento da mula sem cabeça.
Se tivesses alma seria penada.

És como Íxion, o mau grego das chamas,
Que construiu uma câmara incendiária
Para incinerar seus críticos, intolerante!
Que fazes com os territórios do Brasil?
Incendeia florestas, savanas, montanhas.
Terras indígenas, povos em chamas.
Bois no lugar dos nativos originários,
Madeira tombada, biodiversidade caída,
Mercúrio contaminando o nosso paraíso.

Se deuses de fato não existirem, os criaremos como magos,
Pois a justiça dos homens é pouca para punir teus crimes.
Serás submetido às leis antigas e modernas, das lendas,
Dos mitos, das religiões e dos ateus, para não escapares,
Já que a tua ficha corrida de lesa humanidade é infindável.

Convocaremos deuses e profetas, duendes, entidades.
Então conhecerás a verdadeira força punitiva dos mitos
E tuas palavras e atos serão apenas mugidos para gados.

Como o castigo purificador de Zeus a Íxion,
Também desejamos a ti, canalha miliciano, corrupto,
Que sejas presos por serpentes numa roda em chamas,
E gire eternamente no calor do inferno da tua memória.

O rei Tântalo também quis ser mito.
Simulou ser um deus entre os deuses,
A quem banqueteou com o filho Pélops.
Tu igualmente cometes filicídio, assassino,
Levas para os cemitérios milhares de filhos
Dos pais que enlutastes com atos pandêmicos.

Sísifo, rei de Corinto, achava-se muito astuto.
Chegou a enganar a morte numa certa ocasião.
Qualquer semelhança não é mera coincidência.
Teu infortúnio também será eterno no submundo.
A pedra da tua condenação nunca chegará ao topo
E rolará novamente a montanha para que a empurre
Continuamente na penitência da tua punição exemplar.

Tu já tens a fome de Erisictão, o cético rei de Tessália.
Ele também derrubou florestas com árvores belas e antigas,
Que jorravam sangue no corte do seu machado criminoso.
Desconheceu que nelas estavam os espíritos das Dríades,
As energias místicas, os mistérios guardados no ecossistema,
As espécies e suas propriedades de cura, belezas e perfumes.
Já que o apetite de Erisictão era incontrolável no desmatamento,
A deusa Deméter o condenou a fome insaciável de um glutão,
Comendo continuamente, gastando seus bens, vendendo filhos.
E tu também fez de teus filhos machadinhos de teus crimes,
Pelas repartições públicas vão fazendo sempre rachadinhas.

Por usares o fogo para a destruição, o povo não quer tuas hemorroidas,
Como dizes, nem teu fígado exposto para os abutres, como Prometeu.
O que lhe agrada é a condenação de ficares acorrentado 30 mil anos
No Cristo Redentor, já que o monte Cáucaso está muito longe, vil,
E não existe prazo possível que dê conta da punição que mereces.

Os raios convocados pelos pajés já miram a tua cabeça,
Onde a maldade plantou e crescem os desejos torpes.
Nos batuques, os tambores repicam para agora punir-te.
Não te salvarás, pois alinham-se os astros a tua desgraça.
O bumerangue babilônico do deus Adad já te procura.
O martelo de Thor esterilizará teu cérebro carniceiro.
Ouve o estrondo dos raios justiceiros na boca da massa.

A baboseira de teus salmos evangélicos no te salvará,
Teus pastores e bispos violaram todos os mandamentos.
E tu, mentiroso contumaz, cospe sobre o próprio Moisés,
Cujas tábuas de pedra esmagarão tua cabeça estúpida,
Como a tortura do “telefone” aplicada aos democratas.
Recebas o que mereces, rebento militante dos perversos.

Considera-te espirituoso? Verás as travessuras de Curupira,
Que foste provocar na floresta. Mas ele revelou a sombra
Da tua natureza celerada, aspas alongam-se em tua fronte.
Saci-Pererê, que poderia sumi-las, nega-se a colaborar
E marca teu rabo, trançando-lhe, como faz aos cavalos.
Boitatá revelou tua loucura e cegueira nas queimadas.
Caipora simulou caminhos para caíres em armadilhas.
Não és Bicho-Papão nem a Cobra-Grande, és Bradador,
Que a terra se negará a enterrar pelo excesso de pecados,
Ungidos no fel, praticados pela tua Caixa de Pandora.

Apareceste anunciando-se como o mito de Midas,
Prometendo um tempo de prosperidade e ouro
Até revelar-se infortúnio existente em ti, garimpeiro,
Pestilento da nação pelo mercúrio corrosivo do ódio.

Em tuas insônias não contas mais carneirinhos;
Enxergas o féretro interminável de teus mortos.
A pá sinistra da estupidez chega a 600 mil covas.
Governo da pátria macabra, da hiena cadavérica.

Maldito és porque desfila no Dia da Independência
A Pátria destruída, sem mão gentil e filhos contentes.
Da liberdade queres apagar o seu raio no horizonte.
Por sorte ainda existe uma brava gente brasileira,
Deseja a pátria livre de ti, forjador de grilhões.
Nossas mãos, consciências e lutas são poderosas.
Não tememos tuas ímpias falanges, face hostil;
Nossos peitos e braços são muralhas do Brasil.

OPERÁRIO EM GUERRA

O operário vai pro trabalho como o soldado pra guerra.
Dorme sobressaltado com o horário, o patrão à espreita.
O dia é de manobra e combate no território da produção.
O inimigo vigia, investiga, controla a vida do trabalhador.

O governo faz parte da engrenagem, do conluio opressor.
Presidente virou bobo-da-corte do sistema capitalista,
Ministro neoliberal orienta a renda do banco e do vigarista.
Ministro do agrotóxico garante o agronegócio exportador,
A lavoura não enche o prato e a marmita do trabalhador;
O boi berra no latifúndio da floresta caída e vai pro exterior.

No capitalismo neoliberal trabalhar é estar numa guerra suja.
Ministros levantam, tomam banho e perfumam a bunda com talco.
O operário mal dorme, come de cesta básica, repõe a força e o luto
Pra mover o sistema rentista, esmerilhando o corpo no transporte,
Afogando sonhos na pinga, cegando a utopia de futuro,
Vendo os filhos como párias, seus substitutos sem amanhã,
Enquanto a burguesia acumula, festeja o país da sua conquista.

A COMUNIDADE VAI DESCER

Paraisópolis deu o sinal
Heliópolis aumentou o mal
Nos morros o eco fatal.
O povo alvo do policial.

É no samba, é no funk,
Vítimas das bordoadas,
A bala e o cassetete
O hematoma, a pancada,
Carne comunitária furada.

Se a polícia sobe em operação,
Helicóptero, viatura, camburão,
A comunidade um dia desce
Pra cobrar o direito de cidadão.

Pra polícia, povo é bandido camuflado,
As mortes, os feridos justificam a ação.
Pro povo, a polícia é bandido fardado
E esse é todo mal que infesta a nação.

Pra polícia, povo é bandido camuflado.
Pro povo, a polícia é bandido fardado.

ANO NOVO INDÍGENA

No primeiro dia do ano novo
Despertei de alma indígena,
Erva na cuia madrugadeira,
Povo na volta do fogo
Para relatar seus sonhos.
Antigo costume terrunho,
Acompanha os desejos
Das gentes no despertar.

Sonhos metafóricos,
Sonhos animistas,
Sonhos fantásticos,
Sonhos premonitórios,
Sonhos entranhados
No cosmos, nas matas,
Nos rios desgraçados,
Nos conflitos rurais.
Nas cachoeiras criminosas
Despencam os povos atuais.

Sonhos de terras sem males.
Sonhos lavrados pelos tratores.
Sonhos perdidos nos acampamentos,
Devaneios nos acostamentos das estradas.
Sonhos atropelados nas rodovias.
Sonhos amaldiçoados pelo Estado.
Sonhos alvejados pelos milicos e jagunços
Que ainda combatem os povos originários,
Colonialismo da morte, da bala, do pioneiro,
Para quem os indígenas são os estrangeiros.

No primeiro dia do ano novo,
Despertei com sonhos lendários,
Cevei o mate dos pajés rebeldes,
Dos caciques protetores da terra,
Dos indígenas do sonho guerreiro,
Da utopia dos brancos solidários,
Que na cuia do mate tacape
Da memória, sorve a justiça
Da luta dos povos originários.

A BAILARINA CHILENA

A bailarina de vermelho,
Sapatilha bege, bandeira
Da pátria, bailando
A alma chilena.
Alma de Neruda,
Alma de Victor Jara,
Alma de Allende,
Alma de Violeta Parra.

A alma do povo
Na plasticidade
Humana da bailarina
Manteve estacionados
Os veículos da morte
Do exército e dos carabineiros.

Alma chilena, flor esvoaçante
Que a humanidade quer beijar.
Alma chilena, voo de águia,
Liberdade para o povo desejar.

 

Tau Golin. Foto: Arquivo pessoal

TAU GOLIN

Historiador e jornalista. Pós-doutor em História pela Universidade de Lisboa (2010), pós-doutor em História pela Universidad de la Republica – Uruguay (2018). Entre livros e capítulos publicou mais de cinquenta títulos. Ganhou os prêmios Concurso Literário Felipe de Oliveira, Prefeitura de Santa Maria (1984); Prêmio Açorianos de Literatura – Categoria Ensaios de Humanidades (livros A guerra guaranítica e A fronteira, Secretaria da Cultura de Porto Alegre (1999 e 2005 entre outros. É um dos principais nomes do estado do Rio Grande do Sul na crítica da versão oficial sobre figuras históricas da região, e em particular do tradicionalismo gauchesco, que fala do gaúcho como um herói cheio de virtudes. Já se envolveu em muitas polêmicas por conta das suas opiniões desmistificadoras. Mais sobre ele aqui

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