E AGORA MARIA?
E agora, maria?
A roupa secou,
Seu homem fugiu,
O povo aplaudiu,
O prato esfriou,
E agora, maria?
E agora, maria?
Não tinha nome,
Era zombada,
Tentou fazer versos,
Ama, é amada. Protesta!
E agora, maria?
Está sem marido,
Tem muito discurso,
Esqueceu o carinho?
Não precisa beber,
Não precisa fumar,
Cuspir; certas palavras,
Faz o que quer,
O menino dormiu,
O julgamento já foi,
O Riso está vindo,
Não é mais utopia,
Nem tudo acabou,
Nenhuma fugiu.
E agora, maria?
E agora, maria?
Sua língua gigante,
Sua TPM,
Seu desejo em chamas,
Seu jejum, sua gula,
Sua febre,
Seus livros — seu ouro,
Seu teto de vidro,
Sua compaixão— e agora?
Empoderada,
De mãos dadas,
Janelas e portas.
Muitos espaços,
Quer morrer na ação,
Nada secou;
Minas se fortalece,
Gente boa, gente de fé.
Maria, e agora?
Se você gritasse,
Se você gemesse,
Se você tocasse
O funk na escola,
Esse que nós marias
Escrevemos,
Acordadas,
dormindo,
Sonhamos.
Se você se cansar,
Se você morrer…
Mas você nāo morre,
Você é forte, Maria!
Nunca sozinha
Sempre em bando,
E ou com sua ninhada,
Com sua teogonia,
Com seu seu zelo,
Com seu penar,
Monte no seu cavalo branco,
Você lidera, Maria!
Maria, para onde?
Das costelas de Drummond: Fernanda LiberAto.
MEMÓRIAS A MEU GRANDE AMIGO
https://www.youtube.com/watch?v=TfzG8MO4vkE&feature=youtu.be
Esse meu amigo tem um sonho…
Escrever um livro
Ele nunca escreve poemas
Mas sempre os declama
Seu linguajar é rebuscado
Um luxuoso Português, claro!
Tão bonito como as flores do campo
Mesmo quando suas notas trazem o pranto
Esse meu grande amigo é muito curioso
Prefere falar com cachorro!
As vezes ele brinca: au, au, au!
Esbanja sorriso, homem contente
Em mil adjetivos ele não cabe
Aprecia ser justo… é cheio de luz
Mas com ele mesmo
Não tem balança!
Brinca com extremos de ser tão bonzinho
Que as vezes se torna bobo!
Não sei, talvez ele só esteja ensinando o povo…
Eu sou jovem
Não sei nada de nada
Ele quem sabe um monte de coisas…
Esteve na boemia e na madrugada
Longo tempo na estrada
Toda vez que eu pergunto:
O que você vai fazer hoje?
Ele diz: Estudar um pouquinho…
Eita, salve o chocolate e o sorvetinho!
Com ele as vezes minha cabeça dá um nó!
Mas ele logo conta uma historinha e eu me sinto melhor…
Não sei se algum dia ele vai escrever livros ou poemas,
Quem sabe esses versos inspirem…
Ele… e você!
Você tem um grande amigo?
SAPATONA
https://www.youtube.com/watch?v=cs4z2cJuBrw&feature=youtu.be
Sapato, sapatinho, SAPATONA.
Não nos aperte.
Luxo é ser feliz.
Porque um salto é um salto…
Mente parada não evolui.
A causa é coisa de mana,
Das mina, brother, trans…
Transformação de pensamento.
Fluir no Tempo.
Presente.
Qual é o seu número?
ECO SOCIAL
https://www.youtube.com/watch?v=VNbOALSeO18&feature=youtu.be
Quem eu sou?
Quando me adentro nesse profundo de mim
Não encontro nada
Só o vazio…
O vazio sobre essa coisa de vagar
Esse corpo que age ao seu comando
Voz alta
Direita, esquerda_ volver …
Bomba_ violência!
Não tenho ar
Onde foram os meus irmãos?
Onde é o meu lugar?
O meu vazio grita!
Grita forte em disperso som
Não consigo captar, não distingo
Avesso sem compreensão
Pernas cansadas
Ouvidos anestesiados
Não as sinto…
As pernas!
A única coisa real
Cacofonia, ruídos
Minha alma que não cabe em mim
Silêncio
A sua santidade me envergonha
Me me sinto pequena
Fora do vácuo
Quem eu sou?
Eu eco
Liberte-me das grades que me retém
Eu não sou refém
Nem de ti.
LAURA
https://www.youtube.com/watch?v=73Zpom7J_9U&feature=youtu.be
Entre a mente e o coração se instala o caos
A busca é anestésica e dolorosa
Dualidade que mata a alma
Corpo sem vida esgueira à esquina
Roliças coxas se abrem sem esforço
Obedecem sem estímulo
Movimentos previsíveis, ensaiados
Mecanicamente articulados
Nada apetece_
Mais e mais do mesmo
Penetração, lenta, rápida, leve, forte
Não importa
Só existe ausência
Espaço, muito espaço
Reprodução de gemidos, boca seca, hálito sem sabor
Nas vitrines iluminadas, carnes à mostra
Na boca o sorriso, no coração a dor
O nu se torna armadura bem feita, talhada
Sem esperanças me lanço
Abro à próxima porta.
ESTELA
https://www.youtube.com/watch?v=JwRTcsAB2HI&feature=youtu.be
Só,
Encaro a noite clara
Só,
Espreito a lua cheia
Somente só
Faço um trato com o tempo
Valso com ele
Para que ele passe rápido e devagar
No compasso da dança
A valsa acelera
Ao te esperar
No horizonte quando chegares
Lentamente o longínquo giro
Ele apreciará.
6 + 1
Quem?
Eu?
Não sei?
Se eu disser que não, terei que dividir
Aprendi somente somar
O ponto do meio me interessa
Interessa-me Ó ponto do meio
Não morno ponto
Mas o meio fumegante da estrela
Bia
A pequena crisálida leva nos ombros suas sandálias
Beijinhos, rosas e girassóis
Gritam em cores
Nós pés carrega a terra vermelha, minhocas e caracóis
Sofre, busca espelho
Para quem sabe a imagem balbucie novas palavras
Curvas brancas impregnam a retina
Despedaça-se em coisas mil
Treva existência de sombra
Salve o canto dos pássaros
Salve boca de cereja
Salve os versos
Salve O Grito que saíra da minha garganta seca
Salve a pele pura onde orvalho repousa
Salve os longos cabelos de rubi
Salve, Salve o amor em mim.
Laura- Invasão
Invasão!
O cheiro de café impregna.
Sem luta, sem moral,
Sem amor…
Apenas tédio.
Dar mais uma vez o que ninguém possuiu.
Abrir os secos campos.
Sem anseios, sem desejos,
Sem laços, sem rancor.
Do negro café, inicia o toque.
Surge à escura planta,
Erva daninha.
Vermelha, úmida…
Abrem.
Abrem!
A-B-R-E-M!
Lábios, língua que atravessa.
Amargo torna doce.
Copo vazio se enche.
Instintivamente pele com pele.
Sangue corre nas veias.
O calor passa entre frestas
Sugo, suga-me!
Abruptas correntes,
Liberta_
Imaculada- Fogueira
Imaculada- Fogueira
Sinto o vácuo, o infinito, o incurável, o bicho, o incontrolável…
O desespero marcha em minhas veias
Delicado véu cai sobre minha face
Trompas e trompetes anunciam vidamorte
Anjos e demônios flutuam em minha lápide
Oscilo entre forca e guilhotina
Fardo que veio de berço
Farto relicário, bocas gemendo
Cada um carrega seu peso
Línguas cortam feito navalha
Gargantas sedentas
Virgem de casamento marcado
Escolho a fogueira.
Fernanda LiberAto Borges
Escritora, atriz, poeta, artista plástica. Graduanda em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Cursou teatro em Minas Gerais, dança teatro “ViewPoints” no Rio de Janeiro, História da Arte na UNESP, Pintura Figura Humana no SESC – São Paulo, Workshops no Cirque Du Soleil e muitos outros. Em 2013, publicou o livro “SULCO”, com este, participou do 15º Encontro de Escritores da América Latina, 28º Salão do Livro de Genebra na Suíça, XXVII Salão do Livro de Turim na Itália. Foi palestrante na Fundação Clóvis Salgado – Minas Gerais com o tema “Sexualidade Feminina”. Fez parte da criação do projeto em Belo Horizonte que contemplou a vida e obra da escritora Hilda Hilst, atuou como pesquisadora e apresentadora do evento. Colaborou com a Revista “Ragga” com o texto narrativo para o ensaio que protagonizou em seis laudas da edição “E agora?”. No ano de 2016 convidada por uma revista masculina escreveu e narrou o conto erótico “Stephany”. Participou do evento “Semana de Arte Viva” no Hospital Galba Veloso em Belo Horizonte. Em 2019 foi publicada na Antologia Poética “Cem poemas, Cem mil sonhos”. Em 2020 iniciou em seu instagram o “Sextas Poéticas”, fazendo leituras de poemas diversos. Atualmente, dedica-se ao seu projeto independente “Stephany Exótica”, uma série multimídia composta de histórias curtas à partir da perspectiva sexual/erótica e do desejo feminino. A trama entre o sexo e o feminismo traz à tona assuntos existenciais e padrões sociais da cultura ocidental. O desenvolvimento da personagem é dotado de ironia, metáforas e realidades bizarras vedadas por nossa sociedade.