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10 POEMAS DE RAUL MAXWELL

BALA E BALA
Balas perdidas atravessam baleiros
Em botecos da zona oeste
E são encontradas em corações infantis
Baladas perdidas saem fumegantes
Da boca de um Zeca Baleiro
E vão queimar corações pueris
Balas e baladas preenchem meu coração vazio
E são furos (fogo no cinza do meu terno)
Manchetes de primeira página
E de segundo caderno

É preciso peito para encarar de jeito
Canções plangentes
E morte de inocentes

ESFINGE
O que me deste para beber em tua boca?
Chá de coca, absinto, saliva louca?
O que me deste para sorver em tua pele?
Ácido com L? Por favor, peço, revele…
O que teus dentes secretaram em minha veia?
Que teia é essa que me enreda como peia?
Que nó é esse que me trava a garganta?
E este perfume que me lança assim ao pó?
O que será este teu cheiro que alucina?
Será que rima, o que me lesa e me encanta?
Que plantas ativas para que eu exponha a dor?
Por que tuas unhas irradiam este torpor?
Que há em teu ventre que me faz queimar em brasas?
E em teu olhar que me faz voar sem asas?
Que droga, amor, me impele a te adorar?
Diga-me agora: o que há em ti que me devora?
(Enquanto eu não souber te decifrar…)

O MAIOR ESPETÁCULO DA TERRA
Num circo antigo do século passado
Um palhaço pinta uma lágrima no rosto
Enquanto uma moça faz piruetas
Sobre um cavalo branco…
Ela
O anjo mais humano que ele jamais conhecera

CAI A LUA
E um poeta de rua
Boêmio de noturnas rimas
Desfiava versos em ode à lua
-A lua em vírgula
Pausa sobre a catedral
Coroando a gárgula
-A lua, em quartos,
Dá-se inteira aos amantes
Satisfeitos, fartos
À lua ele disse:
Tu és o sorriso
Do gato de Alice!

E a lua (embora sorrisse):
-Sou apenas lua, deixe de tolice
Meu brilho é forte porque vivo à sombra
Temos a mesma sorte

DOCE MENINA
Como seguir teu passo?
Como segurar teu salto?
Como acompanhar teu voo?
Se, doce menina, tu és anjo e bailarina!

Mas não dê atenção ao poeta
A mesma pena que te eleva
Te derruba logo ali
O poeta só tem pena de si

BANDIDAS
Enquanto me entretinha com Salma Hayek
Quentin Tarantino soltava seus demônios
E suas taras de menino
Levando-me a um drink no inferno
Odisseia mais dantesca;

Salvou-me Penélope (minha Cruz)
Que de seus pretos pelos púbicos
Tecia a teia de toda a minha vida
Eterna, pois era
A cada noite destecida.

AMAREJAR
A cada rever-te morria
O que era em mim tua saudade
Mas era a morte também de minha alegria
Afogada por minha ansiedade

Então jurei procurar-te não mais
Pois tal angústia era insuportável
Era meu peito o pequeno cais
Era a paixão o mar inavegável

Abalroava o cais branquejando em fúria
A tormentosa escuma da paixão espúria
Era aos poucos meu juramento imerso

E como só flutuam juntas saudade e alegria
Se embarcadas forem em nau de poesia
Atirei ao mar meu primeiro verso

VINHETA EMBAÇADA
Enquanto chove choro
Sobre meus poemas
Eram todos para ela
Ela era para mim
…………………….
Bate a chuva na vidraça
E desenho um coração
No vidro do olhar que embaça
A vida perdeu a graça
E fim.

A NAMORADA
“Imagino a minha namorada (insensato?)
Penso se ela existe (é fato?)
Imagino-a vestida (recato)
Para depois despi-la (pecado)
Convido-a para ir ao bar (recado)
Chega, a desviar as mesas (passarela)
Elegante (gazela)
Flutua (gás)
Senta a minha frente (ela)
Peço um Campari (uma ou duas)
Fito-lhe os olhos (pedras)
Que nada me dizem (de gelo)
Não nos conhecemos (Prazer, sou o seu namorado)
Digo a ela o meu nome (comum)
Diz-me ela o seu (comum)

Não sabia o meu olhar (calmo)
Não sabia o seu sorriso (belo)
A que filmes assistiu? (olhar)
A quem beijou? (sorriso)

Nossos signos combinam? (astral)
Nossos copos se tocam (cristal)
Nossos corpos se tocam (carnal)

Os olhos se acendem (luz)
O desejo ascende (seduz)
E começa a guerra (obus)
De gestos, olhares, frases (cruz)
Seu nome, meu nome (crus)
Já não mais lembramos (nus)”

À FRANCESA

“Marie, Marie, Marie“
Tu rias pra mim
“Ça va, ma cherie”?
Um dedo ou mão de prosa
Roubei uma Rosa
Cantei “Pout-pourries”

Era uma Deneuve
Uma “ Belle de Jour“
“Demoiselle en bleu“
Um anjo de azul
Jurei meu amor
”Dieu Merci Beau-coup”

Um brinde no Cristal
Assim ”en passant”
Na Copacabana
Um ”Crepe”, um ”croissant”
Um amor uma cabana
Uma febre terçã
Mas te foste de mim
Sem “Au revoir”
Ao revoar das aves
Que sobrevoam árvores
Na Saldanha Marinho
Ao entardecer
“Mise-en-scène”
Acena em meio a luzes
Sem Câmera, sem Ação
Em frente ao Cine Glória
Teve nossa história
Final infeliz

Ainda pensei assim
“C’est la vie”
E a vi rumo à estação
Vestindo verde organdi
E era mesmo a vida
Que eu via partir

Qual “femme fatale”
De um filme “noir”
Desfez-se no ar
E eu passei do Ponto
Eu bebi o bar
Eu beberia o mar
“Marie, Marie, Marie…”

 

Raul Giovani Cezar Maxwell
Nascido em Cacequi RS, no dia 24/09/1962, graduado em Administração pela UFSM, funcionário do Banco do Brasil S.A., compositor/letrista, participante de festivais de música, regionais e nacionais, e concursos de poesia; Coautor em obras coletivas de conto, crônica, poesia e Romance; Patrono da 5ª feira do livro- Cacequi nos trilhos da Leitura – 2014, quando lançou o CD Nos Trilhos da Canção; Coautor dos Livros/CDs Piquenique de Palavras e Baú Brasil Criança, Barquinho de Papel e A Arca de Nina e Timão de literatura pedagógica e infantil; Integrante da Turma do Café.

 

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