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IZZAP./Ilustração de Luíza Coser

10 poemas de Izabel Pedron Larentis

1.

A floresta tombeia enquanto o índio arregala os olhos

E se afasta

Do homem ouro – serra – bala

Com fome de grana.

 

Os bichos fritos por chamas

E no rio de mercúrio os peixes suspiram o último gole de piedade.

 

Por ali até mosquito fica sem rumo.

 

Nas malocas a desonra das índias meninas.

E,

Para as crianças,

A poesia com esperança

Sai de cena

E

Pena.

 

 

2.

Não é trança nos cabelos

É dressa com palha úmida

Respingos,

Mãos, dedos e boca.

 

Quanto maior o rolo

Menos boca.

 

O ápice da visita das dresseiras era o café da tarde.

 

3.

Não é que na guria

Ainda havia

Olhos de peixes vivos nos cestos.

 

Precisava de uma força descomunal

Para saltar na água

E ser sereia.

 

4.

Hoje acordei para lhe dizer foi isto: Marcele.

Tudo o que vivi com você me levou a um dia ensolarado do seu lado

A chupar gomos de bergamota que nunca apreciei.

Nunca lhe falei isso,

Mas digo agora.

 

Muitos anos morreram, desde o dia daquele céu,

Em que nuvem nenhuma se opunha entre o Sol e a Terra.

 

Marcele, em que lugar vigia sua vida agora?

Sei que os pés de bergamotas morreram, o campo se estendeu.

 

E o que nos restou foi ausência,

Receio,

Mudanças.

 

Não sei bem transfigurar o momento que vivemos,

Porém bate como um vento nervoso

E eu estou aqui a remoê-lo.

 

5.

Você não me disse que havia um Tribunal para me julgar aqui na Terra,

Só me disse que haveria sempre uma flor quando eu abrisse as malditas portas,

Agora não importa, nem mais valor dou pras portas,

Já abri e fechei às que me flecharam.

 

Você só colocou possibilidades boas na minha mente.

 

Eu acreditei por tanto tempo nisso.

 

Até que o tempo veio

E num dia feio

Você me contou que Papai Noel era o pai.

 

6.

Grã amiga,

Lembro-me dos quinze

Quando me abandonou

Porque eu estava bêbada.

 

Na indignação

Quebrei a sua taça pra sempre.

 

Distantes, sabemos

 

Que a vida nem sempre é uma donzela adormecida

Esperando o beijo da sacanagem.

 

7.

Vê-lo pensador sozinho

Nas tristezas das coisas do passado que as teve.

E eu não estava lá,

Nem você em mim

Para um desabafo, um beijo, um abraço,

Um consolo, um pecado.

 

 

8.

No encontro o frio era intenso

E o vento Minuano se infiltrava muito além da nossa pele.

Na esquina,

Sem importância

Fumávamos e congelávamos palavras.

 

Aos olhos dos outros aparência.

 

9.

No bar ela cambaleava

Batia mesas

Cadeiras.

 

No seu corpo lindo

O casaco preto dançava

Como cortina com vento.

 

Sofria de amor

Alguém lhe dissera que era só seu.

 

Sei, já bebi assim,

Esses homens nos quebram no tronco.

 

Caiu

Adormeceu no vazio da mesa

Com rosto de anjo morto.

 

 

10.

Escrever é

Indício de sair para

Outros lugares.

 

Solidão

Penhasco vivo.

 

Vento fresco

Ou

Vento que assovia

Num sobrado de lembranças.

 

 

É medo que o poema

Se feche com a porta

E não se lembre de voltar.

 

Escrever é silêncio de não dizer tudo.

______________________

 

Izabel Pedron Larentis (IZZAP.)

Nasceu em Protásio Alves/RS. Hoje reside em Bento Gonçalves/RS. Graduada em Letras e pós-graduada em Estrutura e Formação das Palavras e em Linguística. Atuou como professora de Língua Portuguesa e Literatura. Em 2021 lançou seu primeiro livro de poemas “alter ego” (ed. Viseu). Os poemas abaixo são do segundo livro da autora, TRASNBORDANDO (ed. da Autora. Financiamento Fundo Municipal de Cultura de Bento Gonçalves), que será lançado em outubro de 2023.

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