Abraço
caro Mr Hyde aqui estou pronto para voce
ou é voce que está afinal pronto para mim
em mais de um terço queda perdida minha queda pelo escrever moral e apologetico
escrivão das notas do chiqueiro corto por inteiro o longo dorso do poema metrifico tetrico
a noite já vai pela metade muito capim cresceu sobre a nova trilha que vamos pisar
o bote do incendiado vai derreter a propria substancia dos que confiam respirar o ar
tenho no alforje minha parte dos mortos do escretorio e dum escritorio de mortos
vamos revirar bolsos em busca de crucifixos vamos como ouriços tornar os mundos tortos
que arte que nada vamos por ai a destruir o que pudermos do mundo com nossas palavras
que pesca uma conversa a carga dinamite remexendo as ondas calha muito melhor como lavra
a lepra crepita sob meus ossos caso não me mexa caso me aborreça com o lume de costume
virá o dia estupido e comezinho vamos nos regozijar o possivel neste escuro de estrume
viro a ponta ponteaguda da vara sobre o oco vomitado da ponte toco caminho de coitados
armo um pe-de-cabra sobre os aposentos adormecidos para enxurrar meus piores pecados
vazo meu olho antes de cegar aos demais com um jorro vendaval de rimas anormais
ficamos quites o sol da manhã por um quilo de visceras e a completa confusão de todos os ramais
a pasta de dentes gosto de hortelã pelo desmembrar alucinado da telefonia
quebro todos os tendões do verso faço com que seu caminho seja sujo penoso e duro
eu curo os leitores da insonia atraves de fornecer-lhes pesadelos ¡cacofonia! ¡cacofonia!
um quisto malquisto toma forma e toma forma concreta e toma o peso de concreto armado puro
forçar a refazer o caminho que leva o sopro interno para a voz escandir correntes de nós
virar pelo avesso enfiar uma lança avinhagrada de bramir pelos labios de Homero à foz
nada de sangue derramado virados vão estar toneis de litros de velha groselha na roupa
branca e radiante lá vai a noiva logo a seguir seu noivo armado – morte ao que se poupa
com lupa de dissecar examino o alvo e destino o volume de acido para escarrar certeiro
derreter desde a seteira os piores medos do destinatario atraves de realiza-los inteiros
notario dos erros nunca corrigidos vou podando pacientemente qualquer rastro do sublime
eterno raspar de rascunho e arranhar com o proprio punho o asco passeio no que me deprime
faço a estrofe que nunca segue a anterior sou aquele que cobre asas dos anjos com betume
tenho uma imensa piscina interna aonde nado inobservado um campo de engordar leitões cevados
muros altos alevantados onde cresce o mato alto cuidado com esterco e odio e cuidado
a rua é só para mim digo para nós digo jorram minhas garras retrateis afinal ficam de fora
a tecla do teclado toma toda uma gama de porradas e o pensamento livre se propaga agora
a tecnica do dedilhado de sentenças fica às borrascas e as ventas dos corpos em minusculas
rasgar os tecidos de todas as vestes romper a veia que conduz cognitivo e coco até a garganta
morder com tanto mais força ao quanto mais se ama e àquilo que se deteste fome tanta
matar a Twain como meio mais pratico de nunca mais ouvir suas piadas edificantes
utilizar a literatura para maltratar as criaturas antes que partam daqui antes que antes
viajar no tempo para matar Lobato previo a que possa publicar a lucida mansidão do Visconde
ou melhor, trai-lo num momento anterior a que pudesse imaginar para Emilia um contrastante
vesgo a visão pistas e vistas só para o pior que pode acontecer sempre se desgarra a nau do porto
recortei meu peito em camadas de cebola choro por qualquer coisa empunho a faca e corto
almejo estrangular lustro o cadarço ao inves do facil couro marrom do peitoral do sapato
subir silencioso andar leitoso abundante como um leiteiro atingir o pescoço como um gato
riscar frases horrendas nas costas do pedaço de papel que serviu anterior de modo servil
toda estrofe é misturada com catarro – cada tentativa de fuga eu esbarro multiplicado em mil
a sala resta vazia derramemos pela janela no tapete os frutos interiores de nossa azia
para que nela pisem semidespertos e algo de nós reste neles feito uma gosma o resto do dia
limar a rima até inutilizar a ela dizer esta cancela não mais se abrirá sem ruido
este paleto a cada vez que se vestir vai sobrepesar armamentos vai revelar os seus puídos
alinhavar as silabas da pior maneira recusando as preposições superfluas dentro da costura
elipses que restam por paragrafos inteiros como punhos socos mortais empunhando ferraduras
virilizar os assassinatos dentre quatro paredes penumbras de Jose Carlos dos meus Santos
viabilizar todos os sonhos que transformam a camas de casal em sangrentos unguentos antros
uma mulher se despe na mentira da pudicia, ai reside nossa oportunidade, expor sua sexualidade
rebentemos de picaretas seus cranios cão montado e cadela esperando por alguma privacidade
o truque consiste em empregar ao inves do coração o mais grosseiro musculo do muque
e de dedo em riste revelar que é um embuste – tocar o inverso do nariz como um duque
sobre a parede amassar a poetica como um percevejo e dizer cru ao que vejo ¡calcinar!
¡calcinar! vamos Mr. Hyde – que eles dormem
está na hora de sairmos a passear
Astragalo
nunca a si mesmo se pergunta se é duradouro o efeito de estar-se insano
se o que se leva sempre pronto é uma mordaça, uma arma ou um simples pano
qual é o gemeo siames? qual o dono? qual é o mano?
¿serão assim igualmente os outros inclinados quando fazem planos?
é tão pesado arrastar-se um fio de sangue e foi tão direto perfurar-se o furo
tão facil e tem sido tão acido duro
o suor forma luvas pouco seguras nas mãos de quem espreita no escuro
¿como empurrarão os outros aos cadaveres deixados até o monturo?
dentro da noite há o que chama e há o que repele e por isto sabido nos refugiamos ao sono
um ladrão de desejos se ocultando nos despejos de que éramos donos
a pele se vai largando pelas ruas de fuga e cronos
¿como tentam os outros trocar cavalos por tronos?
alem de mim um serafim soprou trombetas para trazer mais proximo o final de destroços
carretas sucedendo a carretas tombadas ao peso de ossos
eu sei o que significam minhas mimicas eu sei que não posso
¿como aqueles misteriosos outros tratam dos reclamos do quando foram moços?
uma luzerna se assemelha a uma faisca na estação de trens perdidos até o purgatorio
as oportunidades são como as cidades nos aeroportos de translado – imaginarios
eu testemunho minha mão pela de um falsario
¿como se portarão os outros diante das proprias telas falsas no telario?
as roupas nestas malas não são minhas a capa sobre os ombros pende falsa
a verdade é que eu não sou dono destas calças
sob as estrelas solitarias meu testemunho é inconstante sempre a penultima valsa
¿como carregarão aqueles outros todos em silencio a alça?
a fim de pernoitar aqui assassinei ao estalajadeiro
¡que sementes tenho plantado ¡que flores estranhas tenho cultivado no canteiro
por precaução apago meus traços e ando para tras até nascer novamente naquele janeiro
¿que carnes darão os outros ao formigueiro?
dos amigos requeremos que estejam atentos e não façam perguntas
não se deseja o cerebro nos caninos nada que nos prenda nada que nos unta
a frigideira sempre assa e nunca assunta
¿vão obrar os outros sombras assim faltas de juntas?
passo a escova o tempo todo sobre o que nocivamente vai raspando a borracha
reescrevo todo o tempo a historia enquanto a historia me agacha
lutas na lama até ficar coberto o corpo como de graxa
¿como farão eles os outros com este maldito tempo que se perde muito mais do que se acha?
a quietude é cheia de rumores é azeita de maleitas de doenças de tumores malignos
de designios de renuncias feitas para que pareçamos mais dignos
dinossauros comem plantas e lutam entre si na fotografia azia fidedignos
¿serão da mesma maneira inabeis os outros para interpretar os proprios signos?
em desgraça eu espero pela tempestade sem graça mexendo os braços de afogamento
nenhuma traição ao dia sobre o patetico do meu momento
não conto a ninguem o que faço in camera no escondido rapido e lento
¿como os outros dissimulam seus tormentos?
este zumbido em meus ouvidos é tido por musica a mim causa efeitos diversos
ora pareço com quem anda em meio a sonhos, ora tenho pesadelos desperto
o riso em minha boca é incomprensivel como o do homem num deserto
¿todos os outros escreverão tambem algum tipo de versos?
Anexo
eu sou quem mora dentro de mim
mas como um feto, escondido como um defeito para que nada se veja do interior incomum
nenhum rancor inchaço escape dentre os sorrisos e o aleitamento possa passar despercebido
esta atitude amiude dura a vida toda no lazareto a ama estupida cuida do demente arquiteto
me encobre uma membrana que sempre prometo que algum dia vou abrir para nascer. minto
eu sou a alma aprisionada na bílis do organismo
conquanto quero chegar às margens da quietude nunca escolho e tropeço em abrolhos de raiva
toda porta de doçura é falsa nesta casa então me irrito da procura e esmurro o teto abaixo
sou desvão, dura o impulso menos que a ação que é a parte interna interminavel do inferno
vicio de prego a se desculpar pelo orificio uma praga que desmente a chaga que causou. sou
eu sou o ribonucleico passageiro do esperma
uma viagem de tropeções e embaraços uns traços de carvões incapazes de arder na trovoada
se tiver filhos virão ser educados duma maneira estranha até que não mais os reconheça
tudo me acanha neste berçario branco cerra a tranca em minha cara e me encerra no armario
eu consinto o furto do ovo e sorvo corvo o voo em rapina de vida devida a outros. corsario
eu sou a lagrima contida na retina
ainda que fique o embaçado escuro no escuro da lente eu não a retiro não me abro nem mostro
sou um berbere atras dos panos pretos de albornozes a sombra facínora do monstro que foge
o rastro do jipe no deserto que o simum cobre o transpirado veu de algodão atras do quepe
a barba da dissimulação a solidão no oasis o homogeneo amarelado da poeira. nunca me dispo
eu sou o escravo que deveria ser libertado atraves das sessões de terapia
lima que minha lingua é sobre as barras frias unguento de lamentos lambendo as janelas
sou a raiz dos habitos e das fobias fedendo a fumaça de pacotes de cigarros cancerigenos
via ao que queria ver e ao resto me cegava esfregando as pupilas sobre superficies vitreas
assim reflete o espelho petreo no vazio mostrando eternamente coisa alguma. cela maligna
eu sou o pigmaleão do cinzel
nenhuma das figuras que moldo tem movimento porque eu mesmo fui moldado pintado por pincel
a lama é inabil para esculpir em prol da lama e se deforma quando a si mesma seca ao sol
eu sou a malacaxita no fundo do rio tentando imitar o brilho da pepita de ouro dentro da bateia
texto fragil dito por ator inseguro em palco mal iluminado afrontando a plateia. fracasso
eu sou o espirito aprisionado de ariel
aquele que foi um dia quase um serafim e a figura exibida no portfolio do cartel de medelim
a magreza e a miseria tomadas por realeza à distancia a ansia que o tempo não pode diminuir
o lirico onirico que há em se esconder para obter a coragem espada de se mostrar
a trouxa desenrolada para poder dormir a cornea irritada dos anjos reais. papel ao vento
eu sou a servidão de calibã
o afã das fezes noturnas inoportunas a polução da insatisfação manchando sempre as cuecas
uma coisa em que se tropeça na ilha deserta embora inerte e mimica e ciclica e liquida
os ardores na pele das espinhas indesejadas de coceira e touceiras de pelos inadequados
sou o moto do conduto eu não sou meus atos neles não tenho coração. sou produto pancreatico
eu sou minhas intenções no labio seco de sede
rede de lições produzidas ao arbitrio da existencia de insolvencia de atingir e fuga
caricias consentidas por desonra e abandono o braço que circunvolve sem abraçar ou ser dono
a ciencia ineficaz para descobrir a logica dos seguros e a cadencia da marcha dos ponteiros
o mecanismo chamado mundo o fundo espesso em que não há jurisprudencia. o velho astrolábio
eu sou aquele enterrado no caixão
muito cansado por falta de ar alimentação e afeto, entediado de gritos e cenas indiziveis
farto de poemas inuteis
eu sou aquele desterrado ao ultimo quarto do ultimo andar
desencavando reminiscencias encarcerado em mim numa segunda especie de parto
quem enfileira frases inteiras de palavras dedilhadas como clitoris anaerobicos de bravatas
poesia para baratas
Alabarda
o estilo que destilo é pestilencial e ralo porque eu o silencio silencioso
para que cause o pior mal
o milho que ponho a moer em meu beiral eu o estraçalho em particulas pequenas
então não se vem nunca a saber que foram parte do pedestal de um deus particular
pois que faço assim a mim, eu digo sem palavras sem palpebras internas a bater amedrontadas
simplesmente fui fadado a fazer estas jornadas
quando transborda o cinzeiro invento outra face ao inves de esvazia-lo
compro um outro temporario isqueiro e maço
eu me desfaço das peles como uma corista
sou um só mas vendo acentos diferentes como um contrabandista
não insista não gravo meu agravo pode ser o elogio de amanhã
depende da manhã me ofende persistir no erro e no acerto
acerto meu passo por uma banda de musica interna que diz merda quase sempre
depois foi desse jeito um trejeito a vida inteira
abracadabra mas feche esta porta nunca a abra sem que o ato esteja perfeito
eu não aceito coincidencias impertinencias ingerencias
desescuto e esqueço desmereço a confidencias ocupo o papel do esquecido desinformado
formo opiniões sorrateiramente
minto muito sinto pouco, deus do ceu dos sentimentos, sinto tão pouco quase o tempo todo
e praticamente tudo que me alcança é uma maré de lodo
corpos olhos distorcidos que não existem e se existissem diriam as loucuras que eu penso murmuro
e grito alem do muro
nocivamente uma lente procura focalizar a luz de corpos densos -muito pesados- sobre a alma
dos animais
cega-los! cegar a eles cega-los distrai-los informa-los a respeito do que analisamos vemos
nós os abissais
trilho uma carreira de açougue que vai da narina aos pulmões
eu me dissipo exibo minhas tripas em direção às poucas percepções
recuso discipulos por um lado ninguem pode guiar na escuridão
por outro lado não preciso de outras maldições
aceito a polpa das moças por gula
com um sentimento de culpa uma panela de janta fria fica
minha boca que as engula metade sabor metade desleixo e esquecimento daquela vulva
daquela luva retirada
eu torno a elas virgens e as dispo e as como literalmente
eu planto indesejado uma semente de inadequação
a cor turquesa põe a mesa inesperada de aflição
uma charada para a qual eu não forneço munição
talvez eu engendre ente gere ondas afinal a mendiga vai dissolver seu lixo
a duquesa nedia vai ficar mais acessível e arredia e vadia
nem sempre o que era obscuro se revela ser banal para quem se aproxima certamente não
infelizmente não para a proxima vitima
minha vida não é uma valvula de escape
minha sortida partida é o cheque-mate desesperado dos reis
eu ataco com o bispo a torre e o cavalo e preservo meus peões
eu me dispo eu bebo o porre eu corto a planta pelo talo
e avanço meus leões
escrevi varios livros com a mão esquerda no vão em que à pena cabiam perigos e profetas
estetas decidiram que não eram
fonemas formam poemas para serem decifrados ao custo de sustos de edemas e de pancadas
e são poesias
são maresias são desgostos esgotos são apostos que desventurados penduram nos aquarios
e não trocam a agua
e grudam na pele dos destinatarios
são capitanias de conhecimentos indesejados são versos amaldiçoados que vão levar o acostumado
ao seu reverso
um dia
são uma especie indesejavel inesquecivel de ave-maria é uma especie de destroço cantado por sereias
um padre nosso de caroços e areia
eu saboreio os cupins que morderam inadvertidos minha madeira eu tenho a noite inteira para planejar como mata-los entre minhas unhas verdadeiras
eu tenho minhas maneiras suaves e poeticas
o assassinato planejado é uma arte doce como o vampiro como colares
– marte era um deus obreiro e tinha fobos e deimos para auxiliares –
o que escrevo é grego para voce o modo como agrego palavras vai adoecer apodrecer voce antes de fazer um bem
danado
Argila
não me move mais a arte a o desastre, ao destroçar da fala, à evasão da sala
não me penetra aos ouvidos, nem faz com que tudo que cerca perca o sentido
nada mais de olvidos ou de segredos amplos ou de degredos impios
ou de folguedos. agora ela me cala, nunca me toma nunca me empala
embora eu empurre o corpo para precipicios, conquanto eu quisesse ainda o oficio de ouvidor
já não sou senhor dos meus desejos. assim foi feito o despejo por um malfeitor
que tem, talvez, o nome de idade, quem sabe responsabilidade, quem dera exaustão
a boca louca de um fogão a gas perdeu o encanto de seus beijos
defeito domesticado o interior sempre vazio porque por mais que trabalhem os dentes
nada jamais alcança a sepultura de garganta. é uma gelatina de cultura sempre esteril
um esmeril sem fio de gume. nada que aprume uma lança dentro do arcabouço incomodado ereto
me falta um teto. vaguei por muitas casas de tantas cidades, lá foi a mocidade e o brilho
perdi alguma capacidade interna enquanto vomitava o tombadilho
não tinha pilulas: eu a julgava eterna
agora desconstruo a cena em planos, a obra em partes, a vida em anos
o tempo em fases, o pleno em ocos, a merda em tocos, a guerra em pazes, a terra em lotes,
e o papel higienico em doze meças de picotes depois dobrados
o que lembro do fado são lembranças. e das lembranças só trago a ponta dos sapatos
parece que sempre andava cabisbaixo
a luz se foi, a sensação é de uma pilha insuficiente para acender ao facho
de uma podridão se entremeando ao mundo. de uma mansidão indesejada
enorme me surpreende o nada. sebento me saboreia o cinza. preferia as bruxas ao cinzento
um fantasma senta ao meu lado no cinema. um ectoplasma é meu companheiro de teatro
por menos que eu minta é impossivel que não sinta suas presenças e tudo que falo exala
ar estagnado. a duração do purgatorio no entreato, uma overdose de menta
tomando todo o espaço. um sono de dono de gado. um morto no foyer que mal se aguenta
a minha analise tão lucida nem ao menos trucida a paciencia, ela aborrece
e em contrapartida a presença dos demais me embrutece – e não mais me arde a arte
não mais me empolga a peça, viciado que fiquei em ser quem meça
a pecha de inimigo da musica cabe como uma luva sobre meus timpanos velhos retesados
se alguem canta uma uva eu quero ver a seda da pele, não mais a reconheço na angustia
dos caroços. me encontro como um cão que perdeu o gosto pelo tutano dos ossos
o verso passou a ser um vinculo bastante duro. melhor dizendo um muro
àquilo que cantam os cantores eu chamo aquilo. um quilo da minha audição vale um grama
eu me orgulho de ser um esquilo a diuturnamente catar nozes
nada alem de barulho me dizem as vozes. fecho a porta do quarto de silencio solitario
dependuro minha paciencia no armario; saio em golfadas seguidas de desmaios
gritam muito alto para meu gosto atual, tocam a respeito do que eu suspeito muito mal
não me tocam, não me atingem, não me deslocam do meu pesado centro de gravidade virtual
eu me recordo do tempo em que distinguia as notas do baixo e da guitarra para saborear
eu me recordo mas é muito vago, uma vertigem de impaciencia me arrasta para a ignorancia
uma ganancia pobre pelo entender mais rapido, uma perda de olfato para fragancias
a tatuagem de acido era de lapis, o recortado de punhal cicatrizou uma epiderme grossa
a velha sombra ainda escuta as mesmas canções por onde passa, o mesmo passaro em outras
aves. contudo não detem o dono do anteparo. mesmo um disparo ao coração não o comove
a promessa de escalar foi esquecida, se acostuma à previsão do tempo na descida
o elixir da juventude foi perdido, como os outros come os outros e é comido
não encontro mais em mim o baluarte, aquele que sacia sua fome pela arte
não é mais meu o acervo da biblioteca e o tesouro do museu. não é mais ouro
é um passeio de sorvetes e bermudas. não fica mais muda a alma e nem brada
passou a ser de lata, o ganha-pão de um curador que eu critico por regras de estetica
e era o meu chão meu grão, era a projeção do meu braço era o que eu dizia que eu faço
era minha cidadela feita de ambar transparente de neon que anuncia e de refugio aço
os quadros que cobriam as paredes eram de meus irmãos, eram que como feitos pela minha mão
e hoje nada, nem uma penada no livro de visitantes porque só ficarei por um instante
e vou guardar o libreto propaganda em branco e preto, melhor dizendo vou colecionar
com outros mapas e trapos
um satrapa do enfado um califa acumulando fronhas, meu travesseiro é uma bigorna
durmo um sono pesado, meu sonho é uma extensão dos dias, prolongamento dos disfarces
eu levo o enfarte a passeio na noite que outrora era tão minha, tão bela e daninha
nada me orna. não mais me move a arte e destarte anseio
Avos
trinta dinheiros no bolso
o suficiente para sentir o desejo mas não o bastante para comprar o gasto do gosto gasto
alem do mais ¿o que era mesmo que de tão especial havia nas infinitas vitrines de adereços?
em que estranhas colocavam objetos e seus preços classificando sonhos desde pobreza a fausto
fotografias de pratos para aguçar o apetite inutil linha de pescaria com anzol na ponta
lanhas de asco me percorrem embora eu as esconda e produza ações e palavras à feição
de sondas
trinta litros de gasolina no tanque
o requerido para estanque percorrer sozinho um caminho muito longo sem precisar de sono
sem lirica e sem dono sem correr o risco -isto nunca mais- de tonto vir a dar no posto
sem metas oniricas percorro a estrada cuidadoso em não redesenhar seu risco em retas
uma concreta murada de concreto me esperaria refugo cuidadoso desmarco este encontro
lá fora um mar de pedestres me apavora criaturas que eu não sou mais .levanto o vidro
agora
trinta fichas compradas no cassino
sem nunca admitir que espero que uma magica passe seus gestos sobre meu destino
as apostas da loteria uma falcatrua a menos ou a mais, pelo menos esta não é romantica
nem dialetica nem semantica pouco importa a discussão das regras do jogo da sobrevivencia
avessa roleta da demencia a oferecer podridão ou genio eu sou conservador e a desmereço
antipatico sorteio sem cartas marcadas, sem que se possa premeditar os lances e comer da vida
só o recheio
trinta demãos cobrindo-se nas paredes
muitas portas teve minha morada e em cada uma delas como me foram penosas e demoradas
assim não ficou a garota rota do coração despedaçado a me telefonar sem rota inutilmente
mudei-me sempre que a algum tipo de costume de derrotas me apoiava para manter o prume
mantenho minha casa sempre limpa aprendi a vinca minimalista do teatro do que tem pouco
¡não é verdade que se pintam as paredes por decencia! é para a vizinhança, pois raramente
se raspa o reboco
trinta telefones de cor guardados
não necessito de cartões de visita amigos me visitam como se frequenta a um agiota
para imbecis recolherem (quando precisam) palavras de inteligencia da boca de um idiota
é como se nunca tivesse falado com os demais eu os esqueço e eles me esquecem
é como um sol que por pouco tempo aquece pois parte em busca de espaço em outra parte
uma linha cruzada em que se entreouve um viva que logo apos se manda embora ;fogo
que não arde
trinta conselhos de ocasião que sempre ofereço
produtos da experiencia condutos de literatura entupida às jamantas mantras do mau humor
se erra menos quando se erra solitário. não há armario que grande seja para dois.
melhor paciencia é a que nunca espera por outro trem. melhor vintem (ninguem) é o poupado.
pior para os fatos se não se conformam à ciência. pior para nós que os tolos sejam tantos.
pior para teu ombro pois meu lenço era mentira. se falha mais quando se dá que quando se
retira.
trinta metades
a cara metade me espera na janela vigiando a panela de feijão e a gamela dos ganhos comuns
um terço se finge na igreja -ora veja- sabido e descarado aprendi que deste modo se faz
um quinto do inferno aqui mesmo se paga vai-se naufragando enquanto se navega às velas
uma oitava mais alta falaz de mozart eu grito porque minto sobre a sela do cavalo falso
um quarto pode ser o universo ou o inverso do espasmo ou pasmo pasto de um parvo sem que
se perceba
trinta e o dobro anos de idade
velho como velho pode ser um homem como lhe fica a mascara do rosto e acostumada a tinta
jovem feito a falsa jovialidade que numa conspiração doentia devem todos dizer que sintam
trajo alugada a roupa de aço de palhaço social um domador de atores no circo de comediantes
beber nos aniversarios alheios da mais fina maneira – agil macaco pois rondam predadores
maduro para no escuro dizer à companheira de ocasião que está sempre sobrio e nunca me
falta o chão
é a este enredo que se chama minha idade: nada me apaixona e ao inves me impulsiona o medo
nada me alcança mas juro -inconfesso- sentir que minha juventude degenerou numa gangrena
trinta milhões de vezes fiz as mesmas coisas, nada me engana: tudo me cansa tarde ou cedo
tenho uma vontade mediana de escrever este poema
Abajur
como é belo meu quarto que eu conheço de cor no escuro e posso tatear seus tesouros
e estar seguro embora existam angulos feitos de excessos de estranheza e sofreguidão
eu coloquei a lampada quebra luz que me mostra a verdadeira forma que eu quero das coisas
eu tiro meus sapatos sentindo meu corpo inteiro reconfortado e honrado pela construção
tenho um isqueiro sempre a mão e um tinteiro eletronico para escrever atento e descuidado
eu tenho ar de sobra aqui eu tenho alento eu tenho os momentos que foram adiados
marco um tento ouço o vento ninguem se aborrece com rimas alpinas sustentadas em ganchos dificieis
sou eu o artifice destas canções destes livros desta noite deste silencio
ninguem tem a chave é personalizada o deus em minha voz ateia e apaga o incendio
quadros formam as faces do dado eu sou a banca que divide com um destino conhecido o resultado das apostas
imagens falam de viagens que fazem sentido para min eu fui assim
a porta está fechada fora os convites individuais recebo bem mas recebo pouco
a cadeira quase nada mais é que um toco desconfortavel de madeira e o sexo deixa rouco
falam demais os loucos e de todo modo a adrenalina não deixa que sentem os poetas do viver
andar liricos e oníricos os porta vozes porta fezes do futuro esbarrar em muro
dormir feito um reino fora em monturos esconder as partes frageis expulsar juizes fazer-se duro
em aposento de delfim – como o que desejo em todos os sentidos bebo quanto posso
o fim sempre é feliz porque este local é uma circunstancia predeterminada como quero
e me esmero em decorar o ambiente ciente que virei aqui daqui a um ano ou uma semana
essa é a minha cabana de ferias nas bahamas esta é a logica que meu bom comportamento exige
entrar dentro da esfinge e ouvir estereofonico a musica minha faraó e rei
se vejo um final para tudo isto é que a aventura contamine a procura
que o sopro da procela infle minha vela e a vitrina do mundo siga meu modelo
tudo bem sem atropelos homero começou antes de mim não há ainda clima para hochimin
tudo mal eu não espero um sinal ao contrario do paraiso eu não sou o que virá apos esta aids
nem tudo faz bem mas eu não creio que o coito anal seja o que separe amigos de adversarios
nem tudo vai mal a ciencia vai dominar a doença e eu vou esterilizar os cobertores
separar cuidadosa bibliograficamente as dores das dores as atrizes de atores falsos
neste espaço meu repasto foi casto quanto a isto dito claro quanto a amores esquisitos carnais fui venal
tanto ao que montava construir o interior em prata antiga maldita
fui venial em aceitar pequenas porções de conflito em ganho de peças artisticas
arterial meu genio domina minhas ações aflições eu as tenho pago em minha sempre deserta cama de casal
equinocio vernal aquiesço meus erros a cada 26000 anos
capricornio sou teimoso durante as arguições nos tribunais não aceito a menos nem a mais
abro as veias que tem o gosto confortavel de meias retiradas no inverno debaixo das cobertas
são coisas certas que eu guardo eu não me resguardo e ao contrario ostento
madeiras caras formando moveis e molduras os fogões e geladeiras que compro são duraveis
animais feitos de particulas do meu nome aglutinado regurgitado vão frequentar esta sala
nunca haverá mala tão breve ou tão pequena que deixe de leva-la eu estou ali
estou a deitar a me conceder usufruir e deleita-la redecora-la a menos que seja um cadaver
preservo brasões os desvãos da vivencia declinam lições os amores não condecorados largam carvão
aqui dentro eu reconheço eu sou um bom partido e não necessito pedir perdão
eu não escuto canções como estas em outros lugares não tenho de outro modo festas surpresa agradaveis
não preciso alugar minha alma em troca do outro pedaço nada de condestaveis
degradaveis nada que não seja purificavel justificavel pela urina nada ourina que não seja ouro
nada contra as falsidades ditadas pelo estilo só que eu não preciso
só que nunca me dói o ciso da inveja tenho regias pequenas vitorias a comemorar a cada dia
nenhuma erisipela me arrepia ando a pé e colho frutas calor ou mendigo sempre sendo o mesmo
sempre atirando a esmo quando me irrito quando me dá vontade de protestar e grito
o meu quarto fica fora do tempo ali eu sento e revejo e planejo levando em conta igual o cosmo e meu ensejo
só que no meu sarto eu faço o terno que eu vejo bem em mim
meu senso de sabores sabe distinguir gelatina de peixe em comparação a galantina
se unica houvesse resistencia de lampada para iluminar a existencia gostaria de estar aqui
ultimo filamento de lamento que pudesse ser ouvido eu o iria irradiar daqui
aqui eu bordo flores de repulsa carnívoras comedoras de procuras falsas
aqui eu acordo com caronte que mate em sua balsa aos provedores de fraudes
e afogo pessoalmente aos que proferem meias verdades à borda e à prancha eu julgo com seriedade
faço de conta que tenho a ponta de milhares de soldados sou um galgo sobre calcanhares
é bela a fera que tem tapetes elegantes sob as patas de unhas duras
a atmosfera deixada aqui com certeza vai ser um mausoleu fedido de quem sempre andou em covil
e ao léu
Aranha
eu tenho vomitado sobre deus há tantos anos e portanto perdi as lindas missas e as graças
do senhor das trapaças das divindades carentes de fé e de ouvintes prestimosos peregrinos
eu tenho urinado sobre as autoridades constituídas de tal forma que as molho em verdades
desconfortaveis cuspir derramar logica sobre a insensata podridão dos atos imperiais
eu tenho decapitado amigos com o cutelo de palavras duras sobre um altar de silencio
suas respostas foram analisadas e retorcidas como um novelo de ansiedade até secarem
eu tenho assassinado inimigos sem pena e os tenho colocado em caixões de cimento social
causo o mal quando me parece justo sou o juiz inflexivel condeno e janto e durmo sem susto
eu tenho atrasado o acariciar de minha esposa para compartilhar da cama de divorciadas e viuvas
o que se tem nas ruas acrescenta ao que se tem em casa aquilo que faz suar abrasa
eu tenho sido um urso para com mulheres eu como a elas sem reparar na ordem dos talheres
os dois fartos no final que inclui o coito anal e um bichinho de pelucia como recordação
veja
não é meu o discurso de quem se aproveita agora e lamenta falso os bons tempos de antes
não é meu o dedo elegante enluvado que toca as feridas de há muito cicatrizadas se lava e aponta para o lado
não é minha a alma farsante do apostador do ouro alheio nos dados perdidos da noite passada
não é minha a calma perceveja que lamenta o sangue derramado
eu tenho rolado nas ribanceiras porcarias da filosofia lida pela metade e considerada até o fim
eu morreria das feridas se me as permitisse repousar em mim ou que eu me aplaque
eu tenho a claque contra – o apupo e a reprimenda tem sido como comendas acostumadas
sublinho pensamentos sublimes e devolvo a afronta com murros sou o ultimo dos indignados
eu tenho repartido o pão do consentimento com um bando de amaldiçoados a vida num cercado
garagistas pedreiros e astronomos eu tenho com eles conversado ilustro o pouco lustro
eu tenho ressarcido a cerveja pela moeda sem troco da conversa honesta na hora do sufoco
linhas paralelas não se cruzam mas dividem um copo de bebida enquanto ronda o lobo louco
eu tenho sido a pia batismal da carne desacostumada à reflexão dos tecidos duros ou podres
o caco de discussão benvinda enfrentando o vezo -pano de chão- de resignio e aceitação
eu tenho imaginado por eles e porque preciso – este dente siso que nasceu comigo recusa extirpação
vamos rir da teta da estatueta do pensador solitario agachado pelo mundo
note
ninguem comete este tipo de crimes que eu me atrevo ninguem para neste trevo da estrada
ninguem toca o quarteto de cordas assassinas que eu componho ninguem prova deste vinho
todas as sextas feiras ao longo da existencia esta musica suja que requer ao despudor
ninguem que seja tão mesquinho ninguem terá a expressão da serpente enquanto dá o bote
eu tenho grafitado e agredido publicamente aos pedestais dos titãs entronizados anteontem
seus totens massivos caem em pedaços sobre mim 40 anos de serafim e um começo de varizes
eu tenho enfrentado herois e sido inquisitivo sobre as mentiras que contam a respeito do sujo das cuecas
costumo tirar sangue de seus narizes pelo expor publico de suas melecas
leia
nada que eu digo fica alem da praia deserta simples lavada pelo vento nada é pretensioso
nada fica um estorvo para quem tenta simplesmente olhar as folhas as calças e as saias
nada é sujo como costuma ficar nas areias de fingimento moda e coca-cola nada neste point vai ser uma mola
reflexa das ordens de outros nada vai encontrar aqui o canto das sereias
tente acreditar ou acredite
o arrebite só afrouxa pelo atrito – nunca pelo lento roçar do costume contra as evidencias
eu tenho humilhado a anfitriã com impertinencias – o bontom a obriga dançar com o estrume
afrodite ateneia veio pura do mar a golpes de espada na cabeça – trouxe cura às cefaleias
Avalanche
nada me ocorre
nada corre hoje a noite em minhas veias que não seja sangue
tudo é um açougue
a musica é feito uma fabrica de gemidos
meus ouvidos perderam a oportunidade que tiveram
hera que avança sobre meu cerebro
onda de barbaros armados de pau e ferro
utilizar quanto arame farpado se disponha ao redor da fronha
a melodia que se faz ouvir é uma censura
sempre se paga a usura dos sentimentos
a melodia é uma parodia da minha vida
nada sobe ar às minhas ventas
nenhuma contenda me apazigua
a rua permanece a mesma por mais que eu mude
a venda fica no mesmo compro conquanto desassombro eu siga noutra senda
tudo são olhos
todos são as plantas que sabem quanto devo na quitanda
respiro por ouvir dizer que ficava bem
que trouxe do alem uma gripe batizada
essa é da lata
esta é uma lagarta rastejando para minhas cordas vocalicas
poeticas como um pareo
vencerei: quer dizer gostarão?
¿do azarão
nada tem ferrão se não causa medo se não tem dedos de nojo alargando a garganta
minhas unicas mãos tem metros de autores a lhe conterem
a derreterem o sorvete
me impedirem de sorver-te
tudo que contam é algo que me contem porem a outrem soa falso
um cadafalso
repetir
despir de mim vestir a mim em voce
que me le
nada ilha tem uma quilha ponta verrume para varar ileso oceanos de desculpas
permanecer a sós
sempre se mede a velocidade em nós maritimas
ao inves de vitimas poupadas
ao inves de paisagens vistas
somos uma humanidade vitima da perversidade em listas
de casamentos
das fotos – digo videos – do momento
um bando de aborrecimentos
de que eu fujo um bruxo das palavras embebidas em bebida
nada assassina a sina de ter o que dizer e ter a boca costurada
por curiosidades editoriais
muito mais do que as cronicas cronicas da prefeitura eu desço
do meu ponto de vista se assistem turistas dos abismos engolfados pelos bancos abissais
rampa de decolagem de desmaios
balão que leva aos filhos o furacão
duvida
desvio
fio fora de prumo
tudo que eu arrumo é um desafio
ao referee
não estou nem ai
nada do que eu faço está certo
esta poesia não te mantem desperto
nem perto de mim
nada assim tão facil para nenhum de nós dois
eu sou um dia o que virá depois
a ave maria afinal dos danados quando estes digitais imortais tiverem sido encontrados
nada pode dar errado
Alfabeto
tarde toca a prensa bate a estaca das sentenças alinhava a barra dos bordados de alguem
guelra toma e solta clara como agua alguma coisa que de magoa tem como tem de uma doença
prega bate corta torce a reta conforme foi farta recomendada pelo sarto sabio e geme
leme roda e molda e solta fileiras de tipos de argamassa em chumbo de cimento em letras
gretas donde haverá a luz de sair ou vai refulgir o escuro ambos sempre duros e terminais
plaga situada em todas as partes do planeta arde o cheiro acre do que vai ser impresso
ganglio que contem febre e contem pressa corre engrenagem a desenhar certa paisagem unica
brita pedra a literatura é uma coisa muito estrita atirada à população alem dos muros
choca a roca de fiar venenos enquanto circula para multiplicar por mil milhões pequenos
ais
noite retalha o bico da ponta dos signos malha a crosta do papel escreve mecanico cinzel
recorta aparas produzindo um zumbido como de cigarras numa sala ampla em que um rato roi
corta costura amarra a capa dentro da qual um autor autorizou seus meneios e devaneios
vaza o vezo da lingua utilizada de certa maneira a regra costumeira substituida agora
pinga o oleo para produzir o que foi feito para fazer desmoronar as estruturas duras
crava a cunha no moldado parte a paz rebenta a resma sempre na mesma metrica margem
franze a borda dobra a pagina torce a planta feita de linho produz do desalinho lisura
arrepende fura mede a estrofe desenha acima da linha o apostrofe que se endereça escarninho
desbasta a parte que era demais ademais as maquinas se enfileiram e tem sempre a premencia de
pedais
madrugada perdem o brilho os metais mediante a pressão do prelo dedalo cilindro de fuso
quem escreveu torna-se agora um parafuso o cordão de teseu tecido de bronzinas tacteis
escava o breu para tirar do suor da clavicula parva o pavor que numa jornada o acometeu
profunda e afunda-se no tear do negro sobre o alvo e afinal retirar o grito à garganta
tanta tralha e chão de picotes de borracha e trelas de malha ao redor das janelas
quanta falha que ainda há mas que se espera que não se aperceba sebo em volta da carne
cerne de miragens lapis-lazuli sobre a sobrancelha e cospe a engrenagem a sua parecença
treme a telha rosna em arco o mundo destinatario um terço ficará no armario das raspas
valham as musas do tormento vigiem o valhacouto necessario dos que extraem lucros nos
anais
manhã sem desejum vem à lume o opus incomum por fixação de uma mente e dos solventes
as tintas da edição tem formulas que levam em conta simultaneamente suportes e função
os pigmentos de seu colorante são agregados a produtos fluidos para garantir a impressão
quanto antes findo termina o quintal dos quintos do inferno e principia a vespera espera
muito tarda por enquanto a ser feito e giram as catracas a produzir metodicas as palavras
varas comunicam seus movimentos a troços de vento para terminar em ferimentos trancos
cones bastões estomagos roucos de fome dos operarios quinas de pedra pome a esmerilhar
fones ordens transmitidas pelo telefone veja que ao redor da rosca um pino vai se esgotar
tantos donos do que era uma ideia singular planos metas torna-se uma batalha no embate de
jograis
meio dia pausa pára o criador e vê recem-nascida a ferros sua criatura namora e aponta
os erros são as falhas da forma a terra morna que em vez de lavra seria sepultura
recomeça a faina corrige emenda aplaina argumenta remenda refaz loquaz torquez exata
à ultima hora sacrifica reduz implora borda a corda que haverá de leva-lo ao paraiso particular
cravam novas garras os elementos de tiragem de tão leves fingem que afagam mas arranham
raspam e apagam sutis obedecem vis as polias fiam-se no que ordenam o grafico e o impressor
o queimado odor de alcool umedece o galpão este senão vital nunca é às telhas desigual
todos pedem hirtos afinal as correções todos se despedem de sua criação com ritos de ternura filial
fossem d’ agua linotipos ou os artifices há muito estariam enferrujados todos são da terra
sais
arde a tarde pensa sobre o que irá dizer de tamanha desdobra por essa obra a imprensa
atras dos cliches fotograficos fica mera cansada a ulcera da expectativa da resenha senha ou não
a aceitação da empreitada vinda encadernada vindima à banca as qualidades de dureza da lombada e das rimas
que oxidos vão fisico-quimicos atingir o critico e extrair-lhe paragrafos louvaveis
se em combinação os acidos obscuros realmente produziram uma embalagem agradavel
torcer para que as folhas um dia vegetais nem sejam asperas nem doceis nem desdenhaveis
que a atração da trama tenha subsistido à rama à poda à serraria infame dos cordames
vara o sol poente doente tentando adivinhar a recepção do publico alvo e dos confrades
jurisprudentes vira a noite relendo o trabalho no ritmo grosso do vestir de um agasalho
trinca a madrugada quase como ontem crispou a pena ocupou a tipografia com poemas do jamais
que jamais
Alexandre Humberto Andrei
“Sou quem escreveu o(s) poema(s) – dependendo da diagramação – acima ou abaixo. No carinho privado, que o sentimos todos, chamo-me Eu. No RG, Alexandre Humberto Andrei. Vale o mesmo para a idade – sinto, eterno, diz o RG, 67. Afora estas contradições óbvias, uma minibio levanta outras questões. Se é boa a obra, pouco importa o artista; se aquela é boa, durará muito mais que este nome e circunstâncias. Se houvesse espaço, poderia até argumentar que no caso da poesia muito menos deve a obra à intenção do autor, que ao tempo e lugar; muito mais ao galope das palavras, que à rédea do autor. Em grau um tanto superior de relevância, vale dizer que o(s) poema(s) aqui em publicação tem origem no livro Anagrama (PoesiaFãClube, 2017, Portugal), cujo tema é a escrita. Não a minha escrita, evidentemente – após tanto que defendi acima sobre a desimportância do autor. São ficções. Toda arte o é, uma vez que sua função é trazer para o real o que antes era imaginário e pressentimento. Chega de cautelas, afinal todo fio de Ariadne pressupõe um monstro e um labirinto”.
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