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10 letras de músicas de Márcio Grings

Tropica, mas não cai

O muro caiu

Em cima de mim

Juntei os cacos e saí

A roupa a sacudir

 

Portas eu vou abrir

Um passo de cada vez

Não olho para trás

Mais forte posso me sentir

 

Nunca esteve em questão

— a ideia de desistir

Nunca esteve em questão…

 

A lua caiu

Bem atrás de mim

Cheguei, mas logo já sumi

Desci e agora vou subir

 

É hora de partir

Já não estou mais com vocês

Tropica, mas não cai

A sorte voltou a sorrir

 

nunca esteve em questão

A ideia de desistir

Nunca esteve em questão…

 

O viajante

É marrom da cor do barro

Céu azul e desbotado

Vento norte e nostalgia

Nos morros de Santa Maria

 

Estrada de chão batido

Onde heróis foram abatidos

Flores ao redor

Verde pra todo o lado

 

É marrom da cor do barro

Céu azul e desbotado

Cá estou com alegria

Minha casa em vacaria

 

Estou entregue a própria sorte

A vida enganando a morte

Negociando a travessia

Mil quilômetros de qualquer lugar

 

É marrom da cor do barro

Céu azul e desbotado

Cá estou na aduana

Como é longe Uruguaiana

 

Ao passar pela ponte férrea

Negaceando ela balança

 

É marrom da cor do barro

Céu azul e desbotado

Ao longe a cidade se ergue

Estou chegando em Porto Alegre

 

Br de asfalto bom

No rádio toca o meu som

O motor vibrando no peito

Pôr do sol no retrovisor

 

É marrom da cor do barro

Céu azul e desbotado

Cá estou, caminho a pé

Pelas ruas de Bagé

 

Outro lugar, uma nova dança

As mil e tantas andanças

Mas o cosmos é um só

E nós, ciscos de estrelas

 

É marrom da cor do barro

Céu azul e desbotado

Louco, um vagabundo

Ele sonha em passo fundo

 

El viento agita mi bandera

Vivir es romper barreras

El azul de los siete mares

Es lo mismo em buenos aires

 

É marrom da cor do barro

Céu azul e desbotado

Um homem livre por aí

Mas sempre pensando em ti

 

Naipe de metais

Ontem, meu bem

Eu sorri, você chorou

Pare, pense e entenda

— que —

Somos diferentes

Há algo além

Na cama somos um

Almas desiguais

Eu sei, você não entende

Mas eu… Te digo…

 

Não, não interessa o que somos

E o que mundo fala sobre nós

É o fim da festa, meu amor!

Até mais!

 

Acabou, mas a música não parou…

 

Me despeço, e por favor, maestro

— que venha agora o naipe de metais!

 

Nos olhos de quem vê

Minha vida

O que ela tem de melhor

Eu vou soprar o dente-de-leão

Sentir o cheiro de citronela

Ver o beija-flor pousar

Na aba do chapéu-de-napoleão

 

O sol entra pela janela

Do arco-íris sei as cores de cor

 

De volta as ruas

O trânsito — a confusão

Buzinas, canos e combustão

Distância entre eu e ela

No semáforo — o divâ

O barulho do motor do caminhão

 

Vejo a chuva pela janela

E muita desordem ao meu redor

 

Hoje à noite eu vou encontrar

Conforto no meu travesseiro

Na tessitura da roupa de cama

 

Mesmo ausente de você

Assim como tenho a certeza:

A beleza nunca vem primeiro

 

— a beleza estás nos olhos de quem vê

 

Água límpida

Então, me diga

Porque não

Poderia voltar

Rever as belezas  e usufruí-las

 

Outra vez

Subir o monte

Sem peso nas costas

Chegar ao topo e admirá-lo

 

Queimar todas as pontes

Não deixar rastros

E dizer bem alto:

Até nunca mais

 

Segurar as pontas

Dobrar luzes e sombras

Refletir, perceber os sinais

 

Precisamos aprender a apreciar a viagem

Soltar a corda

E  levar o balde  até o fundo do poço

 

Precisamos entender

Como decifrar a mensagem

Esticar a corda  e trazer o balde lá do fundo do poço

 

Então, me deixe

A estrada vai me encontrar

Frente à natureza

Com minha mochila

 

Vejo a luz do sol

— as nuvens —

A frágil dança das flores

A brisa leve vai me reparar

 

Lavar as mãos no ermo riacho

E cantar sozinho longe dos currais

As curvas são longas

Até Shangri-lá leva um tempo

Mas eu vou chegar

 

Então, me diga

Porque não

Poderia voltar

Rever as belezas  e usufruí-las

Assim beber da água mais límpida

E rir na cara dessa vida estúpida

 

Shangri-lá

Pode abrir a porta e entrar

Fique à vontade

E não vamos desperdiçar

O tempo à toa

 

Tudo bem, olhe as minúcias

Sem neurose, por favor

Não, não tenha medo

Dessas coisas pequenas

 

As cobertas pode afastar

Deite ao meu lado

Só nós dois

Ninguém por aqui

Sem certo ou errado

 

Os cães latem lá fora

E nós dois sem nos importar

Se é a cama que balança

Na cabana — nosso Shangri-lá

 

Pode abrir a porta e entrar

Fique à vontade

E não vamos desperdiçar

O tempo à toa

 

A lua cheia alumia

E os grilos a cricrilar

Uma só sombra chinesa

Na cabana — nosso Shangri-lá

 

Copos de plástico

Eu não tenho medo da morte

Mas a fornalha arde

A realidade gira e ondula

Sabemos, a vida é dura

 

Uhhh, se algo me falta —

Não faz mais parte de mim

Não aceite o açoite

Viver é bem mais que sofrer

 

Eu desejei o sul,

Mas fiquei sem um norte

Te queria pela manhã

Mas deitamos muito tarde

 

Ah, vida imperfeita

Chuva que cai sobre mim

Não aceite o açoite

Viver é bem mais que sofrer

 

Eu, desejei o júbilo

Mas só tive o pranto

A lembrança de uma concertina

Um tango de pernas tortas

 

Uhh, se algo me falta —

Não faz mais parte de mim

Não aceite o açoite

Viver é bem mais que sofrer

 

Não seja tão drástico

Viver é bem mais que sofrer

Sim, vida imperfeita

Brindemos em copos de plástico

 

Força superior

Nem mais sei

Quem um dia eu fui

Hoje vejo melhor

Até quando a luz diminui

 

Lá do céu

Uma força superior

Joga estrelas nos homens

E as bençãos numa flor

 

Nessa mesa

Não nos falta vinho ou pão

E que a vaidade

Não ofusque a gratidão

 

Lá do céu

Uma força superior

Nos oferece refúgio

Nosso abrigo frente a dor

 

Sou a pena

Que escreve outra história

Páginas da vida

Vivas em minha memória

 

Lá do céu

Uma força superior

Joga estrelas nos homens

E as bençãos numa flor

 

O fruto cai

Entre a lenha e a chama

Colho o que planto

Amo a quem não me ama

 

Lá do céu

Uma força superior

Nos oferece refúgio

Nosso abrigo frente a dor

 

Quem eu sou?

Eu sou terra, fogo, água e ar

Sem ter asas posso até voar

Pés descalços eu vou caminhar

Por aqui ou em qualquer lugar

 

Vou caminhar

 

Jornais e açúcar 

Vivendo um outro tempo aqui

— eu e eu —

Já não conto os dias frios

Sei que isso é algo bom

O vento a se arrastar

E a levar o que chegou ao fim

 

Aprendo tanto por aqui

— eu e eu —

Reescrevo uma canção

Tão diferente das demais

Mudo a letra e o tom

Expressão do que estou a sentir

 

O que permiti e escolhi

Como aqui cheguei?

Não esqueço

Do chão não passo

Sentido eu posso

Redescobrir

 

Tantos momentos por aqui

— eu e eu —

Jornais e açúcar no chão

Um adeus, um até mais

Desistir é esperar

É entender

O que está em mim

 

Tomando um vinho por aqui

— eu e eu —

Sem manchas, nem batom

Sem perfume ou sinais

Nenhuma voz, nenhum som

Oh, solidão! O que está por vir?

 

O que permiti e escolhi

Como aqui cheguei?

Não esqueço

Do chão não passo

Sentido eu posso

Redescobrir

 

Desde que perdi a minha fé 

Coloquei o gorro meio torto na cabeça

Olhei para o invisível e pedi ‘bença’ ao senhor

Eu pulei do trem, malogrei, porém, eu sei:

— o acaso ainda joga ao meu favor!

 

Não me achei desde que perdi a minha fé

Já pedi, como bem ofereci o meu amor

Saquei qual é que é, e apenas me calei:

— a maestria de ser um bom entendor!

 

Deixei as luzes para trás

Encontrei uma tapera no meio do nada

De um buraco eu vejo as estrelas

Descubro o silêncio e a minha paz

 

Um graxelo se enconde atrás de um espinilho

No retrato daquele bicho, a diferença se perfaz

Mas finjo que não o vi, apenas finjo que não o vi

No disfarce daquele bicho, a descrença se desfaz

 

Oh, será! Será um grito de socorro?

Ou é o lamento desse zorro?

Não, não sei! Não se fico ou se eu corro?

A lua morre bem atrás do morro

 

— E assim ele se vai…

 

Ouça em: https://open.spotify.com/intl-pt/album/1q3H406m4bYcT2MES86Bkk?si=v_agwZkhTWePuBO50xetFg

 

 

MÁRCIO GRINGS: nascido em Santa Maria, em 1970, é repórter musical, produtor cultural, radialista e escritor, editor no selo santa-mariense Memorabilia https://memorabiliastore.com.br/. Passou por veículos de comunicação como as rádios Itapema e Gaúcha, jornais como Diário de Santa Maria e A Razão, além de publicar em diversos sites e periódicos. Seus conteúdos sobre música podem ser conferidos em www.gringsmemorabilia.com.br e www.gringstours.com.br. Também é criador de Oficina de Pardais, projeto que levou o haicai até escolas públicas de Ensino Fundamental. De livros, publicou Saindo da Linha (2002); Rock & Roll (2004); Vivendo à Sombra dos Gigantes (2006); A Nós, o Clube dos Descontentes (2009); Drive-in (2013); O Caminho Mais Longo (2013); Todos os Pardais do Mundo (2019); Engarrafando o Vento (2021); Quando o Som Bate no Peito (2021) e Bicho-do-Mato (2022). É integrante do grupo gaúcho Graxelos, que lançou em 2024 seu álbum de estreia, “Shangri-lá”, onde atua como letrista, músico e compositor. Ao lado do jornalista Romero Carvalho, apresenta Quando o Som Bate no Peito, podcast onde a dupla discorre sobre a cultura pop e o universo musical.

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