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5 MARIAS: O JOGO (ou AS 20 PALAVRAS ÚTEIS AO POETA)

por Odemir Tex Jr.

 

1º MOVIMENTO

[como se as dúvidas e as dívidas de uma vida inteira coubessem em cinco contas de areia, grãos, ou pedras espargidas ao chão (na aspereza fria do chão!), cinco destinos são entregues às habilidades das mãos. Maria suspende-as – como pássaros cegos – ao voo, aceitando o jogo. recolhe – com dedos lépidos – a primeira Maria: a do brinquedo, dos contos de fadas, a menina que ainda descobre palavras.] :
espalhadas como rizomas

corpos de pano ou pedra
(no silêncio duro de pedra)

– em qual Maria deste mundo
há de caber nossa fala?

– qual a palavra, Maria, que calas?

(cinco contas de Maria,
em qual delas caberia
o delicado arco dos dedos?)

te recebo (única) Maria, sem alarde
e sem medo, na delicadeza rude da palma…

ciranda na alma que se abre.

2º MOVIMENTO

[é como uma descoberta, um desvelo: é como se o sol rachasse de luz a potência sólida e silenciosa das rochas; é como um segredo, como um baú de vidro; uma Maria acorrentada na palma, espera pelo voo de chegada de outra Maria, para silenciar sua asa. já no jogo, a segunda Maria: a de vestido curto, a menina de sonhos e de amanhãs.] :
muito mais Maria, o osso
entre a carnadura da pele,
que pede, Maria, o teu calo;

onde o voo mais calmo
é tua breve queda à palma;

onde do solo (vestal e calma)
ergue-te mais uma, outra Maria.

duas na coragem da alma
onde antes quase vazia.

duas meninas na alegria-maria.

3º MOVIMENTO

[há o equilíbrio entre o que permanece e o que se move; o jogo provoca o balanço e pondera sobre a vida. esta Maria que pede altura, pertence ao meio, é a menina jogada às bonecas, é a mulher jogada aos desejos, aos favores; na lâmina do toque a carne sangra poças cordiformes e arrepia. a terceira Maria: menina dos encantos, mulher de amores.] :
o ar pede teu colo, Maria,
teu suor mais distinto,

teu pudor de rosa
tua rosa mais vadia.

em teu rastro, o caminho
espia um par de luas cheias,

e no lastro da cama, Maria, teu olho
(no delicado voo antes da palma)
brilha no sol ardente da alegoria.

– qual a destreza da mão
na simetria do teu corpo?

– onde o ludo alumia
tua alma de encanto, Maria?

4º MOVIMENTO

[são três estrelas no húmus da noite (três sementes na mão do firmamento). espelho, o chão sugere a colheita. três marias no calabouço da palma (na lavra da palma). entre duas, a da vez parte em voo, deixando à solidão a derradeira irmã. e já é asa de mãe-maria, que reparte também o sonho, e que à cama – após a lida – se aninha para renascer no outro dia: Maria menina das casas, do sono de seda e dos filhos nos seios.] :
… e Maria e Maria e Maria,
quando em si não basta,
(tem que ser múltipla e vária)

tem que caber na redenção do dia
e nos afazeres da cama,

– Maria!

é quando implora vida
o teu seio bendito, teus filhos.

é mulher quando a fome
chama teu corpo, o beijo –
em êxtase – explora teu regaço.

e de repente um disparo:
um universo! e já não se sabe
para onde venta o silêncio
quando – súbita – a vida rebenta.

5º MOVIMENTO

[é como se divisasse a queda e o cadafalso que toda vida impõe. à frente sabe do tempo: onde olhar para trás já é muito maior o caminho. e já não resta Maria para ser, resta a espera judiciosa de seu epitáfio. então, sentada a soleira da memória sorri, como se cada átomo fosse um adeus, uma despedida compulsória: menina que mais que rugas, deixa uma história.] :
tempo de rodar a saia da reza,
Maria das crenças, das almas
e das remissões pagãs,

onde ao rés das chãs
planta seus joelhos.

– a qual dívida pertence
o teu sorriso, Maria?

– em qual dente ficou cravada
a carne de tua história?

[…]

e como se a vida fosse o próprio jogo
(onde o ato vale mais do que o valor)

todas as Marias retomam suas raízes,
(seus rizomas) o pó dos próprios ossos,
o chão, a derradeira palma, o cão
de nosso consolo, o sono de todos
que um dia também foram Maria.

* Menção honrosa no 10º PRÊMIO NACIONAL DE POESIA – CIDADE IPATINGA/MG, Prêmio Incentivo Local – Concurso Felippe d’Oliveira – Santa Maria – 2017.

 

Odemir Tex Jr., parturido nos frios junhos do estado do Rio Grande do Sul – sob a égide de gêmeos – nos estertores dos anos 70, do séc. XX. Reside em Santa Maria/RS. Estudou Geografia e Letras. Poeta e escritor com mais de uma vintena de prêmios literários em prosa e verso, em vários estados do Brasil. É coautor dos livros Santa Invasão Poética (poesia/2003), O Maquinista Daltônico (poesia/2007) e O Gol Iluminado (crônica/2008); autor de Esta Insólita Província, (poesia/ a publicar) e Para Uma Nova Didática do Olhar (Estrela Cartonera, poesia, 2013). Aprendeu a andar de bicicleta quando todos de sua idade já sabiam. Escreve para não cair.

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