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“Um artista genuinamente brasileiro”

Muito Além do Jardim por ANSELMO VASCONCELLOS

Nosso colunista Anselmo Vasconcellos vai estar nesta sexta pela manhã no programa da Fátima Bernardes na Rede Globo.

Ouvimos um estalo e seguiu se um movimento vigoroso de queda. Bateu sobre o chão, o peso insuspeito deu seguidos e curtos saltos antes da inercia sobre o chão. Toda essa força ressoou em sonoridades, na minha impressão de vê-la cair e isso disparar em mim outras quedas de compreensão, outros pesos sobre essa fluência espantosa que os sentidos fazem no corpo que não pensa, sente. Deveras sente, pode ser até que para sempre. Como algo que vai revelando toda a seiva do tempo nesta massa aglutinada do tronco e por dentro da casca ressecada, escura, partida, uma cor nova – antes escondida, novíssima de vida. Deve ser sua força que vi fazer ressurgir novos braços, galhos de si em busca da luz, do ar, da energia flutuante que não vemos. Sempre como uma resposta aos cortes, novas formas surpreendiam, de um dia para o outro, o olhar de ver tamanha vontade de viver, de continuar vivendo. Tantos anos convivendo com ela eu vi essa arte, pois só pode ser arte essa consciência que cria a existência e refaz desenhos, formas, folhas, flores e frutos elevando-se e aprofundando-se aparentemente sem sair do lugar. Agora vejo que não, ou compreendo que seu movimento de extensão, seu crescimento é locomoção invisível. Talvez eu tenha que andar por só saber o visível.

Dois dias depois da queda ainda encontro vestígios espalhados, pequenos cacos, cavacos são traços do que foi seu inteiro.

Tanta solidez requer muita força para remove-la do chão onde está inerte, caída na revelação que nos obriga a vê-la, o que faz lembrar como foi sua presença entre nós, seu abrigo de outros seres mais alados do que nós, mais necessitados de espaços frágeis, outros ninhos em que não cabemos. Pensei nisso vendo sobre ela uma procissão de formigas.

Sem saber o que fazer passei por ela algumas vezes, pensei em mante-la entre nós, aproveita-la num invento inútil – um banco para sentar e ouvir Bem-te-vis, sibito veio a ideia de escrever. Não só sobre ela, seu corte, sua queda, sua grandeza, mas escrever como alguém arrependido grava seu nome como uma tatuagem sem sentido. Foi o que eu fiz agora mesmo. Escrevi meu nome no seu corte e no meu corte doía tanto ver uma arvore cortada, caída no chão do jardim.

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