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Liana Timm em seu atelier • foto: Samy Timm

ARTEVIVA 09 | MAS AFINAL, COMO É O MERCADO DA ARTE! | por Liana Timm

Ontem estava eu numa reunião que prospectava a edição de um livro e fui perguntada sobre, afinal, o que é esse mercado da arte.  E quero aqui contar a vocês um pouco sobre o desenvolvimento da conversa.

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Bem, podemos simplesmente dizer que o mercado em geral, é um lugar onde se comercializam serviços e produtos. Hoje, este lugar além de físico é também virtual. Podemos produzir, vender ou comprar qualquer coisa e estas transações funcionam segundo leis de oferta e demanda.

Existem vários tipos de mercado. O mercado oficial que segue regulamentos e cotações previamente determinadas; o mercado livre, sem regras fixas e o mercado paralelo ou mercado negro, que comercializa bens clandestinos.

O mercado das artes, por incrível que pareça, também é assim. As obras são produzidas por artistas e vendidas nestes três tipos de mercado. Também são comercializadas diretamente pelo artista aos interessados, ou através de intermediários. Este comércio é praticado tanto por pessoas físicas, jurídicas ou instituições.

Há também no mercado da arte uma prática muito recorrente chamada consignação. A consignação de obras de arte é um contrato comercial de venda, no qual o artista disponibiliza suas produções, como um empréstimo, para ficarem à mostra no espaço de exposição, até que alguém se interesse em adquirí-las. No preço final já está embutido quanto será repassado ao artista e quanto será a porcentagem do vendedor, caso a transação seja realizada.

O comerciante no caso, começa com uma vantagem: sem despender dinheiro recebe obras de vários artistas.  Assim reúne uma diversidade de produtos com potencial para atingir um maior número de compradores.

Esta prática do consignado acontece também no mercado livreiro. Os espaços de vendas de livros funcionam quase somente desta forma, deixando a margem de lucro dos autores e editores, lá embaixo. Claro que os acordos de grandes editoras com livrarias não são bem assim. As negociações, segundo os interesses, se diferenciam.

Obras sendo organizadas para serem expostas no Centro Cultural de Gramado • 2022 • Foto: Liana Timm

A venda de obras de arte tem muitos vieses. O comerciante pode transformar um artista em best-seller ou deixá-lo no limbo. E isso independe da qualidade da obra. O artista, não estando presente no espaço expositivo na hora das visitas de compradores, fica à mercê da boa vontade do vendedor que apresenta esta ou aquela obra, direcionando a compra.

Sendo a tendência da atualidade privilegiar obras neutra e mais decorativa, ou seja, mais digestivas, certamente as que contemplam estas características serão as primeiras a serem comercializadas pois não exigem muitos argumentos para o convencimento do comprador e este, por sua vez, não terá que se relacionar com ela de maneira exigente. Logo, as vendas se alicerçam mais no marketing e na influência de formadores de opinião, hoje chamados de influencers, construídos e disseminados pelas redes sociais como uma praga. E ainda: artistas mortos e portanto com quantidade limitada de obras, tendem a ser os mais caros e desejados desse comércio.

Obras sendo apreciadas pelo público visitante • FILILGRAM 2022 • foto: acervo da artista

O VALOR DAS OBRAS DE ARTE

 O valor atribuído a uma obra de arte, resulta de uma construção social. Esse valor, já que a qualidade de uma obra não é objetiva, depende de vários fatores. Um artista pode adquirir estatuto no mercado pelo tempo que atua na sociedade em que vive. Suas relações sociais, ao longo da vida, vão permitir aos seus contemporâneos, uma ideia da qualidade dos objetos artísticos que produz. Esta avaliação não é baseada nas propriedades intrínsecas das obras mas na posição ocupada pelo artista em seu contexto social. Adquire também valor pelas apreciações que recebe de analistas, historiadores, marchands e especialista na área.

O mercado da arte difere de outros mercados quanto à valores. O preço final de uma obra de arte não é baseado no custo de produção nem de mão de obra, mas em fatores abstratos.

Desenhos em produção no atelier da artista • foto: Liana Timm

Numa sociedade de consumo como a nossa, a legitimação de uma produção artística é processada de acordo com o mercado. Quem trabalha com arte, na ponta de sua comercialização, sabe que vai precisar inventar cada vez mais diversidade e quantidade de ofertas, ficando em segundo plano a qualidade do produto.

Diversidade em quantidade e valor monetário são então os parâmetros assumidos pelo mercado da arte. Diante disso, a necessidade de criar rapidamente a reputação de novos artistas torna-se evidente. Eles serão apresentados aos consumidores, através da coordenação de estratégias, que possibilitem aos potenciais compradores, acreditarem nos novos produtos. Estes, na maioria com precária cultura artística, buscam a opinião dos ditos especialistas, para concretizarem seus investimentos. Pois a aquisição de uma obra é vista como investimento.

Um trabalho conjunto entre negociantes e artistas se estabelece para a produção e comercialização destes produtos. Através destas estratégias, as obras de arte se igualam a qualquer produto de supermercado. O processo de seleção das obras se torna semelhante ao de qualquer produtos onde o que se busca é objetividade e bom preço. Mas também onde o que se busca é status. E é por esta busca que a aquisição de uma obra se distancia de produtos corriqueiros e entra no rol do mercado do luxo.

Série DISPERSOS REUNIDOS • GALART Galeria de Arte • 2022 • foto: Liana Timm

Um local de venda de arte tem seus custos. Aluguel, conta de luz, água, funcionários e assim vai. Criar o interesse do público é fundamente para estimular as aquisições pois sem elas o estabelecimento fechará suas portas.

A producão da arte, sua circulação, sua legitimação e consumo, constituem o sistema das artes. Na ponta está o artista produtor, depois os espaços de amostragem que pode ser o próprio atelier do artista, as galerias, os museus, as instituições culturais, a internet e assemelhados. Em seguida a legitimação, através dos críticos, dos formadores de opinião, dos especialistas em história da arte, dos marchands e da mídia. Fechando o sistema está o mercado consumidor, constituído por pessoas físicas, jurídicas ou instituições governamentais. Tudo isto atua em conjunto na construção do valor das obras.

série DUAS MULHERES DE FINO TRAÇO: Clara Pechansky e Liana Timm • Galeria DUQUE * 2023 * Foto: Luis Ventura

A ARTE ATRAVÉS DA HISTÓRIA

 Vamos entender – muito suscintamente –  como o universo da arte chegou até o século XXI. Para isto teremos que retornar à Florença do século XV quando o mercado cultural surgiu e com ele a palavra artista. Pois foi nesta época que os artistas começaram a se independizar da igreja e da corte, coincidindo com o surgimento dos primeiros museus, das primeiras galerias, dos primeiros teatros e das salas de concertos.

Surgiram os  mecenas,  ricos e poderosos comerciantes, príncipes, condes, bispos e banqueiros que financiavam e investiam na produção de arte como maneira de obter reconhecimento e prestígio na sociedade. Eles foram de extrema importância para o desenvolvimento da escultura, pintura, literatura e arquitetura, durante o período do Renascimento Cultural (séculos XV e XVI).

A burguesia, classe social que enriqueceu muito com o renascimento, viu na prática do mecenato e na compra de títulos de nobreza, uma forma rápida de ascensão social.

MOCO The Contemporary Museum/Amsterdam, Villa Alsberg de 1904 • foto de 2019: Liana Timm

Com o desenvolvimento das grandes navegações, os colonizadores europeus ao conquistarem novas terras, levavam para seus países, objetos dessas cultura e os exibiam nas metrópoles.

Os artistas, até a Idade Média, não buscavam nem originalidade nem criatividade,  trabalhavam coletivamente repetindo códigos e símbolos da  igreja e da corte.

Ao surgir o capitalismo, a burguesia e a aristocracia se aproximaram da intelectualidade fazendo surgir um novo público para as atividades artísticas. Criado então, o mercado específico para os objetos culturais.

A reforma religiosa, acabando com a decoração dos altares e a pintura de afrescos, deixa os artistas sem trabalho, e eles reagem produzindo obras não solicitadas. E quem iria vendê-las?  Surge aí a figura do marchand.

PRAÇA DE SÃO MARCOS/Veneza •1117 • Foto de 2006: Liana Timm

A liberdade conquistada pelos artistas, ao se independizarem do clero e da corte, precisava de uma estabilidade. Surgem os contratos vitalícios firmados com os comerciantes de arte.  Em troca de moradia e comida, os artistas produziam obras com temas encomendados pelos cliente dos marchands. Esta prática se estendeu por toda a Europa e principalmente na França, Holanda e Itália.

Aumenta assim o individualismo, deslocando a atenção da obra para a figura do autor, sendo a assinatura, nas obras, também extremamente valorizada.

Nos séculos XVII e XVIII interpõe-se o mercado entre a produção das obras e seu consumo. A partir daí o artista passa a ignorar quem é seu público e o que é feito com sua obra, dando a ele a impressão que é livre para criar. Isola-se para produzir construindo um mundo à parte. Nesta época, a escultura e a pintura se desvinculam da arquitetura, deixando de ser uma criação coletiva, como na Idade Média, para exercer uma função separada da construção. Surge a pintura de cavalete e a escultura de pedestal povoando as propriedades privadas da época.

A ARTE DEPOIS DO SÉC. XIX

BIBLIOTECA PÚBLICA de New York • fundado em 1895 • Foto de 2015: Liana Timm

Até o séc. XIX a arte parecia ter o poder de realizar o ideal que a vida não conseguia. E a estética deste tempo ainda não havia conseguido aproximar os fatores psicológicos e sensível da produção artística.

A partir do séc XIX, o criador romântico e idealizado, produz sua obra com os pé na terra e revoluciona, liberando a imaginação atrofiada e seu inconsciente.

A ARTE NESTE MUNDO GLOBALIZADO

Casa de Claude Monet em Giverny/França • 2019 • Foto: Liana Timm

Inteligência e entendimento se articulam no ambiente em que vivemos. Nele afetamos e somos afetados. As determinações globais influenciam, senão de maneira direta, de maneira indireta nosso comportamento. A vida artística local, com suas autênticas características, fica sufocada pelas ofertas vindas de um mercado exterior que domina o ciclo de criação, produção, distribuição, promoção e recepção de bens cultural.

O que chega até nós, fica por conta de um sistema manipulatório cujas diretrizes vão ao encontro dos interesses acordados pelas indústrias de consumo.

Para exemplificar, cito o caso da Pantone. Todo ano a Pantone, empresa americana de consultoria de cores, apresenta ao mundo, o que determina ser a cor do ano para o universo da moda, do design e da decoração. E o recado fica dado: quem utilizar a cor do ano em suas criações está dentro da moda, quem não, está literalmente fora.

A indústria cultural, produz bens culturais padronizados para manipular a sociedade de massa. Por influência dela, as pessoas tornam-se dóceis por mais difíceis que sejam suas circunstâncias econômicas.

Esta indústria, cria falsas necessidades psicológicas que só podem ser atendidas pela compra de produtos de consumo. Produtos estes padronizados e homogeneizados para serem consumidos pela maioria das pessoas. Assim o sujeito consumidor passa a ser tratado como objeto. A intenção da industrial cultural não é promover conhecimento, pois este re-sulta em questionamentos, rompimento de paradigmas, busca de novas resposta e o desejo de mudanças. A indústria cultural está voltada para aproximar o sujeito do consumo.

As produções culturais, e particularmente a arte, tornaram-se terrenos fáceis de manipulação. A indústria cultural e a comunicação de massa se aliaram nesta tarefa.

ARTE PARA CONSUMO

Teto de uma das alas do PALÁCIO DE VERSALLES/Paris • 2019 • Foto: Liana Timm

Com o surgimento da nova classe média, cultura e arte se adaptam a um novo público, deixando de lado a sua verdadeira essência. O sistema dominante necessitando de lucro, fomenta a alienação massificada para a sua sobrevivência e transforma a cultura em mais um dos instrumentos do capitalismo.

O termo indústria cultural, designa o fazer artístico sob a lógica da produção industrial capitalista.   Tem como meta o lucro acima de tudo e a idealização de produtos que fabriquem ilusões para as massas.

A Indústria Cultural congela a capacidade de pensar criticamente, e quem se desvia do consumo é tratado como anormal.

A cultura popular e a erudita são apropriadas e simplificadas e transformadas em produtos consumíveis sem originalidade e criatividade. Juntam-se a Indústria Cultural e os meios de comunicação criando a crença na liberdade individual. Cresce o sentimento de satisfação pelo consumo, como se através dele atingíssemos a  felicidade.

Apesar da arte sofrer consequências desastrosas parece que ela tende a uma forma de democratização através dos mecanismos de reprodução que atingem um número maior de pessoas.

Projeto AS QUATRO ESTAÇÕES • Shopping Iguatemi/POA • 2015 • Foto: Liana Timm

QUEM LUCRA COM A ARTE?

A arte está ligada, desde sempre, à sensibilidade e à imaginação. Se antes era motivo de contemplação e interação, hoje é motivo de lucro.

A mudança de característica compromete seu valor crítico e acaba com a capacidade de julgamento do consumidor. Sendo esta arte produzida com o já conhecido e o experimentado, cessa a participação intelectual do público em sua análise. Ele não encontra nela as contradições do meio em que vive pois suas características contestatórias e transgressoras foram abafadas.

O sistema, ao deparar-se com manifestações desestabilizantes, rápidamente se apropria delas, introduzindo-as no mercado para neutralizá-la. Exemplo bem atual foi o que aconteceu com o graffitti.

O grafite surgiu, como um movimento de contra-cultura e resistência, vindo dos guetos norte-americanos e da revolta dos estudantes em 1968, na França. Hoje, absorvido pelo mercado, se transformou em telas e outros produtos vendáveis e está copletamente distante de sua essência transgressora.

Série EU QUERO ESTE PORTO ALEGRE • movimento deflagrado em 2003 para que o Cais do Porto de POA fosse restaurado e colocado às disposição da comunidade • 2003 • Fazem 21 anos. Foto: Liana Timm

Os grandes painéis feitos na rua, agora são financiados por particulares, que limitam sua temática, transformando a linguagem do grafite em mera ornamentação pois, mesmo que delatando algo, essa manifestação de dissolve com a sua apropriação pelo sistema da arte.

ARTE EM TEMPO MAIS ESCUROS

 Em meio à crise da pandemia, espaços culturais foram fechados e todas as atividades canceladas como prevenção à contaminação. Os artistas, que precisam de público para sua sobrevivência, se viram num beco sem saída. O pouco dinheiro ganho com espetáculos, shows, feiras e trabalhos informais neste período inexistentes, fragilizaram ainda mais a sua já precária inserção no mercado de trabalho. Sem carteira assinada nem direitos trabalhistas assegurados, a situação dos artistas escancarou sua cruel realidade. A situação do artista, de extrema informalidade, não é isolada. Nossa população tem cerca de 41,3% de trabalhadores sem nenhum direito garantido. Isso pode ser considerado como uma sociedade justa? Quem lucra com esta exploração incentivada por uma sucessão de governos que defendem o estado mínimo?

Artistas filmando nas ruas de Barcelona • 2006 • Foto: Liana Timm

OS ARTISTAS E A REALIDADE ATUAL

 A classe dos artistas brasileiros precisa de uma política que dê conta desta atividade no dia a dia e não só nos momentos de crise.

Se alguém pensa que a cultura é um luxo se engana. As atividades artísticas fazem parte das nossas vidas cotidianamente. Vivemos aqui, no planeta terra, com muitas fomes. Além das fomes físicas necessitamos de outros alimentos. Nossa alma quer se encantar, se apaixonar, transcender e sonhar. Necessitamos criar redes de relações calcadas em valores que nos levem a outros patamares, por isso urge que nos libertemos deste globalizado capitalismo para a criação de um novo modo de viver, produzir, se relacionar com a natureza e com nosso semelhante.

MUSEU DE ARTE MODERNA de NOVA YORK • MOMA• Andy Warhol • 2015 • Foto: Liana Timm

Explorar sem limites todos os bens naturais, mercantilizar e especular financeiramente todas as coisas, querer o maior lucro dentro do menor tempo possível se apropriando da vida humana, é um fracasso em vez de uma vitória.

Precisamos de um tempo para o prazer. Prazer de conviver com as pessoas e com a natureza, ser alegre pelo simples ato de viver.

Como tudo isto não importa à cultura do capital, ele vende que o caminho para uma vida de satisfações só é alcançada pelo consumo.

Os assuntos aqui abordados são complexo e certamente só levantamos questões que precisam ser aprofundadas mais adiante. Mas pelo menos relembramos algumas etapas importantes da história da arte que contribuíram para que ela chegasse no estágio em que está hoje.

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