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Além dos Cinamomos por Melina Guterres

Mas o mais “legal” nessa rápida passadela pelo google é também saber que a Anvisa liberou agora em novembro o uso de um agrotóxico: Benzoato de Emamectina.
Será esse o novo nome da cigarra que amarelou o Cinamomo há anos verde aqui do lado de casa?

Olhando até parece bonito…

Mas o Cinamomo amarelo não é normal. “Ele está morrendo” diz meu vizinho, um pequeno agricultor. “Os lá da minha terra também, os das estradas também. Deve ser dos venenos que estão colocando na soja. Eles alcançam até 200 km”, segue. “É cinamomos são frágeis” diz meu pai este ano diagnosticado com parkinson de rigidez. Me recordei das minhas frequentes crises alérgicas respiratórias ou de remédios e químicos.. do espirro que dei quando as portas do Salgado Filho se abriram. Do meu constate pensamento: devo ter alguma alergia ao RS. Este ano fui morar em São Paulo e imaginei que as minhas alergias fossem dobrar, mas a única crise forte que tive foi depois de voltar de uma viagem ao RS feita lá por maio. Passo muito pior no inverno de uma cidade com 270 mil habitantes do que na maior e mais poluída cidade do Brasil. Bizarro? Estes são os números de cânceres no estado do RS. De acordo com o Inca (Instituto Nacional do Câncer), o maior estado com a maior taxa de mortalidade com a doença. Já o CEVS – Centro Estadual de Vigilância em Saúde do RS, informa que uma das causas de doenças alérgicas e parkinson são o uso fungicidas. Um grupo de pesquisadores vai estudar o efeito do uso de agrotóxicos em um raio de 700 km lá no Pantanal.. ou seja, parece que os cientistas acreditam que o impacto possa ser bem maior que os 200 km apontado pelo meu vizinho. Mas um site de agricultura traz um artigo que acredita que o amarelo da copa dos cinamomos de Porto Alegre e interior seja a fome de uma cigarra.
Por um instante achei que fossemos frágeis, mas parece que somos bobos enfeitiçados pelo cantos das cigarras.
Só espero que elas não gritem por aí dizendo que gaúcho que tem genética ruim, tão frágil quanto um cinamomo. Afinal até os franceses já dizem que os pesticidas são “o tempero preferido dos brasileiros”, pelo menos assim diz o jornal Le Monde. O Brasil é o país que mais os consome pesticidas desde 2008, além de continuar usar uma série deles já proibidos em diversos países.
Mas o mais “legal” nessa rápida passadela pelo google é também saber que a Anvisa liberou agora em novembro o uso de um agrotóxico: Benzoato de Emamectina.
Será esse o novo nome da cigarra que amarelou o Cinamomo há anos verde aqui do lado de casa?
Enquanto isso parece que o governo discute a aprovação de um “pacote veneno” onde mais pesticidas podem ser liberados.
Mas afinal, o que é um veneno a mais pra quem já tá envenenado, né?
Preparem seus organismos, bolsos, planos de saúde, remédios que a ganância tá solta… e parece que esse vírus se faz cada vez mais forte.. imoral e imortal.
Culpa das cigarras ou não, vida longa aos cinamomos e a todas as gentes!

Repúdio

A Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida divulgou nota em que lamenta a liberação do produto. Confira:

Anvisa apunhala sociedade e aprova agrotóxico perigoso na surdina

Sem alarde, o diário oficial publicou nesta segunda-feira (6/11) a aprovação de um agrotóxico extremamente tóxico para a saúde humana: o Benzoato de Emamectina. São vários os motivos da nossa indignação com esta decisão:

Em 2010, a Anvisa já havia negado o registro desta substância por suspeita de malformações e elevada neurotoxicidade, ou seja, causa danos elevados ao sistema nervoso. Será que nosso corpo evoluiu, e ficamos resistentes a este veneno?

Ao contrário de outras consultas públicas, desta vez não houve divulgação por parte da Anvisa ao atores interessados. Prova disso é o número de contribuições recebidas: 8. Para termos uma ideia, na consulta referente ao Carbofurano, foram 13.114 contribuições. Qual a explicação para tal discrepância, senão a falta de publicidade dada pela agência? Enquanto a consulta do Carbofurano durou 60 dias, a do Benzoato de Emamectina durou apenas 30 dias. Qual motivo da distinção?

A decisão pela aprovação do Benzoato foi dada em tempo recorde. No caso do Carbofurano, a consulta pública findou-se no dia 25 de fevereiro de 2016, e a decisão da Anvisa foi proferida há poucas semanas, no dia 18 de outubro de 2017 – 20 meses depois. Agora, no caso do Benzoato, transcorreram-se apenas 21 dias entre 15 de outubro, quando a consulta pública terminou, e o dia 6 de novembro. Para banir o Paraquate, foram necessários 10 anos, e faltam ainda 3 anos para o seu banimento completo. Porque tamanha demora para proibir, e tamanha celeridade para aprovar?

O Benzoato de Emamectina foi centro de outra disputa em 2013. Após um surto da lagarta Helicoverpa, causado pelo uso do milho transgênico que exterminou seu predador natural, o Ministério da Agricultura importou o agrotóxico de forma emergencial, e na época sem autorização da Anvisa.

Mesmo que a substância seja aprovada para uso em outros países, somos (ou deveríamos ser) um pais soberano, livre e independente dos interesses das grandes corporações. A autorização em outros países não significa que o produto seja seguro aqui, onde grandes volumes são utilizados, onde o uso de EPI ė impensável dadas as condições climáticas, onde o congresso nacional defende os interesses dos setores ruralistas, onde os órgãos de fiscalização dos estados estão sucateados, onde o SUS esta sendo desmontado e subfinanciado e tem dificuldades em atender à demanda de doenças causadas pelos agrotóxicos. Pelos mesmos motivos, o banimento em outros países deveria ser motivo de banimento imediato no Brasil.

É inadmissível expor a sociedade a estes riscos, sem nenhuma possibilidade de participação ou interferência dos maiores afetados: nós. Pelo contrário, a Anvisa que vem promovendo “DRs” com a indústria, se mostra incapaz de dialogar com o povo.

Exigimos que a Anvisa apresente os estudos que embasaram esta súbita mudança de opinião, e que cancele o registro do Benzoato de Emamectina até que a sociedade seja ouvida e consultada se deseja correr este risco. Terminamos com um trecho do Parecer Pelo Indeferimento do Benzoato de Emamectina, publicado pela própria Anvisa em 2010 (e que subitamente sumiu do site da Anvisa):

Os efeitos neurotóxicos são tão marcantes e severos que as respostas de curto e longo prazo se confundem, isto é, efeitos tipicamente agudos são observados nos ensaios de longo prazo, e vice-versa. O produto revelou neurotoxicidade para todas as espécies e em doses tão baixas quanto, por exemplo, 0,1 mg/kg em camundongos e 0,5mg/kg em cães, mesmo em estudos onde este efeito não estava sendo investigado.

Incertezas no que diz respeito aos possíveis efeitos teratogênicos, e certezas dos efeitos deletérios demonstrados nos estudos com animais corroboram de forma decisiva para que não se exponha a população a este produto, seja nas lavouras, ou pelo consumo de alimentos.

#agrotoxicosNAO

Fontes:

http://www.bbc.com/portuguese/brasil-37041324
http://m.dw.com/…/brasil-ainda-usa-agrotóxicos-j…/a-18837979
http://www.cevs.rs.gov.br/…/25153708-impacto-dos-agrotoxico…
http://www.agronomicabr.com.br/agriporticus/detalhe.aspx…
http://www.folhamax.com.br/…/pesquisa-avalia-efeitos…/133134
http://www.cevs.rs.gov.br/…/25153708-impacto-dos-agrotoxico…
http://www.redebrasilatual.com.br/…/pacote-do-veneno-em-dos…
http://www.redebrasilatual.com.br/…/temer-antecipa-2018paco… 

http://www.bbc.com/…/…/2016/02/160204_gch_graficos_cancer_fn

https://curapelanatureza.com.br/…/por-que-mulheres-da-china…

http://contraosagrotoxicos.org/

 

Melina Guterres é criadora e editora do site Rede Sina. Como roteirista teve argumento de longa-metragem contemplado no Programa Ibermedia, tem série de ficção infanto-juvenil concorrendo em editais, escreveu e dirigiu curtas de ficção e documentário. Faz parte da ABRA- Associação Brasileira de Autores Roteiristas. Foi Jurada do Rota Festival de Roteiros do Rio de Janeiro e I Festival de Cinema Estudantil – CINEST em Santa Maria-RS. Como repórter, foi frila da Folha de São Paulo, Estadão, UOL, etc. Foi sócia-proprietária da Essence Comunicação – assessoria e marketing.  Em 2017 iniciou curso de interpretação para cinema no Studio Fátima Toledo, assistiu disciplinas sobre questões de gênero na pós-graduação da comunicação e teatro da USP.  É gaúcha de Santa Maria, já morou na Bahia, Pará, Rio e SP. Também é poetisa, blogueira, ativista social, feminista em construção e com muito orgulho. No momento pesquisa sobre assédio para elaboração de novo projeto.
Mais sobre a Melina em: www.melinaguterres.com  e https://www.facebook.com/poesiacommel
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