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10 POEMAS DE PAULO LUDMER

XIV

 

A sombra lufa de frescor no descanso do ar,

nos estuários de balbúrdias nos sofás,

penteia a crina do vácuo.

Refrigera pés descalços nas estradas.

Viceja na partitura do errar

Por frestas da necessidade.

 

(este é o poema de número XIV do meu livro recente Desconcertos de sombra e água, raridades das coisas, Editora Patuá).

 

 

XXII

 

O som de sombra insufla

corujas, vampiros e vespas.

Advém das possibilidades isósceles

a desvanecer Iansã e Iemanjá.

Esparge pronomes, envenena fados,

Adjetivos, advérbios e reputações.

 

(poema XXII do livro Desconcertos de sombras e água, raridades das coisas, Editora Patua 2023)

 

 

XCIII

 

Sabor de sombra revela o outro lado da lua,

rastros de cometas e de pirilampos.

Revisito quartzos, micas, feldspatos, a biblioteca do instinto.

Em qualquer latitude, esfarinho o reconstituído e o reencontrado.

Adsorvo a argila da imprudência.

 

(poema XCII do livro Desconcertos de sombra e água, raridades das coisas, Editora Patuá, 2023)

 

 

Recomeço

 

Sou abismo de céu num mundo de tramoias

entre auroras aveludadas e pegajosas,

ferrugem do que foi verde e rubras derrotas.

 

Sou leão em savana de incêndio,

entre os  beijos da vida e da morte,

sorriso obturado, pedaço de carne suada.

 

Atravesso artimanhas e conflitos,

a solidão e súbitas encostas,

arpejos inseguros no imaginário.

 

Fabulo menos heróis e mais pessoas,

risadas dobradas nos vãos das almas,

alegrias contrabandeadas de frestas interiores.

 

Vivo assombrado, espantado no lodo do mundo,

limpo musgos das palavras, farrapos da linguagem,

verto da barragem do silêncio.

 

Despido nos descampados do acaso,

sem porto de destino e seu vento favorável,

zarpo na roda do recomeço.

(terceiro lugar no prêmio Ben Gurion, 2023)

 

 

Vazante

 

Na garupa do inesperado, invento palavras que se espatifam no papel.

Escrevo nem lá, nem cá, no pólen do tanto faz,

dane-se o desdém, os esbarros do mistério.

 

A memória se evapora nos orvalhos amorosos,

a adoçar amarguras no calor errante do outono à primavera,

nas promessas do vento e do mar.

 

Atravessado por trapaças fumegantes,

desosso arrependimentos.

Meus pulmões desabrigam tristezas aos pingos necessários.

 

Vazam da barragem do silêncio.

 

 

Antes

 

Antes que o verbo se aposente,

entre a carne acalorada e a alma,

regam alvíssaras ao aqui e agora,

féculas de anseios e enigmas.

 

Seivas entorpecem na varanda do sossego,

no arroio manso das flores, no presente,

a rebobinar os açudes das constâncias.

 

Mas a impaciência roça o desatino,

borrifa necessidades sem leme,

artimanhas, obscenidades, nos epígonos da volúpia.

 

Inventa vidas para reconta-las.

 

 

Ucrânia

 

Gerações traídas malhadas de neve e acasos,

silentes ciprestes, nos vinhos da noite,

não mais apalpam, não roçam, não calcam,

não debulham, não descamam, não afiam,

são ossos descarnados por obuses de memórias e sangue.

 

Nas manhãs entre sombras e ruínas desventurosas,

enchem caçambas de descrédito e morte,

macerados nos monjolos do tempo, fatigados de mentiras.

 

 

Sombra

 

Inexiste distrato com a sombra,

aparece sem superstição, roteiro, figurino,

nuvem, mar, cortinas, veludos,

braços de polvo, estrela de caspa.

 

Caimento, proporção, imagem,

cafunés escalenos e isósceles,

a catalogar as coisas do mundo.

 

Ora distante, ora rente, reflete, resume,

reconstitui contrastes e contornos

sem segredos no rés e no abismo.

 

Desobrigada de si mesma.

(prêmio cidade de Registro, primeiro lugar)

 

 

Rebeca

 

Sapeca, moleca, levada da breca, menina dos olhos,

liquefaz, desembaça pensamento.

Generosa, vertente, leal,

luz na planície e na súbita encosta,

sonho persistente, sem pressa.

 

Nau no imaginário, no universo assombroso,

viagem no existir e no indizível,

riso no vão da alma, entre flores.

 

Carne, suor, reinvenção de amor.

 

 

Breu

 

O breu furtivo, eivado de lua,

infecta o verbo Ser,

indolor, insípido, inodoro,

 

fluido reveste de névoa o menino de que brotei.

 

Acanha a jia, a preguiça, refrega com a morte

a varrer trilhas quando nada acontece,

súbito, cessa no orvalho matutino,

na escrita do asterisco ao ponto final.

 

 

 

PAULO LUDMER

Paulista, paulistano, nascido em 1944, pai , marido, avô, engenheiro, jornalista, professor e escritor. Livros e prêmios literários em: www.pauloludmer.com.br

 

 

 

 

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