Arquivos ditadura - Rede Sina https://redesina.com.br/tag/ditadura/ Comunicação fora do padrão Wed, 17 Aug 2022 18:03:01 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.4 https://redesina.com.br/wp-content/uploads/2016/02/cropped-LOGO-SINA-V4-01-32x32.jpg Arquivos ditadura - Rede Sina https://redesina.com.br/tag/ditadura/ 32 32 Curió morre aos 87 anos sem nunca ter pago por seus crimes https://redesina.com.br/curio-morre-aos-87-anos-sem-nunca-ter-pago-por-seus-crimes/ https://redesina.com.br/curio-morre-aos-87-anos-sem-nunca-ter-pago-por-seus-crimes/#respond Wed, 17 Aug 2022 18:03:01 +0000 https://redesina.com.br/?p=18993 Nesta quarta, 17, faleceu aos 87 anos,  o Major Curió,  oficial do Exército foi responsável por comandar a repressão à Guerrilha do Araguaia na ditadura militar, e foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por homicídio e ocultação de cadáveres durante o combate à guerrilha. Major Curió foi o oficial do Exército que comandou ao movimento contrário …

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Nesta quarta, 17, faleceu aos 87 anos,  o Major Curió,  oficial do Exército foi responsável por comandar a repressão à Guerrilha do Araguaia na ditadura militar, e foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) por homicídio e ocultação de cadáveres durante o combate à guerrilha.

Major Curió foi o oficial do Exército que comandou ao movimento contrário à ditadura militar, que atuou entre as décadas de 1960 e 1970. O combate entre guerrilheiros e militares ocorreu na divisa dos estados de Goiás, Pará e Maranhão, deixando mortos 67 opositores à ditadura.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Curió e os militares subordinados a ele chegaram a matar pessoas mesmo estando rendidas e sem apresentar resistência a eles. Em 2009, ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Curió afirmou que o Exército executou 41 pessoas no Araguaia.

Em agosto do ano passado, o MPF registrou a 10ª denúncia contra militares por crimes na repressão à Guerrilha do Araguaia. Comandante da operação, Sebastião Curió é acusado em sete das dez ações.

No total, foram sete denúncias pelos assassinatos de dez opositores à ditadura; duas por sequestro e cárcere privado de seis vítimas; e uma por falsidade ideológica.

Confira a série de reportagens do colaborador, Ismael Machado,  vencedora do Prêmio Vladimir Herozg de Jornalismo e Direitos Humanos em 2012.

dossiê curió completa

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E ELES TORTURAVAM ALI, NA CABECEIRA DA PONTE, ENQUANTO OS FILHOS DORMIAM EM SEUS CAIXOTES. por ROGER BAIGORRA MACHADO https://redesina.com.br/e-eles-torturavam-ali-na-cabeceira-da-ponte-enquanto-os-filhos-dormiam-em-seus-caixotes-por-roger-baigorra-machado/ https://redesina.com.br/e-eles-torturavam-ali-na-cabeceira-da-ponte-enquanto-os-filhos-dormiam-em-seus-caixotes-por-roger-baigorra-machado/#respond Fri, 01 Apr 2022 13:58:08 +0000 https://redesina.com.br/?p=18018 Eu fui criança nos anos 80 e, como boa parte delas, cresci ouvindo histórias do tempo em que meu pai e meus tios eram militares do Exército, lá pelo período entre os 60 e 80. Estas narrativas de quando eles estavam no “quartel” continham histórias de todo tipo, umas engraçadas, outras nem tanto, mas eles …

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Eu fui criança nos anos 80 e, como boa parte delas, cresci ouvindo histórias do tempo em que meu pai e meus tios eram militares do Exército, lá pelo período entre os 60 e 80. Estas narrativas de quando eles estavam no “quartel” continham histórias de todo tipo, umas engraçadas, outras nem tanto, mas eles sempre deixavam um mesmo sentimento passar, o medo. Todos sempre relatavam que havia uma tensão com a invasão argentina e com os comunistas.

Sim. Nos anos 70, mais precisamente, depois de 1976, os adolescentes uruguaianenses que estavam no exército eram bombardeados com o medo da invasão argentina e com o pânico moral em relação aos comunistas brasileiros. Esse medo foi tão profundo na psiquê destes jovens, que mesmo depois de adultos, nas histórias que contavam, deixavam transparecer a tensão com que viviam as rotinas militares, os serviços e as rondas.

Mesmo sendo criança, isso nunca me fez sentido algum. Como assim? Os argentinos queriam invadir o Brasil? Eles viriam por onde? Seria pela ponte? De barco? Qual o motivo?

Eu conhecia os argentinos, ora, eu os via quase todo mês, quando cruzava a ponte para ir nos “Buraco” com meus pais. Quem lembra dos “Buraco”, assim mesmo, no singular, tem como eu boas lembranças. Lá eu descobri que os argentinos faziam o melhor doce de leite, as melhores balas de leite, tinham os torrones e o tatin, era sempre uma alegria voltar de Paso de Los Libres. Os argentinos eram pessoas boas, sempre sorridentes, por que cargas d’água em algum momento eles se tornaram inimigos que queriam invadir o Brasil?

Com o tempo, conversando, lendo, estudando e pesquisando, fui compreendendo que nunca houve nenhuma tentativa de invasão por parte dos coirmãos, salvo, as rusgas territorialistas do século XIX. A única coisa que tinha invadido, ambos os países, eram os militares argentinos e brasileiros, ávidos pelo poder político, armados e propagadores de teorias conspiratórias importadas do norte da nossa América.

Do lado brasileiro, o golpe militar ocorrera antes que do lado argentino, em 1964. Do outro lado da ponte, os argentinos só conheceriam a tragédia de uma ditadura civil-militar em 1976. Os argentinos morreram aos milhares, até hoje mães e avós andam pela Praça de Maio em busca dos corpos de seus filhos e netos.

A violência extrema é um dos traços mais assustadores das ditaduras latino-americanas e das ditaduras mundo afora, seja de que lado estiverem no espectro político.

Em Buenos Aires, os alvos do terrorismo de Estado eram professores, estudantes, políticos, líderes sindicais, mulheres grávidas, adolescentes, qualquer alguém que falasse algo no bar, todo tipo de gente que pudesse ser visto como “opositor” e “subversivo”. Pois estas pessoas eram torturadas, espancadas, depois de presas por dias, eram colocadas em aviões militares.

Empilhadas com as cabeças raspadas, eram despidas e drogadas. Os aviões sobrevoavam o mar, as portas traseiras se abriam e os corpos vivos e inertes eram jogados lá do alto. Os “voos da morte” sobrevoavam regularmente o oceano, estima-se que os militares argentinos mataram mais de 4 mil pessoas.

A “invasão argentina” que os milicos uruguaianenses temiam nos anos 70 era, na verdade, uma fuga em desespero de outros seres humanos. Diante do terrorismo dos militares argentinos, a maneira de sobreviver era fugindo. Se jogando no rio, tentando passar pela ponte dentro de um táxi. Escondido num ônibus. A crueldade de tudo isso é que eles fugiam para o Brasil, país dominado pela mesma ideologia militar de morte, tortura e perseguição. Os argentinos pulavam da frigideira e acabavam caindo na fogueira.

Quando eu ainda era estudante de História na Universidade Federal de Santa Maria, depois da aula, eu fui para o bar do Seu Zé, lá pelos idos de 2003/2004. O Seu Zé era um português gente bueníssima, dono do Café Cristal. O bar ficava ao lado do Taperinha, prédio onde eu morava. Ou seja, eu sempre passava na frente, quando não parava para um café, era para um vinho no final do dia. Naquela noite, parei para tomar um vinho, como ainda não tinha nenhum conhecido, fiquei no balcão para conversar com o Zé.

No balcão, quando cheguei, lá já estavam dois senhores sentados, cujos nomes eu não lembro, e se lembrasse, por obviedades jurídicas, não diria. Eu já os havia visto no bar, mas sempre sentavam no fundo, nunca no balcão. Os dois tinham cabelos brancos, rostos de vovôs, jeito de pessoas tranquilas, queridas. Ali, entre um gole e outro de um bordô colonial, um deles me perguntou de onde eu era. – De Uruguaiana, respondi de voleio. Os dois se olharam e riram. Parece que eu havia disparado um gatilho nas memórias. Sentaram numa das mesas do canto da parede de madeira, eu sentei junto, ao lado da mesa do Osmann e do Glênio, outros dois senhores, meus amigos de bar. O Osmann já nos deixou, era aposentado da UFSM e o Glênio, que espero ainda esteja conosco, era ferroviário aposentado.

“Bah, passei por poucas e boas em Uruguaiana!”, afirmou um deles. Começaram a falar do tempo em que ambos serviram em Uruguaiana, um deles havia servido na cidade como Fuzileiro e o outro como Sargento do Exército. Os dois haviam servido bem na época das memórias e do medo da “invasão dos argentinos”. Bem na época das histórias da minha infância.

Eu me preparei para rir, afinal, se as histórias forem iguais àquelas histórias dos meus tios, do meu pai, vai ser diversão garantida. Mas a lembrança da minha infância se desfez tão logo eles começaram a contar as histórias deles. Como vocês sabem, “in vinu veritas”. Ou como diria um amigo, “o álcool entra e a verdade sai”.

Na última, a pior de todas, o senhor que foi sargento em Uruguaiana na metade dos anos 70, contou-me que uma vez uma família de argentinos tentou passar pela ponte, mas foi detida por policiais brasileiros e pela Polícia do Exército. A família estava só com a roupa do corpo, sem documentos e só diziam que estavam indo ver parentes no lado brasileiro. O sargento ficou encarregado de levá-los até o prédio que fica na cabeceira da ponte, ao lado das torres de entrada, onde até hoje tremulam de vez em quando as bandeiras de Brasil e Argentina. De acordo com o que ouvi, lá trabalhavam agentes do SNI (Serviço Nacional de Inteligência) e outras pessoas responsáveis pela migração.

Nesse prédio que fica na cabeceira da ponte, a família toda foi torturada. Um homem, uma mulher, um menino de uns doze anos e uma adolescente. Entre um gole de vinho e outro, o Sargento, afirmou que não participou da tortura, que jamais participou, que apenas os agentes do SNI espancaram os quatro argentinos.

No entanto, ele sorriu várias vezes, enquanto contava para o outro senhor sobre os gritos que a mulher dava. O fuzileiro falou das vezes em que prendeu argentinos em barcos e chalanas que cruzavam o rio noite a dentro, lembrou que sempre levava os presos para o mesmo prédio. O prédio ao lado da entrada da ponte. Depois, os presos eram entregues para a Gendarmeria argentina. Os dois riam, como que se lembrassem de uma época boa e divertida das suas vidas.

Ao perceberem meu mal estar, ambos mudaram de assunto, fizeram piada sobre a dupla Grenal, um deles reclamou da rua onde morava em Camobi e eu mudei de mesa.

E eles torturavam bem ali, bem na entrada da ponte. Depois daquela noite, anos depois eu voltei para Uruguaiana e ainda hoje, sempre que passo por ali, pela cabeceira da ponte, eu me calo. Eu me entristeço. Brasileiros e argentinos foram torturados naquele prédio.

Na Argentina, os torturadores foram julgados e receberam prisão perpétua. No Brasil, eles envelheceram, parecem avôs simpáticos, ainda estão por aí, escreveram livros de suas memórias, andam nos bares, bebendo e rindo.

Agora, antes que você diga “eu fui militar na ditadura e não vi nada disso” ou “sou filho de militar e nunca ouvi falar disso”, siga lendo.

DEBAIXO DO CAIXOTE: OU SOBRE COMO FILHOS DE MILITARES POUCO SABEM SOBRE A DITADURA.

Vejam, esse título é só um exercício, não um dogma, quão muito é uma afirmação universal. Ele, na verdade, ocorreu-me hoje, antes do almoço, enquanto conversava com minha esposa. Falava para ela que eu havia bloqueado um número grande de pessoas no meu perfil do Facebook, em sua maioria, por ofensas, por defenderem golpes militares, negarem as torturas, tanto aqui quanto na Argentina.

O curioso, é que vários destes “bloqueados” apresentavam uma mesma lógica nas suas falas. Muitos usavam a seguinte argumentação:

“Eu sou filho(a) de militar, cresci nos anos 70 e nunca ouvi falar de tortura em Uruguaiana”.

A primeira parte da minha argumentação é simplória, parte da obviedade: Nem todos os militares se envolveram com tortura, assim como, nem todos os brasileiros foram torturados. Logo, foi uma prática realizada por grupos de militares contra grupos específicos de brasileiros.

Dito isso, quero deixar claro que se você, que está lendo este texto, é filho de militar, isso não quer dizer que seu pai praticou tortura em alguém. Ser militar entre os anos 60/70 não significa ser torturador. Eu acredito nos ex-militares da época que vieram no meu perfil e afirmaram não terem ouvido ou visto tortura. Acredito.

No entanto, a lógica inversa também é válida, se naquela época você era filho de alguém que era militante político de esquerda, certamente seu pai passou por alguma situação ruim causada por militares.

Noutro dia, um colega de universidade me relatou que o seu pai, professor universitário, era semanalmente retirado de casa, geralmente de madrugada, e levado para o antigo prédio do QG de Uruguaiana (onde hoje é o Centro Cultural Dr. Pedro Marini) e lá ficava toda a madrugada. Nunca apanhou, mas era privado do sono, forçado a ficar confinado numa sala enquanto o questionavam sobre sua vinculação com o PCB. Nem sempre a tortura era uma violência física.

Agora quero que você vá comigo para o cinema italiano, para um filme do Roberto Benigni, chamado “A Vida é Bela”. É uma obra de 1997 e que deu o Oscar de melhor ator para Benigni. O filme se passa na Segunda Guerra Mundial, narra a origem de uma família e também a sua tragédia. Começa com um casal se apaixonando e termina com uma família sendo levada para um campo de concentração alemão.

A mãe, Dora, é levada para uma parte do Campo, enquanto que o pai, cujo nome é Guido, e o pequeno Giosué, o filho, passam a viver junto com outros judeus. Em boa parte do filme, existem momentos engraçados que só nos pioram a sensação de impotência. É que Benigni consegue fazer graça diante da desgraça, como andar atrás de um soldado alemão, imitando sua forma de caminhar.

A estratégia de Guido é não deixar que o filho, uma criança de uns cinco anos, perceba o tipo de mundo onde ele está. Assim, Guido cria aventuras, faz imitações, brinca, faz caretas, tudo para que Giosué não perceba que ambos estão no pior lugar do mundo, vestidos com as roupas listradas que os judeus tinham de vestir, sofrendo agressões, torturas, vendo pessoas desaparecendo diariamente, mortas, de fome, de doença ou de tiro. A missão de Guido está dada.

A personagem de Benigni se esforça para alienar o filho de tudo que acontece ao redor. Giosué não percebe nada, o campo de concentração é uma bela vida infantil de diversões. Guido faz brincadeiras diante das piores situações. Enquanto Giosué é alienado pelo pai, Guido tenta fazer contato com a esposa. Num dia, sorrateiramente, consegue falar no rádio dos alemães “buongiorno principessa!”. Sua voz é ouvida em todos alto-falantes do campo de concentração. “Buongiorno principessa” era a forma como ele falava com sua amada antes de serem presos.

Mas o terror é o que ronda a história de A vida é Bela. Os alemães quando derrotados, começam uma matança e fuzilam os judeus. Enquanto o caos toma conta, numa última brincadeira, Guido diz que se Giosué quiser ganhar um “grande prêmio”, ele deve ficar escondido debaixo de um caixote de madeira. “Só saia quando estiver silêncio”. Enquanto o filho está escondido, Guido revira o campo de concentração em busca de sua esposa. Mas ele não encontra Dora.

No entanto, ele acaba sendo abordado por soldados alemães. Ao ser levado preso e ao perceber que estava passando diante do caixote onde Giosué estava escondido, Guido faz continência para o filho e marcha em um passo escrachadamente militaresco e engraçado. Era a marcha para sua morte, ali, diante dos olhos do filho que espiava tudo por uma fresta, debaixo do caixote.

Guido é fuzilado logo adiante, mas longe dos olhos do filho.

Agora a segunda parte do meu pensamento. Antes, saiam do filme do Benigni e voltem para Uruguaiana e para a história que ouvi lá no Café Cristal de Santa Maria. Voltemos para os argumentos que tive de ler ontem e hoje: “Eu sou filho de militar e nunca ouvi falar de tortura”.

Os filhos, cujos pais militares viveram nos anos de ditadura civil-militar, tem razão em me afirmar que quando crianças jamais ouviram falar em tortura. Eles jamais poderiam saber de nada. Não faz sentido que saibam.

Se soubessem sobre as torturas, seus pais teriam falhado vergonhosamente na tarefa de serem pais. Até mesmo os torturadores são pais. Hoje, adultas, muitas daquelas crianças sequer devem compreender o que significa “Golpe Civil-Militar” ou “período de exceção”. Eles não viveram isso. E “tortura”, obviamente, é palavra vazia de sentido, pois não fez parte do cardápio das palavras cotidianas dos churrascos em família. Os filhos dos militares pouco sabem sobre as atrocidades da ditadura militar. O Motivo? Eles estavam dormindo protegidos debaixo do caixote.

Já no filme “A Vida é Bela”, quando Giosué sai de debaixo do seu caixote, o pai já estava morto. Os tanques e soldados americanos estão invadindo, vitoriosos, o campo de concentração. O “grande prêmio” de Giosué foi um passeio na carroceria de um tanque de guerra.

Para outras crianças, incapazes de sair de debaixo da caixa, o prêmio foi uma vida em ignorância histórica. No entanto, é possível saber. Um início pode ser o trabalho de Sabrina Steinke, ” A repressão política na fronteira Uruguaiana – Paso de los Libres no final da década de 1970″, Tese defendida na Universidade de Buenos Aires. Existem muitos outros livros, dissertações e teses sobre a Operação Condor, as rotas de fugas, os torturadores em Uruguaiana, as torturas nas fronteiras com a Argentina, só que é preciso sair de debaixo do caixote…

Roger Baigorra Machado é formado em História e com Mestrado em Integração Latino-Americana pela UFSM. Foi Coordenador Administrativo da Unipampa por dois mandatos, de 2010 a 2017. Atualmente trabalha com Ações Afirmativas e políticas de inclusão e acessibilidade no Campus da Unipampa em Uruguaiana.É membro do Conselho Municipal de Educação, do Conselho de Acompanhamento e Controle Social do FUNDEB e do Conselho Municipal de Desenvolvimento Econômico do Município de Uruguaiana e é conselheiro da Fundação Maurício Grabois. Em 2020 passou a compor o Centro de Operação de Emergência em Saúde para a Educação, no âmbito do município de Uruguaiana/RS. No resto do tempo é pai do Gabo, da Alice e feliz ao lado de sua esposa Andreia.

 

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“RODA VIVA”, na versão da banda “Francisco, el hombre” https://redesina.com.br/historia-da-musica-roda-viva/ https://redesina.com.br/historia-da-musica-roda-viva/#respond Wed, 23 Jun 2021 07:46:05 +0000 https://redesina.com.br/?p=14955 A banda Francisco, el hombre, regravou a música “Roda Viva” de Chico Buarque. uma versão para a trilha sonora do documentário “A Fantástica Fábrica de Golpes” que trata da ruptura da democracia brasileira a partir do golpe que resultou no impeachment de Dilma Rousseff, em agosto de 2016. A releitura de “Roda Viva” também cita outra …

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A banda Francisco, el hombre, regravou a música “Roda Viva” de Chico Buarque. uma versão para a trilha sonora do documentário “A Fantástica Fábrica de Golpes” que trata da ruptura da democracia brasileira a partir do golpe que resultou no impeachment de Dilma Rousseff, em agosto de 2016.

A releitura de “Roda Viva” também cita outra obra de Chico, “Apesar de Você”. Ambas, sinônimos de resistência à ditadura. O vídeo foi dirigido por Gabi Jacob e a faixa traz inspirações sonoras latino-americanas. 

Mateo Piracés-Ugarte , que faz voz e violão na banda, explica um pouco mais sobre a faixa.

‘Roda Viva’ é uma música cíclica, que vai acontecendo de novo e de novo, sempre levemente diferente, porém em ciclos. Acho que essa característica tem uma analogia forte com as fases da história. O contexto em que essa música surgiu, após o golpe militar de 64, traz muitas semelhanças com o período que vivemos atualmente, com crises políticas, questionamento sobre os direitos básicos humanos, manipulação midiática… Tudo isso parece se repetir na história, que é cíclica como a canção”, diz o artista.

Na banda também estão Juliana Strassacapa (voz e percussão), Sebastián Piracés-Ugarte (voz e bateria), Andrei Martinez Kozyreff (guitarra). Eles criaram composições como BolsoNada e Triste, Louca ou má.

Confira a letra da nova versão:
RODA VIVA

Tem días que a gente se sente
Como quem partiu ou morreu
A gente estancou de repente
Ou foi o mundo então que cresceu
A gente quer ter voz ativa
No nosso destino mandar
Más eis que chega a roda-viva
E carrega o destino pra lá

A gente vai contra a corrente
Até não poder resistir
Na volta do barco é que sente
O quanto deixou de cumprir
Faz tempo que a gente cultiva
A mais linda roseira que há
Más eis que chega a roda-viva
E carrega a roseira pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A roda girará, outro día vai nascer
Apesar de você, apesar de você

O samba, a viola, a roseira
Um día a fogueira queimou
Foi tudo ilusão passageira
Que a brisa primeira levou
No peito a saudade cativa
Faz força pro tempo parar
Más eis que chega a roda-viva
E carrega a saudade pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A roda da saia, a garota
Não quer mais rodar, não senhor
Não posso fazer serenata
A roda de samba acabou
A gente toma a iniciativa
Viola na rua, a cantar
Más eis que chega a roda-viva
E carrega a viola pra lá

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

Roda mundo, roda-gigante
Rodamoinho, roda pião
O tempo rodou num instante
Nas voltas do meu coração

A roda girará, outro día vai nascer
Apesar de você, apesar de você

HISTÓRIA DA MÚSICA “RODA VIVA” 

Diferente do que muitos imaginam, apesar da música Roda Viva de ter sido escrita durante a ditadura por Chico Buarque de Hollanda em 1967, ela foi pensada para uma peça de teatro de mesmo nome que não tinha a ver com política, mas com a trajetória de um cantor cansado da fama e showbusiness da televisão. A música conquistou o terceiro lugar no III Festival de Música Popular Brasileira, ocorrido entre setembro e outubro do ano de 1967.

No entanto, em julho de 1968, após Ato Institucional nº 5 AI-5, que tornou o regime militar mais rígido e violento, o Comando de Caça aos Comunistas (CCC) invadiu um teatro onde acontecia a encenação da peça, depredaram o cenário e agrediram os atores.

A peça era dirigida por Zé Celso. Chico Buarque acredita que o CCC possa ter se confundido pois no mesmo dia ocorria a encenação de uma peça política em outro espaço. Mais informações sobre a música em: Roda Viva 50 anos

HISTÓRIA DA MÚSICA “APESAR DE VOCÊ”

Já a canção Apesar de Você nasce após Chico retornar ao Brasil depois de um ano de auto exílio na Itália. O país vivia intenso regime de repressão, no governo do presidente Médici, e foi nesse contexto que Chico compôs. A primeira vista era só mais um samba de Chico, que logo fez sucesso. Mas, na verdade, o compositor satirizava o regime, ao declarar que aqueles que instituíram este estado iriam pagar dobrado. A canção composta em 1970 inicialmente não foi reconhecida como subversiva e ficou muito popular na época.

Tanto que em fevereiro de 1971, o jornalista Sebastião Nery, do Tribuna da Imprensa, publicou uma nota em sua coluna dizendo que seu filho e os colegas dele cantavam “Apesar de Você” como se estivessem cantando o Hino Nacional.

Nery acabou sendo chamado para depor, a canção censurada e Chico quando indagado pelos oficiais do governo sobre quem era o “você” da letra da canção, respondeu: “É uma mulher muito mandona, muito autoritária”.

Desde então a relação com os censores foi uma perseguição. Sua canções eram censuradas. Chico até publicou com outros nomes, mas quando descobriam a farsa, censuravam.

Somente em 1978, a canção foi liberada para compor um álbum do cantor.

APESAR DE VOCÊ

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu
Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro
Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etc. e tal
La, laiá, la laiá, la laiá

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Mais perto do 31 de março por VERA IONE MOLINA https://redesina.com.br/mais-perto-do-31-de-marco-por-vera-ione-molina/ https://redesina.com.br/mais-perto-do-31-de-marco-por-vera-ione-molina/#respond Fri, 02 Apr 2021 00:32:27 +0000 https://redesina.com.br/?p=13743 Um conto de Vera Ione Molina Isabel parou de digitar e voltou-se para responder à amiga. Tinha cortado o assunto no Facebook porque envolvia pessoas que não gostavam de falar daquela madrugada há cinquenta anos. “Mas primeiro conte você o que estava fazendo naqueles dias”. Regina acomodou os travesseiros e aceitou o desafio. Gostava da …

O post Mais perto do 31 de março por VERA IONE MOLINA apareceu primeiro em Rede Sina.

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Um conto de Vera Ione Molina

Isabel parou de digitar e voltou-se para responder à amiga. Tinha cortado o assunto no Facebook porque envolvia pessoas que não gostavam de falar daquela madrugada há cinquenta anos. “Mas primeiro conte você o que estava fazendo naqueles dias”.

Regina acomodou os travesseiros e aceitou o desafio. Gostava da sua história, embora sua maneira de pensar fosse diferente do resto da família.
Passamos um verão estranho, embora em minha casa sempre ouvíssemos falar em política desde pequenas. O pai saía de noite para reuniões com militares. Esses coronéis, majores eram pais de conhecidos nossos, alguns bem bonitos e gostosos, cariocas. Os filhos, claro, nunca reparei na aparência dos velhos. Eles nos tratavam como crianças. Nem sei que idade teriam, uns dezesseis, dezessete, eu tinha doze.
Nossa vida social continuava normal, passávamos os dias no clube, da piscina para um salão onde havia um bar, sofás, onde a gente escutava música, muita Bossa Nova. E combinava festas. Naquele tempo, havia um bom carnaval de salão em Uruguaiana e passávamos meses bordando fantasias.
“Lá em Três Passos também tinha um bom carnaval, eu adorava me fantasiar, mas não tínhamos essa vida social intensa de vocês”, interrompeu Isabel. “Mas também iam meninos e rapazes passar as férias lá. Era uma época que a gente improvisava roupas, fazia um troca-troca lá em casa e com as amigas”.
Dois tios meus mandaram mulheres e filhos para uma fazenda próxima ao Uruguai, onde elas poderiam se refugiar se a coisa apertasse. Então a casa do tio, situada a meia quadra da nossa, sediava reuniões de alguns homens da cidade: fazendeiros e seus amigos, a maioria da UDN. Não tínhamos a menor ideia do que conversavam, mas às vezes nos escondíamos para ver quem entrava no “Quartel-General” deles. Éramos eu, minha irmã e uma prima.
Tínha um porão grande, lá eram estocadas centenas de armas que nós achávamos poderosíssimas, eram chamadas de mosquetões.
“E vocês viam as armas? E não quiseram viajar para esse lugar próximo ao Uruguai”?
A mãe disse que não ia se meter numa estância, nossas aulas começariam em março e ela não tinha porque se esconder.
Nos programas de rádio, o Brizola incitava os soldados, os cabos contra o que ele chamava de “gorilas fazendeiros” que não queriam a reforma agrária. Nós não tínhamos medo. Não era como agora, Isabel, agora eu não tenho antepassados vivos, tenho descendentes, por isso o medo do que poderá vir com toda essa campanha contínua na mídia e esse ódio que percebemos até dentro das famílias, dos amigos de infância.
“A gente escutava os programas de rádio. O pai era comerciante e não se envolvia em política, mas os meus irmãos mais velhos já se posicionavam – uns admiravam o Brizola, outros achavam o Brizola violento, comunista”.
Na minha casa odiavam o Brizola, mas a mãe e nós vivíamos esperando a revista O Cruzeiro para ver a Maria Tereza Goulart, que achávamos linda. Tem um livro de um escritor de Uruguaiana que conta episódios de violência dos homens da minha família nos comícios do PTB. E eu acredito. Meu pai era um deles, usava um relho para retirar do cinema quem vaiasse o Carlos Lacerda, governador da Guanabara, que seria candidato à presidência da República em 1965. Nós, morando em Uruguaiana, interior do Rio Grande do Sul, andávamos num Simca Furacão com um cartaz (acho que não existiam os adesivos ainda) escrito: “Lacerda 65”. E se nos encontrávamos com uma passeata do PTB, meu pai nos deixava dentro do carro, no meio da rua, dava uns tiros pra cima e voltava.

“É, o fascismo nunca deixou de existir. Eles faziam o que queriam, principalmente no interior. Lá em Três Passos não havia tanta violência. Pelo menos que eu soubesse. Mas como foi o desfecho dessa disputa toda? Chegue mais perto do 31 de março”.

Teve carnaval, a gente se fantasiava de escrava grega, de Cleópatra, se maquiava e se achava linda. O par podia abraçar, era tão bom ficar dando a volta no salão agarrada a um guri perfumado, era bom encostar o nariz no pescoço deles, principalmente se fossem de fora, novidades. Mas nada de namoro, por que no outro dia a gente podia estar interessada por outro cara.
“Isso com doze anos?” Sim. Essa era a vantagem de ter irmã de treze, que era a idade com que começavam a ir ao carnaval de noite e a menor não podia ficar sozinha.
Bom, continuou a função de se reunirem com os militares, do Brizola a gritar no rádio e cada vez mais, vinham nos contar que ele ia mandar as mulheres da nossa família desfilarem peladas na praça. Ainda bem que a mãe não acreditava, achava tudo invencionice de gente que não tinha o que fazer.
Em uma manhã do final de março, pulei da cama pensando estar atrasada para o colégio e o pai, grudado no rádio, avisou: “Podem voltar pro quarto, não tem aula. Estado de sítio”.
E tu, Isabel? Lembras de alguma coisa especial daqueles dias?
“Você sabe que um pelotão se rebelou e veio para Três Passos? Não sei se foi no mesmo dia ou depois, mas é a memória mais forte em mim. O pai tinha uma venda. De madrugada, bateram nas janelas e nas portas. Era esse grupamento militar. Queriam munição. O pai e os irmãos atenderam e eles foram para a rádio da cidade. Tomaram a rádio e começaram a dar as coordenadas, achavam que iam impedir o golpe. Seguiram para Frederico Westphalen e em seguida foram presos.”
Incríveis as nossas histórias. Tu tiveste maior participação que eu porque até a munição dos revoltosos foi confiscada na venda da tua família.
Dois dias depois, haveria aula. Só na minha turma, havia três meninas com os pais presos. Elas estavam sérias, mas firmes. Fiquei impressionada e, ao voltar para casa, avisei que enquanto não soltassem os pais das minhas colegas eu não iria à aula. Pensava que a turma do “Quartel General” dos fazendeiros e seus amigos tinha muito poder.
Descobri que não ao lembrar da manhã de 31 de março, quando o General Mourão Filho, comandante da 4ª Região Militar em Juiz de Fora, pegou a estrada com 6 mil homens na direção do estado da Guanabara, com a missão de destituir Jango do poder. Ouvi meu pai praguejar contra os milicos filhos da puta, que iam tomar conta da Nação e minha avó materna, que era mãe de militar, dizer que agora sim o Brasil estava salvo. Na minha cabeça ficou martelando a ideia de que o “Quartel General” não mandava nada.
Uma tarde, estávamos no portão, quando vieram prender um historiador. Tentamos espiar e a mãe nos levou para dentro. Perguntei por que ela não tinha me deixado ver a prisão e ela tinha os olhos úmidos quando me respondeu: “Por que ele está com a família dele”. Anos mais tarde eu entenderia que foi por respeito e compaixão pelo vizinho que pertencia a um partido opositor ao que tempos depois viríamos a chamar de ditadura militar.
E agora, Isabel? Como achas que vai ser? Será que vão prender as pessoas que conhecemos? Vai ter golpe? Os militares vão voltar?
“Se continuarem prendendo os companheiros de esquerda e protegendo esses que cometeram tantos crimes e não foram nem indiciados, vai ter muita luta em 2016”.
Vou pro quarto que amanhã tem Feira do Livro.
“Só cuide de não se hospedar aqui mais de cento e onze vezes, senão vão dizer que este apartamento é seu e eu sou sua laranja”.
Regina e Isabel voltaram a falar do passado, apostando se este ou aquele episódio teria acontecido nos anos 70, 80, ou 90, com o Google aberto para tirar as dúvidas.

Vera Ione Molina mora em Porto Alegre, RS, professora e escritora de livros de literatura infantojuvenil, contos e novelas. Graduada em Letras e pós-graduada em Teoria da Literatura, ambos na PUC-RS. Autora da novela Quarentena,IEL e Alves Editores, 1996, na 3ª edição intitulada Notícias da Guerra e o Destino de Laura, 2017, Gemido da morte sob as solas dos sapatos, 2018, ambas pela Editora Bestiário; O outro lado da ponte, Ser MulherArte Editorial, 2020, dos livros de contos Outros Caminhos, Mercado Aberto, 1997 e O Quarto Amarelo, Bestiário,2015, entre outros. Participa da Antologia O Livro das Mulheres, org Charles Kiefer, 1997, participa de coletâneas de contos e poesia, inclusive como organizadora.

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DORA de Luiz Alberto Sanz e Lars Säfström https://redesina.com.br/dora-de-luiz-alberto-sanz-e-lars-safstrom/ https://redesina.com.br/dora-de-luiz-alberto-sanz-e-lars-safstrom/#respond Fri, 08 Dec 2017 00:14:03 +0000 http://redesina.com.br/?p=3540 Quando vi o filme, pensei que deve ser assim que pessoas de outras culturas vivenciam o meio urbano do capitalismo tardio. Mas, ao mesmo tempo, foi minha própria vivência. Fui eu, que vivo em um ambiente semelhante, que vivenciei por alguns breves instantes essa hostilidade contra o ser humano e essa soberba zombeteira. (Karl-Ola Nilsson) …

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Quando vi o filme, pensei que deve ser assim que pessoas de outras culturas vivenciam o meio urbano do capitalismo tardio. Mas, ao mesmo tempo, foi minha própria vivência. Fui eu, que vivo em um ambiente semelhante, que vivenciei por alguns breves instantes essa hostilidade contra o ser humano e essa soberba zombeteira. (Karl-Ola Nilsson)

Hoje compartilhamos o filme do nosso colunista Luiz Alberto Barreto Leite Sanz. Saiba mais:

SINOPSE:

O filme reconstitui a trajetória de Maria Auxiliadora Lara Barcelos, de Minas Gerais, onde nasceu, até seu suicídio no exílio em Berlim, três anos antes da Anistia. Dora fazia parte do grupo de 70 revolucionários libertados em 1971 da prisão em troca do Embaixador Suíço Enrico Bucher, capturado pela guerrilha brasileira em dezembro de 1970.
Apresentação e narração de Reinaldo Guarany e Luiz Alberto Sanz; roteiro de Reinaldo Guarany, Luiz Alberto Sanz e Lars Säfström; Fotografia de Staffan Lindkvist; captação de som de Leonardo Céspedes Garreaud; produção executiva de Bettan von Horn; direção de Lars Säfström e Luiz Alberto Sanz; produção de SLS Film och Videoproduktion para TV Suécia Canal 1.

O artigo a seguir foi escrito pelo filósofo, musicista e jornalista Karl-Ola Nilsson, editado originalmente na revista Film&TV nº 17/1978, órgão de Filmcentrum, Estocolmo, Suécia. A publicação coincidiu com o lançamento do filme pela TV Suécia Canal 1, em agosto de 1978.

Quando chegar o momento…
por Karl-Ola Nilsson

Berlim Ocidental, junho de 1976. Uma refugiada política do Brasil, Dora, 31 anos, atira-se debaixo de um trem de metrô e morre.
Por quê?
Reinaldo, o companheiro de Dora durante seus últimos anos, e seu amigo Luiz procuram a resposta. Viajam pela França e a Alemanha e encontram amigos, seus e de Dora. Visitam lugares onde ela morou. Escolas em que estudou. Vasculham cartas e anotações. Assistem documentários em que Dora participou.
Desenvolve-se, assim, a imagem e o destino de uma pessoa. No entanto, Quando chegar o momento… não trata apenas de Dora, mas também das vidas de outros milhares de refugiados políticos. Na Alemanha Ocidental, na França, na Suécia e pela Europa afora.
Essas vidas não se permitem reconhecer sem que as sociedades que deixaram e para onde vieram sejam minuciosamente descritas. O que também acontece. Por isso, Quando chegar o momento se tornou um pedaço da História Contemporânea de dois continentes, separados por um oceano, mas unidos por laços econômicos.
Eu gosto muito deste filme que me deu uma série de empurrões para diante, emocionais e cognitivos. Uma sequência central é quando Reinaldo e Luiz viajam através da Alemanha. Discutem a situação política no Brasil. Pela janela do vagão vê-se a fumaça das chaminés. Desfilam quilômetros e quilômetros de áreas industriais. Eles viajam à sombra do “milagre alemão” com suas fábricas-modelo e cidades blindadas. E falam sobre o Brasil.
A cena desnuda uma parte do estranhamento, que é o dos exilados, de ter suas aflições políticas despejadas em um país completamente outro, em uma parte do mundo totalmente diferente da sua. Mas, ao mesmo tempo, esta sequência levou meus pensamentos para a ligação entre a República Federal Alemã e o Brasil.
Não se fala também do milagre brasileiro? Claro. O Brasil experimentou durante o final dos anos 60 e começo dos setenta um enorme crescimento na economia. Na base da expansão estavam capitais de EUA, Alemanha Ocidental, Japão, Suécia e outros estados capitalistas. O capital era atraído por condições propícias.
Quem teve que pagar a expansão foram os trabalhadores brasileiros.
O preço foram salários reduzidos, ritmo de trabalho acelerado, sindicatos esmagados, repressão política e tortura. A exploração foi tão brutal que só podia ser executada por um regime violento. Em 1964, uma junta militar derrubou o presidente progressista Goulart. Era o prólogo para o chamado milagre econômico brasileiro.
Foi sob tais circunstâncias que Dora, Luiz e Reinaldo foram presos em 1969. Foram também essas condições que os obrigaram a partir para o exílio.
Em 1970 , foram enviados ao Chile em troca da libertação de um prisioneiro capturado pela guerrilha urbana.
O período no Chile tornou-se agitadíssimo para Dora, preenchido com os estudos e o trabalho entre os proletários das favelas. Uma pausa para respiração, mas curta. Tão curta quanto o Governo Allende.
No outono de 1973 os valetes da burguesia chilena e do imperialismo deram o golpe. Mais um país latino-americano militarizou-se e o imperialismo fortaleceu seu controle sobre a economia do continente.
Dora, Luiz, Reinaldo e outros milhares voltaram a fugir. Dessa vez para a Europa. Fugindo daqueles que ganham com a opressão – a burguesia nos países latino-americanos e o capital, entre outros, dos EUA e da Alemanha Ocidental. (Em 1074 os alemães ocidentais aumentaram seus investimentos no Brasil para 586 milhões de dólares, o que equivale a 11,4% dos investimentos estrangeiros.)
Contra esse pano de fundo, a conversa entre Reinaldo e Luiz sobre a situação no Brasil se torna altamente relevante quando acontece em meio à realidade do capitalismo alemão. Justamente quando o trem passa diante de uma grande siderúrgica com grandes investimentos no Brasil.
Contra esse pano de fundo fica também compreensível porque Dora foi constantemente atormentada pela Polícia e as autoridades alemãs.
Sua liberdade de movimentos foi fortemente reduzida. Durante um período foi obrigada a apresentar-se à polícia três vezes por dia. Seus estudos de alemão tiveram que ser interrompidos. Dessa maneira foram combatidas suas tentativas para adequar-se à sociedade alemã.
Mas policiais e burocratas não foram os únicos obstáculos. Existiam em muitos planos – o espaço urbano, a convivência social, as atitudes dos colegas de estudos. A frieza, o isolamento, a soberba e a humilhação nos ambientes em que Dora foi forçada a viver são sensível e expressivamente capturados em QUANDO CHEGAR O MOMENTO.
Quando vi o filme, pensei que deve ser assim que pessoas de outras culturas vivenciam o meio urbano do capitalismo tardio. Mas, ao mesmo tempo, foi minha própria vivência. Fui eu, que vivo em um ambiente semelhante, que vivenciei por alguns breves instantes essa hostilidade contra o ser humano e essa soberba zombeteira.
O conteúdo e a forma do cinema progressista têm sido discutidos em Film&TV nos últimos tempos. Diferente debatedores manifestaram que as tomadas de posição, experiências e conhecimentos dos próprios cineastas devem mostrar-se nos filmes.

ROTEIRISTA, DIRETOR:

LUIZ ALBERTO SANZ (LUIZ ALBERTO BARRETO LEITE SANZ)

Pesquisador independente em Educação, Comunicação Social e Artes do Espetáculo. Professor 13045540_10202122227494484_233987780_nTitular aposentado da Universidade Federal Fluminense. Foi coordenador editorial da revista libertária “letra livre”, é colaborador da “Revista da Educação Pública” (eletrônica) da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro e membro fundador da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas (ABRACE). Foi, em sua vida profissional, jornalista, cineasta, educador, diretor de espetáculos, técnico cinematográfico e estivador. Exerceu suas funções em Brasil, Chile, Suécia e República da Guiné (nesta, como consultor da UNESCO na área de Comunicação em Matéria de Educação). No Jornalismo, passou por quase todas as funções, mas destacou-se sobretudo como critico teatral (Jornal do Commercio – RJ e Última Hora) e cinematográfico (Última Hora e Rádio MEC), repórter e comentarista cultural e político (Letra Livre, Revista da Educação Pública, Jorna1 de Brasília e Rádio MEC). Na vida sindical, foi Secretário- geral e Presidente do Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diverão do Estado do Rio de Janeiro, na gestão 1981/1984 e, como representante do SATEDERJ, membro da Executiva lntersindical do Rio de Janeiro (1981/1984) e da Executiva do Conselho Nacional das Classes Trabalhadoras – CONCLAT (1983-1984). Como administrador cultural, foi Diretor do Centro Nacional de Rádio Educativo Roquette- Pinto/Rádios MEC (1994); Superintendente Cultural da Embrafilme (1983/1984); membro do Conselho Diretor (1977-1978) e Secretário de Informação (1978-1979) de FilmCentrum (cooperativa de cineastas independentes e animadores cinematográficos), Suécia.

OBRAS PRINCIPAIS / LIVROS: “Procedimentos metodológicos: Fazendo caminhos”. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2003; “Dramaturgia da Informação Radiofônica”. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999; FILMES: “Soldado de Deus”, de Sergio Sanz. (Pesquisador e co-roteirista). Rio de Janeiro: J. Sanz, 2004. “Carnaval: Tradição, beleza e trabalho” (criador e co-roteirista, em parceria com Valéria Campelo, da série de cinco documentários). Rio de Janeiro: Senac Nacional, 1999. “No es hora de llorar/Não é hora de chorar” (parceria com Pedro Chaskel). Santiago do Chile: Universidade do Chile, 1971. [Premiado com a Pomba de Ouro no Festival de Leipzig de 1971; “Kommunicerande karl/Vasos comunicantes” (parceria com Lars Säfström). Estocolmo: Instituto de Cinema da Suécia, 1981. [Premiado com a Menção Honrosa no Festival de Leipzig de 1983] ESPETÁCULOS: “O Amor e seus duplos” (orientador e roteirista). Rio: Cia. Helenita Sá Earp/UFRJ, 2001; “Aline, Luli e Lucinha” (Diretor). Rio de Janeiro: Funarte, l981; “Filo porque qui-lo”, de Aldir Blanc, Gugu Olimecha, Maurício Tapajós e Fátima Valença (Diretor). Rio de Janeiro: Saci Produções, 1971. RADIO: “Tião Parada, o Rei da estrada” (co-criação do projeto, em parceria com Luciana Medeiros e Rosa Amanda Strausz da série dramática infantil e roteirização de alguns). Rio de Janeiro: IBASE/Rádio MEC, 1996. “Verso e Reverso – 2ª fase” (Produção e Criação da Série de 12 programas, e roteirização de dez). Rio de Janeiro: Rádio MEC/Educar, 1990.

 

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