Arquivos blues - Rede Sina https://redesina.com.br/tag/blues/ Comunicação fora do padrão Thu, 12 Nov 2020 09:51:13 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.4 https://redesina.com.br/wp-content/uploads/2016/02/cropped-LOGO-SINA-V4-01-32x32.jpg Arquivos blues - Rede Sina https://redesina.com.br/tag/blues/ 32 32 ENTREVISTA: ARTHUR DAPIEVE https://redesina.com.br/entrevista-arthur-dapieve/ https://redesina.com.br/entrevista-arthur-dapieve/#respond Mon, 17 Sep 2018 06:39:38 +0000 http://redesina.com.br/?p=5251 POR UGO MEDEIROS (COLUNA BLUES ROCK) “Discordo que o blues, o jazz e o folk tenham algum dia sido o centro do mercado musical. O blues, por exemplo, era race music nos EUA, aquela categoria racial-musical conhecida como rhythm’n’blues. O grosso do mercado musical americano dos anos 1930 aos 1950 ouvia canção popular americana (branca). Blues sempre foi …

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POR UGO MEDEIROS (COLUNA BLUES ROCK)

“Discordo que o blues, o jazz e o folk tenham algum dia sido o centro do mercado musical. O blues, por exemplo, era race music nos EUA, aquela categoria racial-musical conhecida como rhythm’n’blues. O grosso do mercado musical americano dos anos 1930 aos 1950 ouvia canção popular americana (branca). Blues sempre foi nicho.  O que o jazz e o folk foram é usinas de criatividade, não de mercado. ” – Arthur Dapieve –

Arthur Dapieve é um jornalista e crítico musical brasileiro, trabalha para o jornal O Globo. Já foi repórter, redator, subeditor e editor do Jornal do Brasil (Caderno de Idéias e B, da revista Veja Rio e do jornal O Globo (Rioshow, Opinião, etc) Também colunista do site NO e professor de jornalismo na PUC-Rio.No rádio, apresenta uma edição mensal com o programa CLÁSSICO, uma série da rádio Batuta, a rádio de internet do Instituto Moreira Salles (IMS). Os programas ficam armazenados, podendo acessar a qualquer momento: www.radiobatuta.com.br. Ele escreveu a biografia Renato Russo – O Trovador Solitário em 1999, baseado em fitas com entrevistas do compositor e cantor Renato Russo.Além deste, tem mais cinco livros publicados, sendo eles: BRock – O rock brasileiro dos anos 80, Miudos metafísicos, Guia de rock em CD, De cada amor tu herdarás só o cinismo (romance), Morreu na contramão.(NOTA REDE SINA)

Agora uma grande aula sobre história da música com um dos maiores críticos musicais brasileiros, Arthur Dapieve. Profundo conhecedor de jazz, música clássica e rock, foi uma pessoa que me ajudou demais quando, em 2008, escrevi minha monografia sobre Rock e Geografia. Com muita honra e alegria, estendo o tapete vermelho à essa enciclopédia da resenha musical!

Ugo Medeiros – Você se lembra como a música entrou em sua vida? O rock foi o começo de tudo?

Arthur Dapieve – Talvez tenha sido aprendendo a letra de Help na aula de inglês, ainda no primário, mas os primeiros discos que comprei no ginásio eram coletâneas de sucesso, que podiam misturar John Lennon, Minnie Riperton e nomes que despontaram para o anonimato. Só um pouco depois, no meio da adolescência, comecei a comprar discos mais “metodicamente”. Não coletâneas, mas LPs de linha. Aí, sim, comecei pelos Beatles, por Bob Dylan e pelo Genesis.

UM – Quais os deveres de um crítico musical? O juízo de valor faz-se necessário, o que chuta para escanteio o relativismo “tudo é música. Não existe música ruim, apenas diferente…”?

AD – O dever é ser honesto consigo mesmo e com o artista, ser bem-informado e escrever bem. Relativismo, realmente, é incompatível com qualquer tipo de juízo crítico. Acho que mesmo o clichê “há música boa e música ruim” é bastante acrítico.

UM – Aproveitando a última pergunta, o Miles Davis pagou um pouco por isso, não? Fez tanta mistura, tantas sonoridades… E a reta final da carreira foi bem fraca…

AD – Sim, mas é bem fraca, repare, em relação a seus momentos no bebop, no cool jazz e no jazz-rock, que estão entre as criações mais importantes da história da música. Fico me perguntando: se ele tivesse vivido um pouco mais, teria feito algo bom também na fusão com música eletrônica? Ou música é como matemática, os grandes avanços ocorrem na juventude?

UM – E a imparcialidade nisso tudo? O gosto musical, o sentimento ou qualquer outra “interferência” afetam a crítica?

AD – Como eu disse, é preciso ser honesto. Mas não existe a menor possibilidade de se fazer uma crítica na qual o gosto pessoal – inclusive porque não existe gosto impessoal – não desempenhe papel importante. O que o crítico não pode fazer é achar que tudo do que ele gosta é importante ou bom. Ou que tudo do qual ele não gosta é irrelevante ou ruim. Enfim, honestidade intelectual. Gosto não pode ser picuinha.

UM – Ser crítico implica NECESSARIAMENTE em ser jornalista? Por muito tempo achei que eu deveria fazer jornalismo – ideia devidamente excluída – para escrever sobre música. Isso nos leva à atual (e eterna) discussão sobre a obrigatoriedade do diploma…

AD – De modo algum! Nem para ser jornalista é preciso fazer jornalismo… Acho que essa obrigatoriedade cria a ilusão de que a simples posse do diploma de jornalista gabarita alguém para exercer a profissão. Como professor de jornalismo, sei que isso é uma mentira. Como jornalista, meus melhores chefes nunca chegaram perto de uma faculdade de comunicação (eram mais velhos, ou seja, pré-regulamentação). Eu sei, sou minoria tanto entre os professores como entre os jornalistas. Mas acho, além do mais, que a obrigatoriedade do diploma gera uma espécie de “filtro” na liberdade de expressão, o que não é nem desejável nem constitucional.

UM – A crítica musical mudou bastante ao longo do tempo. Já foi algo bem romântico, algo bem Quase Famosos; depois vieram críticos mais ácidos, influenciados pela poesia maldita. Hoje em dia a escrita é mais caracterizada pela síntese e dinamismo.Você não acha que isso empobrece o texto em si? Digo, está muito técnico e politicamente correto…

AD – Politicamente correto, sim, muito técnico, não. A ênfase está na informação e não na opinião, quando o ideal é haver um equilíbrio entre ambas. O que empobrece o texto, e não só no jornalismo cultural, e não só na crítica, é o baixíssimo grau de leitura da maior parte dos jovens. Leitura relevante, quero dizer. Porque, com a internet, nunca se leu tanto, mas normalmente o que se lê é notícia rápida, abobrinha, e-mail, post, coisas que sozinhas não dão estilos ou conhecimento a ninguém. É preciso articular leitura, compreensão e formação.

UM – O blues já foi o centro do mercado musical, assim como o jazz e o folk. O rock é a galinha dos ovos de ouro desde o final dos anos 1950. Mas, atualmente, o hip-hop é fortíssimo nos EUA e a música eletrônica comanda a Europa. Podemos falar que o rock está em um processo de declínio?

AD – Discordo que o blues, o jazz e o folk tenham algum dia sido o centro do mercado musical. O blues, por exemplo, era race music nos EUA, aquela categoria racial-musical conhecida como rhythm’n’blues. O grosso do mercado musical americano dos anos 1930 aos 1950 ouvia canção popular americana (branca). Blues sempre foi nicho.  O que o jazz e o folk foram é usinas de criatividade, não de mercado. O blues ganhou mais visibilidade comercial – e mesmo assim não muito – foi com o interesse que as bandas de rock do outro lado do Atlântico tinham por ele. Foi este rock que era o centro do mercado musical de, digamos, 1954 a 1994. Acho que ele já declinou criativamente há tempos, embora ainda possa fazer algum “auê” comercial de vez em quando. Aconteceu com ele o que aconteceu com o blues, o samba, o jazz etc, as fórmulas se cristalizaram. Há coisas boa em todos esses gêneros, mas elas são ecos de outras eras.

UM – Quando os Stones, Metallica, Motorhead, Allman Bros, Lynyrd Skynyrd e outras mega bandas pararem, haverá uma grande banda que “carregue” o rock? Ou será um conjunto de bandas medianas?

AD – Bandas medianas, até por falta de comparação, se tornarão grandes bandas. Há bandas contemporâneas ou posteriores às que você menciona – e apenas as duas primeiras são imensamente populares, mega mesmo – que já ajudaram a carregar o rock. U2, Radiohead…

UM – O termo “rock progressivo” ganhou um significado ruim, chato. Me lembro do Sergio Dias dizendo “Tudo foi feito pelo Sol não é progressivo, é rock’n’roll”. A que se deve isso? Você não acha que o “Metal” vai por esse caminho?

AD – Gosto de progressivo, mas acho que os músicos do gênero (inclusive o Sérgio Dias) fizeram por onde, copiando os maneirismos elitistas de parte do pessoal da música clássica… Ficou parecendo chato, difícil, velho. Não acho que o metal vá seguir esse caminho, felizmente. Inclusive porque “o metal” são tantos… Já o progressivo basicamente sempre foi um só. Hoje em dia é um gênero muito menos atrativo que o metal.

UM – Na minha opinião, o último e mais interessante movimento do rock foi o do Do it Yourself (começo dos anos 1980, cena hardcore). E para você? Algo mais recente chama atenção?

AD – Uma ressalva, por favor. O DIY foi usado pelo hardcore (e pela música eletrônica), mas ele é anterior: é invenção do movimento punk, nos anos 1970. Seja como for, depois do hardcore, que não curti muito, houve o grunge e o pós-rock, que acho muito interessantes. Depois, porém, o rock perdeu momentum num matagal de bandas independentes inexpressivas e, pior, conformadas com a inexpressividade.

UM – Qual o maior compositor americano, Gershwin, Louis Armstrong, Glenn Miller ou Peter Seeger?

AD – Só dá para optar entre esses quatro? Nenhum deles. Duke Ellington.

UM – Indiscutivelmente, a música brasileira é muito rica, mas não há tanto intercâmbio entre os diferentes estilos regionais. Isso já é diferente nos EUA, onde há uma constante troca. Há na música nova iorquina influências claras da música apalachiana, assim como um swing de jazz no bluegrass. Você não acha o brasileiro mais provinciano? Por que isso ocorre no Brasil?

AD – Olha, Ugo, desculpe-me, mas discordo tão profundamente da premissa da pergunta que não tenho nem como responder direito. Não acho a música brasileira menos “intercambiada” ou mais provinciana, não. Como assim, com Noel, Tom, Villa-Lobos, Caetano, Paralamas, Chico Science, Gaby Amarantos? São todos misturados entre regiões, entre nações.

UM – As grandes orquestras filarmônicas são mantidas pelo Estado e doações privadas. Ainda há espaço para o erudito na mídia? Mais, será que o erudito persistirá sem esse approach? Como você vê a música erudita daqui a algumas décadas?

AD – Antes de mais nada, é preciso evitar o termo “música erudita”. Consta que a primeira menção a ele estava numa carta do imperador da Áustria a Mozart, reclamando da suposta dificuldade de uma peça. Dificuldade em Mozart?! “Erudito” aí tem, portanto, caráter pejorativo, embora alguns músicos e ouvintes elitistas alimentem o termo. Depois, é preciso ter em mente que a música clássica é mantida também pela venda de discos (é o nicho onde o digital fez menos estragos), pela projeção de óperas do Metropolitan e da Royal Opera House nos cinemas, nas assinaturas para se assistir à Filarmônica de Berlim via web, todo fim de semana… Além disso, ela é usada como fator de integração e progresso social em todo o mundo, como no formidável El Sistema, da Venezuela, de onde emergiu um dos melhores maestros em atividade, Gustavo Dudamel. A música clássica é quase onipresente na mídia desde, claro, que você não procure por músicos de fraque e cartola regidos por um alemão idoso. Ela está nas trilhas de filmes (o que é Ennio Morricone, afinal?), de TV e de games… Assim, daqui a quarenta anos, acho que ela ainda estará por aí, firme e forte.

UM – Por falar em música erudita, como ela entrou em sua vida?

AD – Entrou via bandas de rock progressivo, como Yes e Emerson, Lake & Palmer. A partir deles, fui ouvir as peças que eles tinham regravado a seu modo… Brahms, Mussorgsky… Então, um novo mundo se abriu para mim. Acho que a melhor indicação para um neófito em música clássica que posso dar é um livro: Música clássica em CD, um escrito pelo recém-falecido Luiz Paulo Horta. A partir dele, começa-se a montar uma boa discoteca clássica.

UM – Mudando um pouco de assunto, você consideraria o Kraftwerk o mais próximo de erudito dentro da música eletrônica?

AD – Do meu ponto de vista etário, o Kraftwerk nem é música eletrônica… Quando comecei a ouví-lo, em meados dos anos 1970, ele me parecia rock progressivo. Depois é que fui descobrir que era parte do tal “krautrock”, rock alemão com características experimentais, junto com, entre muitos outros, Tangerine Dream e Can (o meu favorito). Mantenho-o nessa prateleira. Na eletrônica propriamente dita, acho Massive Attack o mais clássico.

UM – Professor, valeu pela participação. Deixo esse espaço para as suas considerações finais.

AD – Parabéns pelos 100 mil acessos, Ugo. Bela marca.

Entrevista publicada originalmente em https://www.colunabluesrock.com/single-post/2013/08/31/Entrevista-Arthur-Dapieve

Ugo Pate Medeiros – Assistiu ao filme Quase Famosos (filme de Cameron Crowe) e concluiu que a vida seria mais divertida no mundo da música. Assim, Criou e tornou-se editor do Coluna Blues Rock, responsável pelos vídeos exclusivos, contatos comerciais, produtor das festas e confraternizações do site e o responsável pela cafeteira da redação de apenas um (silêncio é sempre a melhor companhia!).
Colaborou em diversos sites e revistas impressas; cobertura in loco de festivais como o Rio das Ostras Jazz & Blues Festival e o Psicodália; pesquisador musical com ênfase na estadunidense. Licenciatura e Bacharelado em Geografia pela PUC-Rio, quando escreveu a monografia Críticas à Sociedade Norte-americana: uma leitura a partir do rock. Excelente trocador de fraldas e, nas horas vagas, um ótimo saco de pancadas no judô e no jiu-jitsu. E de tanto apanhar no tatâme, talvez para anestesiar, segue firme (e dolorido) atrás das melhores cervejas artesanais. Tem o site https://www.colunabluesrock.com desde 2007. Em 2018 se torna colunista da Rede Sina.

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ENTREVISTA: CARLOS MALTA (flautista e compositor) https://redesina.com.br/entrevista-carlos-malta-flautista-e-compositor/ https://redesina.com.br/entrevista-carlos-malta-flautista-e-compositor/#respond Mon, 16 Jul 2018 15:47:56 +0000 http://redesina.com.br/?p=4417 por Ugo Medeiros (Coluna Blues Rock) “Isso que nós chamamos de música é um presente do universo para esse planeta”. Um depoimento desse me consola quando percebo que estou nessa atividade de crítica/pesquisa musical há quase dez anos sem receber um tostão. apesar do trabalho ser voluntário, quase filantrópico, ele me proporciona momentos mágicos, como …

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por Ugo Medeiros (Coluna Blues Rock)

“Isso que nós chamamos de música é um presente do universo para esse planeta”. Um depoimento desse me consola quando percebo que estou nessa atividade de crítica/pesquisa musical há quase dez anos sem receber um tostão. apesar do trabalho ser voluntário, quase filantrópico, ele me proporciona momentos mágicos, como entrevistar o fantástico Carlos Malta. E por duas vezes.

 Simpático, atencioso, humilde, todas características que lhe são inerentes, sempre fazendo o possível para atender um profissional de imprensa  renomado ou desconhecido. Nesse caso, conversando com uma pessoa que sequer faz parte da mídia jornalística. Grande conhecedor da Música, sim, com maiúscula, Carlos Malta é um estudioso, sempre preocupado com a investigação das origens e desdobramentos musicais. Por isso mesmo é crítico quando tem que ser, “Esse é um grande erro da nossa civilização ocidental, considerar que compositores mortos há mais de cem anos como eruditos. Digo, é um grande erro da civilização dita culturalmente desenvolvida cultuar o antigo e rebaixar o que é popular. Veja só, a música clássica indiana é algo muito recente e sequer é escrita, é toda ela improvisada”.

   O samba, o choro, o jazz e o blues. Estilos. Mas, por isso, tornam-se dogmas fechados incapazes de adaptações? Negativo! Para o escultor dos ventos da música brasileira tudo é possível. Explicações sobre a gênese do samba, comparações com a pobreza e o racismo aos quais os negros eram submetidos. Informações históricas e sonoridades didáticas para melhor ilustrar, sempre traduzindo a dúvida através do idioma universal da Música.

  Uma entrevista especial, com doses extras de carinho. Ou seria Carinhoso? Aquela de Pixinguinha? Sim, também!, “Pixinguinha nunca pensou que seria um dos maiores representantes do não-racismo, do que é ser universal”. Carlos Malta é puro amor, Carlos Malta é a Música em estado primário e suave.

Nenhum texto alternativo automático disponível.

Ugo Medeiros – Sr. Malta, primeiramente, muito obrigado por arrumar um tempo e realizarmos essa entrevista! Na última vez que conversamos, lá no Festival de Rio das Ostras, o papo foi sobre o equilíbrio, a proximidade ou não, entre o popular e o erudito. Hoje ficarei mais na música popular, ou dita popular. Estou pesquisando e escrevendo um projeto sobre as semelhanças, uma comparação, entre a música brasileira e a americana. Ontem escutei durante quase uma hora Tico-tico no fubá, um choro. Investigando, vi que o choro teve sua origem na polca. E no mesmo dia, conversando com um bluesman americano, percebi que o ragtime também teve a sua formação a partir da polca. Afinal, o que é a polca?

Carlos Malta – A polca é uma dança europeia, veio com os colonizadores. Não é apenas um estilo, é uma forma de dança. Por exemplo, existe samba-canção, samba, pagode, partido alto… e no final é tudo samba. A polca também tem várias variações, teve maior influência da música europeia, dita erudita, mas na época era popular. Esse é um grande erro da nossa civilização ocidental, considerar que compositores mortos há mais de cem anos como eruditos. Digo, é um grande erro da civilização dita culturalmente desenvolvida cultuar o antigo e rebaixar o que é popular. Veja só, a música clássica indiana é algo muito recente e sequer é escrita, é toda ela improvisada. Teatros com maior tradição apresentam uma programação toda voltada para a música centenária. Ano passado consegui tocar no Theatro Municipal, Rio de Janeiro, e o fiz com música popular, que é a de hoje. A música popular também exige uma erudição, todo tipo de música passa pela erudição, que é o estudo. É erudita pela dificuldade técnica, traduz uma época, um batuque. Se você colocar um tambor junto com esse piano que você ouviu em Tico-tico no fubá, verá que existe uma relação entre os graves, médios e agudos:

Tá entendendo? O batuque se traduz na melodia através de notas médias, graves e agudas. O que houve com o choro, o ragtime, o jazz e outros estilos foi uma tradução, na verdade, uma tentativa de traduzir o batuque. Nessas culturas que têm o batuque como o centro da sua musicalidade, ele é o responsável por levar o sujeito ao transe, receber a divindade. A força desse batuque se espalhou para os outros instrumentos. Os escravos negros nos EUA eram proibidos de batucar, pois os senhores, os chefes das fazendas, tinham medo que eles ficassem possuídos, ficassem mais fortes. Colocavam os negros para tocar outros instrumentos ou para cantar. E o que os escravos faziam era colocar, adaptar, o batuque aos novos instrumentos:

Isso foi uma forma dos negros driblarem a proibição através do que lhes era permitido. Ao mesmo tempo que isso acontecia nos EUA, também no Brasil. A grande diferença é a percepção e a forma de escrever:

O sapateado também veio da África. Há vídeos de tribos com crianças que são espetaculares, fazem todo o movimento dos pés que depois estaria no sapateado. O Sapateado não é uma arte de dança americana. Ele tem origem na África e foi aperfeiçoada nos EUA, desenvolvida pela coisa do Fred Astaire. Quando falamos em berço da cultura musical é a Africa, fato. A gente tem uma certa mania de achar que aqui no continente americano não existia música, mas tem um sério problema: boa parte da música deles foi morta junto com aqueles nativos. Eles foram exterminados, dizimados. Foi uma tentativa de extinção dos povos indígenas pelos colonizadores, talvez até maior do que durante a Segunda Guerra. Em Nova Iorque, naquela ilha que está a Estátua da Liberdade, tem um museu que contabiliza a quantidade de índios (de cada uma das tribos) dizimados, passa dos milhões! Se juntar com os do Brasil, então… Tenho certeza que existia uma cultura musical, na real, ainda existe, como pude documentar no meu filme Xingu, Cariri, Caruaru, Carioca. Filmando com os Cuicuros (Xingu, Mato Grosso do Sul) vi que eles têm passos de dança usando os pés, batendo na terra como se fosse sapateado. Além de uma cultura flautista espetacular que está longe de ser selvagem ou primitiva. Aprendemos errado no colégio, infelizmente. Temos que estudar, como você faz, para esclarecer, termos ideia de onde veio o baião, por exemplo. Essas relação entre as músicas populares da América do Norte  e as daqui é a prova de que todas passam por muita influência da música branca europeia, da negra, assim como a dos ciganos, povos nômades que vinham nos navios (provavelmente trabalhando na segunda e na terceira classes).

UM – Seguindo essa linha do batuque, havia um estilo pré-blues que o influenciou demais, chamado fife & drum. É impressionante, como ele é parecido com a Banda de Pífano de Caruaru! Já mostrei coisas da banda de Caruaru para alguns bluesmen negros dos EUA e eles piraram!

CM – É isso aí! É o que estou te falando, o instrumental é parecido, ele tá marcando com caixa de guerra, pratos e bumbo. Isso aí não são instrumentos indígenas. E o pessoal que está lá no Mississippi é todo miscigenado, meio negro, meio índio. Os índios têm essa forma de se expressar musicalmente, essa tradição de expressar pela flauta e pelo tambor está presente em várias culturas, tanto na América espanhola como na América inglesa. Isso também é fruto de uma influência, de uma raiz da música celta na música cigana, portuguesa e até na espanhola. Você mostra vídeos da Banda de Caruaru aos bluesmen americanos, eu mostro os do Otha Turner aos músicos daqui e eles ficam impressionados com a similaridade dos estilos. Prova a mesma raiz  de influência, todos foram submetidos à mesma. Ao mesmo tempo que havia essas influências umas nas outras, a cultura europeia não entendia as tradições “selvagens”, não sabiam o que eles falavam, para eles era tudo música pagã. Claro, a proibiam. Era a hora que eles faziam para baixar o santo. Quando vemos um conjunto tocando demais é normal dizermos “os caras estão possuídos”. E é isso mesmo, ficamos possuídos, mas não por algo ruim, mas com a alma do universo. A música é um presente que esse planeta recebeu do universo. Até que se prove o contrário, não sabemos se há em outro planeta uma atmosfera com essa composição química que nos possibilita escutar dessa forma. Se tivesse mais hélio ou outro tipo de gás a música seria de outro jeito.  Isso que nós chamamos de música é um presente do universo para esse planeta. Quando celebramos a música dentro desses parâmetros de devoção, de entrega, de compartilhar em grupo, estamos produzindo uma energia  universal tão forte como essa que estamos fazendo aqui ao falar de MÚSICA. Uma onda magnética, louca, uma vibração invisível que transforma, não tem cheiro, cor, forma, mas encanta mais do que uma pessoa lindíssima que passa na rua. Você até olha pra ela, mas aí volta para a música (rs). É muito forte, a música é uma coisa muito louca. É bonito como ela se desenvolveu pelo lado do virtuosismo, tanto nos EUA como aqui também. Quando um grupo de lá escuta a nossa música, ou ao contrário, todos ficam impressionados. Tenho amigos que são fodas, tocam para caramba, que são admiradíssimos na música. Eles escutam o Pife Muderno e dizem “porra, que coisa boa pra caralho!”.

UM – Eu sou especializado na música norte-americana, meu DNA tem muito de blues. Agora, como faço essa pesquisa, corro atrás da música popular brasileira. O samba veio do recôncavo baiano e das chamadas umbigadas, certo?

CM – Imagine uma panela, o samba é essa panela com ingredientes que vieram desde essa coisa da Bahia. E essa Bahia que veio paro o Rio Janeiro tinha, digamos, um ponto de encontro em uma comunidade no centro da cidade. Essa Bahia se concentrava na casa de uma tia baiana, Tia Ciata. Provavelmente uma dessas baianas que cozinhava uma comida bem saborosa, com aquele tempero da Bahia. E como na Bahia todos são artistas, ela devia ser a artista do encontro. Na casa dela encontravam gente de todo tipo, figuras que transitavam na música. O que lá rolava de som batizaram de samba. Mas o samba era mais como um evento, era a comida, a dança, a pegação, uma possibilidade de arrumar um emprego para a segunda-feira, uma nova vida, conhecer novas pessoas. Gente que chegava na capital e ia lá na Tia Ciata para encontrar pares do meio. Pixinguinha e Donga, frequentavam a casa. Devia ser um “buraco quente”, como eram os lugares de blues. O blues era um negócio de gueto, foi perseguido, foi proibido. Os precursores do blues eram como cronistas da desigualdade social, do preconceito social, da pobreza. Eles cantavam no blues o que não era permitido falar no cotidiano. E é mais ou menos o que acontecia no samba, os caras tiravam sarro com a situação de ser negro. O sujeito que tem apenas uma função: servir. Pixinguinha nunca pensou que seria um dos maiores representantes do não-racismo, do que é ser universal. O samba também virou um estilo musical, mas esse samba que nos referimos como origem não poderia ser um estilo musical justamente porque vem de uma mistura de estilos. Se escutarmos música barroca, ela tem vários elementos que fazem alguém dançar. A música de câmara era usada pela elite e pela realeza como remédio, para ser tocado em uma câmara, quarto, por conjuntos pequenos, não era sinfônica. Então, por essa lógica, esse conjunto pequeno poderia ser uma banda de choro com violão, bandolim, cavaquinho e pandeiro. Assim como uma banda de pífano. Por que música câmara só pode ser um quarteto de cordas ou quinteto de sopro? Por que uma banda de pífano não pode tocar em uma câmara para alegrar uma festa? Essa é a questão do conceito e do preconceito, quando inventamos palavras e assuntos para colocar nos livros. Temos que ser cuidadosos para não deslocar algo do seu mundo. A música é um universo e dentro existem microuniversos. E esse microuniverso do samba teve origem no Rio de Janeiro, o lugar onde se gravou o primeiro “samba”. Veja só, o que é axé music? Não é um estilo, é um EVENTO com uma vocalista alucinada, trios elétricos, um grupo enorme de metais e percussão, aquele samba-reggae, samba isso, samba aquilo. É um evento. Esse sertanejo não é um estilo, é um evento. Sertanejo é esse aí que você conhece, o cara que vai lá cortar o talo do bambu para construir o pífano, que senta ali para tirar o leite da vaca e depois vai com o compadre dele cantar a moda de viola. Esses mega shows bancados pela AGROMUSIC é um evento. O samba music já teve seu momento áureo com as cervejarias patrocinando; o axé até hoje é patrocinado pelo Governo baiano; a música pernambucana é patrocinada pelo Governo estadual. A música no Rio de Janeiro não é patrocinada, mas também o Estado está com pires na mão, não paga nem os servidores e o ex-governador está preso e rico com o nosso dinheiro. Isso tudo se fala no samba. Como dizia Billy Blanco na canção Banca do destino, “Não fala com pobre, não dá mão a preto”. Branco esculhambando os brancos. As letras do blues eram doloridas de racismo, também de um amor traído, decepção de amor. Mas a maioria usava metáforas, metalinguística, falavam do coração partido mas, na real, se referiam à sociedade racista que a machucava. Todos amam a vida e a música serve para dizer tudo aquilo. A música suaviza toda a carga sentimental.

UM – Você tocará no Blue Note Rio nesta sexta-feira, 26 de janeiro, ao lado do Fernando Moura. O projeto Besouros é uma releitura dos clássicos dos The Beatles. Sei que o Sr. me achará um pagão, mas sou uma pessoa mais Rolling Stones e Beach Boys (rs)! Brincadeira à parte, o Sr. poderia falar sobre o show?

CM – Tenho essa influência Beatles por conta dos meus irmãos que ouviam em casa. Adorava aqueles caras cabeludos, brincávamos de Beatles! Depois que comecei a tocar, prestei mais atenção nas coisas mais rebuscadas em termos de arranjo, como Eleanor rigby e Blackbird. O Besouros é uma visita na obra deles que fizemos com a minha bagagem musical  e com a do Fernando moura. A ideia surgiu quando fui gravar com ele, o Fernando é um grande compositor de trilhas. Ao final ele pediu para eu gravar uma canção dos Beatles para a filha dele, Blackbird. Nessa, dei a ideia de gravarmos um disco de Beatles e ele adorou. Cada um escreveu dez músicas que gostaria de gravar, tivemos várias em comum. Fomos devagar, gravando de forma bem tranquila. Quando ficou pronto bateu aquele “E agora, como fazemos? Direito autoral, tudo muito complicado”. Mostrei para o Rafael Ramos da Deck, ele é muito amigo e gosta de tudo o que faço. Ele ouviu, pirou e nos ajudou. Logo assinamos com a Deck e lançamos em formato digital em 2017. Fizemos vários shows. E, claro, o Blue Note é um espaço muito legal na Lagoa. Já tocamos no centro e mais para o lado de lá, mas na Zona Sul será a primeira vez. Estamos ansiosos por encontrar um público formado em maior parte por moradores da Zona Sul. Lá tem um piano espetacular, o som da casa é muito bom e será de responsabilidade do João Damasceno. Tudo muito nobre. O repertório está muito bonito, Blackbird, Day Tripper e “otras cositas mas” que serão surpresas. É um desfile de timbre, eu toco sax tenor, soprano, flauta-baixo, clarinete-baixo. Apesar de ser um duo soamos como uma orquestra no palco. Estão todos convidados para essa sexta-feira (26/1) às 22:30h. Todos lá!

UM – Você falou sobre o som da casa, fui a dois show lá. Primeiro para assistir ao Toquinho solo e depois ao Tributo a Eric Clapton do Big Gilson. Dois shows completamente diferentes e com uma acústica perfeita!

CM – Tenho frequentado bastante a casa, acho que o meu show foi na inauguração do Blue Note, fomos o da segunda sessão daquela noite. Um show lindo, ao lado do Robertinho Silva e Marcos Suzano. Os donos do Blue Note falam que foi um dos melhores shows da temporada de estreia, injeção de Brasil. Voltei algumas vezes, canja com Hermeto Pascoal e com o Marcelo D2. Cara, o D2 é incrível, uma figuraça. Não tinha ideia da relação dele com a música, tão legal e respeitosa. Mais até do que muita gente que tira onda de “cabeça” e menospreza o trabalho dos rappers. Gostei demais, o Marcelo é foda! E o Blue Note é um presente para o Rio de Janeiro, como público temos que prestigiar, não deixar fechar como tantas outras casas. Padecemos desse problema, temos que fazer um workshop com São Paulo (rs). Basta frequentarmos e prestigiarmos. Músico brasileiro é bom, acredite no produto nacional. Músicos estrangeiros vêm aqui para aprender, pois já dizia a canção “chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar o seu valor, o Tio Sam tá querendo conhecer a nossa batucada”. Toquei agora em cancun com Dave Mathews e Tim Reynolds, levei um som com Bela Fleck e Antonio Sanchez. Os caras dão cabeçadas na parede! Eles piram! Toquei muito tempo com o Hermeto, com o Gil, tocando em festivais de jazz, os caras se amarram! É o nosso jazz, o nosso jeito de fazer a parada, saindo daquele batida mais tradicional, abrindo muito mais para o sentimento. Faz bem para alma, para o sentimento. Musica é isso e estou dentro!

Mais sobre o artista em:

http://www.carlosmalta.com.br/

Entrevista originalmente publicada em 24/01/2018 em https://www.colunabluesrock.com

 

Ugo Pate Medeiros – Assistiu ao filme Quase Famosos (filme de Cameron Crowe) e concluiu que a vida seria mais divertida no mundo da música. Assim, Criou e tornou-se editor do Coluna Blues Rock, responsável pelos vídeos exclusivos, contatos comerciais, produtor das festas e confraternizações do site e o responsável pela cafeteira da redação de apenas um (silêncio é sempre a melhor companhia!).
Colaborou em diversos sites e revistas impressas; cobertura in loco de festivais como o Rio das Ostras Jazz & Blues Festival e o Psicodália; pesquisador musical com ênfase na estadunidense. Licenciatura e Bacharelado em Geografia pela PUC-Rio, quando escreveu a monografia Críticas à Sociedade Norte-americana: uma leitura a partir do rock. Excelente trocador de fraldas e, nas horas vagas, um ótimo saco de pancadas no judô e no jiu-jitsu. E de tanto apanhar no tatâme, talvez para anestesiar, segue firme (e dolorido) atrás das melhores cervejas artesanais. Tem o site https://www.colunabluesrock.com desde 2007. Em 2018 se torna colunista da Rede Sina.

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“Ain’t Got No / I Got Life”  de NINA SIMONE https://redesina.com.br/aint-got-no-i-got-life-de-nina-simone/ https://redesina.com.br/aint-got-no-i-got-life-de-nina-simone/#respond Mon, 29 Jan 2018 21:29:16 +0000 http://redesina.com.br/?p=3696 Eu Não Tenho / Eu Tenho Vida Não tenho casa, não tenho sapatos Não tenho dinheiro, não tenho classe Não tenho saias, não tenho casacos Não tenho perfume, não tenho amor Não tenho fé Não tenho cultura Não tenho mãe, não tenho pai Não tenho irmão, não tenho filhos Não tenho tias, não tenho tios …

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Eu Não Tenho / Eu Tenho Vida

Não tenho casa, não tenho sapatos
Não tenho dinheiro, não tenho classe
Não tenho saias, não tenho casacos
Não tenho perfume, não tenho amor
Não tenho fé

Não tenho cultura
Não tenho mãe, não tenho pai
Não tenho irmão, não tenho filhos
Não tenho tias, não tenho tios
Não tenho amor, não tenho ideia

Não tenho país, não tenho escolaridade
Não tenho amigos, não tenho nada
Não tenho água, não tenho ar
Não tenho cigarros, não tenho um franguinho
Eu não tenho

Não tenho água
Não tenho amor
Não tenho ar
Não tenho Deus
Não tenho vinho
Não tenho dinheiro
Não tenho fé
Não tenho Deus
Não tenho amor

Então o que eu tenho?
Por que mesmo eu estou viva?
Sim, inferno
O que eu tenho
Ninguém pode tomar

Tenho o meu cabelo, tenho minha cabeça
Tenho meu cérebro, tenho minhas orelhas
Tenho meus olhos, tenho meu nariz
Tenho minha boca
Eu tenho
Eu tenho a mim mesma

Tenho meus braços, minhas mãos
Tenho minhas orelhas, minhas pernas
Tenho meus pés, e meus dedos
Tenho meu fígado
Tenho meu sangue

Eu tenho uma vida
Eu tenho vidas!

Tenho dores de cabeça, e de dente
E tenho horas ruins, assim como você

Tenho o meu cabelo, tenho minha cabeça
Tenho meu cérebro, tenho minhas orelhas
Tenho meus olhos, tenho meu nariz
Tenho minha boca
Eu tenho o meu sorriso!

Eu tenho a minha língua, meu queixo
Meu pescoço e meus seios
Meu coração, minha alma
E minhas costas
Tenho meu sexo

Tenho meus braços, minhas mãos
Meus dedos, minhas pernas
Tenho meus pés, e meus dedos
Tenho meu fígado
Tenho o meu sangue

Eu tenho vida
Eu tenho minha liberdade
Ohhh
Eu tenho a vida!

   “É uma obrigação artística refletir o meu tempo”.

– Nina Simone –

E assim começamos essa semana, traduzindo a maravilhosa Nina Simone em sua música “Ain’t Got No / I Got Life” .

Eunice Kathleen Waymon mais conhecida como Nina Simone (Tryon, 21 de fevereiro de 1933 – Carry-le-Rouet, 21 de abril de 2003) foi uma pianista, cantora, compositora e ativista pelos direitos civis dos negros norte-americanos. É bastante conhecida nos meios musicais do jazz, mas trabalhou com diversos estilos musicais na vida, como música clássica, blues, folk, R&B, gospel e pop.
O nome artístico foi adotado aos 20 anos, para que pudesse cantar blues escondida de seus pais, que não aceitavam sua opção de ser cantora, enquanto treinava para tornar-se uma pianista clássica, em bares de Nova York, Filadélfia e Atlantic City. “Nina” veio do espanhol menina e “Simone” foi uma homenagem à atriz francesa da qual era fã, Simone Signoret. Foi a sexta de oito filhos, sendo sua mãe uma ministra metodista e seu pai um marceneiro. Quando jovem foi impedida de ingressar no Instituto de Música Curtis na Filadélfia, apesar de ter cursado piano clássico no Juilliard School, em Nova York. Também se destacou por posicionar-se contra o racismo na crescente onda que tomava os Estados Unidos na década de 1960. Devido ao seu envolvimento, cantou no enterro de Martin Luther King.
Depois de fracassar na tentativa de ser uma grande concertista através do conservatório, Nina permaneceu algum tempo em Nova York até ir para Atlantic City e, nessa cidade, trabalhando como pianista em um bar, cedia aos pedidos do dono para cantar enquanto tocava piano. Adotou o nome Nina Simone, que deu início a uma carreira bem-sucedida, com hits como Feeling Good, Don’t Let Me Be Misunderstood, Ain’t Got No – I Got Life, I Wish I Knew How It Would Feel To Be Free e Here Comes The Sun, além de My Baby Just Cares For Me, que foi usado em uma propaganda televisiva para o perfume Chanel Nº 5 em 1986, que ocasionou em um relançamento da gravação e na volta de Simone às paradas musicais.
Em sua carreira, interpretou canções de diversos estilos, indo do gospel ao soul, e também compôs algumas canções. Foi uma das primeiras artistas negras a ingressar na renomada Escola de Música de Juilliard, em Nova Iorque. Sua canção Mississippi Goddamn tornou-se um hino ativista da causa negra. Fala sobre o assassinato de quatro crianças negras em uma igreja de Birmingham em 1963. Ao se apresentar em um evento militar em Forte Dix, Nova Jersey, em 1971, em plena Guerra do Vietnã, Nina Simone deu voz àqueles que eram contrários ao conflito, quando cantou um poema em que Deus é chamado de assassino, após 18 minutos de My Sweet Lord, de George Harrison.
Nina esteve duas vezes no Brasil, onde gravou “Pronta pra cantar (Ready to sing)” com Maria Bethânia em 1990. Seu último show ocorreu em 1997 no Metropolitan. A artista faleceu em sua residência, enquanto dormia, na cidade francesa de Carry-le-Rouet, em 2003, após lutar por muitos anos contra o câncer de mama.
A bipolaridade tornou a vida desta talentosa artista, inda mais complicada, cheia de altos e baixos, levando-a à abandonar os palco, algumas vezes. Isso levou a cantora a viver momentos de miséria, quando dependia da ajuda de amigos, para sobrevier. Sem contar o casamento violento, em que Nina era espancada pelo marido, um ex-policial, que gerencou sua carreira.
Esgotada pela violência, e conflitos, Nina Simone resolveu se afastar dos holofotes e deixou os Estados Unidos, em 1970. Foi viver em Barbados, depois passou um longo período na Libéria, Suíça, Holanda e França, onde acabou fixando residência.
Nina morreu enquanto dormia em Carry-le-Rouet, em 2003, após lutar por vários anos contra um câncer de mama. Mas, ainda hoje é lembrada, reconhecida, por suas lindas canções.
(fonte: wikipédia e Hebreu Negro)

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