31/01/2021 – Domingo – 22h
Lançamento virtual do livro Legítimas em Defesa de Natália Parreiras
Transmissão em:
Youtube da Rede Sina
Fanpage da Rede Sina
e nesta publicação.
LIVRO LANÇADO NA REDE SINA – LEIA AQUI:
MIOLO_LEGÍTIMAS EM DEFESA_14x21_V07 (1)
DAS DÁDIVAS DE SOBREVIVER
Se ergo os meus braços
É porque elevei aos deuses
A fúria e a paixão
Todas as vezes
Que me levaram ao chão.
Sim, eu me arrastei com a gana
Das víboras
Troquei de pele
Sangrei até o estancar das feridas
E contrariando outros espécimes
– E expectativas –
Cá estou, viva!
Como dói remexer-me
Nas cinzas…
Perceber o pouco e todo acaso
De tudo que já existi
E que antes mesmo do que agora jaz
Já existira…
Mas a minha dor é tão pequena
Ante à impossibilidade de tantas presenças já idas…
Quantos queriam ter um corpo
E ter ossos
E ser matéria livre neste mundo
Pra reencontrar um abraço!?
Se dói, meu Deus,
É porque estou lúcida a ponto
De diferenciar cada uma das sensações,
É porque conheço o bem-estar,
O prazer e o estado de cada coisa
Que me realiza.
Sim, eu ergo meus braços
E agarro o nada
Fosse meu bote salva-vidas
No deserto…
De nada eu preencho
O medo
A dor
E a lembrança da saudade
E do afeto…
– Porque ainda sou digna desta vida –
E, para não esquecer,
Eu faço versos
Assista convidados recitando a autora:
Neste domingo, dia 31, às 22h acontece o lançamento online do livro “Legitimas em Defesa” de Natalia Parreiras. A autora será entrevistada pela Melina Guterres (Mel Inquieta) em live que vai ser exibida na fan page, youtube e site da Rede Sina. O PDF do livro será disponibilizado gratuitamente após a live nesta publicação.
“Transformar dor em poesia é muito comum entre os poetas e artistas. Mas a educadora e poeta Natália Parreiras, em seu livro Legitimas em Defesa está abraçando outras causas através da literatura. Além de expressar as dores de um relacionamento abusivo, ela vem ouvindo e acolhendo as dores de muitas mulheres. Legitimas em Defesa é livro de poesias e depoimentos. Um soco do estômago mais que necessário em um Brasil com altos índices de violência contra às mulheres chegando ser o quinto do mundo em maior índice de feminício. Uma reeducação da população sobre estruturas machistas, patriarcais urge! Natália Parreiras com muita coragem empresta sua voz, experiência e poesia fazendo da literatura uma importante ação social. É com muito orgulho que convidamos a todos para o lançamento virtual na Rede Sina deste importante e necessário livro.”, afirma Melina Guterres, fundadora da Rede Sina.
Confira algumas palavras da autora:
“Viver é uma experiência”. (Osho)
Sobreviver também.
Todos somos sobreviventes, de alguma forma, sob algum aspecto, muitos de nós muito mais do que outros.
Mas é o coincidente da alma humana que nos faz enxergar além das paredes e espelhos, que atravessa e ilumina com luz natural os caminhos mais ermos e selvagens, revelando novas trilhas onde antes tudo parecia frio e inóspito.
Essa foi a sensação que tive ao me deparar com a obra da mestra em Artes, nascida no México, a latina Erika Kuhn: de alguma forma sua arte ressignificou o que era calabouço e “cala a boca” em mim e me trouxe – em imagem – a urgência da minha voz, a urgência das nossas vozes.
“Legítimos em Defesa – Poemas e mais vozes de sobrevivência”, não será um livro “palatável”, tampouco parecido com qualquer das publicações que eu já tenha feito como poeta ou escritora.
Os poemas que o compõem foram todos escritos após muitos dos episódios de violência doméstica dos quais sofri, no calor e no desespero da impotência: foram a minha reação, a minha resposta intocável, indecifrável muitas vezes.
Mas, para muito além deles, estarão as vozes de outras mulheres que assim como eu vivenciaram o inferno emocional e social que é estar em um relacionamento abusivo, e que se dispuseram a dar depoimentos reais, para fazer coro nesta luta por mais esclarecimento e menos hipocrisia, pelo reconhecimento deste problema de saúde pública tão negligenciado e com índices assustadoramente crescentes.
Não se trata de coragem quando o que está em jogo são as vidas de milhares de mulheres que sequer conseguem nomear o que vivem. E seus filhos e filhas, e seus pais e mães: toda uma descendência de omissão cega e conformada pela urgência de apenas sobreviver.
Este livro veio para dizer aquilo que somos condicionadas a silenciar, relativizar, esconder sob mangas compridas ou sorrisos estéreis, para garantir a mesa composta no jantar e a aceitação por parte de uma sociedade que há muito nos objetifica, diminui e, com aval cultural e histórico, ironicamente nos censura sem o menor pudor.
Não discorremos aqui sobre nossos agressores, ou sobre os tantos fatores que desencadeiam seu comportamento predatório, mas de aceitar que nós não podemos nos permitir a sermos suas presas. Do tanto que ainda podemos realizar quando conseguimos dar um basta e seguir em frente, mesmo que, na maioria das vezes, nos pareça impossível, mesmo que sejamos rotuladas, desacreditadas, julgadas e difamadas de forma vil e cruel por nossa ousadia em quebrar o silêncio dos que fingem nada “ver” ou “ouvir”.
A força que encontramos para sobreviver ao dia a dia do abuso será a mesma que garantirá nossa volta por cima, a redescoberta de nossa liberdade, a construção do nosso vir a ser.
Não, jamais seremos as mesmas, mas podemos ser ainda melhores, fazer da dor a reinvenção de nossos limites, podemos nos tornar mais conscientes e mais fortes, multiplicar esses saberes para que as gerações vindouras não cometam os mesmos erros, para que não temam o monstro da violência, e saibam como não alimentá-lo.
Nenhum abuso é aceitável, nenhum tipo de agressão pode ser naturalizado, e se somos nós as responsáveis por boa parte da educação de nossas crianças, precisamos começar a fazer a diferença agora, combatendo no detalhe dos gestos, educando o olhar para o reconhecimento de nossas próprias repetições.
Este livro é só mais um passo, mas os nossos pés, juntos – estou certa – serão muitos, e deixarão suas marcas para o nosso futuro.”
Saiba mais sobre NATÁLIA PARREIRAS
Nasceu em Carazinho, no Rio Grande do Sul, em 9 de Julho de 1984, mudou-se ainda criança para o Recife e mora há doze anos no Rio de Janeiro. Publicou Inverno versos (2002), Épura prosa amorosa – em 9 atos e 3 dimensões (2008), Ócio Criativo: uma poética dirigida em poemas ao acaso (2008) e O livro que não escrevi (2014). Formada em Letras pela Universidade Federal de Pernambuco, Natália encontrou como Educadora a sua maior vocação, iniciando sua carreira em sala de aula aos 19 anos. Pós-graduada em Literatura, Arte e Pensamento Contemporâneo pela PUC-Rio, especializou-se na obra do cantor e compositor Jorge Ben Jor e em seu diálogo com a filosofia medieval, mais especificamente com o legado de São Tomás de Aquino e os conceitos de Ato e Potência de teóricos contemporâneos tais como Giorgio Agamben. Durante oito anos assinou a co-curadoria e a produção executiva do Corujão da Poesia, a única vigília semanal de literatura e arte da América Latina, comandada pelo professor João Luiz de Souza e apadrinhada por Jorge Ben Jor. Idealizou o Flagrante Poético, que estimula milhares de jovens a compartilhar poesia nas redes sociais através da imagem e os premia com seus livros preferidos via correios. Em 2014 fundou o Brazil Poets Society – organização de jovens brasileiros que tem por objetivo a difusão da escrita e da leitura por intermédio do aplicativo americano Lettrs, a partir do qual co-organizou o livro Poetguese: a utopia por um mundo de palavras (2014), em edição bilíngue – inglês/português, que reúne poemas de 84 jovens de 16 estados brasileiros e que foi impresso em Nova York. Em 2020, nos primeiros meses de lockdown, na tentativa de amenizar os efeitos do isolamento, reuniu-se virtualmente com alguns de seus ex-alunos para revisitarem suas produções do ano letivo anterior. Desse encontro surgiu a Sociedade dos Poetas Novos ou SPN – Somos Nós – coletivo afetivo-artístico e poético que hoje reúne 64 corações de diversas faixas etárias, perfis, credos, dificuldade e habilidades artísticas. A SPN tem como principio estimular de maneira afetiva, espontânea e natural, a busca coletiva pela prática contínua em acessar as próprias emoções e conhecer-se através das próprias criações, habilidades e entraves, bem como conviver e assimilar a necessidade de uma sociedade mais justa e inclusiva. Além do lançamento virtual com download gratuito de “Legítimas em defesa” que acontece hoje em parceria com a Rede Sina, esta em fase de revisão final de sua próxima publicação “Quinta Estação” – Antlogia poética que reúne os 23 anos de poesia da autora além de um mais de 200 poemas inéditos escritos entre 2010 e 2018. Atualmente, Natália divide-se entre as atividades da SPN, o aprofundamento de sua pesquisa acadêmica sobre a “Potência do Ser”, suas publicações de poesia, a tríade “diálogo- reconhecimento-enfrentamento” de toda e qualquer violência praticada contra mulheres cis-gênero ou não, sem abandonar a sua maior paixão: Lecionar Língua Portuguesa, Literatura e Redação para jovens entre 12 e 18 anos.
Confira um depoimento publicado no livro:
A.S.
Estudante
26 anos
“A minha história de terror começa numa noite com as amigas. Estávamos no show da bandinha da cidade até que meu agressor aparece: lindo, educado, com um jeito de falar que chama atenção. Ele era um colega do meu irmão que vi umas duas vezes na vida, mas compartilhávamos redes sociais. Fim de noite, chego em casa e já tinha uma mensagem “preocupada” dele perguntando se eu tinha chegado bem, olhei aquilo e pensei o quanto esse homem era atencioso. Começamos uma conversa longa, ele dizia que parecia que me conhecia desde o dia que nasceu, tínhamos muitas coisas em comum. Passando os dias começamos a sair, ele dizia que queria namorar, que já me amava. Tudo muito rápido… Mas, afinal, a vida é curta para não aproveitar um amor intenso, não é mesmo? Começamos um namoro feliz, cheio de carinho e parceria, até que decidimos ir numa festa e nesse dia começa a segunda fase da minha história. Eu estava dançando com minha irmã, sinto um puxão no braço, quando olho me deparo com meu agressor bêbado pedindo pra gente ir para casa dele. Chegando na casa ele dispara: “Você estava dançando igual uma puta”. Nesse momento meu corpo gelou! Fiquei parada sem entender, “como assim”? Nunca fui chamada de nada parecido a minha vida toda, me senti ofendida demais. Falei pra ele parar com essas calúnias. Nessa hora ele começou a gritar: ”Você é uma puta”. A raiva tomou meus sentidos e dei um tapa no meu namorado na esperança de aliviar minha dor e reparar minha dignidade, ele me levou para o quarto e me empurrou com muita força, caí na beirada da cama chorando. Eu fui pra casa, no outro dia ele me liga em prantos, dizendo que só fez aquilo porque eu dei um tapa antes e a bebida subiu nossas cabeças. Eu, me sentindo profundamente culpada pelo tapa, acabei reatando o namoro. Ele voltou a ser aquele homem gentil, amável, conheceu minha família, todos gostavam dele. Ele começou a implicar com minha roupa, dizia que longe dele não queria que eu vestisse roupas curtas. Eu achava até engraçado: um ciúme bobo que, com o tempo e a confiança, ia diminuir. Depois, começou a se estender para as ligações: era briga feia toda vez que ele ligava e eu não atendia, briga cheia de agressão verbal e gritos histéricos da parte dele. Depois isso tudo se agravou, ele podia sair com as amigas e eu não podia sair com meus amigos. Qualquer coisa que eu fizesse que desagradasse o agressor era soco na parede, gritos bem perto do meu rosto, pegava no meu braço. Nunca aguentei calada o que gerava mais raiva da parte dele. Até que percebi que eu sentia medo do meu namorado e terminei. Nesse momento ele chorou, ameaçou se matar, disse que ele ia se controlar, que só fazia isso porque me amava muito. Eu voltei a namorar e ele retomou a personalidade amorosa e, mais tarde, as brigas começavam novamente. Eu percebi que estava participando de um ciclo que nunca ia mudar, terminei mais uma vez, decidida a acabar de vez com essa relação exaustiva. Ele disse que ia se matar e me matar. Ele me ligava inúmeras vezes pedindo pra voltar, apareceu na minha casa chorando. Eu estava com medo dele, não colocava o pé na rua, não postava minha localização nas redes sociais e faltei algumas aulas da faculdade com medo das ameaças. Decidi contar para os meus pais com muita angústia, só quem foi criada em família conservadora sabe como é difícil. Meus pais disseram que eu não fui criada para passar esse tipo de coisa, que eu devia ter contado antes, ficaram preocupados com minha imagem e minha segurança, foi um susto pra eles. Depois disso, eles me apoiaram e ficavam tentando entender como aquele menino bom, esforçado e simpático tinha feito tais coisas. A ex–mulher do meu agressor foi um anjo e me fez entender que eu estava passando por um relacionamento abusivo, foi a força que eu precisava para “digerir” toda essa situação. Mulher, ajude outra mulher! Não fique calada diante de uma agressão. Se proteja, mas não se omita. Pra você que está num relacionamento abusivo: ele não vai melhorar, procure ajuda, fale com pessoas próximas. Não seja a próxima vítima!”
Confira publicações da autora na Rede Sina:
A Imaterialidade e o Estofo Filosófico Aquiniano na Obra de Jorge Ben Jor* por NATÁLIA PARREIRAS
A Imaterialidade e o Estofo Filosófico Aquiniano na Obra de Jorge Ben Jor* por NATÁLIA PARREIRAS
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