Em Santa Maria-RS, diferentes representações da cidade se mobilizaram para emitir notas de repúdio às falas do médico Eduardo Rolim, até então comentarista do programa Sala de Debate no Diário de Santa Maria. Os polêmicos comentários do médico ocorreram no último dia 27 de abril, e foi motivo de grande repercussão nas redes sociais. Durante o debate do tema estupro, numa mesa majoritariamente masculina – apenas uma mulher participava do programa – o médico fez referência a jogadores de futebol acusados de praticar tal violência. Para ele as vítimas poderiam ser algozes, “elas poderiam estar estuprando eles”. E justificou com base no conhecimento médico do processo muscular do corpo da mulher, alegando que “a força de um homem não consegue abrir as pernas de uma mulher que esteja contraída”. Um fato que sensibilizou muitos foi o visivel constrangimento da única mulher presente, a advogada Ingrid Fucks, que anteriormente a tais comentários já havia discorrido sobre cultura do estupro, dito que “estupro é tortura e arma de guerra”. Após os polêmicos comentários, a advogada ainda enfatizou que o médico estava justificando o estupro. Ele discordou. O mediador do programa, Claudemir Pereira, chegou a dizer que o médico estava constrangendo a todos e leu comentários de repúdio de espectadores que assistiam o programa ao vivo. Com a grande repercussão negativa do debate, o veículo emitiu comunicado que Eduardo Rolim não participaria mais dos programas. Frente aos fatos um grupo de mulheres e entidades se organizaram na construção de uma nota de repúdio coletiva, cobrando inclusive uma posição do Conselho de Medicina sobre o fato. A nota foi lida na quinta-feira, dia 4, às 15h, em Tribuna Livre da Câmara de Vereadores, espaço cedido pela FEGAMEC (Federação Gaúcha de Associações de Moradores e Entidades Comunitárias), e oficialmente lançada. Veja alguns trechos do debate que gerou a polêmica: GALERIA DE FOTOS: Leitura: Veja a sessão: Leia a nota aqui: (clique para rolar paginação) NOTA DE REPÚDIO À FALA DO MÉDICO EDUARDO ROLIM SOBRE ESTUPRO “ESTUPRO É TORTURA” – Ingrid Fuchs O Brasil é o quinto país do mundo que mais mata mulheres. Um estupro ocorre em nosso país a cada 2 minutos. São 822 mil casos de estupro a cada ano! Nós, mulheres de vários segmentos culturais e sociais integrantes das entidades que assinam esta carta, juntamente com nossos apoiadores, viemos à público manifestar completo repúdio ao ocorrido no Programa Sala de Debate da RÁDIO CDN, do Grupo Diário de Santa Maria, no dia 27 de abril de 2023. Neste, o comentarista e médico aposentado Eduardo Rolim, fazendo uso de seu título, afirmou que o crime de estupro nem sempre se configura, pois, a vítima “teria condições físico-musculares de o impedir”. Rolim fez, inclusive, uma referência infeliz ao sistema muscular: “A força de um homem não consegue abrir as pernas de uma mulher que esteja contraída”. Entre outras de suas alegações estão: “Uma coisa que gostaria de comentar em relação ao estupro, é que essas personalidades que estão em evidências, elas são assediadas pelas mulheres que vem e depois os acusam de estupro, quando na verdade é o contrário, elas é que tentaram ou estupraram”. O caso comentado era de um estupro coletivo perpetrado por 4 jogadores do futebol brasileiro contra uma menina suíça que então contava com 13 anos. São esses 4 homens que, na possibilidade aventada por Rolim, foram estuprados por uma criança de 13 anos! Vale destacar que na bancada estava a advogada Dra. Ingrid Fuchs, única mulher participante, a qual ficou claramente constrangida pela situação, uma vez que o ambiente foi permissivo com a fala do médico e o âncora não interrompeu a tempo a fala violenta do médico. Anteriormente a advogada havia trazido à tona o fato de que além de crime, o estupro é também reconhecido como forma de tortura e arma de guerra, o seu direito à fala não foi garantido por completo, sendo a mesma interrompida pelo mediador. Durante o programa, os debatedores advertiram da normalização da violência contra a mulher, trouxeram considerações importantes e relevantes sobre a cultura do estupro, uma vez que diversas considerações feitas pelo médico eram dissociadas da realidade e daquilo que moralmente se espera de qualquer ser humano, e reafirmaram: a vítima não pode ser jamais culpabilizada e imputada à ela responsabilidade em nenhum aspecto. A grave situação descrita acima merece o nosso repúdio e nossa veemente e intransigente defesa dos direitos e da dignidade de quaisquer mulheres, crianças, pessoas do espectro LGBTQIAPN+ e mesmo homens que tenham sido vítimas de violência sexual. No dia 28 de abril, a crescente mobilização de mulheres e entidades, de forma individual e coletiva, levou o Grupo Diário a emitir notas sucessivas. Primeiro, defendendo a “liberdade de expressão” e emitindo posicionamento contra a fala de seu comentarista. E, por fim, notificando ao público que o sr. Eduardo Rolim foi afastado de suas atividades como comentarista. Contudo, a emissora agradeceu pelos anos de atuação junto ao canal de comunicação, sem dizer nenhuma palavra de desculpas a sua convidada Ingrid Fuchs. Finalmente, em uma última nota, veio o pedido de desculpas a ela e a outras mulheres que “se sentiram ofendidas”. Porém, não se trata de ofensa ou de excesso de sensibilidade, entrando na terceira década do século XXI, já não é admissível que meios de comunicação, quaisquer deles, aceitem e tolerem veicular falas que violentam e incitam a violência por sua negação ou relativização. Muito embora se possa alegar que espaços, como o programa Sala de Debate, são popularmente interessantes porque dão lugar ao contraditório, é preciso que a imprensa mantenha seu compromisso com a informação correta, não incite a violência e nada que fira a dignidade humana. O Grupo Diário é uma empresa privada que oferece serviços à comunidade. Alguns desses serviços, como a rádio CDN, são de concessão pública; devendo, portanto, garantir informações de qualidade e o cumprimento da lei. Nesse sentido, é importante que a empresa reveja e adeque suas regras de participação em seus programas, pois essas … Continue lendo Entidades organizam nota coletiva de repúdio à polêmica fala de médico sobre estupro durante programa ao vivo em Santa Maria
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