Luiz Alberto Sanz, Autor em Rede Sina https://redesina.com.br/author/luiz/ Comunicação fora do padrão Fri, 25 Oct 2019 00:39:42 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=6.4.4 https://redesina.com.br/wp-content/uploads/2016/02/cropped-LOGO-SINA-V4-01-32x32.jpg Luiz Alberto Sanz, Autor em Rede Sina https://redesina.com.br/author/luiz/ 32 32 Maria Augusta, mãe de todos nós https://redesina.com.br/mariaaugusta-mae-de-todos-nos/ https://redesina.com.br/mariaaugusta-mae-de-todos-nos/#respond Sat, 15 Dec 2018 03:57:51 +0000 http://redesina.com.br/?p=5636 (☼12/12/1924, em Atafona, Campos, RJ, † 05/06/2001 no Rio de Janeiro, RJ) Luiz Alberto Sanz Dezembro, em nossa enorme família cheia de sobrenomes diversos, é um mês que associa lembranças prazerosas com a dor da perda num único sentimento: Saudade. No dia primeiro, em 1996, faleceu Luiza; 90 anos antes,  dia 07, nascera em Santa …

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A Dama de Ébano e o Barata Descascada. Foto de José Sanz.
(☼12/12/1924, em Atafona, Campos, RJ, † 05/06/2001 no Rio de Janeiro, RJ)
Luiz Alberto Sanz

Dezembro, em nossa enorme família cheia de sobrenomes diversos, é um mês que associa lembranças prazerosas com a dor da perda num único sentimento: Saudade. No dia primeiro, em 1996, faleceu Luiza; 90 anos antes,  dia 07, nascera em Santa Maria da Boca do Monte seu irmão mais velho, o jornalista Barreto Leite Filho, saudado por figuras de destaque da vida gaúcha; em 1924, dia 12, vira a luz em Atafona, no Norte Fluminense, Maria Augusta Correia dos Santos, a mãe afetiva e sempre presente de todas as gerações que se seguiram; aos 18 de dezembro de 1933 nascera a matriarca rebelde Duddu Barreto Leite; a José Sanz, multifacetado arquivista de sombras, tradutor, especialista em Ficção científica e contador de histórias, coube o dia 21 em 1987 para morrer. Encerrando o mês, nasceu em 1962, no ramo dos Sanz, Azaury de Alencastro Graça Jr. que vai em frente, sempre com muita iniciativa. Estas histórias serão contadas, mas não hoje, porque, como diz Antonio Machado: no hay camino, se hace camino al andar.

Agora é tempo de falar de Maria Augusta, Mãe Maria, Iá, que acalentou em seus braços pelo menos três gerações de filhos que não pariu. Contava minha mãe Luiza que ao me ver recém-nascido, aquela mulher negra bela e esbelta, que só andava bem penteada e de unhas feitas – embora cozinhasse, limpasse, lavasse e passasse, além de ajudar a cuidar de minha irmã e meu irmão mais velhos enquanto a patroa se virava em no mínimo três empregos – exclamou: “Mas que menino mais feio!”. Pois a guerreira de ébano e o roliço e careca “barata descascada” se amaram pela vida toda e fui o preferido até que surgissem um outro branquela espaçoso e uma negrinha linda de morrer e espevitada a mais não poder, Mário Sergio Sanz de Oliveira e Jussara Araújo, a Sassá. Foi Mário Sergio, o Mario Oliveira das redes sociais, que passou a chamá-la de Iá. Sem nunca imaginar que, em iorubá, IYÁ é MÃE.

Minha avó, Dona Gonçalina Corrêa de Azevedo, aristocrata falida dos pampas, não era fácil. Mamãe dizia: “Não parava empregada lá em casa”. Então, quando Maria Augusta chegou para a entrevista de emprego, ou para começar a trabalhar, sei lá, Luiza olhou para seus cabelos e suas unhas longas e pintadas de vermelho e pensou: “Esta não dura uma semana”. Pois durou mais de 54 anos, até que Luiza morresse e ela fosse morar em Bangu com Delvira, Sassá e Lulu (Maria Luiza, em homenagem às duas), filha e netas desse coração grande cuja prole foi gerada por outras, mas criada por ela.

No percurso até sua morte, em 05 de junho de 2001, nossa Iyá nos mostrou um mundo que, talvez, nunca chegaríamos a conhecer sem ela, que morava no Morro da Formiga com seu marido, Hernandes dos Santos, trocador de ônibus e malandro de fé nas horas vagas. Ela abriu o barraco para nos receber em muitas ocasiões, quando Luiza tinha compromissos profissionais nos fins-de-semana e ela precisava gozar das folgas cuidando de nós e de Hernandes, que adoecera. Muitas vezes, um ou dois de nós ficávamos na casa da Tia Nenita e da Vó Isaura, irmã e mãe do Zé Sanz, meu pai, que moravam na Rua Uruguay, pertinho do Morro. Na vila pegada, outra tia, Enilda, avó da nossa querida Claudia Vals, ativa defensora dos gatos e inimiga dos fascistas nas redes sociais.

Em meio a minhas vagas memórias, lembro das idas a Ricardo de Albuquerque e Oswaldo Cruz, onde a tia que a criou e a seus irmãos Adahil, Batista, Didi e mais um cujo nome já não lembro. Acho que era o mais velho; pelo menos, como Adahil, o mais circunspecto. Outro dia ainda ficamos, com Sandra, minha irmã, recordando nossas aventuras pelos subúrbios que, nos anos 40/50 ainda não eram superpopulosos. Tia Antônia morou em duas casas de barro que pareciam pequenos sítios, com árvores e horta. Pelo menos é o que minha imaginação reconstrói. Mas concordamos em duas coisas: era longe e, em um dos “sítios”, havia uma mangueira na entrada do terreno em que eu e Sergio subíamos. Uma realidade de pobreza digna, afetuosa, de gente trabalhadora que nos amava como de sua família. Nessa época, só conhecemos outra roça em Vera Cruz, para onde Dona Henriette Amado nos convidou a passar uns dias. Mas era outra realidade. Um sítio com diferentes criações, maior extensão de terra, um lago para os patos e empregados que cuidavam de tudo, até de nós, para que não fizéssemos alguma sandice.

Mãe Maria tinha que cuidar de nós três nessas excursões à pobreza, o que não era fácil. De uma feita, quando íamos embarcar no trem da Central, no começo da linha, eu fiquei para trás e ela teve que me buscar. O Sergio já tinha embarcado, a porta se fechou e lá ficamos. Mãe Maria, Sandra e eu. Ela quase enlouqueceu. Mas Sergio, como a Sandra diz, era “danado”, cheio de iniciativa. Quem o conhece sabe disso. Tínhamos a esperança de que ele saltasse na próxima estação, Mangueira, a Estação Primeira, e esperasse para embarcar no mesmo vagão que a gente. Nada. A cada parada ela ficava mais angustiada. Decidiu ir até à casa de Tia Antônia e deixar a gente lá, para sair em busca do guri. Surpresa, alívio! Sergio já tinha chegado, por conta própria. Lembrava o caminho e não perdera a confiança. Mas as histórias de Sergio serão contadas no momento certo.

Mãe Maria não nos revelou apenas a vida nos morros e na roça, na escola de samba e nas festas juninas populares. Nos levava à feira, aos açougues e quitandas, a leiteria da CCPL do Catete, que pertencia ao goleiro Castilho do Fluminense. Nós conhecíamos leiteiros, padeiros, jornaleiros, sapateiros-remendões, cortávamos cabelo no Bené, cuja barbearia ficava na Marquês de Abrantes, em uma das subidas para o Morro Azul. Tudo sob a supervisão da amada Mãe Maria, que, aos poucos foi deixando de ser esbelta, sobretudo depois que seu querido Hernandes morreu. Deixou de ir à gafieira, aos ensaios da escola de samba do Morro da Formiga e passou a dedicar-se inteiramente a nossa família, mudando-se para nosso apartamento no Edifício dos Bancários da Rua Senador Vergueiro 200, onde já tinha um quarto.

Ela cozinhava como ninguém, embora não fosse banqueteira fina como Adahil, que trabalhava para um amigo da família, o Dr. Edmar Terra Blois, que recebia diplomatas e políticos que se maravilhavam com o refinamento dos pratos criados pela irmã de Mãe Maria, que permaneceu delgada até morrer. Nossa Yiá também tinha seus refinamentos, sobretudo no modo de fazer. Aprendeu alguns pratos com Dona Gonçalina, como uma gelatina que tinha duas cores e uma rosa branca natural no meio; uma rosa de massa folhada com coquetel de camarão no alto; minha sobremesa preferida, que nunca mais comi: Rei Alberto, creme de ameixa e gelatina, que o menino guloso achava ter o nome em sua homenagem. No entanto, os pratos preferidos de todos, afamados entre os que frequentaram o apartamento de Luiza Barreto Leite, eram o prodigioso picadinho de carne cortado à faca em pedaços minúsculos, com azeitona e ovo cozido, feito em quantidade para dezenas de moradores e convidados; o strogonoff de carne com molho de champignons que deu até briga entre dois netos ávidos pelas últimas porções e a carne assada ao molho ferrugem cuja receita herdamos Sandra, minha mulher Didi, eu e Sergio. Mas, confesso, jamais consegui igualar as de minha vida toda com ela. Didi e Sandra chegaram muito perto.

O mais incrível é que isso tudo, ao mesmo tempo, era servido um domingo sim e o outro também, acompanhado de arroz branco, salada de maionese e farofa divinos. E as sobremesas? Além do Rei Alberto, havia o Quindão, as queijadinhas, o pudim de claras, o pudim de leite. Coisas comuns? Não com aquele gosto. Perguntem pra família, pra Graciela Rodrigues, pro Idibal Pivetta, pra Carla Silva, pra Léa Maria Aarão Reis, pro José Ribamar Neves, pra Arlette Neves, pra Fernanda Gurjan e pra Mavia Zettel.

Mas, para mim, a pièce de resistence de nossa existência está nos longos momentos em que passei ao seu lado, ouvindo a Rádio Nacional ou a Mayrink Veiga, que ela me ensinou a amar, torcendo pelo América, que acabei traindo quando entrei para a tropa de lobinhos do Fluminense e a aprender natação por lá e não resisti à pressão para virar-a-casaca; lendo e anotando receitas para ela e, sobretudo, quando me ajudava a fazer os deveres escolares, ensinando-me a raciocinar, usando a lógica, discutindo palavras e construções dos textos que eu escrevia. Ela, que nasceu, cresceu e morreu analfabeta foi sem dúvida, a pessoa mais sábia que conheci. E me ensinou pelo exemplo o que é respeito e consciência étnica e de classe.

Sua dignidade impressionou até o sargento do grupo de busca da 2ª Seção do I Exército, (mais tarde se tornaria o núcleo principal do DOI-CODI no Rio), que foi revistar o apartamento de Luiza à minha procura. Negro como ela, recebeu ordem do capitão branco e arrogante para revolver seu quarto em busca de documentos e outras provas. Ele olhou para nossa Iyá e lhe disse, em voz baixa: “fique calma, vou demorar um pouco aqui e se alguém lhe perguntar, diga que revistei o quarto”. Alguns minutos depois, reportou a seu comandante que não tinha achado nada. Na verdade, todos os documentos comprometedores da casa estavam lá. Levaram alguns livros da estante da sala. O que mais lhes chamou a atenção foi um sobre a Revolução Chinesa escrito pelo general fascista Chiang Kai-shek, Presidente da China Nacionalista. E prenderam meu irmão, para servir de refém, na esperança de que eu me entregasse.

Luiza contava que Mãe Maria não perdeu a tranquilidade em qualquer momento, mantendo as mesmas fleuma e sisudez que demonstra na maior parte das fotos em que aparece. Sãos raros os momentos em que permitia que lhe registrassem um sorriso carinhoso. Seu carinho trazia um tempero de “respeito é bom e eu gosto”. Acho que só o marido de Sandra, Tião, e seu filho Mario Sergio se permitiam fazer brincadeiras com ela. Para este último, nos últimos anos, ela preparava o picadinho famoso com batatas chips (outra especialidade) excepcionalmente crocantes e servia escondido. Já não aguentava picar carne para um batalhão. Isto provocava motins indignados, com ameaças à integridade do rapazote.

O intelectual que me tornei devo sobretudo a essas duas mulheres, a analfabeta, negra, favelada, culta e elegante Maria Augusta Correia dos Santos, Mãe Maria, Iá ou Iyá, e a letrada, branca, descendente da aristocracia falida dos pampas, culta e elegantérrima Luiza Barreto Leite. Nos últimos anos de vida de Luiza fizemos no seu apartamento uma homenagem aos 50 anos que passaram juntas, cada uma e seu ofício e maneira de ser, educando gerações. Foi emocionante.

Mãe Maria, no que seria seu aniversário de número 94, declaro, mais uma

Mãe Maria e seus filhos Delvira, Sandra, Luiz Alberto, Sergio, Duddu e Vera

vez, meu amor edipiano e agradeço tudo que você fez por mim e por nós, abrindo mão de muitas coisas e transformando a nossa vida, de todos nós, na sua vida. E transformando-nos no processo.

Evoé!!!!!

 

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Eleição é uma questão tática – LUIZ ALBERTO SANZ https://redesina.com.br/eleicao-e-uma-questaotatica/ https://redesina.com.br/eleicao-e-uma-questaotatica/#respond Sun, 21 Oct 2018 03:39:17 +0000 http://redesina.com.br/?p=5420 às urnas, em defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores Luiz Alberto Sanz Com o respeito inabalável que dedico a todos os camaradas que têm a coragem de assumir-se como libertários e/ou anarquistas, mergulhando nas tarefas cotidianas de mudar o mundo mesmo que saibamos que a maior parte de nós não o verá mudado, …

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às urnas, em defesa da democracia e dos direitos dos trabalhadores

Luiz Alberto Sanz

Com o respeito inabalável que dedico a todos os camaradas que têm a coragem de assumir-se como libertários e/ou anarquistas, mergulhando nas tarefas cotidianas de mudar o mundo mesmo que saibamos que a maior parte de nós não o verá mudado, argumento que estamos tomando por estratégica uma palavra de ordem tática. Nem sempre os anarquistas se abstiveram ou anularam seus votos. Em 1936, no Estado Espanhol, os anarquistas foram às urnas em apoio à Frente Popular, da qual não faziam parte, para impedir a vitória eleitoral do fascismo. Este ano, os libertários mexicanos reunidos em torno do EZLN e do Conselho Nacional Indígena lançaram à Presidência da República a médica tradicional do povo nahua María de Jesús Patrício Martínez, porta-voz do Conselho Indígena de Governo. O objetivo? Deixar claro o caráter enganador das eleições gerais mexicanas e a independência do movimento indígena ante os conluios eleitorais.

Penso que estamos em uma situação semelhante à vivida no Estado Espanhol na que foi a última eleição da II República. A Frente Popular não era muito diferente do que é a aliança em torno a #FernandoHaddad e a Frente Nacional de Gil Robles tampouco diferia muito do que é o amontoado direitista de Bolsonaro. Em lugar do clero católico encabeçado pela Opus Dei, temos os neopentecostais.

Eu me abstive no primeiro turno, coerente com a convicção de que deveria ficar patente que a rejeição é tão grande que torna ilegítima a vitória de qualquer das partes. Neste segundo turno, frente à possibilidade de vitória eleitoral dos fascistas e a ameaça de golpe implícita no decreto do General Etchegoyen assinado pelo sr. Michel Temer,

votarei #contraofascismo

votarei #Haddad,

sem que isto signifique que apoio sua política, seu partido e seus aliados. E convido a todos que prefiram lutar em liberdade por uma sociedade mais justa para que se somem à

#ResistênciaAntifascista

#bolsonaronão

Teatro de fantoches

Escrevo este artigo ainda sob o impacto do decreto que ressuscita o DOI-CODI, agora com o nome pomposo de Força-Tarefa de Inteligência para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil. Foi emitido no dia 15, na surdina, pelo atual desgoverno, cuja persona mais forte, e que vai coordenar o “novo” órgão centralizador da repressão, é o General Sergio Etchegoyen, que o assina juntamente com o “Presidente” Michel Temer.

É a mais importante novidade do quadro político no Brasil, embora já houvesse pistas de que poderia acontecer. Mas não percebo reação significativa das forças antifascistas e democráticas, nem mesmo dos grupamentos envolvidos no embate eleitoral. A mais consistente veio do jornalista Luís Nassif, no GGN, no dia 17, em artigo que terminava com a frase: “Bem-vindos de volta ao inferno!” Compartilhada a informação nas redes sociais, houve uma resposta considerável, porém as duas campanhas, que eu saiba, ficaram caladas.

No mesmo dia 17 (ainda não lera a coluna do Nassif), compartilhei o texto do decreto no Face Book e no G+, dizendo:

Renasce, por decreto, o DOI-CODI, agora com o nome pomposo de Força-Tarefa de Inteligência para o enfrentamento ao crime organizado no Brasil. (…) Nem esperaram o resultado da eleição, ainda indefinida. Querem deixar lastro para que as ações repressivas não tenham que passar por um Presidente Civil. O poder, desde já, está nas mãos do General Etchegoyen, filho e neto dos generais Etchegoyen de má memória. Confirma-se a condição de fantoche do senhor Michel Temer. A mão que o manipula tem punho de ferro.

Comentando a preocupação de uma colega quanto ao conteúdo do decreto, na mesma postagem, escrevi:

Sim, amiga! Os generais preparam-se para intervir, penso eu, qualquer que seja o resultado. É impensável para eles servirem sob as ordens de um petista em um país dividido. Mas também é impensável servir sob as ordens de um capitão, conhecido na tropa como “bunda suja” e que foi dispensado, enviado para a reforma, aos 32 anos por insubordinação e outras violações do Regimento Disciplinar do Exército, o famoso RDE.

Silêncio ruidoso

É preocupante o silêncio do PT e de seu candidato a respeito das consequências deste documento que Nassif e outros colegas da Imprensa chamaram de preparação para o Ato Institucional Nº 1 “do novo regime”.

Que a campanha da extrema direita não se pronuncie, é natural. Seus membros pensam que essa Força-Tarefa os fortalecerá, que o General Etchegoyen e seus pares se submeterão ao capitão insubordinado. Algo semelhante pensaram os articuladores do golpe no Chile em 1973. Em suas comunicações internas chamavam Pinochet de Chapeuzinho Vermelho (é melhor do que “Bunda Suja”). Acabaram engolidos pela “menininha ingênua” que se mostrou um ditador voraz.

Esquecem os bolsonaristas e seus estrategos que a seus atos de campanha, organização de milícias, agressões orquestradas contra seus adversários, postagens nas redes sociais de apoiadores empunhando armas, caem como uma luva as caracterizações de formação de quadrilha e crime organizado, embora o decreto tenha como alvo principal os movimentos sociais e agrupamentos de esquerda e libertários. Seu candidato não conseguiu formar-se na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais. Os generais da ativa (não os generais de brigada reformados, que chegaram ao posto graças à aposentadoria) cursaram a Escola Superior de Guerra, a famosa “Sorbonne”, na qual foram gestados o golpe de 1964 e os Governos da Ditadura.

Lá estudaram, entre outras coisas, a ascensão e queda do nazismo e do fascismo italiano. Puderam investigar as consequências nefastas, para a aristocracia militar alemã, de alinhar-se a um regime comandado por um cabo do Exército desqualificado e transformado em mito por hábeis intelectuais pequeno-burgueses especialistas em manipulação das massas e por intelectuais orgânicos do lumpesinato que recrutaram a bandidagem, os descontentes com a situação econômica e social do país e todos os tipos de aventureiros para organizá-los em suas milícias, as SA e as SS e na GESTAPO. As SS, logo, foram transformadas em tropa de elite, com poder maior que o das forças armadas regulares, inclusive seus comandantes. Quando os generais perceberam que não poderiam manipular o cabo, era tarde demais. Estavam enfiados até o pescoço em uma guerra que não podiam vencer.

Abandono e desilusão

As esquerdas, incluídos os libertários (por menos que gostem disto), costumam subestimar seus adversários ou escolher errado seus rivais. Preferem brigar entre elas, em busca da hegemonia. A situação atual reflete tais vícios. Há uma surpresa geral com o crescimento da opção pela extrema direita, apesar de ser tendência mundial.

Os socialdemocratas (PT, PDT) perderam décadas dedicando-se a alcançar o poder governamental, fortalecer seus partidos e expandir suas bases eleitorais. Chegando ao governo, cooptaram os melhores quadros “de massa”, aqueles enraizados nos locais de trabalho, moradia e estudo para ocuparem postos nas burocracias governamentais, parlamentares e judiciais. E neutralizaram a ação dos sindicatos, convencidos de que os movimentos sociais que se enfrentassem ao Governo socialdemocrata estariam servindo aos inimigos de classe. Confundiram classe com partido e partido com Governo, repetindo erros históricos que remetem, pelo menos, à Revolução Francesa.

Deixaram um vazio que veio a ser ocupado pelos dissidentes de suas próprias organizações, por milicianos egressos das forças policiais, pelo lumpesinato armado com fuzis e entorpecentes e estruturado segundo normas aprendidas no convívio com presos políticos nos “anos de chumbo”, e também pelos pastores e “obreiros” neopentecostais. Todos oferecendo algum tipo de fé, conforto, agonia.

Quando a política econômica e social do que seria o Governo da Classe Trabalhadora encontrou uma crise no caminho, em parte provocada por seus verdadeiros adversários, o capital financeiro, que enriquecera ainda mais durante sua gestão, as massas começaram a abandoná-los, desestimuladas, percebendo que, à maneira de Getúlio, o Governo era o pai dos pobres, mas a mãe dos ricos. Como resposta, os governantes abriram novas negociações com aqueles que estavam agindo para derrubá-los. Foram perdendo os “aliados”, que pediam mais e não cumpriam o combinado. E o povo, principal beneficiado pelas políticas sociais, também se foi, desencantado ao descobrir que o que lhe fora concedido, dando-lhe esperança, não fora conquistado e se esvaía como fumaça e percebeu estar sem interlocutores que o ajudassem a entender o quadro confuso.

Não-voto e rejeição do estado

Os libertários, em particular os anarquistas, não abandonaram as bases, continuaram a organizar os trabalhadores e trabalhadoras, estudantes e famílias, moradores e moradoras e os sem teto. E com eles fundam e mantêm creches, escolas, bibliotecas e centros sociais. Em geral, sem abrir mão das convicções sobre o papel ilusionista e enganador da chamada democracia representativa e das eleições como estratégia transformadora da sociedade.

As palavras de ordem Abstenção e Voto Nulo tiveram, nas duas últimas eleições, uma repercussão talvez só equivalente à das eleições de 1974, em que mais de 50% dos alistados se abstiveram ou votaram nulo ou em branco. No entanto, eu me permito afirmar, sem comprovação, que essa estatística não representa uma adesão da maioria dos que se abstiveram, anularam ou comprimiram o botão da indiferença ao não-voto consciente.

A maior parte das pessoas que conheço que adotaram o não-voto não rejeitam o estado ou a sociedade. Rejeitam os partidos na medida em que os interpretam como ratatulhas, ajuntamentos de pessoas reles, infames, moral ou socialmente desprezíveis. Mas, na sua desesperança, ainda esperam que surja alguém em quem possam confiar. Precisamos mostrar-lhes que só podem confiar em si mesmos, em sua retidão, em seu compromisso com sua classe e seus iguais. Que o caminho está na democracia direta, na horizontalidade das decisões, no federalismo comunitário.

Saudações libertárias! Saudações democráticas!

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José Louzeiro, sempre do outro lado da linha do trem POR LUIZ ALBERTO SANZ https://redesina.com.br/jose-louzeiro-sempre-do-outro-lado-da-linha-do-trem/ https://redesina.com.br/jose-louzeiro-sempre-do-outro-lado-da-linha-do-trem/#respond Sat, 30 Dec 2017 00:46:16 +0000 http://redesina.com.br/?p=3619 por Luiz Alberto Sanz                                                                               #Niterói Morreu hoje, aos 85 anos, o companheiro José Louzeiro. Respeitávamos-nos, acima das divergências, secundárias, que sempre podem existir. Sinto sua morte e, é claro, a falta que farão suas sinceridade, perspicácia e pertinácia e o enorme talento que marcaram sua vida. Dei uma rápida olhada no noticiário da Internet …

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por Luiz Alberto Sanz

                                                                              #Niterói

Morreu hoje, aos 85 anos, o companheiro José Louzeiro. Respeitávamos-nos, acima das divergências, secundárias, que sempre podem existir. Sinto sua morte e, é claro, a falta que farão suas sinceridade, perspicácia e pertinácia e o enorme talento que marcaram sua vida.

Dei uma rápida olhada no noticiário da Internet e chamou minha atenção o silêncio tonitruante sobre o sindicalista e político José Louzeiro, principal dínamo da criação do Sindicato dos Escritores do Rio de Janeiro, em 1968 e, dez anos depois, na fase de “abertura”, um dos mais destacados ativistas que levaram à derrota dos pelegos que dele se haviam apossado com a ajuda da Repressão e à eleição do imortal Antonio Houaiss. Está lá no Tiro de Letra (http://www.tirodeletra.com.br/) onde fui conferir, porque até a Wikipédia omite esta faceta de sua história.

Louzeiro sempre foi um resistente, com visão clara sobre o mundo de opressão em que vivemos. Basta ler seus romances, sejam os criminais ou os juvenis para perceber quem era o autor, que nunca esqueceu suas origens. Entre os meus preferidos, estão os da “Gang do Beijo”, classificado de infanto-juvenis (eu deixaria o infanto de lado), marcado pelo elogio à inteligência, à rebeldia e à tomada, pelos jovens, do destino em suas próprias maõs.

Lembro uma anedota que contam a seu respeito, simbólica. Se não for verdadeira, merece que se publique a versão:

Era aí por 1985 (não lembro exatamente) e José Sarney (usando de prerrogativas que Getúlio Vargas já usara) se fez eleger membro da Academia Brasileira de Letras. O repórter diz ao super-repórter Louzeiro: “O poeta Ferreira Gullar apoiou a indicação do Presidente Sarney e disse que ele é um dos maiores poetas brasileiros. O que o senhor acha, como escritor maranhense?” Louzeiro, não teria pensado muito e respondeu algo assim:

“Eu não entendo nada disso. Isso é coisa lá deles. Eu nasci no outro lado da linha do trem”.

Uma das melhores definições de classe e de atitude perante a vida de que já tomei conhecimento. Louzeiro nunca abandonou seu lado da linha do trem.

Vamos lembrá-lo para sempre. A pais e avós, só posso recomendar que presenteiem seus filhos, netos, sobrinhos, sempre que puderem, com os romances de Louzeiro, mesmo quando já estiverem adultos. É seu legado. E fico aqui lembrando o sindicalista com quem minha mãe militou e cuja liderança reconhecia.

LUIZ ALBERTO SANZ (LUIZ ALBERTO BARRETO LEITE SANZ)

Pesquisador independente em Educação, Comunicação Social e Artes do Espetáculo. Professor 13045540_10202122227494484_233987780_nTitular aposentado da Universidade Federal Fluminense. Foi coordenador editorial da revista libertária “letra livre”, é colaborador da “Revista da Educação Pública” (eletrônica) da Secretaria Estadual de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro e membro fundador da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas (ABRACE). Foi, em sua vida profissional, jornalista, cineasta, educador, diretor de espetáculos, técnico cinematográfico e estivador. Exerceu suas funções em Brasil, Chile, Suécia e República da Guiné (nesta, como consultor da UNESCO na área de Comunicação em Matéria de Educação). No Jornalismo, passou por quase todas as funções, mas destacou-se sobretudo como critico teatral (Jornal do Commercio – RJ e Última Hora) e cinematográfico (Última Hora e Rádio MEC), repórter e comentarista cultural e político (Letra Livre, Revista da Educação Pública, Jorna1 de Brasília e Rádio MEC). Na vida sindical, foi Secretário- geral e Presidente do Sindicato de Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diverão do Estado do Rio de Janeiro, na gestão 1981/1984 e, como representante do SATEDERJ, membro da Executiva lntersindical do Rio de Janeiro (1981/1984) e da Executiva do Conselho Nacional das Classes Trabalhadoras – CONCLAT (1983-1984). Como administrador cultural, foi Diretor do Centro Nacional de Rádio Educativo Roquette- Pinto/Rádios MEC (1994); Superintendente Cultural da Embrafilme (1983/1984); membro do Conselho Diretor (1977-1978) e Secretário de Informação (1978-1979) de FilmCentrum (cooperativa de cineastas independentes e animadores cinematográficos), Suécia.

OBRAS PRINCIPAIS / LIVROS: “Procedimentos metodológicos: Fazendo caminhos”. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2003; “Dramaturgia da Informação Radiofônica”. Rio de Janeiro: Editora Gama Filho, 1999; FILMES: “Soldado de Deus”, de Sergio Sanz. (Pesquisador e co-roteirista). Rio de Janeiro: J. Sanz, 2004. “Carnaval: Tradição, beleza e trabalho” (criador e co-roteirista, em parceria com Valéria Campelo, da série de cinco documentários). Rio de Janeiro: Senac Nacional, 1999. “No es hora de llorar/Não é hora de chorar” (parceria com Pedro Chaskel). Santiago do Chile: Universidade do Chile, 1971. [Premiado com a Pomba de Ouro no Festival de Leipzig de 1971; “Kommunicerande karl/Vasos comunicantes” (parceria com Lars Säfström). Estocolmo: Instituto de Cinema da Suécia, 1981. [Premiado com a Menção Honrosa no Festival de Leipzig de 1983] ESPETÁCULOS: “O Amor e seus duplos” (orientador e roteirista). Rio: Cia. Helenita Sá Earp/UFRJ, 2001; “Aline, Luli e Lucinha” (Diretor). Rio de Janeiro: Funarte, l981; “Filo porque qui-lo”, de Aldir Blanc, Gugu Olimecha, Maurício Tapajós e Fátima Valença (Diretor). Rio de Janeiro: Saci Produções, 1971. RADIO: “Tião Parada, o Rei da estrada” (co-criação do projeto, em parceria com Luciana Medeiros e Rosa Amanda Strausz da série dramática infantil e roteirização de alguns). Rio de Janeiro: IBASE/Rádio MEC, 1996. “Verso e Reverso – 2ª fase” (Produção e Criação da Série de 12 programas, e roteirização de dez). Rio de Janeiro: Rádio MEC/Educar, 1990.

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