Gentem, sou negra e celebro com orgulho a minha ra\u00e7a desde quando n\u00e3o era \u201celegante\u201d ser negro nesse pa\u00eds. Quando preto n\u00e3o usava o elevador dos \u201cpatr\u00f5es\u201d. Quando pretos motorneiros dos bondes eram substitu\u00eddos por brancos em festividades com a presen\u00e7a de autoridades de pele branca. Da \u00e9poca em que jogadores de um clube carioca passavam p\u00f4 de arroz no rosto para entrarem em campo, j\u00e1 que n\u00e3o \u201cpegava bem\u201d ter a pele escura. Desde que os gar\u00e7ons de um famoso hotel carioca n\u00e3o atendiam pretos no restaurante. \u00c9ramos invis\u00edveis. Celebro minha ra\u00e7a desde o tempo em que gravadoras n\u00e3o davam coquetel de lan\u00e7amento para os \u201cdiscos dos pretos\u201d. Celebro minha origem ancestral desde que \u201cm\u00fasica de preto\u201d era defini\u00e7\u00e3o de estilo musical. Grito pelo meu povo desde a \u00e9poca em que se um homem famoso se separasse de sua mulher para ficar com uma negra, essa ganhava o \u201ct\u00edtulo\u201d de vagabunda, mas n\u00e3o acontecia se pr\u00f3xima tivesse a pele \u201cclara\u201d. Sou bisneta de escrava, neta de escrava forra e minha m\u00e3e conhecia na fonte as hist\u00f3rias sobre o flagelo do povo negro. Protesto pelos direitos da minha ra\u00e7a desde que preta n\u00e3o entrava na sala das sinh\u00e1s. Gentem, essas feridas todas eu carreguei na alma e trago as cicatrizes. A maioria do povo negro brasileiro. Feridas que n\u00e3o se curaram e s\u00e3o cutucadas para mant\u00ea-las abertas demonstrando que \u201clugar de preto \u00e9 nessa Senzala moderna\u201d, disfar\u00e7ada, \u00e0 espreita, como se vigiasse nosso povo. Povo que descende em sua maioria dos negros que colonizaram e constru\u00edram o nosso pa\u00eds. Hoje li sobre mais uma \u201ccutucada\u201d na ferida aberta do Brasil Col\u00f4nia. N\u00e3o fa\u00e7o ju\u00edzo de valor sobre quem errou ou se teve inten\u00e7\u00e3o de errar. Fa\u00e7o um alerta! Quer ser elegante? Pense no quanto pode machucar o pr\u00f3ximo, sua mem\u00f3ria, os flagelos do seu povo, ao escolher um tema para \u201cenfeitar\u201d um momento feliz da vida. Felicidade \u00e0s custas do constrangimento do pr\u00f3ximo, seja ele de qual ra\u00e7a for, n\u00e3o \u00e9 felicidade, \u00e9 dor. O limite \u00e9 t\u00eanue. Eleg\u00e2ncia \u00e9 ponderar, por mais inocente que sua a\u00e7\u00e3o pare\u00e7a. A carne mais barata do mercado FOI a carne negra e agora N\u00c3O \u00e9 mais. Gritaremos isso pra quem n\u00e3o compreendeu ainda. Escravizar, nem de brincadeira. Seguimos em luta \u270a\ud83c\udffe<\/a><\/p>\nUma publica\u00e7\u00e3o compartilhada por Elza Soares<\/a> (@elzasoaresoficial) em 10 de Fev, 2019 \u00e0s 10:36 PST<\/time><\/p>\n<\/div>\n<\/blockquote>\n