{"id":4417,"date":"2018-07-16T12:47:56","date_gmt":"2018-07-16T15:47:56","guid":{"rendered":"http:\/\/redesina.com.br\/?p=4417"},"modified":"2020-11-12T06:51:13","modified_gmt":"2020-11-12T09:51:13","slug":"entrevista-carlos-malta-flautista-e-compositor","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/redesina.com.br\/entrevista-carlos-malta-flautista-e-compositor\/","title":{"rendered":"ENTREVISTA: CARLOS MALTA (flautista e compositor)"},"content":{"rendered":"

por Ugo Medeiros (Coluna Blues Rock)<\/em><\/strong><\/p>\n

“Isso que n\u00f3s chamamos de m\u00fasica \u00e9 um presente do universo para esse planeta”. Um depoimento desse me consola quando percebo que estou nessa atividade de cr\u00edtica\/pesquisa musical h\u00e1 quase dez anos sem receber um tost\u00e3o. apesar do trabalho ser volunt\u00e1rio, quase filantr\u00f3pico, ele me proporciona momentos m\u00e1gicos, como entrevistar o fant\u00e1stico Carlos Malta. E por duas vezes.<\/p>\n

\u00a0Simp\u00e1tico, atencioso, humilde, todas caracter\u00edsticas que lhe s\u00e3o inerentes, sempre fazendo o poss\u00edvel para atender um profissional de imprensa\u00a0\u00a0renomado ou desconhecido. Nesse caso, conversando com uma pessoa que sequer faz parte da m\u00eddia jornal\u00edstica. Grande conhecedor da M\u00fasica, sim, com mai\u00fascula, Carlos Malta \u00e9 um estudioso, sempre preocupado com a investiga\u00e7\u00e3o das origens e desdobramentos musicais. Por isso mesmo \u00e9 cr\u00edtico quando tem que ser, “Esse \u00e9 um grande erro da nossa civiliza\u00e7\u00e3o ocidental, considerar que compositores mortos h\u00e1 mais de cem anos como eruditos. Digo, \u00e9 um grande erro da civiliza\u00e7\u00e3o\u00a0dita culturalmente desenvolvida cultuar o antigo e rebaixar o que \u00e9 popular. Veja s\u00f3, a m\u00fasica cl\u00e1ssica indiana \u00e9 algo muito recente e sequer \u00e9 escrita, \u00e9 toda ela improvisada”.<\/p>\n

\u00a0 \u00a0O samba, o choro, o jazz e o blues. Estilos. Mas, por isso, tornam-se dogmas fechados incapazes de adapta\u00e7\u00f5es? Negativo! Para o escultor dos ventos da m\u00fasica brasileira\u00a0tudo \u00e9 poss\u00edvel. Explica\u00e7\u00f5es sobre a g\u00eanese do samba, compara\u00e7\u00f5es com a pobreza e o racismo aos quais os negros eram submetidos. Informa\u00e7\u00f5es hist\u00f3ricas e sonoridades did\u00e1ticas para melhor ilustrar, sempre traduzindo a d\u00favida atrav\u00e9s do idioma universal da M\u00fasica.<\/p>\n

\u00a0 Uma entrevista especial, com doses extras de carinho. Ou seria\u00a0Carinhoso? Aquela\u00a0de Pixinguinha? Sim, tamb\u00e9m!, “Pixinguinha nunca pensou que seria um dos maiores representantes do n\u00e3o-racismo, do que \u00e9 ser universal”. Carlos Malta \u00e9 puro amor, Carlos Malta \u00e9 a M\u00fasica em estado prim\u00e1rio e suave.<\/p>\n

\"Nenhum<\/p>\n

Ugo Medeiros\u00a0\u2013 Sr. Malta, primeiramente, muito obrigado por arrumar um tempo e realizarmos essa entrevista! Na \u00faltima vez que conversamos, l\u00e1 no Festival de Rio das Ostras, o papo foi sobre o equil\u00edbrio, a proximidade\u00a0ou n\u00e3o, entre o popular e o erudito. Hoje ficarei mais na m\u00fasica popular, ou dita popular. Estou pesquisando e escrevendo um projeto sobre as semelhan\u00e7as, uma compara\u00e7\u00e3o, entre a m\u00fasica brasileira e a americana. Ontem escutei durante quase uma hora\u00a0Tico-tico no fub\u00e1, um choro. Investigando, vi que o choro teve sua origem na polca. E no mesmo dia, conversando com um bluesman americano, percebi que o ragtime tamb\u00e9m teve a sua forma\u00e7\u00e3o a partir da polca. Afinal, o que \u00e9 a polca?<\/strong><\/p>\n

Carlos Malta\u00a0\u2013 A polca \u00e9 uma dan\u00e7a europeia, veio com os colonizadores. N\u00e3o \u00e9 apenas um estilo, \u00e9 uma forma de dan\u00e7a. Por exemplo, existe samba-can\u00e7\u00e3o, samba, pagode, partido alto… e no final \u00e9 tudo samba. A polca tamb\u00e9m tem v\u00e1rias varia\u00e7\u00f5es,\u00a0teve maior influ\u00eancia da m\u00fasica europeia, dita erudita, mas na \u00e9poca era popular. Esse \u00e9 um grande erro da nossa civiliza\u00e7\u00e3o ocidental, considerar que compositores mortos h\u00e1 mais de cem anos como eruditos. Digo, \u00e9 um grande erro da civiliza\u00e7\u00e3o\u00a0dita culturalmente desenvolvida cultuar o antigo e rebaixar o que \u00e9 popular. Veja s\u00f3, a m\u00fasica cl\u00e1ssica indiana \u00e9 algo muito recente e sequer \u00e9 escrita, \u00e9 toda ela improvisada. Teatros com maior tradi\u00e7\u00e3o apresentam\u00a0uma programa\u00e7\u00e3o toda voltada para a m\u00fasica centen\u00e1ria. Ano passado consegui tocar no Theatro Municipal, Rio de Janeiro, e o fiz com m\u00fasica\u00a0popular, que \u00e9 a de hoje. A m\u00fasica popular tamb\u00e9m exige uma erudi\u00e7\u00e3o, todo tipo de m\u00fasica passa pela erudi\u00e7\u00e3o, que \u00e9 o estudo. \u00c9 erudita pela dificuldade t\u00e9cnica, traduz uma \u00e9poca, um batuque.\u00a0Se voc\u00ea colocar um tambor junto com esse piano que voc\u00ea ouviu em\u00a0Tico-tico no fub\u00e1, ver\u00e1 que existe uma rela\u00e7\u00e3o entre os graves, m\u00e9dios e agudos:<\/p>\n

\n