{"id":3545,"date":"2017-12-09T02:59:57","date_gmt":"2017-12-09T05:59:57","guid":{"rendered":"http:\/\/redesina.com.br\/?p=3545"},"modified":"2019-04-25T06:09:42","modified_gmt":"2019-04-25T09:09:42","slug":"alem-dos-cinamonos-por-melina-guterres","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/redesina.com.br\/alem-dos-cinamonos-por-melina-guterres\/","title":{"rendered":"Al\u00e9m dos Cinamomos por Melina Guterres"},"content":{"rendered":"

Mas o mais \u201clegal\u201d nessa r\u00e1pida passadela pelo google \u00e9 tamb\u00e9m saber que a Anvisa liberou agora em novembro o uso de um agrot\u00f3xico:\u00a0Benzoato de Emamectina.<\/em>
\nSer\u00e1 esse o novo nome da cigarra que amarelou o Cinamomo h\u00e1 anos verde aqui do lado de casa?<\/p><\/blockquote>\n

Olhando at\u00e9 parece bonito…<\/p>\n

Mas o Cinamomo amarelo n\u00e3o \u00e9 normal. “Ele est\u00e1 morrendo” diz meu vizinho, um pequeno agricultor. “Os l\u00e1 da minha terra tamb\u00e9m, os das estradas tamb\u00e9m. Deve ser dos venenos que est\u00e3o colocando na soja. Eles alcan\u00e7am at\u00e9 200 km”, segue. “\u00c9 cinamomos s\u00e3o fr\u00e1geis” diz meu pai este ano diagnosticado com parkinson de rigidez. Me recordei das minhas frequentes crises al\u00e9rgicas respirat\u00f3rias ou de rem\u00e9dios e qu\u00edmicos.. do espirro que dei quando as portas do Salgado Filho se abriram. Do meu constate pensamento: devo ter alguma alergia ao RS. Este ano fui morar em S\u00e3o Paulo e imaginei que as minhas alergias fossem dobrar, mas a \u00fanica crise forte que tive foi depois de voltar de uma viagem ao RS feita l\u00e1 por maio. Passo muito pior no inverno de uma cidade com 270 mil habitantes do que na maior e mais polu\u00edda cidade do Brasil. Bizarro? Estes s\u00e3o os n\u00fameros de c\u00e2nceres no estado do RS. De acordo com o Inca (Instituto Nacional do C\u00e2ncer), o maior estado com a maior taxa de mortalidade com a doen\u00e7a. J\u00e1 o CEVS – Centro Estadual de Vigil\u00e2ncia em Sa\u00fade do RS, informa que uma das causas de doen\u00e7as al\u00e9rgicas e parkinson s\u00e3o o uso fungicidas. Um grupo de pesquisadores vai estudar o efeito do uso de agrot\u00f3xicos em um raio de 700 km l\u00e1 no Pantanal.. ou seja, parece que os cientistas acreditam que o impacto possa ser bem maior que os 200 km apontado pelo meu vizinho. Mas um site de agricultura traz um artigo que acredita que o amarelo da copa dos cinamomos de Porto Alegre e interior seja a fome de uma cigarra.
\nPor um instante achei que fossemos fr\u00e1geis, mas parece que somos bobos enfeiti\u00e7ados pelo cantos das cigarras.
\nS\u00f3 espero que elas n\u00e3o gritem por a\u00ed dizendo que ga\u00facho que tem gen\u00e9tica ruim, t\u00e3o fr\u00e1gil quanto um cinamomo. Afinal at\u00e9 os franceses j\u00e1 dizem que os pesticidas s\u00e3o “o tempero preferido dos brasileiros”, pelo menos assim diz o jornal Le Monde. O Brasil \u00e9 o pa\u00eds que mais os consome pesticidas desde 2008, al\u00e9m de continuar usar uma s\u00e9rie deles j\u00e1 proibidos em diversos pa\u00edses.
\nMas o mais “legal” nessa r\u00e1pida passadela pelo google \u00e9 tamb\u00e9m saber que a Anvisa liberou agora em novembro o uso de um agrot\u00f3xico:\u00a0Benzoato de Emamectina.<\/em>
\nSer\u00e1 esse o novo nome da cigarra que amarelou o Cinamomo h\u00e1 anos verde aqui do lado de casa?
\nEnquanto isso parece que o governo discute a aprova\u00e7\u00e3o de um “pacote veneno” onde mais pesticidas podem ser liberados.
\nMas afinal, o que \u00e9 um veneno a mais pra quem j\u00e1 t\u00e1 envenenado, n\u00e9?
\nPreparem seus organismos, bolsos, planos de sa\u00fade, rem\u00e9dios que a gan\u00e2ncia t\u00e1 solta… e parece que esse v\u00edrus se faz cada vez mais forte.. imoral e imortal.
\nCulpa das cigarras ou n\u00e3o, vida longa aos cinamomos e a todas as gentes!<\/p>\n

Rep\u00fadio<\/h3>\n

A Campanha Permanente contra os Agrot\u00f3xicos e pela Vida<\/span><\/a> divulgou nota em que lamenta a libera\u00e7\u00e3o do produto. Confira:<\/p>\n

Anvisa apunhala sociedade e aprova agrot\u00f3xico perigoso na surdina<\/em><\/p>\n

Sem alarde, o di\u00e1rio oficial publicou nesta segunda-feira (6\/11) a aprova\u00e7\u00e3o de um agrot\u00f3xico extremamente t\u00f3xico para a sa\u00fade humana: o Benzoato de Emamectina. S\u00e3o v\u00e1rios os motivos da nossa indigna\u00e7\u00e3o com esta decis\u00e3o:<\/em><\/p>\n

Em 2010, a Anvisa j\u00e1 havia negado o registro desta subst\u00e2ncia por suspeita de malforma\u00e7\u00f5es e elevada neurotoxicidade, ou seja, causa danos elevados ao sistema nervoso. Ser\u00e1 que nosso corpo evoluiu, e ficamos resistentes a este veneno?<\/em><\/p>\n

Ao contr\u00e1rio de outras consultas p\u00fablicas, desta vez n\u00e3o houve divulga\u00e7\u00e3o por parte da Anvisa ao atores interessados. Prova disso \u00e9 o n\u00famero de contribui\u00e7\u00f5es recebidas: 8. Para termos uma ideia, na consulta referente ao Carbofurano, foram 13.114 contribui\u00e7\u00f5es. Qual a explica\u00e7\u00e3o para tal discrep\u00e2ncia, sen\u00e3o a falta de publicidade dada pela ag\u00eancia? Enquanto a consulta do Carbofurano durou 60 dias, a do Benzoato de Emamectina durou apenas 30 dias. Qual motivo da distin\u00e7\u00e3o?<\/em><\/p>\n

A decis\u00e3o pela aprova\u00e7\u00e3o do Benzoato foi dada em tempo recorde. No caso do Carbofurano, a consulta p\u00fablica findou-se no dia 25 de fevereiro de 2016, e a decis\u00e3o da Anvisa foi proferida h\u00e1 poucas semanas, no dia 18 de outubro de 2017 \u2013 20 meses depois. Agora, no caso do Benzoato, transcorreram-se apenas 21 dias entre 15 de outubro, quando a consulta p\u00fablica terminou, e o dia 6 de novembro. Para banir o Paraquate, foram necess\u00e1rios 10 anos, e faltam ainda 3 anos para o seu banimento completo. Porque tamanha demora para proibir, e tamanha celeridade para aprovar?<\/em><\/p>\n

O Benzoato de Emamectina foi centro de outra disputa em 2013. Ap\u00f3s um surto da lagarta Helicoverpa, causado pelo uso do milho transg\u00eanico que exterminou seu predador natural, o Minist\u00e9rio da Agricultura importou o agrot\u00f3xico de forma emergencial, e na \u00e9poca sem autoriza\u00e7\u00e3o da Anvisa.<\/em><\/p>\n

Mesmo que a subst\u00e2ncia seja aprovada para uso em outros pa\u00edses, somos (ou dever\u00edamos ser) um pais soberano, livre e independente dos interesses das grandes corpora\u00e7\u00f5es. A autoriza\u00e7\u00e3o em outros pa\u00edses n\u00e3o significa que o produto seja seguro aqui, onde grandes volumes s\u00e3o utilizados, onde o uso de EPI \u0117 impens\u00e1vel dadas as condi\u00e7\u00f5es clim\u00e1ticas, onde o congresso nacional defende os interesses dos setores ruralistas, onde os \u00f3rg\u00e3os de fiscaliza\u00e7\u00e3o dos estados est\u00e3o sucateados, onde o SUS esta sendo desmontado e subfinanciado e tem dificuldades em atender \u00e0 demanda de doen\u00e7as causadas pelos agrot\u00f3xicos. Pelos mesmos motivos, o banimento em outros pa\u00edses deveria ser motivo de banimento imediato no Brasil.<\/em><\/p>\n

\u00c9 inadmiss\u00edvel expor a sociedade a estes riscos, sem nenhuma possibilidade de participa\u00e7\u00e3o ou interfer\u00eancia dos maiores afetados: n\u00f3s. Pelo contr\u00e1rio, a Anvisa que vem promovendo\u00a0\u201cDRs\u201d com a ind\u00fastria, se mostra incapaz de dialogar com o povo.<\/em><\/p>\n

Exigimos que a Anvisa apresente os estudos que embasaram esta s\u00fabita mudan\u00e7a de opini\u00e3o, e que cancele o registro do Benzoato de Emamectina at\u00e9 que a sociedade seja ouvida e consultada se deseja correr este risco. Terminamos com um trecho do\u00a0Parecer Pelo Indeferimento do Benzoato de Emamectina, publicado pela pr\u00f3pria Anvisa em 2010 (e que subitamente sumiu do site da Anvisa):<\/em><\/p>\n

Os efeitos neurot\u00f3xicos s\u00e3o t\u00e3o marcantes e severos que as respostas de curto e longo prazo se confundem, isto \u00e9, efeitos tipicamente agudos s\u00e3o observados nos ensaios de longo prazo, e vice-versa. O produto revelou neurotoxicidade para todas as esp\u00e9cies e em doses t\u00e3o baixas quanto, por exemplo, 0,1 mg\/kg em camundongos e 0,5mg\/kg em c\u00e3es, mesmo em estudos onde este efeito n\u00e3o estava sendo investigado.<\/em><\/p>\n

Incertezas no que diz respeito aos poss\u00edveis efeitos teratog\u00eanicos, e certezas dos efeitos delet\u00e9rios demonstrados nos estudos com animais corroboram de forma decisiva para que n\u00e3o se exponha a popula\u00e7\u00e3o a este produto, seja nas lavouras, ou pelo consumo de alimentos.<\/em><\/p>\n

#<\/span>agrotoxicosNAO<\/span><\/span><\/a><\/p>\n